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MULHERES ESCRITORAS NA LITERATURA BRASILEIRA

26 abril, 2018



"Venho de longe, conquistei o mundo de pés descalços. Quero encorajar o meu povo, as mulheres da minha terra: por muito difícil que as condições sejam, caminhem descalças e vençam".  
Paulina Chiziane, romancista moçambicana.

Há um mês atrás fui selecionada em primeiro lugar no concurso: I Prêmio de Literatura da Mulher  Idosa  do Estado de Pernambuco, na  modalidade conto, com o título: "A surpreendente Clarice". Diz-se que virá publicado, pela CEPE, junto a mais nove obras premiadas, em prosa e poesia.   Entre as mulheres que concorreram com poesias, o primeiro lugar coube a Marli Marques Pereira Marques, também residente no Recife.

Percebendo como as escritoras do nosso país têm sido “esquecidas” nas antologias brasileiras de literatura, venho pensando como mobilizar nosso interesse pela literatura escrita por mulheres. Nesse meu intento, e na condição de leitora, me ponho as seguintes questões:

— Será que existe apenas o ponto de vista feminino, quando uma autora imagina situações que enredam as relações humanas?

 Além das características pessoais de cada autor, no ofício da escrita, se percebe a presença de uma sensibilidade mulher, no seu modo de engendrar suas histórias e de versejar?  

Sabe-se que a mulher brasileira marcou sua presença bem mais tarde, na história da literatura do país — somando a sua substantiva presença junto aos seus parceiros homens. Embora tenham-se afirmado com excelentes obras — inclusive no exterior  o registro da  presença da mulher, quando se folheia as antologias de literatura brasileira, apresenta um grande descompasso. 

Seguem algumas observações iniciais:

No livro da série Folha Explica  Literatura Brasileira Hojecom 164 páginas, Publifolha, 2004  o professor Manuel da Costa Pinto (mestre em literatura comparada pela USP), apresenta um panorama da literatura brasileira contemporânea. Foi selecionado um total de 60 escritores, entre os quais apenas 6 mulheres (citadas, aqui, em ordem alfabética): Adélia Prado, Ana Miranda, Claudia Roquete Pinto, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles e Zulmira Ribeiro Tavares. Nessa obra, a relação é de uma escritora citada, para cada dez escritores homens.

Oito anos depois (2012), na importante antologia: A Literatura Brasileira Através dos Textos  29ª edição "revista e ampliada", do professor titular da USP, Massaud Moisés (Ed. Cultrix, 2012), não aparece um só poema da insigne Adélia Prado,  como no Folha Explica de 2004 não são registrados os significativos contos de Nélida Piñon, nem a escrita surpreendente de Cora Coralina, entre outras graves ausências.

O livro citado apresenta textos de 90 escritores, em 660 páginas. Um registro  significativo, que inicia com a histórica carta de Pero Vaz de Caminha. E tão minguado é o número de mulheres    com a publicação de trechos de suas obras — que podem ser nomeadas  aqui:  Cecília MeirelesClarice Lispector,
Lygia Fagundes TellesRaquel de Queiroz. 

Na minha observação de leitora  muito longe do acesso à informação que terá o reconhecido professor da USP, nessa área  a sua edição “revista e ampliada”, do ano de 2012, deixa de registrar significativas obras de reconhecidas escritoras brasileiras. 

Tendo presente a data da edição revista da antologia, vê-se que as obras das escritoras "esquecidas", foram publicadas antes. Então, por que não foram citadas?  

— A Global Editora já havia lançado a 2ª. edição (1986) do livro: Estórias da Casa Velha da Ponte, de Cora Coralina;
— A Siciliano já havia lançado Poesia Reunida (1991), da insigne poetisa Adélia Prado;
— A Ática já havia lançado Quarto de Despejo (1992) de Carolina Maria de Jesus;
— A LP&M já havia lançado, em 2000: Cortejo do Divino e Outros Contos Escolhidos, de Nélida Piñon;
— A Record, já estava na 3ª. edição do livro: Pensar é transgredir (2004) de Lya Luft.
— Todas as publicações de Clarice Lispector já estava disponível.


Fiquei a pensar numa situação hipotética: alguém decide escrever sobre  obras musicais brasileiras de uma certa época, e vem a citar Carlos Gomes e Villa Lobos, mas, no entremeio, deixa de nomear Chiquinha Gonzaga e Pixiguinha...

Então, me pergunto: a que serviria as antologias, se os autores decidissem apresentar apenas as obras de sua preferência, deixando de lado a justeza e a abrangência do registro?

No caso da literatura brasileira, se respeitáveis professores não reconhecem obras de prosa e poesia — que efetivamente enriquecem e qualificam a literatura brasileira  imagine se haverá lugar para que as novas gerações de  escritoras seja lembrada, nas antologias que virão.

Pego outro livro, com um referencial histórico específico: Presença da Literatura Brasileira: Modernismo — História e Antologia, dos conhecidos professores Antônio Cândido e José Aderaldo Castello (Ed. Bertrand Brasil, 2015, 15ª edição). São apresentados 20 escritores. Entre esses, estão duas vanguardistas do modernismo no Brasil: Cecília Meirelles Raquel de Queiroz. Os números referenciais são: uma escritora citada, para cada dez escritores homens. A história confirma como as mulheres chegaram devagar, na trilha da literatura do país. Curiosamente, a bibliografia dessa obra inscreve, entre os livros consultados — dos longínquos 1952  o da crítica literária Lúcia Miguel Pereira.
    
Recentemente, encontrei um artigo no acervo da Revista Carta Capital (2016), da jovem escritora Aline Valek. Ela fala de forma contundente sobre a questão que levantamos aqui:

 "(...) é um machismo que se manifesta de forma sutil, empurrando as autoras para as margens. É o machismo de tornar as mulheres invisíveis. É o machismo da ausência de oportunidades”, sustenta. "E isso vem desde muito cedo, desde quando as jovens mulheres, ainda mais quando são pobres, especialmente quando são negras, são desmotivadas a escrever; quando escrevem, têm dificuldade de ser publicadas; quando são publicadas não recebem tanta projeção". E conclui: "Então, é sobretudo para as ausências que precisamos prestar atenção". 

O que queremos sublinhar, aqui, não parte da ingênua pretensão de me insurgir contra a grande contribuição e o valor alcançado pelos escritores homens, na história da literatura do país. Não é disso que estamos falando. Estamos falando de uma necessária tomada de atitude, para  no dizer da escritora Aline Valek   prestar mais atenção nas ausências. Prestar mais atenção, apoiar e  incentivar as preciosas escritas femininas da língua portuguesa, onde quer que apareçam. 

Cada um de nós — mulheres e homens — pode fazer a sua parte para divulgar  a literatura brasileira de uma forma mais justa e inclusiva. Homens e mulheres podem fazer isso, colaborando com as bibliotecas populares de sua cidade, participando das rodas de leitura, pesquisando a produção das editoras e das revistas especializadas, e incentivando atividades nas bibliotecas públicas e nas Academias de Literatura estaduais e interioranas. Essas, surgem e ressurgem, muita vez com o impulso criativo de mulheres, a promover grandes esperanças. 

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Texto citado, de Aline Valeck – publicado em Carta Capital, 27/07/2016.


Créditos das Imagens:

1. Pauline Chiziane - escritora moçambicana, membro do CSCS 
www.folhademaputo.co.mz/pt/noticia/nacional/
2. Vanise Rezende - participando de evento da EdC-Economia de Comunhão: uma audiência com o Papa Francisco - Vaticano-2017.
3. Vanise Rezende - durante evento do Governo do estado de Pernambuco, no momento de receber o I Prêmio Literatura da Mulhe Idosa - 1º lugar/conto.
4. Adelia Prado - escritora brasileira - www.essaseoutras.com.br/adelia-prado-biografia-da-escritora-poemas-melhores-obras-e-fotos.
5.  Clarice Lispector - escritora brasileira - foto da Editora Rocco, no livro: Clarice Lispector - Todos os Contos - 2016.
6.  Lya Luft - escritora brasileira - http://www1.folha.uol.commbr/ilustrada/2017/
7.  Chiquinha Gonzaga - musicista brasileira - http://youtube.com
8.  Aline Valeck - escritora brasileira - www.camillices.com.br


Nota: As imagens aqui publicadas pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com


















BRASIL - PRECISA-SE DE HUMANOS

16 abril, 2018








Ali, Marielle e Marisa Letícia: vítimas da ignorância. 



Reproduzimos um oportuno e incisivo artigo de Magali do Nascimento Cunha, que nos convida a pensar e experimentar  o testemunho de uma convivência mais humana, nesses tempos de ódios, interesses e descalabros.

Por: Magali do Nascimento Cunha 
Fonte: Carta Capital - 12/04/2018


As mídias digitais necessitam 
com urgência de um choque
de humanidade.

Quando nos referimos ao humano, não ficamos apenas na ideia do homo sapiens (humano sábio) e da humanidade como conjunto dos seres humanos. Consideramos também a ótica da natureza, dos traços diferentes que homens e mulheres tendem a demonstrar, que incluem maneiras de pensar, sentir ou agir, que formam virtudes e fraquezas.

Nesse sentido, referimo-nos ao humano em nossa vida coletiva, por suas virtudes, como sinônimo de bondade, amor, piedade, coragem, respeito, compreensão para com os outros, especialmente aquelas de fora do círculo de convivência.
Assim dizemos que alguém “é muito humano” para destacar a capacidade que ele tem de simpatia pela realidade de outros, especialmente aqueles em situação vulnerável e ser aberto a compreender o que não é parte do seu jeito de ser. Humanidade é o termo que também usamos para o que é e deve ser cultivado neste sentido por homens e mulheres.
Quando nos deparamos com situações que mostram o oposto disto, ou seja, crueldade, indiferença ao mal, violência dura e friamente praticada, de forma física ou simbólica, usamos o termo “desumano” ou “desumanidade”.  
Entretanto, há ainda outra qualificação que podemos atribuir àqueles homens e mulheres que vão além do desumano. Quando se mostram desprovidos de sentimentos de respeito, consideração, amor, generosidade, por meio de atitudes que revelam a ausência da identidade humana. Chamamos estes homens e mulheres que não se apresentam como humanos de “inumanos” ou revestidos de “inumamidade”.
Esta reflexão me ocorre por conta deste tempo que vivemos no cristianismo, a Páscoa, o período de 50 dias depois do domingo em que recordamos a ressurreição de Jesus de Nazaré, o Cristo crucificado pelo Império Romano com anuência do poder judaico.

Ainda ecoam nos meus pensamentos que Jesus, depois de um julgamento injusto, baseado em convicções, finalizado por um ‘juiz’ que lava as mãos, depois de receber a pena de morte, de ser torturado, receber na cabeça uma debochada coroa de espinhos e ser pregado com pregos numa cruz de madeira, teve que ouvir do público que se deleitava com a crueldade e a injustiça: “Desce da cruz. Salva-te a ti mesmo”.
Quem, mantida viva a sua identidade humana, não se indigna quando lê ou assiste a uma narrativa deste episódio que mostra tanta inumanidade.
Como não pensar no nosso próprio Brasil. Em agosto do ano passado, o refugiado sírio Mohamed Ali, vendedor de 'esfihas' em Copacabana, no Rio de Janeiro, foi agredido por um homem, com apoio de outros, que derrubou sua mercadoria e gritava: “Saia do meu País. Eu sou brasileiro e estou vendo meu País ser invadido por esses homens-bombas que mataram, esquartejaram crianças, adolescentes. São miseráveis... Essa terra aqui é nossa. Não vai tomar nosso lugar não". As cenas se encerraram com o agressor entoando: "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor".

Neste março, o torcedor do Palmeiras William de Lucca criticou, no Twitter, os cantos da torcida do seu time contra a do São Paulo, carregados de homofobia. Após a repercussão, o jovem deu uma entrevista a um programa de tevê e emocionou o comentarista Walter Casagrande, que fez um desabafo, ao dizer que a dor é parecida de quando ele é ofendido por histórico de dependência química. “O que me ofendem nas redes sociais, me chamam de viciado, drogado… Não posso falar nada de ninguém por causa do meu passado. Quem sou eu para falar de alguém se fiquei internado. Eu sofro isso diariamente”.

Em janeiro de 2017, a médica reumatologista Gabriela Munhoz enviou mensagens a um grupo de Whatsapp de antigos colegas de faculdade, confirmando que a ex-primeira dama Marisa Letícia estava no pronto-socorro do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, com diagnóstico de Acidente Vascular Cerebral hemorrágico gravíssimo, prestes a ser levada para a UTI. Um colega de Gabriela, o médico residente em urologia Michael Hennich, postou, quando ela disse que Marisa não tinha sido levada, ainda, para a UTI: “Ainda bem”. Gabriela respondeu com risadas.

Outro médico do grupo, o neurocirurgião Richam Faissal Ellakkis, também comentou: “Esses fdp vão embolizar ainda por cima”, escreveu, em referência ao procedimento de provocar o fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue em determinado local. “Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela”, escreveu Ellakkis.
Nesta semana, tomamos conhecimento de um áudio vazado na internet, autêntico, segundo a Força Aérea Brasileira, em que alguém, sem se identificar, diz ao piloto que levava Lula para Curitiba: “Leva e não traz nunca mais”, "manda esse lixo janela abaixo”. O áudio foi curtido e aplaudido por milhares.

Estes comportamentos se assemelham à repercussão da execução da vereadora Marielle Franco há um mês. Houve comoção e movimentos de rua em solidariedade à família e ao povo do Rio de Janeiro, mas houve também expressões públicas que a classificaram como “vagabunda safada” e afirmaram que “teve o que procurou”, entre outras menções inumanas diante da situação dramática.

Estes são exemplos recentes, graves, cujos casos ganharam destaque nas mídias. Poderíamos tratar aqui de muitos outros, com gente simples, como a hostilidade a imigrantes, a homofobia transformada em violência física, o escárnio em relação a quem vive no limite da vida, como moradores de rua, dependentes químicos, indígenas. É alarmante identificarmos entre os inumanos jovens e até crianças.
Torna-se um alívio quando lembramos que ainda há muita gente humana que mostra que a humanidade tem jeito, sim. Vocês, leitores e leitoras, podem exercitar a lembrança de histórias. Precisamos torná-las mais conhecidas e visíveis, e, com isso cultivarmos e alimentarmos as virtudes da humanidade entre nós. Isto tem que ser feito a começar da nossa presença nas mídias digitais: elas precisam de um choque de humanidade.

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Fonte do texto: Carta Capital – Diversidade/Sociedade - Brasil 2018: 
Precisa-se de humanos
Publicado em 12/04/2018

Créditos imagens: foto reproduzida no artigo acima.

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O SURPREENDENTE LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA

09 abril, 2018











Os grandes líderes da humanidade, na nossa época - que não viveram para si, mas carregaram a ventura e o peso da história e das vicissitudes do seu povo - provocaram, no percurso de suas vidas, momentos de grandes transformações  e, de consequência, de lutas, de revezes e de "ressurreição". 
Muito já se viu  em reportagens, filmes e livros que registram  as histórias de pessoas que não passaram despercebidas no seu país ou na história mundial.
Quem não ouviu falar de Ghandi, Luther King, San Martín, Simón Bolívar, Khomeini, Che Guevara, Mandela e muitos outros, como os abolicionistas brasileiros André Rebouças, Castro Alves, José do Patrocínio, Maria Firmino dos Reis, Maria Josephine Durocher e Chiquinha Gonzaga? 
Quem não sabe da feminista Beth Friedan? Ou de mulheres que se afirmaram como filósofas e políticas como Simone Well, Hannah Arendt e da professora premiada Hanan Al Hroub? 
Quem não conheceu a vida da comunista Olga Benario, vítima da ditadura Vargas? Como desconhecer, na história do Brasil, o esforço de lideranças como João Pedro Stédile, no Movimento dos Sem Terra, e Guilherme Boulous, no Movimento dos Sem Teto?
Há, também, muitos registros do trabalho político de mulheres brasileiras como Dilma Rousseff, que conquistou dois mandatos presidenciais, e foi punida com um baixo golpe político; ou Benedita da Silva, que liderou a aprovação dos direitos das domésticas na Câmara dos Deputados; Marielle Franco, a vereadora ex-favelada que morreu lutando em favor dos direitos humanos; e a prática  política de Luciana Santos do PCdoB, Manuela D´Ávila do PCB, e Gleisi Hoffman, atual presidente do Partido dos Trabalhadores.
São inúmeras as pessoas que marcaram, e ainda marcam a sua época, por se envolverem com questões ligadas aos direitos humanos e a atenção pelos  pobres. 
Mas poucos conseguiram marcar a história do Brasil como o nordestino pobre, que não concluiu a escola básica, mas conseguiu afirmar-se como um  grande  sindicalista e a presidência da república, por dois mandatos - reverenciado em todo o mundo: Luís Inácio Lula da Silva. 
Suas recentes palavras,  pronunciadas de forma espontânea, antes de apresentar-se à Polícia Federal, voaram como o vento em todo o planeta, e o agigantaram diante dos seus apequenados pilatos.
Tão espontâneo e aparentemente tranquilo, ele estava, que chegou a parar o seu discurso para dizer que alguém, na multidão, que precisava de socorro. 
Na sua história, Lula encontrou muitas pedras pelo caminho. Até o enfrentamento desse golpe, engendrado por aqueles que não querem vê-lo novamente no Palácio do Planalto. O caminho para evitar tal desastre, não podia ser a democracia, a escolha direta pelo voto dos eleitores. Pelo voto, sabiam que estariam perdidos. Optaram por um acordo baixo, um golpe impiedoso, que condenou um homem por crimes de cuja autoria não se encontra provas. 
Mas a sua prática militante, a persistência com que ainda lidera a maioria da população brasileira, a expressiva vigília de milhares e milhares de pessoas que o acolheram, em São Bernardo, numa manifestação sem precedentes, são fatos que demonstram o seu carisma, e geram um testemunho de uma força significante. Eram milhares os que o cercavam carregando-o nos braços. Milhares e milhares os que o seguiram ao vivo pela internet.  
São inúmeros os sinais de apoio  contundentes, a Lula, em todo o mundo, que não foram considerados nas maquinações de medo contrárias à democracia brasileira.     
O fato que poderia parecer uma humilhação, provocou uma notícia fenomenal. 
Hoje, os jornais anunciam  que oito governadores do Nordeste pretendem visitá-lo no local da prisão, em Curitiba. 
E a grande vigília continua, continuam as manifestações e campanhas, iniciadas em todo o Brasil. Muitas pessoas se revezam em Curitiba, diante do local onde ele se encontra.  
Os gestos de Lula, e seu compromisso com o povo do seu país, voltam a enobrecer o Brasil mundo afora. Embora, ao mesmo tempo, estamos envergonhados e indignados com a  decisão da sua prisão. Esse fato teve enorme ressonância na imprensa internacional, como se pode ver em notícia da redação de Carta Capital, abaixo reproduzida.
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Ato Ecumênico em homenagem ao aniversário de Maria Letícia 

O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o ato ecumênico em homenagem ao aniversário de sua esposa Marisa Letícia, em frente a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na manhã do sábado 7, foi destaque na imprensa de todo mundo. Para além da repercussão internacional do ato político que precedia a prisão de Lula, jornais internacionais cobriram in loco a comoção popular e o xadrez quem envolvia a rendição do ex-presidente à Polícia Federal.
O assunto está nas primeiras páginas e é um dos principais temas das agências internacionais de notícias. A foto de Lula, cercado por uma multidão em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tirada por Francisco Proner, foi distribuída pela Reuters para todo o mundo e reproduzida em jornais influentes, como o inglês The Guardian e o canadense The Globe and Mail.
As palavras-chave são a rendição do maior líder da esquerda brasileira, que está à frente na corrida presidencial, a transformação de Lula em preso político e a desconfiança e crítica sobre o sistema judiciário do país. O material produzido pelas agências de notícia: AP, Reuters, Bloomberg, AFP, EFE, DW e Prensa Latina ganhou o mundo. Vários despachos foram sendo atualizados ao longo do dia. 
O americano The New York Times traz longa reportagem assinada pelos correspondentes Manuel Androni, Ernesto Landoño e Shasta Darlington, com foto de Lalo de Almeida, destacando que Lula se rendeu para cumprir pena de 12 anos de prisão. “Sua prisão é uma reviravolta ignominiosa na notável carreira política de Lula, filho de trabalhadores rurais analfabetos que enfrentou os ditadores militares do Brasil como líder sindical e ajudou a construir um partido reformista de esquerda que governou o Brasil por mais de 13 anos”, diz a reportagem.
Os correspondentes do NYT relatam que antes de se render às autoridades policiais federais, Lula, 72 anos, acusou promotores e juízes de intencionalmente persegui-lo com um caso infundado. “Eu não os perdoo por criar a impressão de que sou um ladrão”, disse um indignado Lula, rouco, diante de uma multidão reunida do lado de fora do sindicato de metalúrgicos. A reportagem destaca que, durante horas no sábado, em um impasse tenso, seus fervorosos defensores haviam bloqueado fisicamente sua rendição, antes de finalmente permitir que ele partisse.
O americano Washington Post informa que Lula se entregou à Polícia Federal, mas disse que, mesmo encarcerado, vai fazer campanha política. Segundo o jornal, que destaca em foto Lula sendo levado nos braços do povo no berço do sindicalismo brasileiro, a prisão “intensificou o drama político na maior nação da América Latina”. De acordo com o texto dos correspondentes Marina Lopes e Anthony Faiola, a cadeia transformou um homem que o presidente Barack Obama chamou de “o político mais popular da Terra” no prisioneiro mais famoso da região.
O inglês The Guardian reproduz a foto distribuída pela Reuters com Lula cercado pela multidão e destaca em manchete: “Lula inicia sentença de prisão no Brasil depois de se entregar à polícia”. Segundo o diário, o ex-presidente promete provar sua inocência da corrupção depois de encerrar um impasse de dois dias com as autoridades.
“Faça o que quiser, o poderoso pode matar uma, duas ou 100 rosas. Mas eles nunca conseguirão impedir a chegada da primavera”, discursou o líder político. O jornal canadense The Globe and Mail destaca em primeira página que Lula foi para a cadeia, “mas aqueles que ele defendeu lamentam o fim de uma era”, publicando também a foto de Francisco Proner, distribuída pela Reuters.
Mas para outros, a prisão de Lula é um fim devastador para uma era de um tipo diferente de política. “Lula trouxe um poder para os pobres brasileiros - as pessoas foram viver acima da linha da pobreza, pessoas que nunca tinham estudado começaram a estudar, trabalhadores domésticos tiveram direitos quando antes eram todos escravizados", disse Elisa Lucinda, uma proeminente atriz, poeta e cantora. “Era um Brasil que nunca havia sido visto antes e agora vai desaparecer novamente”.
O site russo Sputnik reporta que Lula se entregou à polícia. Os muitos despachos ao longo do dia foram reproduzidos em outras línguas, inclusive nos serviços em espanhol e português. Em um dos destaques no site, reportagem relata que embora tenha sido condenado por subornos, a Justiça não apresentou provas e que o ex-presidente é líder inconteste nas pesquisas de opinião para voltar ao poder nas eleições previstas para este ano. “A direita brasileira joga com fogo”, destaca. 
A emissora de TV Russia Todaydestacou no final da noite que Lula acabou com o impasse e se entregou à polícia. A reportagem aponta que, antes de se entregar, Lula se dirigiu a uma audiência de milhares de pessoas que estavam nas ruas de São Bernardo do Campo e discursou: “Quanto mais dias eles me deixarem (na cadeia), mais Lulas nascerão neste país”. A multidão gritou: “Libertem Lula!”.
Na Argentina, o jornal Clarín destacou em manchete de primeira página, que Lula já está preso em Curitiba para cumprir sua pena por corrupção. Outro jornal argentino, o Página 12, aponta que a detenção de Lula é um segundo golpe que o país vive, e que, durante todo o dia, o líder do PT recebeu o apoio e solidariedade de milhares de militantes e simpatizantes. 
Ele falou à multidão, onde disse que o único crime que cometeu “foi tirar milhões da pobreza” e que o golpe que começou com a deposição de Dilma Rousseff terminou com a decisão de impedi-lo de ser candidato à Presidência. Também o La Nación destacou em primeira página que Lula já está na sede da PF em Curitiba, onde cumprirá sua pena. 
Agências internacionais
Matéria da AP, reproduzida em 10,6 mil sites noticiosos, relatou que Lula foi levado no início da noite sob custódia policial, depois de um confronto tenso com seus próprios partidários e três intensos dias que de fortes emoções por causa do seu encarceramento.
“Apenas algumas horas antes, Lula disse a milhares de partidários que se entregaria à polícia, mas alegou inocência e disse que sua condenação por corrupção era simplesmente uma maneira de os inimigos garantirem que ele não fugisse – e possivelmente vencesse – as eleições presidenciais de outubro”, diz o texto assinado por Maurício Savarese e Peter Prengaman.
Reportagem da AFP relata a tensão no final de sábado da saída de Lula da sede do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, apontando-o como favorito da eleição presidencial de outubro. O despacho destaca que “Lula se considera vítima de uma trama da elite para impedir que concorra a um terceiro mandato”. O jornal traz declaração forte do ex-presidente: “A obsessão deles é ter uma foto do Lula prisioneiro”, disse. O material foi replicado por 3,7 mil veículos de imprensa no mundo.
A agência espanhola EFE, em despacho divulgado no final de sábado, relatou que Lula pôs fim à sua resistência e já estava nas mãos da Polícia Federal, destacando trecho do seu discurso em que confessou ter cometido um delito. “Eu cometi um crime: trazer os pobres para a faculdade, o que lhes permite comprar carros, eles têm alimentos”. “Serei um criminoso pelo resto da minha vida”.
Texto, vídeo e fotos foram reproduzidos em 2.590 sites e veículos noticiosos em todo o mundo.
Texto da Reuters, com a foto de Lula cercado pela multidão de simpatizantes e militantes de esquerda no pátio do sindicato onde começou sua vida política, foi reproduzido em dezenas de sites de notícias. A reportagem aponta que Lula se entregou à polícia, acabando com o impasse, no início da noite de sábado. Segundo a agência, “a prisão de Lula remove a figura política mais influente do Brasil, líder da campanha presidencial deste ano”.

O texto especula que isso poderia aumentar as chances de um candidato centrista prevalecer. O despacho da agência foi reproduzido por 2.480 sites e jornais, inclusive o The New York Times. 

A Deutsche Welle, agência alemã, deu em manchete que “o ex-presidente brasileiro Lula está na prisão”, que o primeiro prazo ele havia deixado passar, no sábado os seus seguidores impediram a sua detenção, mas o líder condenado por corrupção foi levado afinal por policiais. “Vários pedidos para permanecer em liberdade até o final do apelo foram negados”, relata a agência alemã. “Lula também pediu ao Comitê de Direitos Humanos da ONU em Genebra uma liminar para evitar a detenção”.

Jornais europeus
O diário espanhol El País deu manchete de primeira página para a prisão de Lula, destacando no título trecho do discurso do ex-presidente: “A morte de um combatente não para a revolução”. Segundo o jornal, o líder petista foi para a prisão no final da noite de sábado, condenado a 12 anos de prisão, mas que falou antes a uma multidão: “Não sou um ser humano mais. Eu sou uma ideia. E as ideias não se encerram”.
O jornal francês Le Monde, por exemplo, em editorial na edição de sábado avalia que, mesmo Lula tendo caída em “desgraça” a Justiça brasileira terá que provar ao mundo que sua mobilização contra a corrupção é capaz de atingir também a outros grupos políticos. “A Operação Lava Jato deve demonstrar ao país que a prisão de Lula não é um ato político”, aponta o editorial. 
“A prisão daquele que continuará sendo um dos dirigentes mais marcantes da história do país não significa o fim dos processos. (...) A Lava Jato precisa ter a mesma severidade com outros caciques de partidos do centro e da direita”. E cita o ex-presidenciável tucano Aécio Neves, “suspeito de corrupção passiva e obstrução da justiça”, estranhando que “seu caso ainda não foi examinado pela Suprema Corte”. 
Em reportagem da correspondente Claire Gatinois, o Le Mondedestacou que Lula se rendeu à polícia, abrindo a notícia com a declaração do ex-presidente para “uma multidão em lágrimas” de que “podem matar um combatente, mas a revolução continua". “Ofegante e animado”, descreve a jornalista, “o velho confirmou a sua rendição”.
O tradicional jornal Liberationquestionou em sua edição de domingo se a ida de Lula para prisão poderia ser interpretado como “um golpe de misericórdia na esquerda latina”. Ouvindo especialistas, o jornal relata que Lula é o candidato da esquerda reformista – “não revolucionária” – a mais amigável em relação aos mercados. 
“O resultado é que ele vai tornar-se radical”, analisa Patricio Navia, orientador acadêmico do Centro de abertura e desenvolvimento da América Latina (Cadal). Fontes ouvidas pelo jornal avaliam que a esquerda terá grandes dificuldades em voltar, mas que “enquanto as sociedades da região da América Latina forem marcadas pela pobreza, desigualdade e exclusão social, sempre haverá um desafio para mudar o status quo”.
O jornal L’Humanité aponta um “golpe judicial e militar contra Lula”, reforçando o argumento da esquerda brasileira de que o ex-presidente está sendo perseguido. “O Supremo Tribunal do Brasil rejeitou na quarta-feira a libertação do ex-presidente Lula, que é o candidato presidencial em outubro. Contra o pano de fundo das ameaças do exército”, resume. O também francês Le Fígarodestacou que Lula anunciou que aceitava a sua prisão, mas a matéria ressalta que ele contestou as acusações que pesam contra si e disse que vai provar que seu julgamento é um “crime político”. 
Em outro despacho no mesmo jornal, o destaque foi a reportagem da agência France Press, também reproduzida no diário Le Progress,noticiando que, no final da tarde de sábado, Lula foi impedido de se entregar pelos simpatizantes que cercavam o sindicato dos metalúrgicos, onde ele despontou sua liderança, na região de São Bernardo do Campo. O material também foi reproduzido no canal France24, nos jornais La Provence eLa Croix, no canadense Le Journal de Montreal, as emissoras de rádio DH, da Bélgica, e Radio Canada. 
O português Diário de Notícias, em reportagem do correspondente João Almeida Moreira, destacou que o último dia de liberdade de Lula, poderia ser de tristeza, com sua despedida e a missa em memória da sua falecida mulher como panos de fundo. Mas se tornou uma festa, com direito a set list escolhida pelo ex-presidente: “Asa Branca” e “O que é, o que é”, de Gonzaguinha, “Apesar de Você”, de Chico Buarque, e o samba “Deixa a Vida me Levar”, de Zeca Pagodinho.
A matéria reproduz trechos do discurso de Lula – “Eu não sou um ser humano, eu sou uma ideia, todos vocês agora vão virar Lula, eles acham que tudo o que acontece nesse país é responsabilidade do Lula, agora eu responsabilizo vocês” – e diz que o petista também citou Martin Luther King.
Na Bélgica, a RTBF manteve flashes sobre Lula e a sua iminente prisão, durante a programação de sábado.  Foram quatro destaques sobre o líder brasileiro, a última reportagem apontando que o petista foi impedido de se entregar à polícia pelos simpatizantes.
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Fonte do texto: Carta Capital - Prisão de Lula repercute internacionalmente - por: Redação. publicado em 8/09/2018
Créditos das imagens:

1. Lula entre os manifestantes, em Curitiba - Foto de Ricardo Stuckert 
2. http://www.virgula.com.br/comportamento/foto-viral-de-dia-da-prisao-de-lula-e-de-enteado-de-chico-buarque/
3. http://lula.com.br/estamos-com-lula-e-marca-da-passagem-pelo-nordeste

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