Hoje, eu preferiria falar da celebração do solstício de inverno no hemisfério sul e de verão, no hemisfério norte, (21 ou 23 de junho), quando o Sol atinge o maior grau de afastamento angular do equador, no seu movimento aparente no céu, e se tem o dia mais curto do ano e a noite mais longa... E dizer que o nosso solstício – no Nordeste do Brasil – é comemorado com as fogueiras de São João, e as danças típicas das quadrilhas brincantes.
Aconteceu que, nas minhas leituras diárias, me deparei com um artigo publicado no The Guardian - New York, fazendo-me lembrar que, no dia 20 de junho se comemora o dia dos Refugiados. Então, saí da alegria do solstício, para partilhar com os leitores uma informação que, como acontece com o sol, move os nossos corações e nos põe, mais uma vez, diante da dor que assola o mundo.
Por: Amanda Holpuch
Repórter do The Guardian-NewYork Tradução: Mauro Lopes
Política anti-imigrantes dos EUA vai muito além. Em um ano, 38
mil foram presos, por serem estrangeiros. Um milhão de outros podem ser
deportados. Crianças aprisionadas podem nunca mais encontrar os pais.
Um mês antes de Donald Trump promulgar uma política que
permite a seu governo tirar milhares de crianças migrantes de seus país, o
presidente disse duas vezes a multidões, em seus comícios, que membros de
gangues de imigrantes não eram pessoas. “Eles são animais”, afirmou em
maio. No último fim de semana, surgiram vídeos e fotos dos centros de detenção,
semelhantes a gaiolas, onde crianças, separadas de seus pais, estão abrigadas.
O comentário de Trump
foi dirigido a membros violentos da gangue MS-13 [uma gangue formada sobretudo
por migrantes de origem salvadorenha Mara Salvatrucha’, uma combinação das
palavras Mara (“gangue”), Salva (“Salvador”) e trucha (“malandros da rua”).
Trump rejeitou a ideia de que estivesse falando sobre todos os imigrantes. Hoje,
no entanto, na medida em que surgem críticas sobre um conjunto draconiano de
políticas de imigração, ativistas e advogados especulam sobre até que ponto o
presidente dos EUA, e sua equipe, estão dispostos a ir para impedir a entrada
de imigrantes no país.
O exemplo mais extremo
dessa política é a prática da separação familiar, com mais de 1.600 crianças tiradas dos pais. Ativistas dizem que a
prática ocorreu discretamente, por meses, antes de o governo adotá-la como
política em abril. “Isso vai
totalmente contra o espírito com que este país foi fundado”, disse Janet
Gwilym, uma advogada que representa crianças no estado de Washington. “Temos a responsabilidade moral de
aceitá-los. É lei internacional aceitar refugiados; é o que são essas pessoas
e, em vez disso, estamos apenas aumentando o trauma pelo qual elas estão
passando.”
Gwilym, diretora da
filial de Seattle da Kids in Need of
Defense – Kind (Crianças que Precisam
de Defesa), um grupo de defesa de crianças
imigrantes desacompanhadas dos pais, disse que crianças de 12 a 17 anos,
que estão nos centros de detenção, consolam crianças que, como elas, acabam de
ser tiradas de seus pais. Ela afirmou ainda que as
crianças denunciam que as autoridades de imigração lhes dizem que elas vão ver
seus pais novamente, em poucos minutos, mas que elas ficam sem vê-los por
meses.
Mesmo diante da generalizada condenação bipartidária (democrata e republicana)
e das advertências de organizações médicas sobre as consequências de longo
prazo que essas separações têm sobre as crianças, Trump e seu gabinete
permaneceram firmes. “Os Estados Unidos
não serão um campo de migrantes e não terão instalações com benefícios para
refugiados. Não seremos”, disse Trump em um encontro com a imprensa na Casa
Branca, nesta segunda-feira (18/06).
Essa defesa estridente
de Trump acontece na medida em que se aproximam as eleições de novembro, e dois
anos depois da tentativa fracassada do presidente norte-americano cumprir sua
promessa de campanha de expandir o muro fronteiriço entre o México e os Estados
Unidos.
O Congresso não concedeu
verbas a Trump para edificar novos trechos da muralha na fronteira, mas nesse
ínterim, seu governo criou um muro invisível de políticas que os ativistas e
advogados dizem que devem conter todos os tipos de imigração. A separação das
crianças de seus pais é apenas a mais dramática de muitas medidas tomadas pela
Casa Branca, para combater a imigração ilegal nos Estados Unidos.
As pessoas afetadas por
essas medidas incluem refugiados e adultos e crianças sem o green card, que também
foram alvo de uma série de ações, como o cancelamento de um programa de refugiados
para crianças que viajam de “países perigosos” do norte da América Central até
os EUA.
Há histórias diárias de
pessoas sem visto - residentes nos Estados Unidos há décadas e com filhos
nascidos no país - sendo localizadas em seus locais de trabalho e forçadas a
voltar para seus países de origem.
Quando se trata de população sem visto, que vive nos EUA,
aos olhos do governo parece não haver mais nenhuma distinção entre criminosos
violentos e pessoas que vivem discretamente há décadas, sem status legal. De
outubro de 2016 a setembro de 2017, o Serviço
de Imigração e Alfândega, dos EUA, prendeu
cerca de 38 mil pessoas que não tinham condenações criminais – um aumento
de 146% em relação ao ano anterior.
Da mesma forma que
aplica a política de separação de famílias, o governo cancelou
abruptamente um programa que fornecia suporte temporário para imigrantes sem
documentação, conhecido como Dreamers (Sonhadores).
Após o encerramento
do Dreamers, e de um programa do governo de socorro aos
migrantes - chamado Status Temporário de Proteção destinado a
pessoas de seis países - 1.038.600
pessoas não estão mais protegidas da deportação, segundo dados do próprio
governo.
A repressão política
avançou em muitas frentes, mas a virada mais extraordinária ocorreu em abril,
quando o governo Trump possibilitou a separação familiar, dizendo que haveria
“tolerância zero” para as pessoas que cruzam a fronteira ilegalmente. Na
fronteira, os pais são considerados
criminosos e separados de seus filhos, que não podem ser mantidos em
centros de detenção para adultos.
A posição do governo,
que inclui culpar os opositores do Partido Democrata e defender a separação das
famílias, com base em supostos motivos bíblicos, ignora os alertas das
principais organizações de saúde e bem-estar infantil do país, inclusive da Associação Americana de Pediatria.
Os pais também estão sofrendo comseparação dos filhos, disse Lee Gelernt, vice-diretor do Projeto de Direitos dos Imigrantes da ACLU (União Americanapelas Liberdades Civis). Gelernt entrou com uma ação coletiva, em março, contra a prática de separação familiar do governo Trump, após se encontrar com uma mulher congolesa que não via sua filha de sete anos havia quatro meses. Ela e sua filha foram reunidas depois que Gelernt entrou com uma ação legal em seu nome. “Essa é uma política de imigração chocante, a que vemos no governo Trump; francamente, venho fazendo esse trabalho há quase três décadas, e essa é a política de imigração mais terrível que já vi”, disse Gelernt.
Os pais também estão sofrendo comseparação dos filhos, disse Lee Gelernt, vice-diretor do Projeto de Direitos dos Imigrantes da ACLU (União Americanapelas Liberdades Civis). Gelernt entrou com uma ação coletiva, em março, contra a prática de separação familiar do governo Trump, após se encontrar com uma mulher congolesa que não via sua filha de sete anos havia quatro meses. Ela e sua filha foram reunidas depois que Gelernt entrou com uma ação legal em seu nome. “Essa é uma política de imigração chocante, a que vemos no governo Trump; francamente, venho fazendo esse trabalho há quase três décadas, e essa é a política de imigração mais terrível que já vi”, disse Gelernt.
Gelernt afirmou, ainda,
que os pais detidos com quem ele fala, têm medo de perguntar demais aos agentes
de imigração sobre seus filhos, por receio de suas crianças sofrerem
retaliação. O líder da ACLU relatou que uma família disse a ele que desde
que eles se reencontraram, o filho de quatro anos pergunta repetidamente se o
governo vai tirá-lo do convívio familiar novamente.
Os processos legais, por
iniciativa ACLU, buscam reunir as famílias que foram separadas, e impedir que
outras famílias sejam separadas no futuro. Conforme os casos caminham nos
tribunais, os impactos da separação das famílias são agravados pela falta de
uma infraestrutura mínima para apoiar a política de Trump. O governo tem um
sistema tão caótico, que os defensores dos filhos estão fazendo buscas
desesperadas para localizar os pais.
“O que estamos descobrindo é que não há nenhum mecanismo, nenhuma
política para comunicar ou mesmo encontrar os pais enquanto a criança estiver
separada”, disse Megan McKenna, diretora sênior de comunicações e
mobilização da Kind. Ela afirma que quando os pais e filhos foram
separados, cada um deles recebeu o número de seu processo individual ao qual
sua mãe, pai, filha ou filho não tiveram acesso. Imaginando que esses
números fossem sequenciais, os defensores da Kind começaram a procurar, no
sistema de rastreamento de casos, na esperança de que isso os levasse aos pais
que eles estavam procurando.
“É como um jogo: talvez o número da criança termine em cinco, então o
número do adulto pode terminar em seis”, disse Megan. “Você coloca isso no
sistema e vê se dá certo. Mas poderia ser o contrário. Ou tenta outra
lógica”. Essa tática funcionou em alguns casos, mas não em número
suficiente para ser uma solução. Ela disse que outros problemas incluem o
fato de as crianças, em muitos casos, não saberem por que sua família estava
fugindo, o que poderia afetar o resultado de seu caso de imigração.
Outro desafio é o fato
de os advogados não saberem o que pais separados das crianças querem para seus
filhos. Por exemplo, se um pai ou mãe é deportado, ele pode querer que seu
filho seja devolvido ao país de origem com ele. Ou pode haver tanto perigo, em
seu país de origem, que eles prefeririam que a criança ficasse com autoridades
de imigração nos EUA. E mesmo que as preferências dos pais fossem conhecidas,
não há um procedimento claro para reunir os pais, especialmente se um deles já
tiver sido deportado.
Megan disse que a Kind
estava defendendo uma criança de dois anos que foi separada de seu pai em março
último. O pai foi deportado em abril, mas até 12 de junho a menina ainda estava
sob a custódia do governo dos EUA.
“As consequências em termos de sofrimento humano não podem ser
subestimadas”, disse Megan. “As crianças estão sendo tirados de seus pais.”
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Texto publicado em: https://outraspalavras.net/capa/ainda-se-encarcera-criancas-no-seculo-21/19/06/2018
Crédito das imagens:
1. www.canstociphoto.com.br
2. Em certos pontos, a cerca que separa EUA e México já está erguida. Aqui, em Tornillo (Texas), como aparece a partir do lado mexicano.
3. Crianças imigrantes, separadas de seus pais, são detidas em tendas em Tornillo (Texas), próximo à fronteira com o México.
4. Uma garota hondurenha de dois anos chora, enquanto sua mãe é detida, em 12/6, na fronteira entre EUA e México.
2. Em certos pontos, a cerca que separa EUA e México já está erguida. Aqui, em Tornillo (Texas), como aparece a partir do lado mexicano.
3. Crianças imigrantes, separadas de seus pais, são detidas em tendas em Tornillo (Texas), próximo à fronteira com o México.
4. Uma garota hondurenha de dois anos chora, enquanto sua mãe é detida, em 12/6, na fronteira entre EUA e México.
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