É uma prática costumeira trazer a este espaço informações, entrevistas e reportagens produzidas por autores
reconhecidos no amplo leque dos jornalistas, analistas políticos, ativistas, filósofos,
políticos, líderes religiosos, especialistas e escritores que
corroboram o nosso empenho de manter os leitores deste blog – especialmente os
brasileiros que vivem fora do Brasil – em dia com o que se produz sobre a atual
situação brasileira, com ênfase na nossa proposta de alimentar a resistência
democrática.
Hoje trazemos um precioso artigo do
escritor Frei Betto que aponta 10 táticas do pretenso atual presidente, que resumem a forma debochada com que este senhor vem tratando o povo brasileiro, com exceção dos seus pares e apoiadores comprometidos com o Deus Mamona, e com as manobras do poder político e econômico diante de quem o dito mandatário escolheu ajoelhar-se, agindo sempre ao seu serviço.
Recentemente, na terça-feira 13/08, tivemos oportunidade de manifestar, mais uma vez, a nossa voz de resistência pacífica e democrática, no empenho de trazer a interpelação de mais de 12 mil desempregados, dos trabalhadores que veem suas conquistas trabalhistas usurpadas, dos povos indígenas entregues aos gananciosos tomadores de suas terras, de todas as mulheres tidas como meros cochilos da natureza, dos ativistas, professores, estudantes, jornalistas e produtores culturais que defendem esse povo, e se juntam aos pequenos pensionistas e anciãos, aos pobres e doentes sem remédio, maltratados, menosprezados, espezinhados pela maldade desse poder mascarado, que não se dá conta que deixará o seu nome como um grave hiato na história do país - e, comparativamente, do mundo inteiro - representado por um significante "messias" do Maligno. É em nome dele que os defensores do povo brasileiro são encurralados e afastados de suas posições e responsabilidades, porque denunciam as suas graves injustiças sociais e rechaçam o pensamento malvado e idiota de um rei bufão.
Ao publicar no seu site essa matéria, Leonardo Boff muito oportunamente escreve que Frei Betto "é um atento observador e analista da situação brasileira, especialmente
a partir da ótica das vítimas das políticas sociais que prejudicam os mais vulneráveis." Em seu texto - continua Boff - ele "descreve um percurso que nos coloca em alerta. É semelhante àquele seguido
pelo nazismo de Hitler que provocou o maior genocídio da história e uma guerra
mundial com milhões de mortos. A lógica seguida pelo atual governo é a mesma,
embora, como pensamos, não consiga impor as perversidades que o nazismo impôs
na Alemanha e lá onde chegou com suas tropas. Sua irradiação perversa persiste
até os dias de hoje nos seguidores que possui pelo mundo afora, inclusive no
Brasil. Seria uma tragédia sem tamanho se algo parecido ocorresse em nosso
país. Daí, a vigilância, a resistência e mais ainda a (criação de uma) proposta, de um caminho
alternativo, humanitário, com maior justiça e solidariedade, que tanto fazem
falta em nossa história. Valem estes 10 pontos de reflexão de Frei Betto.
Profeticamente, ele denuncia o que eventualmente pode ocorrer entre nós se não nos
mantivermos alertas".
Segue o artigo. Alguns negritos no texto são nossos.
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A naturalização do horror
Por: Frei Beto
Em 1934, o embaixador José Jobim
(assassinado pela ditadura, no Rio, em 1979) publicou o livro “Hitler e os
comediantes” (Editora Cruzeiro do Sul). Descreve a ascensão do líder nazista
recém-eleito, e a reação do povo alemão diante de seus abusos. Não se acreditava
que ele haveria de implantar um regime de terror. “Ele não gosta de judeus”,
diziam, “mas isso não deve ser motivo de preocupações. Os judeus são poderosos
no mundo das finanças, e Hitler não é louco de fustigá-los”. E sabemos todos
que deu no que deu.
Estou convencido de que Bolsonaro sabe
o que quer, e tem projeto de longo prazo para o Brasil. Adota uma
estratégia bem arquitetada.
Enumero suas 10 táticas mais óbvias:
1. Despolitizar o discurso político e
impregná-lo de moralismo. Jamais ele demonstra preocupação com saúde,
desemprego, desigualdade social. Seu foco não é o atacado, é o varejo: vídeo
com “golden shower”; filme da “Bruna, surfistinha”; kit gay (que nunca
existiu); proteção da moral familiar etc. Isso toca o povão, mais sensível à
moralidade que à racionalidade, aos costumes que às propostas políticas. Como
disse um evangélico, “votei em Bolsonaro porque o PT iria fazer nossos filhos
virarem gays”.
2. Apropriar-se do cristianismo e
convencer a opinião pública de que ele foi ungido por Deus para consertar o
Brasil. Seu nome completo é Jair Messias Bolsonaro. Messias em hebraico
significa ‘ungido’. E ele se acredita predestinado. Hoje, 1/3 da programação
televisiva brasileira é ocupado por Igrejas Evangélicas pentecostais ou
neopentecostais. Todas pró-Bolsonaro. Em troca, ele reforça os privilégios
delas, como isenção de impostos e multiplicação das concessões de rádio e TV.
3. Sobrepor o seu discurso,
desprovido de fundamentos científicos, aos dados consolidados das ciências,
como na proibição de figurar o termo ‘gênero’ nos documentos oficiais e dar
ouvidos a quem defende que a Terra é plana.
4. Afrouxar leis que possam imprimir
no cidadão comum a sensação de que “agora, sou mais livre”, como dirigir sem
habilitação; reduzir os radares; desobrigar o uso de cadeirinha para bebês etc.
5. Privatizar o sistema de segurança
pública. Melhor do que gastar com forças policiais e ampliação de cadeias é
possibilitar, a cada cidadão “de bem”, a posse e o porte de armas, e o direito
de atirar em qualquer suspeito. E, sem escrúpulos, ao ser perguntado o que
tinha a declarar diante do massacre de 57 presos (sob a guarda do Estado) no
presídio de Altamira, respondeu: “Pergunta às vítimas”.
6. Desobstruir todas as vias que
possam dificultar o aumento do lucro dos grandes grupos econômicos que o
apoiam, como o agronegócio: isenção de impostos; subsídios a rodo; suspensão de
multas; desativação do Ibama; diferençar “trabalho análogo à escravidão” de
trabalho escravo e permitir a sua prática; sinal verde para o desmatamento e
invasão de terras indígenas. Estes são considerados párias improdutivos, que
ocupam despropositadamente 13% do território nacional, e impedem que sejam
exploradas as riquezas ali contidas, como água, minerais preciosos e vegetais
de interesse das indústrias de produtos farmacêuticos e cosméticos.
7. Aprofundar a linha divisória entre
os que o apoiam e os que o criticam. Demonizar a esquerda e os ambientalistas,
ameaçar com novas leis e decretos a liberdade de expressão que desgasta o
governo (The Intercept Brasil), incutir a xenofobia no sentimento nacional.
8. Alinhamento acrítico e de
vassalagem à direita internacional, em especial a Donald Trump, e modificar
completamente os princípios de isonomia, independência e soberania que, há décadas,
regem a diplomacia brasileira.
9. Naturalizar os efeitos
catastróficos da desigualdade social e do desequilíbrio ambiental, de modo a se
isentar de atacar as causas,chegando a afirmar que no Brasil não há fome.
10. Enfim, deslegitimar todos os discursos
que não se coadunam ao dele. Michel Foucault, em “A ordem do discurso” (2007),
alerta para os sistemas de exclusão dos discursos: censura; segregação da
loucura; e vontade de verdade. O discurso do poder se julga dono da verdade.
Não por acaso, na campanha eleitoral, Bolsonaro adotou, como aforismo, o
versículo bíblico “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8,
32). A verdade é ele, e seus filhos. Seu discurso é sempre impositivo, de quem
não admite ser criticado.
Na campanha eleitoral, a empresa BS
Studios, de Brasília, criou o jogo eletrônico Bolsomito 2K18. No game, o
jogador, no papel de Bolsonaro, acumulava pontos à medida que assassinava
militantes LGBTs, feministas e do MST. Na página no Steam, a descrição do jogo:
“Derrote os males do comunismo nesse game politicamente incorreto, e seja o
herói que vai livrar uma nação da miséria. Esteja preparado para enfrentar os
mais diferentes tipos de inimigos que pretendem instaurar uma ditadura
ideológica criminosa no país. Muita porrada e boas risadas.”
Diante da reação
contrária, a Justiça obrigou a empresa a retirar o jogo do ar.
Mas o governo é real. Dissemina o
horror e enxerga em quem se opõe a ele o fantasma do comunismo.
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Frei Betto é escritor, autor de “A
mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.
Fonte do texto:
Crédito das imagens:
a) Foto de abertura - Vanise Rezende - arquivo do blog.
c) Imagem de Bolsonaro - www1.folha.uol.com.br