Os grandes líderes da humanidade, na nossa época - que não viveram para si, mas carregaram a ventura e o peso da história e das vicissitudes do seu povo - provocaram, no percurso de suas vidas, momentos de grandes transformações e, de consequência, de lutas, de revezes e de "ressurreição".
Muito já se viu em reportagens, filmes e livros que registram as histórias de pessoas que não passaram despercebidas no seu país ou na história mundial.
Quem não ouviu falar de Ghandi, Luther King, San Martín, Simón Bolívar, Khomeini, Che Guevara, Mandela e muitos outros, como os abolicionistas brasileiros André Rebouças, Castro Alves, José do Patrocínio, Maria Firmino dos Reis, Maria Josephine Durocher e Chiquinha Gonzaga?
Quem não sabe da feminista Beth Friedan? Ou de mulheres que se afirmaram como filósofas e políticas como Simone Well, Hannah Arendt e da professora premiada Hanan Al Hroub?
Quem não conheceu a vida da comunista Olga Benario, vítima da ditadura Vargas? Como desconhecer, na história do Brasil, o esforço de lideranças como João Pedro Stédile, no Movimento dos Sem Terra, e Guilherme Boulous, no Movimento dos Sem Teto?
Há, também, muitos registros do trabalho político de mulheres brasileiras como Dilma Rousseff, que conquistou dois mandatos presidenciais, e foi punida com um baixo golpe político; ou Benedita da Silva, que liderou a aprovação dos direitos das domésticas na Câmara dos Deputados; Marielle Franco, a vereadora ex-favelada que morreu lutando em favor dos direitos humanos; e a prática política de Luciana Santos do PCdoB, Manuela D´Ávila do PCB, e Gleisi Hoffman, atual presidente do Partido dos Trabalhadores.
São inúmeras as pessoas que marcaram, e ainda marcam a sua época, por se envolverem com questões ligadas aos direitos humanos e a atenção pelos pobres.
Mas poucos conseguiram marcar a história do Brasil como o nordestino pobre, que não concluiu a escola básica, mas conseguiu afirmar-se como um grande sindicalista e a presidência da república, por dois mandatos - reverenciado em todo o mundo: Luís Inácio Lula da Silva.
Suas recentes palavras, pronunciadas de forma espontânea, antes de apresentar-se à Polícia Federal, voaram como o vento em todo o planeta, e o agigantaram diante dos seus apequenados pilatos.
Tão espontâneo e aparentemente tranquilo, ele estava, que chegou a parar o seu discurso para dizer que alguém, na multidão, que precisava de socorro.
Na sua história, Lula encontrou muitas pedras pelo caminho. Até o enfrentamento desse golpe, engendrado por aqueles que não querem vê-lo novamente no Palácio do Planalto. O caminho para evitar tal desastre, não podia ser a democracia, a escolha direta pelo voto dos eleitores. Pelo voto, sabiam que estariam perdidos. Optaram por um acordo baixo, um golpe impiedoso, que condenou um homem por crimes de cuja autoria não se encontra provas.
Mas a sua prática militante, a persistência com que ainda lidera a maioria da população brasileira, a expressiva vigília de milhares e milhares de pessoas que o acolheram, em São Bernardo, numa manifestação sem precedentes, são fatos que demonstram o seu carisma, e geram um testemunho de uma força significante. Eram milhares os que o cercavam carregando-o nos braços. Milhares e milhares os que o seguiram ao vivo pela internet.
São inúmeros os sinais de apoio contundentes, a Lula, em todo o mundo, que não foram considerados nas maquinações de medo contrárias à democracia brasileira.
O fato que poderia parecer uma humilhação, provocou uma notícia fenomenal.
Hoje, os jornais anunciam que oito governadores do Nordeste pretendem visitá-lo no local da prisão, em Curitiba.
E a grande vigília continua, continuam as manifestações e campanhas, iniciadas em todo o Brasil. Muitas pessoas se revezam em Curitiba, diante do local onde ele se encontra.
Os gestos de Lula, e seu compromisso com o povo do seu país, voltam a enobrecer o Brasil mundo afora. Embora, ao mesmo tempo, estamos envergonhados e indignados com a decisão da sua prisão. Esse fato teve enorme ressonância na imprensa internacional, como se pode ver em notícia da redação de Carta Capital, abaixo reproduzida.
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Ato Ecumênico em homenagem ao aniversário de Maria Letícia
O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o ato ecumênico em homenagem ao aniversário de sua esposa Marisa Letícia, em frente a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na manhã do sábado 7, foi destaque na imprensa de todo mundo. Para além da repercussão internacional do ato político que precedia a prisão de Lula, jornais internacionais cobriram in loco a comoção popular e o xadrez quem envolvia a rendição do ex-presidente à Polícia Federal.
O assunto está nas primeiras páginas e é um dos principais temas das agências internacionais de notícias. A foto de Lula, cercado por uma multidão em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tirada por Francisco Proner, foi distribuída pela Reuters para todo o mundo e reproduzida em jornais influentes, como o inglês The Guardian e o canadense The Globe and Mail.
As palavras-chave são a rendição do maior líder da esquerda brasileira, que está à frente na corrida presidencial, a transformação de Lula em preso político e a desconfiança e crítica sobre o sistema judiciário do país. O material produzido pelas agências de notícia: AP, Reuters, Bloomberg, AFP, EFE, DW e Prensa Latina ganhou o mundo. Vários despachos foram sendo atualizados ao longo do dia.
O americano The New York Times traz longa reportagem assinada pelos correspondentes Manuel Androni, Ernesto Landoño e Shasta Darlington, com foto de Lalo de Almeida, destacando que Lula se rendeu para cumprir pena de 12 anos de prisão. “Sua prisão é uma reviravolta ignominiosa na notável carreira política de Lula, filho de trabalhadores rurais analfabetos que enfrentou os ditadores militares do Brasil como líder sindical e ajudou a construir um partido reformista de esquerda que governou o Brasil por mais de 13 anos”, diz a reportagem.
Os correspondentes do NYT relatam que antes de se render às autoridades policiais federais, Lula, 72 anos, acusou promotores e juízes de intencionalmente persegui-lo com um caso infundado. “Eu não os perdoo por criar a impressão de que sou um ladrão”, disse um indignado Lula, rouco, diante de uma multidão reunida do lado de fora do sindicato de metalúrgicos. A reportagem destaca que, durante horas no sábado, em um impasse tenso, seus fervorosos defensores haviam bloqueado fisicamente sua rendição, antes de finalmente permitir que ele partisse.
O americano Washington Post informa que Lula se entregou à Polícia Federal, mas disse que, mesmo encarcerado, vai fazer campanha política. Segundo o jornal, que destaca em foto Lula sendo levado nos braços do povo no berço do sindicalismo brasileiro, a prisão “intensificou o drama político na maior nação da América Latina”. De acordo com o texto dos correspondentes Marina Lopes e Anthony Faiola, a cadeia transformou um homem que o presidente Barack Obama chamou de “o político mais popular da Terra” no prisioneiro mais famoso da região.
O inglês The Guardian reproduz a foto distribuída pela Reuters com Lula cercado pela multidão e destaca em manchete: “Lula inicia sentença de prisão no Brasil depois de se entregar à polícia”. Segundo o diário, o ex-presidente promete provar sua inocência da corrupção depois de encerrar um impasse de dois dias com as autoridades.
“Faça o que quiser, o poderoso pode matar uma, duas ou 100 rosas. Mas eles nunca conseguirão impedir a chegada da primavera”, discursou o líder político. O jornal canadense The Globe and Mail destaca em primeira página que Lula foi para a cadeia, “mas aqueles que ele defendeu lamentam o fim de uma era”, publicando também a foto de Francisco Proner, distribuída pela Reuters.
Mas para outros, a prisão de Lula é um fim devastador para uma era de um tipo diferente de política. “Lula trouxe um poder para os pobres brasileiros - as pessoas foram viver acima da linha da pobreza, pessoas que nunca tinham estudado começaram a estudar, trabalhadores domésticos tiveram direitos quando antes eram todos escravizados", disse Elisa Lucinda, uma proeminente atriz, poeta e cantora. “Era um Brasil que nunca havia sido visto antes e agora vai desaparecer novamente”.
O site russo Sputnik reporta que Lula se entregou à polícia. Os muitos despachos ao longo do dia foram reproduzidos em outras línguas, inclusive nos serviços em espanhol e português. Em um dos destaques no site, reportagem relata que embora tenha sido condenado por subornos, a Justiça não apresentou provas e que o ex-presidente é líder inconteste nas pesquisas de opinião para voltar ao poder nas eleições previstas para este ano. “A direita brasileira joga com fogo”, destaca.
A emissora de TV Russia Todaydestacou no final da noite que Lula acabou com o impasse e se entregou à polícia. A reportagem aponta que, antes de se entregar, Lula se dirigiu a uma audiência de milhares de pessoas que estavam nas ruas de São Bernardo do Campo e discursou: “Quanto mais dias eles me deixarem (na cadeia), mais Lulas nascerão neste país”. A multidão gritou: “Libertem Lula!”.
Na Argentina, o jornal Clarín destacou em manchete de primeira página, que Lula já está preso em Curitiba para cumprir sua pena por corrupção. Outro jornal argentino, o Página 12, aponta que a detenção de Lula é um segundo golpe que o país vive, e que, durante todo o dia, o líder do PT recebeu o apoio e solidariedade de milhares de militantes e simpatizantes.
Ele falou à multidão, onde disse que o único crime que cometeu “foi tirar milhões da pobreza” e que o golpe que começou com a deposição de Dilma Rousseff terminou com a decisão de impedi-lo de ser candidato à Presidência. Também o La Nación destacou em primeira página que Lula já está na sede da PF em Curitiba, onde cumprirá sua pena.
Agências internacionais
Matéria da AP, reproduzida em 10,6 mil sites noticiosos, relatou que Lula foi levado no início da noite sob custódia policial, depois de um confronto tenso com seus próprios partidários e três intensos dias que de fortes emoções por causa do seu encarceramento.
“Apenas algumas horas antes, Lula disse a milhares de partidários que se entregaria à polícia, mas alegou inocência e disse que sua condenação por corrupção era simplesmente uma maneira de os inimigos garantirem que ele não fugisse – e possivelmente vencesse – as eleições presidenciais de outubro”, diz o texto assinado por Maurício Savarese e Peter Prengaman.
Reportagem da AFP relata a tensão no final de sábado da saída de Lula da sede do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, apontando-o como favorito da eleição presidencial de outubro. O despacho destaca que “Lula se considera vítima de uma trama da elite para impedir que concorra a um terceiro mandato”. O jornal traz declaração forte do ex-presidente: “A obsessão deles é ter uma foto do Lula prisioneiro”, disse. O material foi replicado por 3,7 mil veículos de imprensa no mundo.
A agência espanhola EFE, em despacho divulgado no final de sábado, relatou que Lula pôs fim à sua resistência e já estava nas mãos da Polícia Federal, destacando trecho do seu discurso em que confessou ter cometido um delito. “Eu cometi um crime: trazer os pobres para a faculdade, o que lhes permite comprar carros, eles têm alimentos”. “Serei um criminoso pelo resto da minha vida”.
Texto, vídeo e fotos foram reproduzidos em 2.590 sites e veículos noticiosos em todo o mundo.
Texto da Reuters, com a foto de Lula cercado pela multidão de simpatizantes e militantes de esquerda no pátio do sindicato onde começou sua vida política, foi reproduzido em dezenas de sites de notícias. A reportagem aponta que Lula se entregou à polícia, acabando com o impasse, no início da noite de sábado. Segundo a agência, “a prisão de Lula remove a figura política mais influente do Brasil, líder da campanha presidencial deste ano”.
O texto especula que isso poderia aumentar as chances de um candidato centrista prevalecer. O despacho da agência foi reproduzido por 2.480 sites e jornais, inclusive o The New York Times.
A Deutsche Welle, agência alemã, deu em manchete que “o ex-presidente brasileiro Lula está na prisão”, que o primeiro prazo ele havia deixado passar, no sábado os seus seguidores impediram a sua detenção, mas o líder condenado por corrupção foi levado afinal por policiais. “Vários pedidos para permanecer em liberdade até o final do apelo foram negados”, relata a agência alemã. “Lula também pediu ao Comitê de Direitos Humanos da ONU em Genebra uma liminar para evitar a detenção”.
Jornais europeus
O diário espanhol El País deu manchete de primeira página para a prisão de Lula, destacando no título trecho do discurso do ex-presidente: “A morte de um combatente não para a revolução”. Segundo o jornal, o líder petista foi para a prisão no final da noite de sábado, condenado a 12 anos de prisão, mas que falou antes a uma multidão: “Não sou um ser humano mais. Eu sou uma ideia. E as ideias não se encerram”.
O jornal francês Le Monde, por exemplo, em editorial na edição de sábado avalia que, mesmo Lula tendo caída em “desgraça” a Justiça brasileira terá que provar ao mundo que sua mobilização contra a corrupção é capaz de atingir também a outros grupos políticos. “A Operação Lava Jato deve demonstrar ao país que a prisão de Lula não é um ato político”, aponta o editorial.
“A prisão daquele que continuará sendo um dos dirigentes mais marcantes da história do país não significa o fim dos processos. (...) A Lava Jato precisa ter a mesma severidade com outros caciques de partidos do centro e da direita”. E cita o ex-presidenciável tucano Aécio Neves, “suspeito de corrupção passiva e obstrução da justiça”, estranhando que “seu caso ainda não foi examinado pela Suprema Corte”.
Em reportagem da correspondente Claire Gatinois, o Le Mondedestacou que Lula se rendeu à polícia, abrindo a notícia com a declaração do ex-presidente para “uma multidão em lágrimas” de que “podem matar um combatente, mas a revolução continua". “Ofegante e animado”, descreve a jornalista, “o velho confirmou a sua rendição”.
O tradicional jornal Liberationquestionou em sua edição de domingo se a ida de Lula para prisão poderia ser interpretado como “um golpe de misericórdia na esquerda latina”. Ouvindo especialistas, o jornal relata que Lula é o candidato da esquerda reformista – “não revolucionária” – a mais amigável em relação aos mercados.
“O resultado é que ele vai tornar-se radical”, analisa Patricio Navia, orientador acadêmico do Centro de abertura e desenvolvimento da América Latina (Cadal). Fontes ouvidas pelo jornal avaliam que a esquerda terá grandes dificuldades em voltar, mas que “enquanto as sociedades da região da América Latina forem marcadas pela pobreza, desigualdade e exclusão social, sempre haverá um desafio para mudar o status quo”.
O jornal L’Humanité aponta um “golpe judicial e militar contra Lula”, reforçando o argumento da esquerda brasileira de que o ex-presidente está sendo perseguido. “O Supremo Tribunal do Brasil rejeitou na quarta-feira a libertação do ex-presidente Lula, que é o candidato presidencial em outubro. Contra o pano de fundo das ameaças do exército”, resume. O também francês Le Fígarodestacou que Lula anunciou que aceitava a sua prisão, mas a matéria ressalta que ele contestou as acusações que pesam contra si e disse que vai provar que seu julgamento é um “crime político”.
Em outro despacho no mesmo jornal, o destaque foi a reportagem da agência France Press, também reproduzida no diário Le Progress,noticiando que, no final da tarde de sábado, Lula foi impedido de se entregar pelos simpatizantes que cercavam o sindicato dos metalúrgicos, onde ele despontou sua liderança, na região de São Bernardo do Campo. O material também foi reproduzido no canal France24, nos jornais La Provence eLa Croix, no canadense Le Journal de Montreal, as emissoras de rádio DH, da Bélgica, e Radio Canada.
O português Diário de Notícias, em reportagem do correspondente João Almeida Moreira, destacou que o último dia de liberdade de Lula, poderia ser de tristeza, com sua despedida e a missa em memória da sua falecida mulher como panos de fundo. Mas se tornou uma festa, com direito a set list escolhida pelo ex-presidente: “Asa Branca” e “O que é, o que é”, de Gonzaguinha, “Apesar de Você”, de Chico Buarque, e o samba “Deixa a Vida me Levar”, de Zeca Pagodinho.
A matéria reproduz trechos do discurso de Lula – “Eu não sou um ser humano, eu sou uma ideia, todos vocês agora vão virar Lula, eles acham que tudo o que acontece nesse país é responsabilidade do Lula, agora eu responsabilizo vocês” – e diz que o petista também citou Martin Luther King.
Na Bélgica, a RTBF manteve flashes sobre Lula e a sua iminente prisão, durante a programação de sábado. Foram quatro destaques sobre o líder brasileiro, a última reportagem apontando que o petista foi impedido de se entregar à polícia pelos simpatizantes.
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Fonte do texto: Carta Capital - Prisão de Lula repercute internacionalmente - por: Redação. publicado em 8/09/2018
Créditos das imagens:
1. Lula entre os manifestantes, em Curitiba - Foto de Ricardo Stuckert
2. http://www.virgula.com.br/comportamento/foto-viral-de-dia-da-prisao-de-lula-e-de-enteado-de-chico-buarque/
3. http://lula.com.br/estamos-com-lula-e-marca-da-passagem-pelo-nordeste
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