Vanise Rezende - clique para ver seu perfil

LITERATURA - DANY WAMBIRE

30 janeiro, 2016

O escritor moçambicano Dany Wambire autor do livro: “Adubada Fecundidade e Outros Contos”, recebeu menção honrosa no Prêmio Internacional José Luís Peixoto, concedido a cidadãos de países de língua oficial portuguesa. Dany Wambire é o nome artístico de Danito Gimo da Graça Avelino, licenciado em Ensino de História pela Universidade Pedagógica de Moçambique, e professor primário na cidade da Beira, no centro dob país, além de diretor da revista literária “Soletras – A sopradora de Letras”.

No prólogo da sua estreia literária, o conhecido escritor moçambicano Mia Couto destaca as qualidades do jovem escritor, afirmando que “Dany Wambire não está apenas à busca de um modo de dizer: ele já tem uma raiz que é sua, um traço estilístico que define a sua identidade". Os seus contos "são um mergulho nesse outro mundo que não aceitamos ver, mas que é nosso e que traduz a nossa diversidade de povo. Há nestes textos uma lógica marginal, mas que quer ser parte da correnteza do rio, e as personagens aparentemente estranhas das suas histórias, apenas espelham a realidade plural do nosso quotidiano”.

Com alegria, trago a este espaço uma crônica de Dany Wambire. Seu texto foi mantido no original português moçambicano, o que não trará dificuldades ao leitor brasileiro, que de certo irá perceber a leveza de seu estilo e a beleza de sua linguagem. O conto é intitulado:

Nunca mais corrupção!


Todos já eram corruptos ou corruptores, em Fim-de-Mundo. 
Sim, todos  já  eram  mais  dedicados  ao  dinheiro   ilícito,  pedindo recompensas por todo o serviço a todo o cidadão. Até o serviço, que era do seu respectivo dever, devidamente remunerado, aos  fins  de meses.
Dentre os corruptos, havia Inconstante Constâncio, homem, que exercia, com zelo e dedicação a sua corrupta prática, conforme as hodiernas e malvadas ordens. Ele jamais defraudou as expectativas dos seus apoiantes. Falo dos que com ele trabalhavam, de forma abnegada, para o desenvolvimento da corrupção, e para o combate aos homens de excelente educação, os morigerados.

Inconstante Constâncio trabalhava para a Polícia de Tráfego de Fim-de-Mundo. Os seus deveres eram: controlar os veículos que caminhassem em excesso de velocidade, e policiar os condutores que movessem os veículos em estado de embriaguez; entre outras ilicitudes rodoviárias. Mas, não escassas vezes, exigia outras coisas imprevistas por lei, quando, a todo o custo, queria arrancar trocado dos automobilistas: capacete; guia de marcha; luvas de condução; e outras desnecessidades.
Certa vez, Inconstante, quando estava no seu respectivo posto de trabalho, nas bermas de qualquer estrada, interpelou uma viatura conduzida por um automobilista em estado de embriaguez. Ademais, a viatura era demasiado pesada, imprópria para andar pelas ruas frágeis de Fim-de-Mundo. Sim, só devia andar a viatura numa via dura, as rodas a confrontarem-se com a rigidez do pavimento da mesma.
E, quando o automobilista, ora interpelado, se concentrou, a cumprir as exigências do fiscal rodoviário, ouviu dele:
― Vinhas em velocidade excessiva e estás bêbedo. Você bebeu!
― Não bebi, chefe. Apenas tomei uns copos de cerveja clara. ― Retrucou o automobilista. ― Então, vamos soprar balão. ― Ordenou o homem da lei e ordem.
Soprar balão coisa nenhuma, pois o automobilista, de nome Distância Esquivado, começou a criar condições para a corrupção. Foi dizendo que, apesar de ter ingerido alguns mililitros de álcool, estava lúcido, capaz de exercer qualquer actividade. Até podia fazer “um quatro”, esse teste que se exige, comumente, para se confirmar a lucidez de um suposto embriagado.
No seguido, Distância Esquivado desceu do carro, e conduziu o agente da polícia de Tráfego para o lado traseiro. Disse-lhe que daria qualquer coisa, em troca da detenção e parqueamento da viatura pelas infracções cometidas, para a satisfação do polícia. Afinal, o polícia estava à espera de pessoas abertas: aquelas que cometiam erros rodoviários, e logo vinham deixar algum trocado, para facilitar o perdão.
Distância Esquivado pagou dois mil meticais, e seguiu com a marcha. O polícia ficou a ganhar delícias do produto da sua malvada prática: a corrupção. É caso para dizer que o dinheiro resolvia tudo em Fim-de-Mundo.
Na verdade, o automobilista prevaricador, agora seguindo com a marcha, autorizado estava a praticar mais ilegalidades e atrocidades. Foi andando, em velocidade excessiva, sem piscas para regulares sinalizações, ultrapassando outras viaturas de modo irregular, desrespeitando as regras que regiam a ultrapassagem. Havia, decerto, condições propícias para a ocorrência de acidente. E aconteceu!

Sim, três quilómetros depois, houve um acidente claramente provocado por Distância Esquivado. Soube-se que o prevaricador andava em contramão, e acabou por embater contra um carro, conduzido por uma senhora, que estava na sua respectiva faixa de rodagem. E os resultados foram os mais graves de sempre: morreram instantaneamente todos os ocupantes das duas viaturas. Mas um dos envolvidos morreu por causa própria. Dir-se-ia por justa causa. Infelicidade injusta, seria para os familiares da condutora e outros ocupantes da outra viatura sinistrada.
Afinal, quem era a senhora que conduzia a outra viatura? Incrível que pareça, a condutora ora morta, era a esposa de Inconstante Constâncio, o agente da polícia de tráfego, que deixara passar o automobilista, que lhe acabou com a vida da consorte, a sua genuína esposa. E nasceu o entristecimento de Inconstante. O homem estava inconsolável como ninguém. Por que é que ele podia ter convocado morte para sua casa? Por causa da corrupção, é claro. 
E aos que o vinham consolar, ele jurava, peremptoriamente: ― Nunca mais, corrupção!
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Fontes do texto: 
Mia Couto - Portal: http://www.miacouto.org 
Osservatório MMT // APN - Lusa/Fim

Crédito Imagens

1.Foto Dany Wambire: https//:aquihagato.net/pt/temasdeactualidade/congressos-coloquios -e-eventos/
Outras imagens: www. canstockphoto.com.br

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AMIZADE GENUÍNA

21 janeiro, 2016


Estive visitando uma cara amiga, ou melhor, fui convocada por ela para almoçar um frango assado com arroz especial – primeira vez a experimentar arroz de grãos pretos!  – e uma miscelânea   de   salada verde, tomates e pedaços de  manga, com um tempero dos céus.


Sabia que ela queria conversar, trocar ideias, partilhar  seus  planos de vida, desses que o espírito do Inominável suscita nas pessoas em busca de acertar suas rotas, endireitar as veredas da facilidade e  do conforto   pessoal,   para   abraçar   novas   escolhas   de  vida,   em comunhão com outras pessoas de intenções semelhantes e sinceras.  

Talvez ela esperasse de mim a escuta silenciosa, além de uma partilha assertiva, sem disfarces. Como se adéqua às relações amorosas banhadas na carícia essencial, de que nos falam os grandes mestres do viver comprometido com o bem-estar do outro, quem quer que seja. 

Mas, o que descobri naquele encontro, para além dos sinais de afinidade e afeição, foi uma pessoa que sabe escutar, provocar sinceras confidências – aquelas de que pouco se fala na vida, senão quando acontecem esses diálogos especiais que selam as profundas amizades.


São as características dos encontros de amigos, que promovem descobertas raras, mesmo quando há diferenças culturais vinculadas à diversidade humana. 

São encontros diferentes das “amizades”  que  se expressam no facebook, por exemplo, quando se trata mais da exposição pessoal dos próprios interesses e de outras amenidades,  em 


busca da coleção de “curtidas” almejadas.



Na verdade, o encontro de amigas e amigos genuínos os presenteia com uma maravilhosa sensação de conforto e paz, a integrar-se no tecido de luz e sombra do seu dia-a-dia, como chão fecundado de vida para um novo florescer.


De volta à minha casa, me descobri enriquecida de uma confortante experiência do "estar com", que promovia em mim a vivência de algo como fosse uma graça, aquela que torna suave e leve o fardo do cotidiano viver.  



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Créditos das imagens - www.canstockphoto.com.br 

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"INSTANTES" - SE EU PUDESSE...

15 janeiro, 2016




Há um conhecido poema sobre a importância do tempo presente, intitulado “Instantes”, do qual ainda hoje se confunde a autoria, dizendo-se ser do grande poeta argentino Jorge Luís Borges, que morreu em Genebra em 1978, aos 86 anos. Há um grave engano de citação:  o poema “Instantes” é da autoria de Nadine Stairuma poetisa americana não muito conhecida. 

O erro de informação foi da escritora francesa Elena Poniatowska que, em 1920, em um dos seus livros, atribuiu  a autoria dos versos ao poeta argentino. O livro foi retirado do mercado, na tentativa de corrigir o erro. Mesmo assim, ainda hoje muitas páginas da internet reproduzem esse equívoco. Quanto à verdadeira autora, sequer consegui uma imagem na internet, ou referência de outros poemas seus.  O que não lhe tira o mérito dos seus versos carregados de uma instigante compreensão do que é viver. 


“Instantes” 
- da poetisa americana: Nadine Stair



 
Se eu pudesse viver
novamente
a minha vida,
na próxima trataria de 
cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeita,
relaxaria mais,
seria mais tola 
do que tenho sido!
Na verdade, poucas coisas 
eu levaria a sério.
Seria menos higiênica
correria mais riscos!



 



Viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas,
nadaria mais rios...  
Iria a mais lugares
onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes
e menos lentilhas,
teria mais problemas reais, 
e menos problemas imaginários.





Fui uma dessas pessoas
que viveu sensata
e profundamente,
cada minuto de sua vida.


   É claro que tive momentos 
de alegria, mas, se eu pudesse 
voltar a viver,
trataria de ter somente
 bons  momentos, porque, 
se não sabem, 
   disso é feita a  vida: 
só de momentos.
 Não percam o agora! 
     
Eu  era  uma daquelas pessoas 
que nunca ia 
a parte alguma
sem um termômetro,
uma  bolsa  de  água quente,
e um paraquedas. 
                 
           


Se  eu voltasse a viver
viajaria mais leve. 
Se eu pudesse voltar  
a viver, começaria a 
andar  descalço 
no começo da primavera, 
e continuaria assim
até o fim do outono.




         Daria mais voltas                  na  minha rua,                    contemplaria mais                  amanheceres                     e brincaria mais
        com as crianças,                     se eu tivesse
            outra vez
    uma vida pela frente.  
      Mas, como sabem,
        tenho 85 anos,
       e estou morrendo.



           
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Fonte do texto: www.falandoemliteratura.com/2014/06/14/o-poema-instantes-nao-e-de-borges/

Crédito das Imagens:

1. www.canstockphoto.com.br  
2. A boba - Anita Malfatti - galeria 
3. Il canaletto - Anita Malfatti - (Veneza-It).
4. 5. e 6. - www.canstockphoto.com.br

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