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LITERATURA - HINO À LIBERDADE - JOSÉ DURÁN Y DURÁN

30 agosto, 2019


Há poucos dias recebi de uma especial amigo e irmão, o empresário, professor, pintor e escritor espanhol JOSÉ DURÁN Y DURÁNradicado em Palmares/PE deste 1977 - um poema denso e profundo intitulado HINO À LIBERDADE.

Inspirado na atual conjuntura mundial, que vem se distanciando mais e mais da prática e dos valores da Justiça Social e do cuidado pela Mãe Terra, sua poesia não nos deixa esquecer a longa e dolorosa experiência da ditadura militar, iniciada nos anos ´60, aqui e em outros países da América Latina. O autor nos lembra os valores que fundamentam a nossa luta por justiça social, ética, equidade e paz, agora que o país encontra-se empoeirado de vergonha diante do mundo, deixando o seu povo triste e cabisbaixo de inquietações, por ver-se saqueado das conquistas sociais e trabalhistas que havíamos conquistado há anos atrás. 

Durán nos fala de uma Liberdade que devemos almejar, com a tenacidade da nossa luta cotidiana, a fim de enfrentarmos esse momento difícil (que, esperamos, seja passageiro), anulando o terrorismo fundamentalista, rompendo as correntes da nova escravidão, quebrando preconceitos, desviando-nos da ignorância a que nos querem relegar, para voarmos livres no fraterno abraço da liberdade.

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HINO À LIBERDADE

             * José Durán y Durán


Oh! deusa aclamada e reverenciada,
Pelas mentes ilustradas,
Pelos amantes da verdade,
Pelos que na igualdade acreditam,
E constroem a fraternidade.
Para ti fomos criados,
Por ti somos cuidados,
Em ti vivemos e somos realizados.


Oh! deusa das civilizações mais antigas,
Essência da criatura humana,
Vital estado espiritual de toda cultura.
Quando te afastas da nossa vida,
Escurece nossa existência,
Quando de ti nos roubam,
Murcham nossas esperanças,
Quando de ti abusamos
Em escravos nos transformamos.



Oh! deusa mãe que libertas,
Respeitada pelas mentes abertas,
Clarão de luz, matriz das nações,
Impulso vital estendido no universo,
Genitora do amor reverente dos corações.
Teu pranto é pela espada de dor das ditaduras,
Pelos espinhos que rasgam e ensanguentam teu corpo,
Pela economia que te sequestra,
Pela ignorância que te deixa relegada a ideologia,
Pelo terrorismo fundamentalista,
Que te amordaça, te confina e te deixa indefesa.


Oh! Força e inspiração dos libertadores,
Que romperam as correntes da escravidão,
Que fustigaram demônios e espíritos maus,
 Que quebraram preconceitos e voaram livres,
Que uniram os povos no abraço da liberdade.


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* Poema gentilmente cedido pelo autor, para ser publicado neste blog.

Crédito das Imagens:

1. José Durán - foto tirada durante palestra do autor em Aparecida.
2. A Liberdade conduzido o povo - Delacroix - Museu do Louvre - fotografia.


Nota: As imagens aqui postadas pertencem aos respectivos autores. Se algum deles não estiver de acordo com a sua reprodução neste espaço, por favor comunique-se conosco, fazendo um comentário nesta postagem. 


FREI BETTO: A NATURALIZAÇÃO DO HORROR NO BRASIL

23 agosto, 2019

É uma prática costumeira trazer a   este espaço informações, entrevistas e reportagens produzidas por autores reconhecidos no amplo leque dos jornalistas, analistas políticos, ativistas, filósofos, políticos, líderes religiosos, especialistas e escritores que corroboram o nosso empenho de manter os leitores deste blog – especialmente os brasileiros que vivem fora do Brasil – em dia com o que se produz sobre a atual situação brasileira, com ênfase na nossa proposta de alimentar a resistência democrática.
Hoje trazemos um precioso artigo do escritor Frei Betto que aponta 10 táticas do pretenso atual presidente, que resumem a forma debochada com que este senhor vem tratando o povo brasileiro, com exceção dos seus pares e apoiadores comprometidos com o Deus Mamona, e com as manobras do poder político e econômico diante de quem o dito mandatário escolheu ajoelhar-se, agindo sempre ao seu serviço. 
Recentemente, na terça-feira 13/08, tivemos oportunidade de manifestar, mais uma vez, a nossa voz de resistência pacífica e democrática, no empenho de trazer a interpelação de mais de 12 mil desempregados, dos trabalhadores que veem suas conquistas trabalhistas usurpadas, dos povos indígenas entregues aos gananciosos tomadores de suas terras, de todas as mulheres tidas como meros cochilos da natureza, dos ativistas, professores, estudantes, jornalistas e produtores culturais que defendem esse povo, e se juntam aos pequenos pensionistas e anciãos, aos pobres e doentes sem remédio, maltratados, menosprezados, espezinhados pela maldade desse poder mascarado, que não se dá conta que deixará o seu nome como um grave hiato na história do país - e, comparativamente, do mundo inteiro - representado por um significante "messias" do Maligno. É em nome dele que os defensores do povo brasileiro são encurralados e afastados de suas posições e responsabilidades, porque denunciam as suas graves injustiças sociais e rechaçam o pensamento malvado e idiota de um rei bufão. 
Ao publicar no seu site essa matéria, Leonardo Boff muito oportunamente escreve que Frei Betto  "é um atento observador e analista da situação brasileira, especialmente a partir da ótica das vítimas das políticas sociais que prejudicam os mais vulneráveis."  Em seu texto - continua Boff - ele "descreve um percurso que nos coloca em alerta. É semelhante àquele seguido pelo nazismo de Hitler que provocou o maior genocídio da história e uma guerra mundial com milhões de mortos. A lógica seguida pelo atual governo é a mesma, embora, como pensamos, não consiga impor as perversidades que o nazismo impôs na Alemanha e lá onde chegou com suas tropas. Sua irradiação perversa persiste até os dias de hoje nos seguidores que possui pelo mundo afora, inclusive no Brasil. Seria uma tragédia sem tamanho se algo parecido ocorresse em nosso país. Daí, a vigilância, a resistência e mais ainda a (criação de uma) proposta, de um caminho alternativo, humanitário, com maior justiça e solidariedade, que tanto fazem falta em nossa história. Valem estes 10 pontos de reflexão de Frei Betto. Profeticamente, ele denuncia o que eventualmente pode ocorrer entre nós se não nos mantivermos alertas".  
Segue o artigo. Alguns negritos no texto são nossos.
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A naturalização do horror
Por: Frei Beto

Em 1934, o embaixador José Jobim (assassinado pela ditadura, no Rio, em 1979) publicou o livro “Hitler e os comediantes” (Editora Cruzeiro do Sul). Descreve a ascensão do líder nazista recém-eleito, e a reação do povo alemão diante de seus abusos. Não se acreditava que ele haveria de implantar um regime de terror. “Ele não gosta de judeus”, diziam, “mas isso não deve ser motivo de preocupações. Os judeus são poderosos no mundo das finanças, e Hitler não é louco de fustigá-los”. E sabemos todos que deu no que deu.
Estou convencido de que Bolsonaro sabe o que quer, e tem projeto de longo prazo para o Brasil. Adota uma estratégia bem arquitetada. 
Enumero suas 10 táticas mais óbvias:

1. Despolitizar o discurso político e impregná-lo de moralismo. Jamais ele demonstra preocupação com saúde, desemprego, desigualdade social. Seu foco não é o atacado, é o varejo: vídeo com “golden shower”; filme da “Bruna, surfistinha”; kit gay (que nunca existiu); proteção da moral familiar etc. Isso toca o povão, mais sensível à moralidade que à racionalidade, aos costumes que às propostas políticas. Como disse um evangélico, “votei em Bolsonaro porque o PT iria fazer nossos filhos virarem gays”.
2. Apropriar-se do cristianismo e convencer a opinião pública de que ele foi ungido por Deus para consertar o Brasil. Seu nome completo é Jair Messias Bolsonaro. Messias em hebraico significa ‘ungido’. E ele se acredita predestinado. Hoje, 1/3 da programação televisiva brasileira é ocupado por Igrejas Evangélicas pentecostais ou neopentecostais. Todas pró-Bolsonaro. Em troca, ele reforça os privilégios delas, como isenção de impostos e multiplicação das concessões de rádio e TV.
3. Sobrepor o seu discurso, desprovido de fundamentos científicos, aos dados consolidados das ciências, como na proibição de figurar o termo ‘gênero’ nos documentos oficiais e dar ouvidos a quem defende que a Terra é plana.
4. Afrouxar leis que possam imprimir no cidadão comum a sensação de que “agora, sou mais livre”, como dirigir sem habilitação; reduzir os radares; desobrigar o uso de cadeirinha para bebês etc.
5. Privatizar o sistema de segurança pública. Melhor do que gastar com forças policiais e ampliação de cadeias é possibilitar, a cada cidadão “de bem”, a posse e o porte de armas, e o direito de atirar em qualquer suspeito. E, sem escrúpulos, ao ser perguntado o que tinha a declarar diante do massacre de 57 presos (sob a guarda do Estado) no presídio de Altamira, respondeu: “Pergunta às vítimas”.
6. Desobstruir todas as vias que possam dificultar o aumento do lucro dos grandes grupos econômicos que o apoiam, como o agronegócio: isenção de impostos; subsídios a rodo; suspensão de multas; desativação do Ibama; diferençar “trabalho análogo à escravidão” de trabalho escravo e permitir a sua prática; sinal verde para o desmatamento e invasão de terras indígenas. Estes são considerados párias improdutivos, que ocupam despropositadamente 13% do território nacional, e impedem que sejam exploradas as riquezas ali contidas, como água, minerais preciosos e vegetais de interesse das indústrias de produtos farmacêuticos e cosméticos.
7. Aprofundar a linha divisória entre os que o apoiam e os que o criticam. Demonizar a esquerda e os ambientalistas, ameaçar com novas leis e decretos a liberdade de expressão que desgasta o governo (The Intercept Brasil), incutir a xenofobia no sentimento nacional.
8. Alinhamento acrítico e de vassalagem à direita internacional, em especial a Donald Trump, e modificar completamente os princípios de isonomia, independência e soberania que, há décadas, regem a diplomacia brasileira.
9. Naturalizar os efeitos catastróficos da desigualdade social e do desequilíbrio ambiental, de modo a se isentar de atacar as causas,chegando a afirmar que no Brasil não há fome. 
10. Enfim, deslegitimar todos os discursos que não se coadunam ao dele. Michel Foucault, em “A ordem do discurso” (2007), alerta para os sistemas de exclusão dos discursos: censura; segregação da loucura; e vontade de verdade. O discurso do poder se julga dono da verdade. Não por acaso, na campanha eleitoral, Bolsonaro adotou, como aforismo, o versículo bíblico “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8, 32). A verdade é ele, e seus filhos. Seu discurso é sempre impositivo, de quem não admite ser criticado.
Na campanha eleitoral, a empresa BS Studios, de Brasília, criou o jogo eletrônico Bolsomito 2K18. No game, o jogador, no papel de Bolsonaro, acumulava pontos à medida que assassinava militantes LGBTs, feministas e do MST. Na página no Steam, a descrição do jogo: 
Derrote os males do comunismo nesse game politicamente incorreto, e seja o herói que vai livrar uma nação da miséria. Esteja preparado para enfrentar os mais diferentes tipos de inimigos que pretendem instaurar uma ditadura ideológica criminosa no país. Muita porrada e boas risadas.” 
Diante da reação contrária, a Justiça obrigou a empresa a retirar o jogo do ar.
Mas o governo é real. Dissemina o horror e enxerga em quem se opõe a ele o fantasma do comunismo.
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Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.
Fonte do texto:


Crédito das imagens:

a) Foto de abertura - Vanise Rezende - arquivo do blog.


c) Imagem de Bolsonaro - www1.folha.uol.com.br








BRASIL - 13 DE AGOSTO - O TSUNAMI DA SOCIEDADE ORGANIZADA

12 agosto, 2019


      FOTO: LULA MARQUES   

Só um tsunami da educação 
pode destruir o 
atual cenário de ataques


Opinião – CARTA CAPITAL


A onda gigante de defensores da educação pública, gratuita, democrática e de qualidade é uma 
força da natureza que não se pode conter


Por: José de Ribamar Virgolino Barroso

Os geógrafos explicam as tsunamis como ondas descomunais, com grande volume de energia, que ocorrem nos oceanos pela movimentação das placas tectônicas. Tal qual um terremoto, o maremoto tem seu epicentro — isto é, o ponto da superfície terrestre, nesse caso sob o oceano, a partir do qual se irradia — atingido em primeiro lugar e com maior intensidade pelo abalo sísmico.
Não é em vão que o 13 de agosto foi batizado como tsunami da educação. Neste momento de estremecimento — das políticas públicas, dos direitos sociais fundamentais e do próprio Estado Democrático de Direito —, a educação tem sido, de fato, um ponto fulcral a absorver os primeiros impactos que prenunciam a catástrofe. A onda gigantesca de estudantes, professores, técnicos administrativos e defensores da educação pública, gratuita, democrática e de qualidade socialmente referenciada é, portanto, consequência. Mais: é uma força da natureza, que não se pode conter.
No Congresso Extraordinário da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), realizado no fim de julho em São Paulo, apontamos a participação na mobilização do dia 13 como uma das prioridades de nosso plano de lutas. Se mantivéssemos a metáfora das ondas do mar e seu potencial cataclísmico, poderíamos dizer que, nesse volume de reação popular que se levanta, os professores e auxiliares de administração escolar das instituições privadas, que compõem a base da Contee, adensam tanto a base da onda que inundará as ruas quanto fazem crescer sua crista.
Por um lado, o da base, porque fazem parte da ampla parcela da sociedade civil organizada, sobretudo nas entidades educacionais, que defende a educação pública como basilar para um projeto soberano de nação, o qual está sendo fendido pelos tremores — e terrores — postos em prática pelo atual governo. Por outro, o da crista, porque é justamente uma antiga bandeira da Contee que precisa estar no auge das mobilizações para enfrentar os atuais ataques: a luta contra a mercantilização, financeirização, oligopolização e desnacionalização do ensino, visando a atender os interesses privatistas — que, não por acaso, estão dentro do próprio Ministério da Educação.
Faz-se imprescindível, como se vê, que inundemos as ruas, a exemplo das grandes mobilizações que realizamos nos dias 15 de maio (na greve nacional da educação), 30 de maio (com os atos convocados pelo movimento estudantil em defesa da educação pública) e 14 de junho (na greve geral da classe trabalhadora contra a reforma da Previdência).
Que seja, sim, uma tsunami a destruir o atual cenário de ataques e que, depois dela, um outro projeto de educação (pública, gratuita, laica, inclusiva, crítica, de qualidade, acompanhada da regulamentação do ensino privado) se construa.
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*José de Ribamar Virgolino Barroso é coordenador da Secretaria de Finanças da Contee

Fonte do artigo:


Crédito das Imagens:

1. Manifestação de educadores - Foto de Lula Marques

2. Manifestação de educadores - reprodução


Nota: As imagens aqui postadas pertencem aos respectivos autores. Se algum deles não estiver de acordo com a sua reprodução neste espaço, por favor comunique-se conosco, fazendo um comentário nesta postagem. 




LIDERANÇAS POLÍTICAS REAGEM À ARBITRARIEDADE CONTRA O EX-PRESIDENTE LULA

08 agosto, 2019



Deputados representantes de 11 partidos foram ao STF protestar, após  o  anúncio da transferência do ex-presidente Lula para Tremembé, no interior de São Paulo. Foto de Kelli Kadanus /Gazeta do Povo


Lideranças políticas de diferentes partidos se mobilizaram tempestivamente para uma reunião com o presidente do STF, Dias Toffoli, após receberem a informação de que a juíza Carolina Lebbos determinara a transferência do ex-presidente Lula para uma penitenciária coletiva na cidade de Tremembé, no interior de São Paulo. O foco da comitiva parlamentar foi evitar que fosse feita a transferência do ex-presidente Lula, uma vez que ainda seria discutido, no STF, um pedido de Habeas Corpus impetrado por seus advogados.

A reunião fora agendada pelo presidente da Câmara Rodrigo Maia, que enviou um seu representante – o deputado Marcos Pereira, do PRB, dado que se estava votando, na Câmara, a reforma da Previdência. Estiveram presentes líderes partidários da CIDADANIA e do MDB, Paulinho da Força (SD), Welligton Roberto (PL), Arthur Lira do (PP), e deputados do PCdoB, PSB, PSD, PRB, PSOL e Benedita da Silva (PT). Também participaram da comitiva a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, o professor Fernando Haddad (PT) e o presidente da comissão da reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PL).

A decisão da juíza Carolina Lebbos, de determinar a transferência de Lula foi anunciada na manhã de ontem (dia 7/08) e foi tema dominante nas discussões da Câmara. Com a notícia da transferência do ex-presidente Lula, os deputados abandonaram a votação dos destaques à reforma da Previdência, e às 15h15 seguiram em marcha para o STF.

Essa informação tomou conta dos diários impressos e da mídia digital, em diferentes portais e no YouTube. As informações acima foram dadas pela “Gazeta do Povo”. A seguir, publicamos uma reportagem do jornal El País do Brasil de hoje, 08.08.2019.

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Sob pressão, STF dá primeira
decisão favorável a Lula
e o mantém preso em Curitiba

 Plenário suspende transferência do ex-presidente Lula para São Paulo, autorizado na manhã desta quarta, 7/08, pela juíza federal Carolina Lebbos. A mobilização de apoio dos parlamentares ao ex-presidente congregou até parlamentares aliados de Rodrigo Maia.



El País - São Paulo


A novela envolvendo a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva teve mais um eletrizante capítulo em que nada aconteceu: terminou — mais uma vez — com o ex-presidente sendo mantido preso na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, onde está desde 7 de abril de 2018. Na manhã desta quarta-feira, 7 de agosto, a juíza Carolina Lebbos determinara a transferência do petista para um presídio do Estado de São Paulo para que continuasse cumprindo sua condenação por corrupção pelo caso triplex, no âmbito da Operação Lava Jato. Acionado pela defesa, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em plenário, já no fim da tarde, manter o petista em Curitiba. Entre as várias horas que separam uma decisão da outra pairou — mais uma vez — a incerteza sobre o destino do ex-presidente.

O juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci, de São Paulo, foi quem deu o segundo lance do dia, ao autorizar no início da tarde a transferência de Lula para a Penitenciária II de Tremembé, no interior do Estado. A decisão desagradou à defesa, que não queria que o petista ficasse em uma penitenciária comum. Viu-se obrigada — mais uma vez — a correr contra o tempo para tentar suspender a decisão no STF. Dessa vez deu certo: por dez votos a favor e um contra, a maioria dos ministros seguiu o voto do relator Edson Fachin e a orientação da procuradora-geral Raquel Dodge de congelar a transferência do ex-presidente até que a Corte analise um habeas corpus pedido pela defesa. Seu julgamento na segunda turma do Supremo foi suspenso antes do recesso de julho. A divergência veio do ministro Marco Aurélio. Ele argumentou que o recurso da defesa deveria tramitar pela segunda instância da Justiça. Lembrou ainda que era o mérito do habeas corpus em questão, que pede pela liberdade do ex-presidente, que deveria ser julgado.

Deputados vão ao Supremo Tribunal Federal para falar com Dias Toffoli sobre a transferência de Lula de:LULA MARQUES, no El País.


Foi também dessa vez que a pressão política sobre o STF ganhou novos atores e se mostrou evidente como nunca. A transferência de Lula acabou se tornando assunto constante na tribuna da Câmara dos Deputados, que votava os destaques da reforma da Previdência. Até mesmo deputados do Centrão e do PSDB consideraram a decisão da juíza uma "perseguição". O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também mostrou seu desacordo e se colocou à disposição da bancada do PT. “De fato, não é uma decisão simples, é uma decisão extemporânea. Aquilo que a presidência da Câmara puder acompanhar com a bancada do PT, estamos à disposição para que o direito do ex-presidente seja garantido”, afirmou.

Dito e feito. Maia entrou em contato com o presidente do Supremo, Antonio Dias Toffoli, e conseguiu que o ministro se reunisse com deputados em uma audiência na Corte. Sentado em uma cadeira e rodeado por 70 parlamentares de 12 partidos, prometeu que o caso seria analisado com rapidez nesta mesma quarta.

"É significativo, porque não estou recebendo alguns parlamentares, estou recebendo lideranças de vários partidos. Não lembro de ter havido um momento assim, com tantos parlamentares com visões diferentes da política, da sociedade e do mundo", afirmou um Toffoli surpreso e pressionado. A imagem do presidente da Corte rodeado de parlamentares tornou-se emblemática.

Àquela altura o advogado Cristiano Zanin Martins já havia apresentando um recurso endereçado ao gabinete do ministro Gilmar Mendes, no âmbito do pedido de habeas corpus 164493, que trata da suspeição do ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro. O julgamento foi suspenso pela segunda turma do STF — que decidiu nada decidir — antes do recesso e deverá ser retomado em breve. Assim, Martins solicitou a Gilmar, em primeiro lugar, que a "liberdade plena" fosse concedida ao ex-presidente. Mas, caso não fosse possível, que ao menos fosse transferido para uma sala de Estado Maior, por entender que Lula goza de direitos e prerrogativas por ser um ex-presidente da República. Por fim, se nem isso fosse possível, a defesa pedia que a transferência fosse suspensa de vez até o julgamento final do pedido de suspeição do ex-juiz Sergio Moro — o que poderia anular a sentença.

Aliás, o pedido foi na linha do que o próprio Martins já havia solicitado no mês passado, após uma petição feita pela Superintendência da Polícia Federal de Curitiba para que Lula fosse transferido, sob o argumento de que o local não possui as condições adequadas para que petista continue cumprindo sua pena. Também citou os transtornos causados por grupos antagônicos para os moradores da região e alegou que suas estruturas só possuem instalações para presos provisórios. Assim, diante do risco iminente de que Lula fosse transferido durante o recesso do Supremo, a defesa pediu que se esperasse a decisão sobre o habeas corpus. Uma solicitação que a juíza Lebbos, afirmando também estar acolhendo um pedido de transferência anterior feito pelos próprios advogados do petista, decidiu ignorar.

Ela também ignorou os pedidos feitos para que Lula tivesse direito a uma sala de Estado Maior ou, na sua falta, a prisão domiciliar. Argumentou que não cabia prisão especial para Lula por se tratar de uma "prisão decorrente da execução provisória de pena". Isto é, apesar de já cumprir pena, após condenação em segunda instância, o caso triplex ainda precisa passar pelo Supremo Tribunal de Justiça para transitar em julgado. "Portanto, embora o ordenamento jurídico brasileiro contemple hipóteses de recolhimento em prisão especial ou Sala de Estado Maior, essas se restringem à prisão processual. Não há previsão em tal sentido concernente à prisão para cumprimento de pena, decorrente de condenação criminal confirmada em grau recursal", disse a juíza em sua decisão.

Por fim, o juiz corregedor Paulo Eduardo de Almeida Sorci, do departamento estadual de execução criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo — e também convidado por Sergio Moro para integrar o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária —, decidiu enviar o ex-presidente para o presídio de Tremembé. Com uma estrutura considerada exemplar, diferente das superlotadas prisões brasileiras, o lugar é conhecido por receber detentos famosos, como Alexandre Nardoni (condenado pelo assassinato da filha dele, Isabella); Gil Rugai (ex-seminarista condenado pelas mortes do pai e da madrasta); e Cristian Cravinhos (condenado por participar dos assassinatos dos pais de Suzane Von Ritchthofen), entre outros.

A crescente grita de políticos, e não só de aliados óbvios, ao longo da tarde enquadrando a medida como uma espécie de retaliação da Operação Lava Jato e, mais especificamente, da Polícia Federal, subordinada ao ministro da Justiça Sergio Moro, só se acalmou quando veio a decisão do STF para deixar tudo como está. O ambiente, no entanto, segue com altas temperaturas que não devem arrefecer tão rápido. Os protagonistas da Lava Jato estão sob pressão desde que o portal The Intercept começou a divulgar em junho, em parceria com outros meios de comunicação, inclusive o EL PAÍS, mensagens privadas de Moro e procuradores. 

Em seu argumento para votar contra o congelamento da transferência de Lula, o ministro Marco Aurélio divergiu de seus colegas dizendo que o pedido da defesa do petista deveria tramitar pelas instâncias inferiores da Justiça, e não saltar de cara ao STF. Marco Aurélio lembrou que era o mérito do habeas corpus para Lula, congelado, que deveria ser julgado. É neste último ponto que os holofotes devem se concentrar agora: a pressão pela conclusão do julgamento.

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Fontes das publicações:

https://www.gazetadopovo.com.br/republica/breves/deputados-pt-marcha-stf-lula/
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