Transcrevo, aqui, trechos de um recente artigo - publicado no site Adital - de autoria do dominicano Frei Marcos Sassatelli, que nos convida a responder aos apelos do Papa Francisco a todos os cristãos, - também por este difícil momento por que passamos na América Latina. O papa nos anima a participar das mobilizações dos Movimentos Populares, como expressão do nosso compromisso político em relação às consequências das perdas e danos que a cada dia são mais evidentes, também no Brasil, e crescem cada vez mais em detrimento especialmente dos empobrecidos.
O convite do Papa Francisco é certamente dirigido também a qualquer pessoa que se interesse pelo destino dos povos sofridos, ludibriados e desalentados, com tantas ridículas manobras para fortalecer a centralidade do poder e impulsionar o enriquecimento daqueles cujo ídolo é a riqueza por meio da exploração dos mais vulneráveis da sociedade.
Segue o texto do Frei Marcos Sassatelli.
Num clima de indignação e protesto
contra a prisão política (em 04/06/2016), de José Valdir Misnerovicz e Luiz Batista Borges, do
MST, houve em Goiânia dois acontecimentos muito
significativos sobre o tema da criminalização dos Movimentos Populares: uma
Audiência Pública na Assembleia Legislativa de Goiás, e um debate na Faculdade de Direito da UFG (com a
presença de João Pedro Stedile, do MST).
Participaram
desses acontecimentos líderes e membros de Movimentos Populares, Centrais de
Movimentos Populares, Sindicatos, Centrais Sindicais, Partidos Políticos
(comprometidos com a mudança do sistema e a construção do Projeto Político
Popular) e outras entidades ou organizações (civis e religiosas), que apoiam e
participam das lutas dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Pessoalmente,
o que mais me emocionou e edificou - quero aqui destacar - são duas coisas: a
unidade dos Movimentos Populares em torno de causas comuns, mesmo na
diversidade de suas histórias e identidades, e a presença - sobretudo entre as
lideranças - de muitos e muitas jovens. São acontecimentos como esses que
fortalecem a nossa esperança e nos fazem acreditar que outro mundo é possível.
(...)
Falando aos Movimentos Populares, o Papa Francisco afirma: "A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo, e também eu quero voltar a unir a minha voz à de vocês: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra”.
Como pessoa
de fé e religioso - que acredita na Boa Notícia de Jesus de Nazaré, que é o
Reino de Deus na história do ser humano e do mundo - estou convencido que os
cristãos e as cristãs deveriam - em nome não só de sua consciência cidadã, mas
também de sua fé - participar ativamente dos Movimentos Populares (reconhecendo
e respeitando sua autonomia) e estar sempre na linha de frente de todas as
lutas sociais e ambientais por uma sociedade mais justa e igualitária.
Em seu discurso aos Movimentos Populares na Bolívia, com muita clareza e com palavras cheias de ternura, Francisco diz: "Há alguns meses nos reunimos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro encontro. Durante este tempo, estive com vocês no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-los de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo.
Em Roma senti algo muito bonito: fraternidade,
paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a
sentir o mesmo. Obrigado! Soube também que são muitos na Igreja aqueles que se
sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso!
Ver a
Igreja com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e
consegue efetivar em cada diocese e em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma
colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares.
Convido-os a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as Organizações
Sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundar este encontro” (Santa Cruz
de la Sierra, 9/07/2015).
Não está na hora de
ouvirmos e atendermos ao convite do Papa?
Por que será que temos ainda bispos e
sacerdotes que nunca falam dos Movimentos Populares e nunca participam de suas
lutas por uma nova sociedade mais justa e mais igualitária?
O papa Francisco afirma que "o sistema social e econômico é
injusto em sua raiz” e "um mal embrenhado nas estruturas”.
No documento "A Alegria do Evangelho - EG, 53 e 59 - o papa declara que
"devemos dizer não a uma
economia da exclusão e da desigualdade social”, porque "essa economia
mata”. E que ”hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do
mais forte, em que o poderoso engole o mais fraco”. "O ser humano - ele afirma - é
considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois
jogar fora”... "Assim teve início a cultura do ‘descartável’ (...). "Os excluídos não são só explorados, mas são tratados
como resíduos e sobras”. (...)
O nosso irmão Francisco também nos recorda que "a necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar”. (...) No seu discurso aos Movimentos Populares da Bolívia, ele diz: "Os planos de assistência social - que acodem a certas emergências - deveriam ser pensados apenas como respostas transitórias. Jamais poderão substituir a verdadeira inclusão; uma inclusão que oferece o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário”. (...)
Achar que as "Obras Sociais" resolvem os problemas do mundo é uma alienação e,
ao mesmo tempo, uma maneira de legitimar, consciente ou inconscientemente, o
sistema dominante. Parabéns aos Movimentos Populares! O mundo conta com vocês! E, mais uma vez, o nosso irrestrito apoio e a nossa total solidariedade a José Valdir e
Luiz Batista do MST, presos políticos em Goiás.
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Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de
Filosofia da UFG
E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Créditos Imagens
1. Operários - Tarcila Amaral - www.shutterstock.com
in: notícias universais-brasil-al - 22/05/2012
2. Trabalhadores Rurais - Abelardo da Hora (foto em exposição do autor).
3. Manifestação no Brasil em 1984 - "Nós Mulheres" - www.oatibaiense.com.br
4. Zilda Arns com crianças - www.istoeimagens.com.br
5. Dom Pedro Casaldaliga - www.periodistadigital.com
6. Papa Francisco almoça com funcinários do Vaticano. Reuters. Osservatore Romano. www.fidespress.com/papa-francisco-almoça-com-funcionários
7. Retirantes - arte com pedras. Nizar-Ali-Badr-pebble-stories.Lataka/Síria.
8. Dom Hélder Câmara, no Recife, conversa com uma mulher - foto documental.
Créditos Imagens
1. Operários - Tarcila Amaral - www.shutterstock.com
in: notícias universais-brasil-al - 22/05/2012
2. Trabalhadores Rurais - Abelardo da Hora (foto em exposição do autor).
3. Manifestação no Brasil em 1984 - "Nós Mulheres" - www.oatibaiense.com.br
4. Zilda Arns com crianças - www.istoeimagens.com.br
5. Dom Pedro Casaldaliga - www.periodistadigital.com
6. Papa Francisco almoça com funcinários do Vaticano. Reuters. Osservatore Romano. www.fidespress.com/papa-francisco-almoça-com-funcionários
7. Retirantes - arte com pedras. Nizar-Ali-Badr-pebble-stories.Lataka/Síria.
8. Dom Hélder Câmara, no Recife, conversa com uma mulher - foto documental.
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