Artur, meu neto, chegou pra ser feliz na vida. É assim que o
vejo, agora com três anos, enquanto ele vai distribuindo suaves momentos de
alegria e cuidados. Seus interesses passeiam pelas trilhas de uma exuberante
imaginação, capaz de encontrar o que for necessário para subsidiar a
brincadeira da vez: se faltar gasolina, basta seguir adiante com o carrinho, para
encontrar um posto e abastecer; se o dinossauro estiver com fome, lá vai ele a
um canto qualquer da casa e volta com as mãos em concha trazendo o que precisa...
Como outras crianças da sua idade, Artur gosta muito de assistir, como ele diz
quando quer ver os vídeos de seu interesse, tais como a ‘Galinha Pintadinha’, ‘Os
‘Três Porquinhos’ e ‘Dora Aventureira’, que já tiveram o seu tempo de glória.
Em geral nossa preocupação maior diante da criança em
desenvolvimento é educá-la para a vida, da melhor forma que a vida nos ensinou
a viver ao longo dos anos. Não tanto para que ela aprenda a viver como nós, mas
- é o que pensamos – para ajudá-la a descobrir as boas coisas da vida, enquanto
se busca a reciprocidade, na relação, e a solidariedade, na vida social. Nós,
as mulheres da família, gostamos de nos contar os diálogos que temos com Artur e
as suas perguntas exigentes. Com as respostas que escuta, ele engendra a sua fonte
de informações para explicar os fenômenos da vida e compreender novas noções do
seu cotidiano. É um observador perspicaz e tem uma memória que ainda nos
surpreende.
Certa vez, antes de completar três anos, alguém lhe trocava
a fralda na minha cama. Ao lado, no closet, há um espaço para os seus
pertences onde eu peguei lenços umedecidos e um creme contra assaduras. Artur
comentou:"Este quarto está todo
organizado para coisas de crianças!"
Na minha sala tem uma pequena trepadeira acomodada em uma
jarra de ferro. No centro da planta enfiei um cepo pequeno encimado por um pássaro
de madeira pintada. Ao lado coloquei uma gaiola no estilo casa, de porta e
janela. Certo dia Artur me perguntou para que era aquela casinha. Respondi-lhe
o que sempre me pareceu óbvio: era a casa do passarinho que estava na planta.
Ele ficou observando, em silêncio, e me disse em seguida: "Essa não é a casa do passarinho, vovó; ele não pode entrar lá dentro, a casa é menor do que o passarinho...".
O raciocínios de Artur impressionam pela coerência e me fazem rir quando
me vejo censurada por minhas explicações distraídas. Há dias atrás, ele
brincava de empurrar seus carrinhos, por subidas e descidas montadas com as
almofadas do sofá, quando comentei que os motoristas estavam correndo muito. Ele
me respondeu, com todas as suas explicações: ‘Esses são só carros de brinquedo, vovó, não tem motorista, sou eu que
estou empurrando... Motorista é só de carro grande".
A natureza e seus mistérios já fazem parte do seu mundo
imaginário.
Dia desses estávamos observando, da varanda do apartamento, as estrelas no céu. Foi quando lhe mostrei um satélite (não sei se Júpiter ou Marte), e lhe disse que era o planeta que mais brilha entre as estrelas do céu. Artur me perguntou se havia escada para ir ver as estrelas lá em cima. Fui enfática:
– Nao tem não, meu filho, nem mesmo avião pode chegar lá.
– Nem um foguete? – ele retrucou.
Tive que concordar que um foguete poderia ir até lá, mas fiquei me perguntando onde ele teria sabido da existência de foguetes...
Dia desses estávamos observando, da varanda do apartamento, as estrelas no céu. Foi quando lhe mostrei um satélite (não sei se Júpiter ou Marte), e lhe disse que era o planeta que mais brilha entre as estrelas do céu. Artur me perguntou se havia escada para ir ver as estrelas lá em cima. Fui enfática:
– Nao tem não, meu filho, nem mesmo avião pode chegar lá.
– Nem um foguete? – ele retrucou.
Tive que concordar que um foguete poderia ir até lá, mas fiquei me perguntando onde ele teria sabido da existência de foguetes...
Artur não chegou a conhecer o seu avô materno, pois quando ele nasceu ele estava muito doente e logo depois partiu.
Ele gosta de ver e rever a fotografia do avô com ele junto ao seu leito, ainda recém-nascido. Sua mãe lhe havia explicado como pôde, a morte do avô. Dias depois Artur me falou sobre este mistério da vida, como ele havia compreendido: "a pessoa vai crescendo, crescendo, e aí, um dia ela fecha os olhinhos e vai para o céu, morar com as estrelas".
Ele gosta de ver e rever a fotografia do avô com ele junto ao seu leito, ainda recém-nascido. Sua mãe lhe havia explicado como pôde, a morte do avô. Dias depois Artur me falou sobre este mistério da vida, como ele havia compreendido: "a pessoa vai crescendo, crescendo, e aí, um dia ela fecha os olhinhos e vai para o céu, morar com as estrelas".
Quando está na varanda comigo e não vê a lua pede para irmos a um dos quartos: - Precisa encontrar a janela certa, para ver a lua vovó!...
Sua imaginação também transita por paragens não tão românticas. Outro dia a curiosidade me levou a lhe perguntar, assim, de repente:
- Artuzinho, o que você quer ser quando crescer?
Sem nem pensar e respondeu: - arrombador de cofres!
Na área do bem-querer Artur já entrevê, à sua maneira, algum significado.
Os livros que lemos são cheios de muitas ilustrações, para os pais e avós, coitados, responderem à tantas perguntas difíceis dessas pequenas criaturas.
Eu peguei para ele as histórias dos clássicos de Grimm, com muitas ilustrações. Havia a rainha-bruxa que falava com o espelho, a menina perdida na floresta, a casa dos sete anões... E fui lhe contando as histórias com segurança, valendo-me das ilustrações, até o episódio da maçã envenenada, quando Branca de Neve cai num sono profundo.
A página seguinte era de um príncipe montado no seu magnífico cavalo branco, que acorda Branca de Neve e resolve levá-la consigo. Contei: aí o príncipe pôs Branca de Neve no seu cavalo branco... E Artur concluiu: e foram namorar!
Fiquei sabendo, depois, que quando sua mãe sai com o seu pai lhe explica que vão "namorar". E isto ele não esqueceu mais.
Certo dia eu conversava com minha filha sobre alguma coisa
que me comoveu, e cheguei a chorar um pouco. Artur estava conosco. Minha filha me
fez um carinho, ele se achegou e me deu um beijo. Ao perceber que as lágrimas
continuavam a cair ele voltou, me beijou novamente e falou: Vou te dar três beijinhos, vovó! Percebi, então, que era hora de sorrir.
O pai de Artur é alto, moreno e usa barba. Para
Artur, que herdou a cor branca da mãe, ficar grande é alcançar a estatura e a
cor do seu pai: "Quando eu crescer e ficar
pretinho, e tiver um bigode e uma barba dos dois lados... eu vou empurrar a bola
na rede e fazer gol!"
O interesse de Artur em acompanhar os roteiros de suas idas
e vindas de carro, já nos convenceu de que, além de um bom observador ele tem boa orientação.
Um dia ele passeava com a tia na calçada do edifício onde mora, em Casa Amarela, quando uma senhora os parou e perguntou onde ficava o Mercado de Casa Amarela. Artur interferiu: Casa Amarela é aqui! Minha filha explicou que ela devia pegar a avenida e virar à direita. E Artur, apontando: "a avenida é ali! "
Um dia ele passeava com a tia na calçada do edifício onde mora, em Casa Amarela, quando uma senhora os parou e perguntou onde ficava o Mercado de Casa Amarela. Artur interferiu: Casa Amarela é aqui! Minha filha explicou que ela devia pegar a avenida e virar à direita. E Artur, apontando: "a avenida é ali! "
Artur também já começa a engendrar alguma traquinice e usar
sua imaginação para conseguir o que deseja. Certo dia elaborou um modo de
convencer sua tia a deixá-lo ficar ajoelhado
na sua cadeira do carro, olhando o percurso pelo vidro traseiro: "Meu pai me disse que só hoje eu posso ir
de joelho, na cadeirinha...". Outra vez, brincava de pular na cama de casal,
sob os cuidados do pai, quando a sua tia chegou para levá-lo a passeio. Ele
gosta muito de ir à Livraria, onde escolhe os seus livros e brinca à
vontade. No percurso sua tia lhe explicou que estavam indo à livraria. Ele, então, respondeu, sem
interromper a brincadeira: "Hoje não estou
com vontade de ler, titia".
Como toda criança da sua idade Artur gosta de inventar
brincadeiras utilizando os móveis da casa. Ao ver o desenho da montanha onde o
príncipe encontrou Branca de Neve, expliquei que há montanhas bem altas, onde
só os adultos podem chegar, e que de lá eles podem observar o abismo, lá em
baixo, cheio de pedras... Artur, então, subiu no sofá – com a anuência da avó – olhou lá de cima o abismo e pediu para que eu espalhasse as pedras (de papel)
que ele havia preparado. É muito bom ver a sua alegria!
Seu interesse mais recente é reconhecer as letras do seu
nome e do nome dos pais. Perguntei-lhe, então, se ele já sabia ler o seu nome,
ao que ele respondeu pronunciando devagar e apontando com o dedo, como se estivesse
lendo: Ar...tur. Depois, fez um gesto de junção das duas
sílabas, desenhando um meio círculo com a mão espalmada, e disse rápido: Artur!
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Crédito Imagens:
1. Foto de Artur - arquivo privado
2. Outras imagens - www.canstockphoto.com.br
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