Cada pedaço
de 'Democracia
em Vertigem' é um golpe no estômago,
que estremece o espectador.
Várias obras já foram produzidas sobre o impeachment da ex-presidente Dilma e a Operação Lava Jato; no entanto, nenhuma delas tentou ir tão fundo na perfuração das camadas sobre as quais se construiu a trajetória recente do país.
O documentário “Democracia em Vertigem” não é para corações e mentes desavisados. Cada pedaço da narrativa é um golpe no estômago, flertando com a tessitura de uma tragédia shakespeariana.
Emociona e estremece o espectador
como uma ficção do melhor cinema, mas sua matéria-prima e linguagem são
forjados pela realidade mais bruta. O tempo voa, o ritmo é contagiante, levando
a um estado de exaustão, dor e perplexidade frente à decomposição nacional.
Várias obras já foram produzidas
sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a Operação Lava Jato.
Nenhuma delas, no entanto, tentou ir tão fundo na perfuração das camadas sobre
as quais se construiu a trajetória recente do país.
Manifestação de apoio ao ex-presidente Lula, antes da sua prisão
“Democracia em Vertigem” é um libelo contra o desmoronamento de um sonho de liberdade e justiça, mas nenhum dos personagens, incluindo as vítimas centrais desse terremoto político, foi poupado pela documentarista. Suas cenas revelam o composto de mesquinhez, mediocridade e cobiça dos sujeitos que tramaram a derrubada de uma presidente legítima, sequestraram o sistema judicial e viraram a mesa para voltarem a imperar. Expõem igualmente possíveis erros e fragilidades das lideranças petistas que simbolizavam um novo mundo possível.
“Democracia em Vertigem” é um libelo contra o desmoronamento de um sonho de liberdade e justiça, mas nenhum dos personagens, incluindo as vítimas centrais desse terremoto político, foi poupado pela documentarista. Suas cenas revelam o composto de mesquinhez, mediocridade e cobiça dos sujeitos que tramaram a derrubada de uma presidente legítima, sequestraram o sistema judicial e viraram a mesa para voltarem a imperar. Expõem igualmente possíveis erros e fragilidades das lideranças petistas que simbolizavam um novo mundo possível.
Petra Costa conduz seu trabalho a partir de
uma opção corajosa como narradora. Deixa claro que tem lado na história, ao
melhor estilo do documentarista holandês Joris Ivens e do chileno Patricio
Guzmán. Os fatos são costurados a partir de olhares pessoais e experiências
familiares, expectativas e frustrações, com honestidade à flor da pele.
Pais de esquerda, avô empreiteiro, a
diretora escancara antecedentes. Seu depoimento, intenso e direto, vai fundindo
imagens, entrevistas e resgates factuais. Voz mineira, despida de arrogância,
conquista naturalmente a empatia dos espectadores.
Bem editado, com inéditas cenas de
bastidores assinadas por Ricardo Stuckert, o documentário tem momentos
estonteantes. Alguns desses se referem à vulnerabilidade do petismo frente à revolta
previsível das famílias que mandam no dinheiro grosso.
Destaca-se a entrevista de Gilberto
Carvalho, um dos mais próximos assessores de Lula, reconhecendo que o PT
deixou-se sequestrar pelo velho sistema político, sem força e vontade para
rompê-lo, abandonando o veio original da organização e mobilização do povo.
Também interessante é ouvir o
ex-presidente Lula se arrependendo de ter postergado a regulação dos meios de
comunicação. Coube à cineasta, enfim, levar ao grande público algumas das
clamadas autocríticas petistas.
Lula e Dilma não são idealizados. Ao
contrário, recebem críticas ácidas por várias de suas decisões. Certos diálogos
e recortes indicam incríveis ilusões, quase ingênuas, anti-históricas, com o
comprometimento democrático das oligarquias. Pode-se questionar o tratamento
superficial a determinadas passagens. Faz parte. Sua pegada é a de um registro
autoral e sintético sobre uma nação que subitamente se perdeu, quando o partido
da casa grande decidiu expulsar do poder os inquilinos migrados da senzala.
Tudo fica mais triste e chocante
quando tamanha regressão é condensada em pouco menos de duas horas. Esse
retrato de uma ferida em carne viva provoca sofrimento, raiva e vergonha. Oxalá
ajude a alimentar algum sentimento de revolta, sem o qual jamais os povos dão a
volta por cima.
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(*) Este artigo foi publicado na Folha de S. Paulo em 24 de junho de 2019.
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/06/cada-pedaco-de-democracia-em-vertigem-e-um-golpe-no-estomago-que-estremece-o-espectador.shtml
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/06/cada-pedaco-de-democracia-em-vertigem-e-um-golpe-no-estomago-que-estremece-o-espectador.shtml
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Sobre o filme da cineasta Petra Costa, a redação de Opera Mundi nos traz as primeira reações positivas também fora do Brasil.
'Democracia
em Vertigem' entra na lista do New York Times dos melhores filmes de 2019
Com avaliações positivas
de diversos críticos de cinema internacionalmente, o longa de Petra Costa vem
sendo cotado com um dos filme favoritos para o Oscar.
O documentário Democracia em Vertigem”, da diretora Petra Costa, apareceu entre os melhores filmes de 2019 até agora em lista elaborada pela editora de cinema do jornal norte-americano New York Times, Stephanie Goodman, publicada em 27/06.
“Democracia em Vertigem” aparece entre as oito produções escolhidas por Goodman. Ao lado do longa de Petra Costa estão grandes produções como o “Rolling Thunder Revue”, documentário de Martin Scorcesse sobre turnê de Bod Dylan, e “Fora de Série”, dirigido por Olivia Wilde.
O documentário Democracia em Vertigem”, da diretora Petra Costa, apareceu entre os melhores filmes de 2019 até agora em lista elaborada pela editora de cinema do jornal norte-americano New York Times, Stephanie Goodman, publicada em 27/06.
“Democracia em Vertigem” aparece entre as oito produções escolhidas por Goodman. Ao lado do longa de Petra Costa estão grandes produções como o “Rolling Thunder Revue”, documentário de Martin Scorcesse sobre turnê de Bod Dylan, e “Fora de Série”, dirigido por Olivia Wilde.
Com avaliações positivas de diversos críticos de cinema
internacionalmente, “Democracia em Vertigem” já vem sendo cotado com um dos
favoritos para o Oscar de melhor documentário. Em avaliação de A. O. Scott para
o jornal norte-americano, destacada por Goodman, o longa é “uma crônica de
traição cívica e abuso de poder e, também, de mágoa” sob uma visão “incrédula,
indignada e auto-questionadora”.
Com avaliações positivas de diversos críticos de cinema
internacionalmente, longa de Petra Costa vem sendo cotado para o Oscar – Foto Reprodução
Lançado mundialmente em 19 de junho deste ano Democracia e Vertigem, o documentário, emocionou diversos espectadores e gerou revolta de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que atacaram a plataforma de streaming Netflix, onde o filme está hospedado. A trama narra os bastidores do golpe que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff, da prisão do ex-presidente Lula e da ascensão de Sérgio Moro e Jair Bolsonaro ao Planalto.
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Fonte do artigo: Redação Opera Mundi - São Paulo - 27.07.2019
https://operamundi.uol.com.br/cultura/59204/democracia-em-vertigem-entra-na-lista-do-new-york-times-dos-melhores-filmes-de-2019
Foto da cineasta Petra Cosa - reprodução.
https://operamundi.uol.com.br/cultura/59204/democracia-em-vertigem-entra-na-lista-do-new-york-times-dos-melhores-filmes-de-2019
Foto da cineasta Petra Cosa - reprodução.
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