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FLIP 2018 - MARIA TEREZA HORTA - EU SOU MINHA PRÓPRIA POESIA

29 junho, 2018

Julho, o mês da Flip, já está chegando... O blog Espaço Poese seguirá publicando informações mais detalhadas desse evento tão importante para a Literatura, que se realiza em Paraty, cidade costeira do estado Rio de Janeiro. A escritora brasileira homenageada do evento Hilda Hitz e a poetisa portuguesa Maria Tereza Horta - convidada especial - abrem o verbo, eu diria, para falar do sentimento erótico no amor e na paixão. Maria Teresa Horta,  hoje com 80 anos, participou das lutas contra o patriarcado e o salazarismo, no Portugal do seu tempo. Vejam que matéria bonita, sobre essa mulher, publicou 'El País', para o nosso deleite. 
O autor do artigo é o jornalista Andre Oliveira.

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Convidada da Flip, a poetisa Maria Teresa Horta, fundiu a luta feminista à  sua literatura.

Na altura de lançar seu primeiro livro de poesias, 'Espelho Inicial', em 1960, a escritora portuguesa Maria Teresa Horta ouviu de seu pai: “Tem cuidado com o que vais publicar, porque usas o meu nome”.  Foi aí, talvez, que ela descobriu, pela primeira vez, que às mulheres nem o nome era permitido e que ser autora já representava uma transgressão por si só, no Portugal salazarista em que vivia. Hoje, aos 80 anos, Teresa Horta tem mais de duas dezenas de livros entre poesia e ficção publicados, continua trabalhando incansavelmente e é também a mais nova autora anunciada na programação da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece no final de julho.

“Foi a primeira pessoa que tentamos trazer para a Flip deste ano, em uma mesa especial, um encontro com a autora para falar sobre sua trajetória. Infelizmente, ela não pode viajar de avião por questões de saúde, então decidimos fazer sua participação via vídeo”, diz Josélia Aguiar, curadora do evento literário. 

O encontro terá a presença de outras duas escritoras, ainda não divulgadas, que irão  dialogar com Teresa Horta através de vídeos previamente gravados em Lisboa, onde vive a escritora. “Será uma mesa sobre a poesia de Maria Teresa, sobre ela e sobre a conexão poética entre Brasil e Portugal”, diz Aguiar.

Pouco conhecida por leitores brasileiros e com apenas alguns livros publicados no país – como Cem Poemas [antologia pessoal + 22 inéditos], da editora 7 Letras, e o de contos Azul Cobalto, da Oficina Raquel – Teresa Horta, além de amplamente estudada na academia, é uma das poetisas (como ela própria gosta de ser chamada, em oposição a poeta) portuguesas, mais conhecidas internacionalmente. 

Com uma carreira literária que se confunde com sua atuação feminista e política, tem também diversos pontos de contato e semelhanças com Hilda Hilst, a poetisa homenageada nesta 16ª edição da Flip. “Elas operam em uma dimensão muito parecida. Seu último livro, Anunciações [de 2016], por exemplo, conta a história do encontro amoroso entre Maria e o anjo Gabriel, algo que poderia ter sido facilmente escrito por Hilda”.




Em 1972, ainda sob o salazarismo, Maria Teresa Horta, ao lado de duas amigas também escritoras, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa – as três Marias –, ficou famosa depois da publicação do livro Novas Cartas Portuguesas, um libelo literário feminista contra o fascismo e o patriarcado, composto por cinco cartas com uma narrativa não-linear. 

“O Novas Cartas faz referência às cartas de amor de Mariana Alcoforado, uma freira do século 17, ao seu amante, um soldado francês”, diz Raquel Menezes, editora da Oficina Raquel. Escritas a três mãos, as novas cartas acabaram por se transformar em um símbolo da queda do regime salazarista – comandado, então, por Marcelo Caetano – que aconteceria dois anos depois.

“O texto não era bem vindo porque discutia patriarcado, paternidade, feminismo. Recuperaram essa personagem, Mariana, enclausurada em um convento do século XVII, muito provavelmente contra sua vontade, para falar do enclausuramento português do século XX”, diz Menezes. 

“Após a publicação, aconteceu o que esperávamos: perseguição política, proibição de venda da obra, passaportes apreendidos, idas à Polícia Judiciária e o processo posto pelo Governo de Marcelo Caetano, por obscenidade, pornografia e atentado aos bons costumes”, conta Teresa Horta em entrevista ao EL PAÍS por telefone. Omitindo a autoria dos trechos do livro, as três Marias enfrentaram a perseguição com o apoio internacional de figuras como Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Christiane Rochefort. “Foi o maior movimento de solidariedade feminina internacional de que há memória”, diz a escritora.

Nessa época, contudo, Teresa Horta já era uma autora conhecida e perseguida pelo regime português. “A explosão do Novas Cartas, foi antecipada pela publicação de Minha Senhora de Mim, de 1971, em que Maria Teresa revisitou a lírica tradicional portuguesa ao escrever poesias com fundo erótico”, diz Ana Maria Domingues, doutora em Letras pela Universidade São Paulo (USP). 

O livro, segundo Domingues, faz uma releitura do trovadorismo galego-português, do século XI, sobretudo das cantigas de amigo, que tradicionalmente eram de homens, mas tinham um eu lírico feminino apaixonado. “A Maria Teresa fez uma releitura disso, colocando agora, de fato, uma mulher como autora, reivindicando seu direito à escritura e à própria voz”, diz.

Depois da publicação de Minha Senhora de Mim, o livro foi apreendido, a editora Dom Quixote foi ameaçada de fechamento caso publicasse a poetisa novamente e ela própria foi vítima de atentados. Primeiro começaram a telefonar em sua casa e para o jornal em que trabalhava, depois, um dia, foi espancada por três homens que a atiraram no chão e, sem parar de bater, gritavam: “isto é para aprenderes a não escrever como escreves”. 

Não funcionou. “Se eu tivesse ficado com medo, nunca teria escrito o Novas Cartas, que nós três resolvemos escrever justamente por causa da repercussão de Minha Senhora de Mim. Há pessoas que não se calam e eu não nasci para me calar”, diz Teresa Horta.

Em 25 de abril de 1974, poucos dias antes de uma audiência judicial que julgaria as três Marias aconteceu a Revolução dos Cravos – “o dia mais feliz da minha vida depois do nascimento do meu filho”, diz a autora –, Marcelo Caetano, que em sua juventude nos anos 1920 já havia perseguido outra poetisa, Judite Teixeira, caiu; o regime acabou; o processo contra elas foi extinto; e Teresa Horta deixou de ser uma autora perseguida em Portugal para se tornar um símbolo literário e de resistência do país. 

“Dos 15 anos até o 25 de abril, eu só fiz lutar contra o fascismo. Meus livros depois do 25 de abril são outros e diferentes entre si, mas têm uma raiz idêntica, que são as coisas que eu reflito sobre a vida. Minha poesia nunca deixou de ser uma arma”, diz.

Por trás das possíveis razões de Maria Teresa Horta chegar a 2018 como uma autora pouco conhecida na Flip, está o próprio quinhão brasileiro de fascismo. Em 1974, quando o mundo parava para assistir a Revolução dos Cravos e comentava sobre as Novas Cartas Portuguesas, o Brasil vivia os anos de chumbo da ditadura civil militar

Assim, em dezembro do mesmo ano, quando Teresa Horta veio pela primeira vez ao país, foi aconselhada a ser mais cautelosa em seus discursos, a falar mais baixo, a dissimular. Alguém de cima poderia se irritar. Anos mais tarde, em 2007, de visita ao país para um encontro literário na USP, lembrou um episódio acontecido na viagem anterior: “Por último, quando já na pista do aeroporto ia embarcar no avião, de regresso ao Rio, fui barrada por dois indivíduos que se identificaram como sendo da polícia política e me ‘aconselharam’ a voltar no dia seguinte para Portugal”. Claro, ela não obedeceu: “Voltei quando era de voltar”.


É uma escrita transgressora, conquistada a pulso da vida, da existência menor durante séculos imposta às mulheres. Por isso, aquelas que escrevem não podem ter medo de escutar o clamor
Hoje, anos depois, fala que é necessário ainda estar atenta ao “buraquinho” que o fascismo sempre espreita para regressar. E, por isso, diz-se feliz com os rumos do atual Governo de Portugal, encabeçado pelo primeiro-ministro socialista António Costa. “Somos um dos únicos Governos de esquerda em um mundo que está a ver renascer muito do fascismo”. Gostaria de ser até mais atuante, mas expressa seu contentamento com a primavera feminista do mundo e apoia os protestos das atrizes de Hollywood

“Estou contrária às francesas. Elas estão a ver se ganham a simpatia dos homens? É muito feio e muito triste”. diz. A simpatia ou aprovação de ninguém, ecoando a frase do pai que se preocupava com a própria honra na estreia literária da filha, nunca foi necessária, porque não deveria existir.

De sua casa, com caneta em punho, porque só escreve à mão – “uma vez tentei escrever no computador e a poesia desapareceu imediatamente” –, Teresa Horta ama seu passado – “viver em democracia é um sonho realizado para mim e eu vivo de sonhos” –, mas não teme o porvir. Ela, que explica não ter rotina, “porque a rotina é uma coisa anti-poesia”, escreve incessantemente. Ana Maria Domingues conta que em uma viagem pelo interior de Minas Gerais, a poetisa não parava de anotar em um moleskine por nenhum segundo, estivesse sentada ou em pé, andando ou parada. 

“É assim mesmo, a poesia aparece quando aparece e eu a aceito sempre”, diz. Na mesma conferência da USP, em 2007, falou: “É uma escrita transgressora, conquistada a pulso da vida, da existência menor durante séculos imposta às mulheres. Por isso, aquelas que escrevem não podem ter medo de escutar o clamor”.

Entre a (falta de) rotina imposta pela poesia, a autora ainda trava suas próprias batalhas. Em 2017, rejeitou uma indicação ao quarto lugar do Prêmio Oceanos que dividiria com o escritor brasileiro Bernardo Carvalho. Em uma carta, disse repudiar a classificação dada ao seu romance Anunciações e falou que não o aceitaria “por respeito pela Literatura, por respeito pelas minhas leitoras e os meus leitores, e sobre sobretudo pelo respeito que devo a mim própria e à minha já longa obra”. Na época, a romancista Inês Pedrosa disse sobre a questão: “Atribuir a Maria Teresa Horta, em 2017, o quarto lugar ex-aequo do prêmio representa uma forma de assédio moral, uma humilhação que a obra da autora de Minha Senhora de Mim e As Luzes de Leonor de forma alguma merece, e a que as regras mínimas da mais elementar educação deviam tê-la poupado”.

Ao EL PAÍS, no final do telefonema, disse, como num último recado: “eu sou minha própria poesia”. A frase, que condensa seu trabalho, vida e batalhas, faz lembrar os versos de Ponto de Honra, em Minha Senhora de Mim:

"Desassossego a paixão
espaço aberto nos meus braços

Insubordino o amor
desobedeço e desfaço

Desacerto o meu limite
incendeio o tempo todo

Vou traçando o feminino
tomo rasgo e desatino

Contrario o meu destino
digo o oposto do que ouço


Evito o que me ensinaram
Invento troco disponho

Recuso ser meu avesso
matando aquilo que sonho

Salto ao eixo da quimera
saio voando no gosto

Sou bruxaSou feiticeira
Sou poetisa e desato

Escrevo
e cuspo na fogueira".

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Autor do texto:
Andre Oliveira

São Paulo  - 4 de maio, 2018



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Crédito das Imagens:

1. Maria Tereza Horta - foto divulgação
2. As três Marias - foto do artigo aqui reproduzido: Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta.

3. As capas dos livros são reproduções.



Nota: Todas as imagens, aqui publicadas, pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida desse espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com






















CULTURA SUL-AMERICANA - O SÃO JOÃO E A FESTA DO SOL

23 junho, 2018

Não podia deixar de homenagear a festa de São João, também este ano!  

Tenho grandes lembranças das brincadeiras e das muitas alegrias de quando eu vivia no Sertão, ainda criança, há cerca de 70 anos atrás...

Muita festa e comidas que juntavam as famílias e os vizinhos, amigos e convidados, para celebrar a amizade e o bem-querer! E para fazer as brincadeiras que nos  permitiam "adivinhar" o que poderia acontecer às nossas vidas, mais tarde, especialmente em relação ao parceiro ou parceira no amor. 

Também tenho lembranças das fogueiras que cheguei a observar, de longe, viajando em regiões interioranas da França, visitadas há anos atrás. E das festas em terras incaicas, que conheci nos anos '80, (Lima, Cuzco, Macchupichu, Arequipa...) de que fala o grande irmão e amigo beneditino Marcelo Barros, de quem reproduzo um texto postado no facebook. 



Lembro as rodas de assar castanhas de caju, quando nos juntávamos nas terras secas do semiárido, a fumaça, o tempo de assá-las e descascá-las para comer e oferecer aos outros... 
Ah! Foi um aprendizado que registrei na memória do afeto, para todo o sempre! 

 Segue o texto de Marcelo Barros                                                         

"Nossa aventura em direção à Luz"

Todo o Brasil, principalmente o Nordeste, festeja São João. Na cordilheira dos Andes, vestida de neve para a festa, nesses dias que vão do 21 a 24 de junho, se celebra o Inti Raymi, a festa do Sol. O centro maior das festividades é na fortaleza Sacsayahuaman, antigo centro de culto inca a dois quilômetros da cidade de Cuzco no Peru. 
No entanto, por toda a cordilheira, as comunidades indígenas marcam o solstício do inverno em nosso hemisfério com ritos dedicados ao Sol e a toda luz que clareia a nossa vida. Assim como na Páscoa judaica, as famílias jogam fora todo fermento que, por acaso, possa ainda se encontrar nas casas, as comunidades andinas ficam um dia ou dois sem acender nenhum fogo. Assim, celebram com maior intensidade o fogo novo que é aceso por aquele que simboliza o Inca. Em 1570, o governo colonial proibiu essa festa sob a justificativa de que ela era idolátrica e contra a Igreja Católica. Na verdade, o fato é que os índios organizados para a festa se sentiam mais fortes para armar resistências à escravidão e ao colonialismo. 
Mesmo proibidas, durante séculos, as celebrações sempre se mantiveram clandestinamente. Nunca os índios pararam de celebrar o Sol. Somente em 1940, a partir de antigos escritos contando em detalhe como eram os festejos, as comunidades retomaram a fazer a festa pública. Hoje, em Cuzco, essa festa reúne mais de cem mil pessoas.
Turistas vêm do mundo inteiro para participar. Certamente, para muitos, fazer festa ao sol tem uma dimensão mítica e folclórica. No entanto, é um rito que lhes faz retomar a relação com seus antepassados e honrar a natureza inundada de novo com a luz do sol. 
Nos tempos coloniais, os índios festejavam a luz, quando podiam sair da escuridão das minas nas quais, durante o dia, eram escravos. No Brasil colonial, as comunidades negras só podiam festejar seus Orixás durante a noite. E os senhores de engenho que ouviam os atabaques e os cânticos acreditavam que eram puros lamentos de escravos. Ao contrário, aqueles ritos faziam a religação dos filhos com os pais e as mães divinizados, assim como os índios andinos retomavam a sua condição de filhos e filhas do Sol. 

Atualmente, no mundo, enquanto os filhos e filhas do Sol celebram a sua dignidade no carinho à mãe Terra e nas margens do lago sagrado (o Titicaca), nos palácios dos grandes, a cada dia, governos monstruosos se dedicam a novos golpes contra os povos aos quais deviam servir. Na Colômbia, o presidente eleito é contra o processo de paz. Provavelmente tem negócios com os fabricantes de armas.

No Equador, o novo governo abre novos contratos com mineradoras que expulsam comunidades e destroem a natureza. No Peru, se sucedem governos e a política é a mesma. No Brasil, não precisamos comentar que todo brasileiro sabe o que estamos sofrendo. Nos Estados Unidos, o presidente tinha decidido de prender as mães e separá-las de suas crianças. Mesmo governadores do partido de Bush declararam que aquilo era um crime contra a humanidade. E a medida foi abolida. No entanto, o núcleo da desumanidade contra os migrantes continua. 

Eduardo Galeano contava que no Haiti o povo dizia que só se deve contar histórias à noite. De dia, é perigoso. Que histórias poderemos contar em nossas noites para que o sol venha iluminar um novo dia da libertação? É urgente nos organizarmos para a festa e, assim, nos sentirmos juntos nas lutas de hoje.


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21 de Junho às 21:23


Crédito das Imagens:

1. Quadrilha caipira  - foto de Elielma Santos. 
www.historiasecenariosnordestinos.blogspot.com
2. Roda de assar castanhas de caju no Sertão - arquivo blog Espaço Poese
3. Festa do Sol - www.h www.pacoteserotas.com 
4. Machupiccho - Festa do Sol - www.hotelurbano.com
5. Lago Titicaca, no Peru - www.hotel.urbano.com.br.jpg
6 - Mineiros no Equador - www.noticias.sapo.cv.jpg
7 - Fogueira de São João - www.apai.org.jpg

Nota: Todas as imagens, aqui publicadas, pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida desse espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com

POLÍTICAS DE DIREITOS HUMANOS - OS EUA REGRIDEM

22 junho, 2018





As informações da postagem anterior - sobre as prisões dos  imigrantes, nos EUA - assombraram o mundo. 
A revista americana "Time" fez críticas à política de imigração do governo estadunidense. A capa da revista (de 21/06) foi reproduzida e divulgada em todos os meios de comunicação. Trata-se de uma montagem da imagem do presidente Trump, olhando, da sua altura, e sem emoção, uma criança pequena, aos prantos, cuja foto original já era conhecida do mundo todo.




No site da revista Veja, do Brasil, (21/06/2018) se afirma: “A foto da menina imigrante, chorando ao ser abordada por oficiais da polícia fronteiriça americana, foi estampada em jornais e revistas de todo o mundo, na última semana, diante de denúncias gravíssimas sobre o tratamento recebidos pelos menores separados de seus pais ao tentarem entrar ilegalmente nos Estados Unidos”.
A Carta Capital, em artigo de Dimalice Nunes, sobre Política Migratória (20/06/2018) informa o seguinte:
“A saída do Estados Unidos do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) na terça-feira 19 - que alegaram "preconceito crônico contra Israel" - coincide com uma grave crise na área para o governo Trump: a separação de famílias que tentam atravessar a fronteira do país. 
Em abril o procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, anunciou a política de tolerância zero do governo federal, medida prevê que todos os detidos ao tentarem cruzar ilegalmente a fronteira, incluindo requerentes de refúgio, sejam indiciados. Desde então, cerca de duas mil crianças foram separadas de suas famílias, gerando indignação e críticas de ambos os partidos norte-americanos - Republicano e Democrata - e de líderes internacionais. 

A crise se agravou nesta semana, quando imagens das condições em que essas crianças estão sendo mantidas vieram a público. (...) A instalação do Texas é conhecida como Ursula, embora os imigrantes a chamem de La Perrera, ou o canil, referindo-se às gaiolas instaladas no local que, além de imigrantes adultos, agora também são usadas ​​para albergar crianças, separadas de seus pais, depois de tentar atravessar ilegalmente a fronteira.”

Aconteceu que, com a expressiva reação mundial, as imagens de crianças separadas de seus pais, na fronteira dos EUA, repercutiram internacionalmente, mostrando-se inclusive os locais onde adolescentes e crianças estão sendo enviados (em especial no Texas e no Arizona).

Em alguns desses lugares, diz a revista Veja, no site da redação – as crianças são mantidas em celas separadas por redes de arame – uma espécie de gaiola. Enquanto os pais respondem à Justiça americana, muitas delas são entregues provisoriamente a outras famílias ou enviadas para instituições que cuidam de crianças abandonadas, vítimas de violência e órfãs”.

Mas, os correligionários de Sr. Trump o levaram a recuar, em relação à separação das crianças de suas famílias prisioneiras e Trump terminou assinando um novo decreto. Ao fazê-lo, informa a Veja, ele adota um tom sentimental, e se diz horrorizado pelas imagens de crianças separadas de seus pais”.

Os ‘sentimentos’ de Trump não duraram muito tempo. O chefe do governo americano, voltou a concentrar-se na visão política que, de fato, defende, em relação à imigração: ao anunciar o decreto, ele avisou: “A fronteira continuará forte. (…) Estamos nos assegurando de ter uma fronteira muito poderosa, muito forte, ele declarou, ciente da pressão de seu eleitorado médio, favorável a medidas duras contra a imigração ilegal”.

Seguem trechos do artigo de Dimalice Nunes, sobre o assunto:

“O representante republicano Mario Díaz Balart – escreve a jornalista  declarou que a prioridade é acabar com a separação dos pais de seus filhos após as detenções de imigrantes ilegais na fronteira, mas que nas próximas semanas serão apreciados também projetos que incluem iniciativas como o muro na fronteira com o México, a proteção dos chamados dreamers (imigrantes que entraram no país ainda crianças) e modificações nos programas de imigração, como o fim da loteria de vistos.”

E continua, ao escrever sobre a repercussão internacional desse fato:

“A crise migratória dos EUA já repercute
internacionalmente. 

"Donald Trump não é o líder moral do planeta e não pode falar em nome do mundo livre", afirmou o secretário-geral do Conselho da Europa, Thorbjørn Jagland reagindo à questão da separação de crianças migrantes de seus pais. "Tudo o que faz o exclui do papel que os presidentes norte-americanos sempre tiveram. Ele não pode mais falar em nome do que se chama mundo livre", acrescentou.

Indagado sobre a saída dos Estados Unidos Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH), Jagland também afirmou que não era algo inesperado. "É só um exemplo a mais que demonstra que ele não quer tratados nem organizações internacionais baseadas em cooperação", explicou.

A primeira-ministra britânica Theresa May classificou perturbadoras as imagens de crianças imigrantes separadas de seus pais ao chegar aos Estados Unidos:  "As imagens da crianças detidas no que parecem ser jaulas são profundamente perturbadoras, é um erro, não é algo com que estejamos de acordo", afirmou May ante o Parlamento, quando foi indagada sobre a possibilidade de cancelar a visita de Trump ao Reino Unido em 13 de julho em função dessa situação. A premiê, no entanto, afirmou que o convite a Trump continua de pé.

O governo da Guatemala acusou os EUA de violar os direitos humanos dos imigrantes com sua política de tolerância zero. O país "lamenta, condena e rechaça a política migratória impulsionada pelo governo dos Estados Unidos por considerar que viola os direitos humanos e destrói a unidade familiar", assinalou a Chancelaria.” 
Ainda na Carta Capital, a jornalista afirma que “as críticas (ao governo dos EUA) não vêm apenas da oposição democrata. A ex-primeira dama Michele Obama, alinhada aos Democratas, retuitou outra ex-primeira dama, Laura Busch, esposa do republicano George W. Bush. "Às vezes a verdade transcende partidos", disse Michele ao compartilhar a indignação de Laura, "Esta política de tolerância zero é cruel. É imoral. Parte meu coração."

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Fonte das citações reportadas -
Por: Da Redação Veja - access_time21 jun 2018,
https://www.cartacapital.com.br/internacional/criancas-apartadas-dos-pais-e-os-direitos-humanos-seletivos-dos-EUA

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Crédito das imagens:


2. Garota hondurenha de dois anos chora, enquanto sua mãe é detida, em 12/6, na fronteira entre EUA e México. 
https://outraspalavras.net/capa/ainda-se-encarcera-crianças-no-seculo-21 /19.06.2018     

3. Aduana/EUA - Imigrantes pegos na fronteira são alojados em especie de jaulas, inclusive crianças.


Nota: As imagens aqui publicadas pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com

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