Reproduzimos matéria publicada no 'El País', no final de agosto passado, sobre um assunto aparentemente sem grande significado, se considerarmos as grandes questões que temos diante de nós, para reafirmar e ampliar o nosso voto pelo exercício da cidadania, pelos direitos humanos, por oportunidades para todos e para a defesa da democracia no nosso país.
Acredito, no entanto, que há informações e mentiras que estão impactando mais as pessoas, especialmente aquelas que não conseguiram acompanhar ou já esqueceram as grandes ações da gestão do então ministro Fernando Haddad, na pasta da Educação - em favor de inúmeros jovens e adultos com menor chance de acesso à universidade e aos cursos de formação técnica, no país.
Tenho a honra de tê-lo conhecido enquanto Ministro da Educação - pois trabalhei como consultora concursada e selecionada pelo MEC/UNESCO, para um dos projetos da sua gestão - a Escola Aberta e a Escola Integral, que surgiu para ampliar o tempo escolar com a inserção de atividades esportivas, culturais e de lazer, para estudantes da escola pública cuja Secretaria de Educação local aderisse ao projeto.
Mas o que parece necessário insistir, agora, é desmentir informações falsas e mal-intencionadas que ainda se mantêm em ebulição. Infelizmente as pessoas, embora bem-intencionadas, não têm tempo para buscar comprovações que desanuviem suas desconfianças nas intenções e compromissos de governo do candidato que, hoje, é a referência de uma frente democrática de afirmação do nosso sim à Paz dos cidadãos brasileiros, à democracia e à justiça social para todos. E do nosso não à mentira, ao desrespeito dos valores humanos e dos direitos sociais do cidadão brasileiro.
Segue a matéria em causa:
Bolsonaro mentiu ao falar de livro de educação sexual no ‘Jornal Nacional’
Candidato do PSL mostra publicação que seria parte do 'kit gay', mas o título (mostrado pelo entrevistado) nunca foi comprado pelo MEC nem foi incluído no projeto.
São
Paulo - 30.08.2018
No que talvez tenha sido o momento
mais tumultuado da sua entrevista no Jornal Nacional, na
noite desta terça-feira, Jair Bolsonaro (PSL) mostrou às câmeras por poucos
segundos um livro intitulado Aparelho sexual e Cia,
cuja capa traz o desenho de um menino de topete loiro olhando um tanto quanto
assustado para o que tem dentro das próprias calças. Seria só mais um dos
incontáveis episódios polêmicos de um candidato que tem esbravejado contra o
que chama de campanha para o ensino de "ideologia de gênero" nas
escolas do Brasil, não fosse um detalhe: praticamente tudo o que o
candidato falou quando se referiu à publicação não encontra respaldo na
realidade.
"Tomei conhecimento [em 2010] do que estava acontecendo lá [num
corredor da Câmara dos Deputados]. Eles tinham acabado o nono Seminário LGBT
Infantil", disse Bolsonaro, após ter sido perguntado pela jornalista
Renata Vasconcellos sobre suas manifestações prévias de caráter homofóbico.
"Estavam discutindo ali, comemorando o lançamento de um material para
combater a homofobia, que passou a ser conhecido como 'kit gay'.
Entre esse material estava esse livro lá. Então, o pai que tenha filho na sala
agora, retira o filho da sala, para ele não ver isso aqui. Se bem que na
biblioteca das escolas públicas tem", emendou, para logo ser interrompido
pelo âncora do JN William Bonner, que o lembrou que não estava permitido
mostrar qualquer material gráfico durante a entrevista.
J.B deu a entender na sua declaração que o livro, de autoria do
suíço Philippe Chappuis (conhecido como Zep) e da francesa
Hélène Bruller, formava parte do projeto 'Escola sem Homofobia', que recebeu a
alcunha de kit gay e que criou uma forte polêmica no primeiro
mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff.
Basicamente,
tratava-se de um kit de apoio para a formação de professores em temas relacionados aos direitos LGBT, como o combate à violência e ao
preconceito no ambiente escolar. A pressão de grupos conservadores, no entanto,
fez com que a então presidente vetasse a proposta, e as peças de
conscientização nunca saíram da gaveta. Logo, na estreia da administração
Dilma, a bancada evangélica dava uma clara demonstração de força.
Acontece
que o livro em questão nunca fez parte do projeto Escola sem Homofobia. E mais:
sequer foi adquirido ou fez parte de algum programa do Ministério de Educação.
"Ao contrário do que afirmou erroneamente o candidato à presidência em
entrevista ao Jornal Nacional na noite de 28 de agosto, ele [o livro] nunca foi
comprado pelo MEC, como tampouco fez parte de nenhum suposto kit gay",
disse, em nota, a Companhia das Letras, editora que lançou "Aparelho
sexual e cia", em 2007. O MEC confirmou a informação. O que há registrado é uma compra, por parte do Ministério da
Cultura em 2011, de apenas 28 exemplares da publicação para o programa Livro
Aberto. Os livros foram entregues a diferentes bibliotecas públicas do
País. Segundo a pasta da Cultura, nenhum foi distribuído para escolas.
Outro
ponto da resposta de Bolsonaro contestado logo após o fim da entrevista foi a
menção a um suposto Seminário LGBT Infantil. Trata-se do Seminário Nacional
LGBT, realizado anualmente por comissões da Câmara que atuam na defesa dos
direitos dessas comunidades. De acordo com o deputado Jean Wyllys (PSOL), coordenador da
Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT, Bolsonaro está se referindo ao
encontro promovido em 2012.
Naquele ano, a temática escolhida para o seminário
foi "Sexualidade, Papéis de Gênero e Educação na Infância e na
Adolescência". Havia três eixos naquele seminário: Subjetividades e papéis
de gênero (É possível falar em uma infância e adolescência gay?); Educação,
sexualidade e gêneros (O que os papéis de gênero têm a ver com a prática
do bullying nas escolas?); e Infância, adolescência e estado
de direitos (Como estender as redes de proteção da infância e da adolescência
aos meninos e meninas que fogem dos papéis de gênero?). A assessoria de Wyllys
pontuou que não participaram crianças no seminário, mas sim parlamentares,
acadêmicos que estudam o tema e membros da sociedade civil. Em 2018,
exemplifica Wyllys, a temática do seminário foi políticas para a população LGBT
da terceira idade.
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O livro citado na entrevista do JN foi publicado
pelo nosso selo jovem. Infelizmente está fora de catálogo, mas nos orgulhamos
da publicação.
Reedição
Lançado pelo selo juvenil da Companhia
das Letras, o livro mostrado por Jair Bolsonaro está esgotado. Na nota que lançou na
tarde desta quarta, a editora disse que está em contato com os donos dos
direitos da obra para avaliar a possibilidade lançá-la novamente no Brasil.
A
Companhia das Letras afirmou, ainda, que o texto original foi traduzido para
dez idiomas ao redor do mundo e vendeu mais de 1,5 milhão de cópias, tendo
sendo transformado em exposição que ficou em cartaz em Paris. O público
alvo da publicação é formado por adolescentes: no catálogo da editora, ela era
sugerida para alunos de 11 a 15 anos.
A Companhia das Letras defendeu
enfaticamente o título. Segundo a empresa, a publicação tem "sólida base
pedagógica e rigor científico" ao abordar "todos os aspectos da
sexualidade".
No comunicado, a editora diz que os autores conseguem tratar
de forma "leve" assuntos importantes como paixão, mudanças da
puberdade, contracepção, doenças sexualmente transmissíveis, pedofilia e
incesto. "O livro conta ainda com uma seção chamada 'Fique esperto',
que alerta os adolescentes para situações de abuso, explica o que é pedofilia —
mostrando como tal ato é crime —, o que é incesto e até fornece o contato do
Disque-Denúncia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra
Crianças e Adolescentes e da Secretaria Especial dos Direitos Humanos'",
explica a Companhia das Letras.
"O
conteúdo da obra nada tem de pornográfico, uma vez que, formar e informar as
crianças sobre sexualidade com responsabilidade é, inclusive, preocupação
manifestada pelo próprio Estado, por meio de sua Secretaria de Cultura do
Ministério da Educação que criou, dentre os Parâmetros Curriculares Nacionais,
um específico à 'Orientação Sexual' para crianças, jovens e adolescentes",
conclui a editora.
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Crédito das imagens:
Foto 1 - J.B.durante a entrevista no 'Jornal Nacional' - Reprodução Rede Globo
Foto 2 - Capa do livro apresentado por J.B. -
Companhia das Letras@cialetras - 22:15 - 28 ago. 2018
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma dessas imagens e deseja que ela seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
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