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ECONOMIA DE FRANCISCO - DISCURSO DE PAPA FRANCISCO

 

”ECONOMIA DE FRANCISCO”

UM ENCONTRO 

NA CIDADE DE ASSIS, ITÁLIA


Em 1º de maio de 2019, Papa Francisco escrevera uma carta aos  jovens cristãos e não cristãos de todo o mundo, ativistas, economistas e estudiosos de diferentes áreas da economia,  convidando-os a vivenciar no dia a dia e no âmbito profissional a espiritualidade de Francisco de Assis - o jovem rico que, na época medieval, renunciara a tudo e fora conviver com os pobres do seu tempo. No mesmo ano um encontro fora realizado em Assis, na Itália, dando ocasião de aprofundamento e de troca entre os presentes. No evento foram tratados grandes temas referentes ao trabalho, às finanças, à educação e à inteligência artificial. Entre os palestrantes estavam Muhammad Yunus, economista e Prêmio Nobel da Paz 2006, Vabdana Shiva, membro do Fórum Internacional sobre Globalização, e  Stefano Zamagni, presidente da Pontifícia Academia de Ciências Sociais.

“Após três anos de vida, de trabalho, de espera, de projetos, de propostas, de desejos. Após dois anos de pandemia, após a grande dor que o mundo teve de enfrentar, um novo encontro da Economia de Francisco volta a Assis, para celebrar e difundir a experiência e perseverança destes anos”. Nos dias 22 a 24 de setembro de 2022, Assis acolheu novamente centenas de jovens representantes de inúmeros países que puderam participar do evento.

Para a alegria de todos, Papa Francisco  esteve presente no dia 24, para o encerramento. A cerimônia foi acompanhada ao vivo e em streaming, permitindo que todos os interessados pudessem estar coligados àquele momento histórico, dos seus respectivos países. Com vigorosa atenção, Francisco seguiu as apresentações artísticas e os relatos feitos por alguns jovens. Todos – economistas, empreendedores,  estudantes, professores e trabalhadores - estavam irmanados num só propósito: vivenciar na prática o compromisso e os valores da Economia de Francisco.   

A jornalista Bianca Fraccalvieri, do Vatican News, descreveu o evento como “uma festa de música, testemunhos, alegria e emoção: assim foi o encontro do Papa com os jovens da  Economia de Francisco, reunidos para repensar uma nova economia mundial”.

 O discurso de Papa Francisco, foi lido com vigor e algumas pausas para comentar e exemplificar suas ideias e recomendações.  Apresentamos aqui a nossa versão em português, até que o canal Vatican.va divulgue a sua versão oficial. Os grifos são nossos.

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Queridas e queridos jovens, bom dia! Minha saudação a todos vós que tivestes a possibilidade de estar aqui. Também quero saudar a todos os que não puderam vir, e ficaram em casa: o meu aceno a todos! Estamos todos unidos: eles, lá onde estão; nós aqui. 

Passei mais de três anos à espera deste momento, desde quando  enviei a carta convite, no dia 1º de maio de 2019que depois os trouxe a Assis. Para muitos de vocês – como acabamos de ouvir – o primeiro encontro com a Economia de Francisco desvelou algo que muitos já traziam no coração. Já estavam empenhados com a criação de uma nova economia; aquela carta concorreu para que vocês se juntassem, abriu-lhes um horizonte mais amplo, fez vocês se sentirem parte de uma comunidade mundial de jovens que tinham uma mesma vocação. E quando um jovem vê em outro jovem o seu mesmo chamado, e essa experiência se repete com centenas, milhares de outros jovens, então é possível a realização de grandes coisas, até mesmo a esperança de mudar um sistema enorme, um sistema complexo como é a economia mundial.  Não só. Hoje, falar de economia chega a parecer uma coisa antiga: fala-se de finanças - finanças é algo aquoso, uma coisa gasosa que não se pode tocar. Certa vez, uma competente economista de nível internacional me disse que ela promovera um congresso sobre economia, humanismo e religião. E obteve bons resultados. Quis fazer o mesmo com as finanças e não conseguiu. Fiquem atentos a essa característica etérea das finanças: é necessário retomar a atividade econômica pela raiz, pelas raízes humanas de onde elas surgiram. Vocês jovens, com a ajuda de Deus, sabem fazer isto, e podem fazê-lo; os jovens já fizeram muitas coisas outras vezes ao longo da história.

Vocês estão vivenciando a juventude numa época que não é fácil: vimos a crise ambiental, depois a pandemia, agora a guerra na Ucrânia e as outras guerras que se arrastam há anos em diversos países e estão marcando a nossa vida. Nossa geração deixou-lhes muitas riquezas como herança, mas não soubemos tutelar o planeta e, de consequência, não estamos nem mesmo custodiando a paz. Quando vocês ouvem falar que os pescadores de San Benedetto del Tronto  retiraram do mar em um ano 12 toneladas de lixo, plásticos e semelhantes, podem perceber como não soubemos cuidar do planeta, e  não estamos cuidando da paz. Vocês são chamados a agir como os artesãos e construtores da Casa Comum, uma Casa Comum que “está sendo depredada”. Digamo-lo: é assim. Uma nova economia, inspirada em Francisco de Assis, hoje pode e deve ser uma economia amiga da terra, uma economia de paz. Trata-se de transformar uma economia que mata em uma economia da vida em todas as suas dimensões. (cfr Esort. ap. Evangelli Gaudium, 53). Alcançar o “bem viver”, que não é a doce vida ou o passar bem. Não! O “bem viver” é a mística que os povos indígenas nos ensinam na relação com a terra. 

Aprecio a escolha que vocês fizeram de inspirar este encontro de Assis na profecia. E gostei do que vocês disseram sobre as profecias. A vida de Francisco de Assis, após a sua conversão foi uma profecia que continua também em nosso tempo. Na Bíblia, a profecia tem muito a ver com os jovens. Samuel era uma criança quando recebeu o chamado; Jeremias e Ezequiel eram jovens; Daniel era um rapaz quando profetizou a inocência de Suzana e a salvou da morte (cfr Dn 13,45-50); e o profeta Joel anuncia ao povo que Deus derramará o seu Espírito e “os vossos filhos e filhas profetizarão”. (3,1). Segundo as Escrituras, os jovens são portadores de um espírito de ciência e de inteligência. Foi o jovem Davi quem humilhou a arrogância do gigante Golias (cfr.1 Sam 17,49-51). Com efeito, quando falta à comunidade civil e às organizações a capacidade dos jovens, é toda a comunidade que desfalece, apaga-se a vida de todos. Falta criatividade, falta otimismo, falta entusiasmo, falta a coragem para arriscar. Uma sociedade e uma economia sem jovens são tristes, pessimistas, cínicas. Se vocês quiserem constatar isso, visitem as universidades superespecializadas em economia liberal, e vejam as faces dos jovens e das jovens que estudam ali. Mas, graças a Deus, aqui estais: não só estareis amanhã, estais aqui hoje; vocês não são apenas o “não ainda”, também são o “”, são o presente

Uma economia que se deixa inspirar na dimensão profética, hoje deve expressar-se com uma nova visão do meio ambiente e da terra. Precisamos alcançar a harmonia com o meio ambiente e com a terra. São muitas as pessoas, as empresas e as instituições que estão operando uma conversão ecológica. Precisamos seguir adiante por esse caminho, e fazer mais. Este “mais”, vocês estão fazendo e chamando outros a fazê-lo. E não basta fazer uma maquiagem, é preciso questionar o atual modelo de desenvolvimento. É tal a situação, que não podemos apenas esperar o próximo summit internacional (a cúpula do clima), que pode não servir: é hoje que a terra queima, e é hoje que devemos promover a mudança em todos os níveis. Neste último ano vocês trabalharam sobre a economia das plantas, um tema inovador. Viram que o paradigma vegetal contém um enfoque diferente com a terra e o meio ambiente, e até quando competem na realidade estão cooperando para o bem do ecossistema. Aprendamos da suavidade das plantas: a sua humildade e o seu silêncio podem nos oferecer um estilo diverso, do qual temos urgente necessidade. Pois, se falamos de transição ecológica e nos mantemos no paradigma econômico dos anos novecentos – quando foram depredados os recursos naturais e a terra – as manobras a serem adotadas seriam sempre insuficientes ou doentes na raiz. A Bíblia está cheia de árvores e plantas, da árvore da vida ao grão de mostarda. São Francisco nos ajuda com a sua fraternidade cósmica e com todas as criaturas viventes. Nós, os humanos, crescemos nos últimos séculos à custa da terra. Foi a terra quem pagou a conta! Muitas vezes a saqueamos para aumentar o nosso bem estar, e não foi pelo bem estar de todos, mas de um grupinho. Agora, é tempo de uma nova coragem para abandonar as fontes fósseis de energia e acelerar o desenvolvimento das fontes de impacto zero ou positivo.

Além disso, precisamos aceitar o princípio ético universal – que não agrada a todos – para que os danos sejam reparados. Trata-se de um princípio ético universal: os danos devem ser reparados. Se nós crescemos aproveitando-nos do planeta e da atmosfera, hoje precisamos aprender a fazer sacrifícios, corrigindo nossos estilos de vida ainda insustentáveis. Caso contrário, serão os nossos filhos e netos a pagar a conta, uma conta que será muito alta e muito injusta. Há seis meses, ouvi um cientista muito importante a nível mundial, que me disse: “Ontem nasceu a minha netinha. Se continuarmos assim, daqui a trinta anos, coitada, se encontrará num mundo inabitável”. Urge uma mudança rápida e decisiva. E digo-lhes com seriedade: conto com vocês! Por favor, não se deixem tranquilizar sobre essa questão. Deem-nos o exemplo! E eu lhes digo a verdade: para viver com este horizonte é preciso ter coragem e, algumas vezes, um pouco de heroísmo. Ouvi um rapaz de 25 anos, num encontro. Ele tinha apenas concluído o curso de engenharia de alto nível, e não encontrava trabalho; enfim, conseguiu ser contratado por uma indústria da qual pouco sabia. Ao verificar as suas atribuições – e mesmo ciente da dificuldade de conseguir outro trabalho –, deixou a empresa, porque ali se fabricava armas. São esses os nossos heróis de hoje, esses!

A sustentabilidade, porém, é um conceito com outras dimensões. Além da ambiental, existem ainda as dimensões social, relacional e espiritual. A social começa a ser reconhecida lentamente: damo-nos conta de que o grito dos pobres e o grito da terra são o mesmo grito (cfr Enc. Laudato sì, 49). Portanto, quando trabalhamos para a transformação ecológica, devemos ter presente os efeitos que algumas escolhas ambientais produzem sobre a pobreza. Nem todas as soluções ambientais têm os mesmos efeitos sobre as populações pobres; assim, devem ser preferidas aquelas que concorram para a redução da miséria e das desigualdades. Enquanto tratamos de salvar o planeta, não podemos descuidar do homem e da mulher que sofrem. A poluição que mata não é só aquela do anidrido carbônico, mas, a desigualdade também polui mortalmente o nosso planeta. Não podemos permitir que as novas calamidades ambientais cancelem da memória da opinião pública as antigas e sempre atuais calamidades da injustiça social, e também das injustiças políticas. Pensemos, por exemplo, numa injustiça política - o povo pobre martirizado do Rohingya* que vaga de um lugar a outro porque não pode habitar na própria pátria: isso é uma injustiça política.

Há, também, a insustentabilidade das nossas relações: em muitos países, as relações das pessoas estão se empobrecendo. Especialmente no Ocidente, as comunidades tornam-se cada vez mais frágeis e fragmentadas. A família, em algumas regiões do mundo, sofre uma grave crise, e, com ela, a acolhida e a custódia da vida. O consumismo atual procura preencher o vazio das relações humanas com produtos sempre mais sofisticados – as solidões são um grande negócio no nosso tempo! –, mas assim, provoca a carência da felicidade. E esta é uma situação dolorosa. Pensem no inverno demográfico, por exemplo, como se sustenta em relação a tudo isso. Inverno demográfico, no qual todos os países estão diminuindo muitíssimo a população, pois não se quer filhos; conta mais uma relação afetiva com cachorrinhos e gatos, e assim, segue-se adiante. Precisa-se voltar a procriar. Ainda nessa linha do inverno demográfico observa-se a escravidão da mulher – uma mulher que não pode ser mãe, porque apenas aparece a gravidez, ela é demitida do trabalho; às mulheres grávidas nem sempre se dá o direito de trabalhar.

Por fim, existe a insustentabilidade espiritual do nosso capitalismo. O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, antes de ser alguém à procura de bens, está em busca de sentido. Nós todos estamos à procura de sentido. Eis por que o primeiro capital de toda sociedade é aquele espiritual, existencial, porque é o que nos faz levantar cada dia e ir ao trabalho –, é a espiritualidade que gera a alegria de viver, também necessária à economia. O nosso mundo está consumindo rapidamente essa forma essencial de capital acumulado pelas religiões durante séculos, desde as tradições sapienciais à piedade popular. Assim, especialmente os jovens estão a sofrer por essa falta de sentido: muitas vezes, diante da dor e das incertezas da vida, eles se veem com a alma empobrecida de recursos espirituais para elaborar sofrimentos, frustrações, desilusões e lutas. Vejam o percentual dos suicídios juvenis como tem subido – nem todos são conhecidos, pois as cifras são escondidas. A fragilidade de muitos jovens deriva da carência desse precioso capital espiritual. Então, lhes pergunto: vocês têm um capital espiritual? Cada um procure responder a si mesmo – um capital invisível, todavia mais real do que os capitais financeiros ou tecnológicos. Há uma urgente necessidade de reconstituir este patrimônio espiritual essencial. A técnica pode fazer muito; ensina-nos “o quê” e “o como” fazer, mas não nos diz “o porquê”; e, assim, as nossas ações tornam-se estéreis e não preenchem a vida, nem mesmo a vida econômica.

 Encontrando-me aqui, na cidade de Francisco, não posso deixar de me debruçar sobre a pobreza. Fazer economia inspirando-se a Francisco de Assis significa empenhar-se a colocar os pobres ao centro do nosso interesse. E, assim, a partir deles, olhar a economia, a partir deles, olhar o mundo. Sem que haja a estima, o cuidado, o amor pelos pobres, por cada pessoa pobre, por cada pessoa frágil e vulnerável –, desde aquele concebido no ventre materno ao que está doente ou deficiente, e os idosos em dificuldade – não haverá “Economia de Francisco”. Direi mais: uma “Economia de Francisco” não pode limitar-se a trabalhar “para” ou “com” os pobres. Até quando o nosso sistema produzirá o desprezo e o abandono, e nós trabalharmos de acordo com o sistema vigente, seremos cúmplices de uma economia que mata. Perguntemo-nos então: estamos fazendo o bastante para mudar essa economia, ou nos contentamos de pintar uma parede para mudar a sua cor, sem mudar a estrutura da casa? Não se trata de dar pinceladas de verniz, não; é necessário mudar a estrutura. A resposta talvez não seja de quanto poderemos fazê-lo, mas de como conseguiremos abrir novos caminhos para que os pobres, por eles mesmos, possam se tornar os protagonistas da mudança. Neste sentido há grandes experiências bem desenvolvidas na Índia e nas Filipinas.

São Francisco amou não só os pobres, ele também amou a pobreza podemos dizer: o seu modo austero de viver. Francisco ia encontrar os leprosos não tanto para ajudá-los; ia porque queria fazer-se pobre como eles. No seguimento de Jesus Cristo, ele se despojou de tudo para ser pobre com os pobres. Pois bem, a primeira economia de mercado nasceu na Europa, no século XIII, em contato cotidiano com os frades franciscanos, que eram amigos dos primeiros mercadores. Aquela economia por certo criava riqueza, mas não menosprezava a pobreza. Criar riqueza sem desprezar a pobreza. O nosso capitalismo, ao contrário, quer ajudar os pobres, mas não os estima, não entende a bem-aventurança paradoxal: “bem-aventurados os pobres” (cf.Lc 6,20). Nós não devemos amar a miséria, ao contrário, devemos combatê-la, de modo especial criando trabalho, trabalho digno. Mas o Evangelho nos diz que sem estimar os pobres não é possível combater nenhuma miséria. Sem dúvida, é desse ponto que devemos iniciar, também vocês empreendedores e economistas vivenciando  esses paradoxos evangélicos de Francisco. Quando eu falo com as pessoas ou confesso, pergunto-lhes sempre: – “Você dá esmolas aos pobres?”. – “Sim, sim, sim!” – “E quando você dá esmola a um pobre, você o olha nos olhos?” – “Eh, não sei...” – “Quando dá a emola, ao entregar o dinheiro, você toca a mão do pobre?” Não olham nos olhos e nem os tocam; e isto significa distanciar-se do espírito da pobreza, distanciar-se da verdadeira realidade dos pobres, distanciar-se da humanidade que deve haver em cada relação humana.

À luz dessa reflexão, eu gostaria de deixar a vocês três indicações de percurso para ir adiante.

A primeira indicação:

Olhar o mundo com os olhos dos mais pobres.

O movimento franciscano soube inventar, na época Medieval, as primeiras teorias econômicas e os primeiros bancos solidários. (os “Monti di Pietà” ou Fundos de Piedade); eles olhavam o mundo com os olhos dos mais pobres. Também vocês poderão melhorar a economia se olharem as coisas na perspectiva das vítimas e dos descartados. Mas, para ter o olhar dos pobres e das vítimas é necessário conhecê-los. Acreditem, se vocês se tornarem amigos dos pobres, se partilharem da vida deles, estarão compartilhando alguma coisa do Reino de Deus, porque Jesus disse que deles é o Reino dos céus, e por isso serão bem-aventurados (cfr Lc 6,20). E repito: que as suas escolhas cotidianas não produzam exclusão.

A segunda indicação:

Vocês são em grande parte estudantes, estudiosos e empreendedores. Mas não se esqueçam dos trabalhadores.

O trabalho manual. O trabalho já representa hoje, a competição do nosso tempo, e amanhã o será cada vez mais. Sem trabalho digno e bem remunerado os jovens não se tornarão verdadeiramente adultos, as desigualdades aumentam. Às vezes é possível sobreviver sem trabalho, mas não se vive bem. Portanto, enquanto vocês criarem bens e serviços lembrem-se de criar trabalho bom trabalho e trabalho para todos.  

 A terceira indicação:

A encarnação.

Nos momentos cruciais da história, os que deixaram uma boa pegada, o fizeram porque souberam traduzir os ideais e os valores em obras concretas. Isto é: os encarnou. Além de escrever e fazer congressos, esses homens e mulheres criaram universidades, bancos, sindicatos, cooperativas, instituições. Vocês mudarão o mundo da economia se junto à mente e ao coração vocês usarem as mãos. As três linguagens. Pensa-se: a mente, a linguagem do pensamento, mas não só, unida à linguagem do sentimento, do coração. E não só: unida à linguagem das mãos. Deves fazer aquilo que sentes e pensas, sentir aquilo que fazes e pensar aquilo que sentes e fazes. Esta é a união das três linguagens. As ideias são necessárias, nos atraem muito, especialmente aos jovens, mas podem ser transformadas em má-fé se não se tornam “carne”, isto é, em concretude, empenho cotidiano: as três linguagens. Se pararmos apenas nas ideias elas adoecem, e nós todos terminaremos em órbita, se não chegarmos à concretude. As ideias são necessárias, mas devem se tornar “carne”.  A Igreja sempre rejeitou a tentação gnostica –, gnosi, uma só ideia que deseja mudar o mundo apenas com um conhecimento diferenciado, sem o esforço da carne, da concretude. As obras são menos “luminosas” do que as grandes ideias, porque são concretas, particulares, limitadas, com luz e sombra juntas -, mas são elas que fecundam a terra, dia após dia, pois a realidade é superior à ideia (cfr. Esort. Ap Evanglli gaudium, 233). Meus caros jovens, lembrem-se disso: a realidade é sempre superior à ideia.

Caros irmãos e irmãs, 

Agradeço-lhes por esse encontro: obrigado. Sigam adiante, com a inspiração e a intercessão de São Francisco. Se estiveres de acordo, eu gostaria de concluir com uma oração. Vou lê-la, e vocês a seguirão com o coração:

 Pai, peço-te perdão por ter ferido gravemente a terra, por não ter respeitado as culturas indígenas, por não ter considerado e amado os mais pobres, por ter criado riqueza sem comunhão. Deus vivente, que com o teu Espírito inspiraste o coração, os braços e a mente destes jovens – e os fizeste partir para uma terra prometida –, olha com benevolência a sua generosidade, o seu amor, a sua vontade de dar a vida por um grande ideal.  Abençoa-os, Pai, nas suas empresas, nos seus estudos, nos seus sonhos; acompanha-os nas dificuldades e nos sofrimentos e ajuda-os a transformá-los em virtude e em sabedoria. Atende os seus desejos de bem e de vida, sustenta-os nas suas desilusões diante dos maus exemplos, faz de modo que não se desencorajem e continuem no caminho. Tu, cujo Filho unigênito se fez carpinteiro, dá-lhes a alegria de transformar o mundo com o amor, com a sagacidade e com as mãos. Amém”.

E muito obrigado!

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Por fim, diante dos jovens presentes, Papa Francisco assinou o seguinte pacto, seguido por todos eles:


Pacto assinado pelo Papa Francisco   junto aos jovens do

 movimento ECONOMIA DE FRANCISCO

Assis (IT) 24/09/2022

 

Depois de anos de reflexão envolvendo jovens e economistas do mundo inteiro para refletirem sobre um tipo de economia que não mate vidas da natureza e vidas  humanas, mas que coloque a VIDA em sua diversidade no centro, e considerando especialmente os que menos vida têm, realizou-se em Assis em 26 de setembro, o grande encontro com representantes vindos de todas as partes do  mundo e com a presença do Papa Francisco. Ao final das trocas e discussões formulou-se um pacto assinado pelo Papa Francisco e por uma representante de todos os presentes. Publicamos aqui esse texto, inspirador, uma verdadeira alternativa ao sistema  perverso e ameaçador para a vida do nosso planeta.  

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“Nós, jovens economistas, empresários, transformadores, chamados aqui a Assis de todas as partes do mundo, conscientes da responsabilidade que pesa sobre nossa geração, nos comprometemos agora, individualmente e todos juntos, a engajar as nossas vidas para que a economia de hoje e de amanhã se torne uma Economia do Evangelho.

 Portanto:

·        uma economia de paz e não de guerra;

  • uma economia que se opõe à proliferação das armas, especialmente as mais destrutivas;
  • uma economia que cuida da criação e não a depreda,
  • uma economia a serviço da pessoa, da família e a vida, respeitando toda mulher, homem, criança, idoso e sobretudo os mais frágeis e vulneráveis;
  • uma economia onde o cuidado substitui o descarte e a indiferença;
  • uma economia que não deixa ninguém para trás, para construir uma sociedade em que as pedras descartadas pela mentalidade dominante se tornem pedras angulares;
  • uma economia que reconheça e proteja o trabalho digno e seguro para todos, especialmente para as mulheres,
  • uma economia onde a finança seja amiga e aliada da economia real e do trabalho e não contra eles;
  • uma economia que saiba como valorizar e preservar as culturas e tradições dos povos, todas as espécies vivas e os recursos naturais da Terra;
  • uma economia que combate a miséria em todas as suas formas, reduz as desigualdades e sabe dizer, junto com Jesus e Francisco, “bem-aventurados os pobres”;
  • uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência;
  • uma economia que cria riqueza para todos, que gera alegria e não apenas bem-estar, porque uma felicidade não compartilhada é muito pouco.

 Acreditamos nesta economia. Não é uma utopia, porque já a estamos construindo. E alguns de nós, em manhãs particularmente luminosas, já vislumbramos o início da terra prometida.

 Assis, 24 de setembro de 2022

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Fonte: Versão em português do texto italiano publicado no canal do Vatican.va

https://www.vaticannews.va/pt.html

ndt: Rohingya* - minoria muçulmana apátrida de Mianmar - um pequeno país asiático de religião mulçumana. 

Crédito das Imagens:

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-09/economia-de-francisco-desejo-de-realmar-a-economia-atual.html

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