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O PÃO PARA TODOS OS QUE MASTIGAM A SOLIDÃO E A POBREZA

06 outubro, 2022



               Papa Francisco lê o seu discurso no encerramento do encontro do 
       movimento ECONOMIA  DE FRANCISCO, em Assis na Itália - 24.09.2022


Há algum tempo, Papa Francisco vem insistindo reiteradamente no seguimento de São Francisco de Assis - que amou a pobreza, cuidou com premura dos pobres e dos descartados sociais da sua época. 

Em maio de 2019, o papa escreveu uma carta de convocação para um encontro na cidade italiana de Assis. A secretaria do evento recebeu mais de 3.000 inscrições de jovens de 120 países dos cinco continentes, ligados à economia, gestão, filosofia, sociologia, teologia, proteção ambiental, recursos naturais, consumo responsável e estilos de vida, produção, inovação, trabalho, finanças, investimento para o desenvolvimento, pobreza, igualdade e dignidade humana, inteligência artificial, educação e novas gerações.O movimento foi chamado de ECONOMIA DE FRANCISCO.  

O O encontro de 2019 foi realizado, mas em razão da pandemia, o papa só pôde participar de forma virtual. Em alguns países fo    foram criadas organizações de mobililzação. Em 2021 houve um encontro  virtual para dar prosseguimento às discussões.  Finalmente, nos dias 22 a 24 de setembro de 2022, foi realizado um novo encontro presencial em Assis, que contou com a presença de Papa Francisco no dia do encerramento. 

 Para trazer uma síntese das ideias de Papa Francisco sobre o movimento, trazemos aqui um registro da  sua homilia diante de centenas de pessoas que, no dia seguinte, o acolheram, em Matera, na Itália - por ocasião do  Congresso Eucarístico Nacional. Na ocasião, o papa  falou das questões mais importantes tratadas no seu longo discurso, proferido no dia anterior, 24/09/2022, na cidade de Assis, por ocasião do 3º encontro internacional do movimento. 

Segue uma reportagem que sintetiza o discurso de Papa Francisco em Matera. A íntegra do histórico discurso de Francisco, em Assis, pode ser encontrada no canal do Movimento Economia de Francisco, indicado no final da postagem.


O PÃO PARA TODOS OS QUE 

  MASTIGAM A SOLIDÃO E A POBREZA

  

     Reportagem de: Jesús Bastante – em: Religión Digital
Traduzida e publicada por: IHU-Usininos
Em: 25/09/2022
  

·  “Não haverá verdadeiro culto eucarístico sem a compaixão pelos muitos Lázaros que ainda hoje caminham ao nosso lado".


 ·  "Uma Igreja que se ajoelha diante da Eucaristia e adora com espanto o Senhor presente no pão; mas que também sabe curvar-se com compaixão diante das feridas de quem sofre, levantando os pobres, enxugando as lágrimas de quem sofre, tornando-se pão de esperança e alegria para todos".


 · "Como é triste essa realidade ainda hoje, quando confundimos o que somos com o que temos, quando julgamos as pessoas pela riqueza que possuem, pelos títulos que possuem, pelos papéis que desempenham ou pela marca de roupas que vestem".


·  "Se cavarmos um abismo com nossos irmãos agora, cavamos nossa própria cova para depois; se construirmos muros contra nossos irmãos agora, mais tarde permaneceremos presos na solidão e na morte”.


· “As injustiças, as desigualdades, os recursos da terra distribuídos desigualmente, os abusos dos poderosos contra os fracos, a indiferença ao clamor dos pobres, o abismo que cavamos todos os dias gerando marginalização, não podem nos deixar indiferentes”.

 

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Papa Francisco viajou no domingo 25 de setembrode 2022 a Matera, 'a cidade do pão', para encerrar o  XVII Congresso Eucarístico Nacional da Itália. Cerca de 15.000 pessoas o acolheram num grande estádio da cidade. Na ocasião, ele convocou os 800 delegados presentes no congresso, e as dezenas de milhares de fiéis que o acompanharam: 

"Retornemos ao sabor do pão para ser uma Igreja Eucarística que coloca Jesus no centro, tornando-se pão de ternura e misericórdia para todos.”  

Iniciou sua homilia denunciando que, ainda hoje, "o pão nem sempre é partilhado à mesa do mundo; nem sempre emana o perfume da comunhão; nem sempre é partido na justiça". Na parábola de Jesus que fala do rico sem nome e do pobre Lázaro, o papa apontou uma contradição. E deixou-nos uma pergunta: "o sacramento da Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã, a que nos convida?".

“Voltemos ao sabor do pão para recordar que, enquanto se consome essa nossa existência terrena, a Eucaristia antecipa a promessa da ressurreição e nos guia para a vida nova que vence a morte”.

“Voltemos ao sabor do pão, porque enquanto temos fome de amor e esperança, ou estamos quebrados pelo cansaço e pelo sofrimento da vida, Jesus se torna alimento que nos alimenta e cura, porque, enquanto a injustiça e a discriminação contra os pobres continuam a ocorrer no mundo, Jesus nos dá o Pão para Compartilhar e nos envia todos os dias como apóstolos da fraternidade, da justiça e da paz". 

 O rico sem nome e o  pobre  Lázaro

Comentando a parábola evangélica do homem rico e do pobre Lázaro, Francisco sublinhou: nesta parábola do rico sem nome e do pobre Lázaro, “o rico não está aberto a um relacionamento com Deus: ele só pensa em seu próprio bem-estar, em satisfazer as suas necessidades, em gozar a vida". "Satisfeito consigo mesmo, bêbado de dinheiro, atordoado pela feira de vaidades, não há lugar em sua vida para Deus porque ele só adora a si próprio", acrescentou o papa.

"Como é triste ver que ainda hoje se pode encontrar essa realidade, quando confundimos o que somos com o que temos, quando julgamos o valor das pessoas pela riqueza que têm, pelos títulos que possuem, pelos papéis que desempenham ou pela marca de roupas que vestem", lamentou o Papa.

E comentou: "é a religião do ter e do parecer, que muitas vezes domina a cena deste mundo, e que no final nos deixa de mãos vazias". Tão vazia, que "esse rico do Evangelho não tem nem nome. Não é mais ninguém". Pelo contrário, "os pobres têm um nome, Lázaro, que significa 'Deus ajuda'; apesar da pobreza, ele "mantém intacta sua dignidade porque vive em relação com Deus".

Este é o desafio da Eucaristia: “Adorar a Deus e não a si mesmo”. Porque "se nos adoramos, morremos na asfixia do nosso pequeno eu; se adoramos as riquezas deste mundo, elas se apoderam de nós e nos escravizam; se adoramos o deus da aparência e nos embriagamos com o desperdício, mais tarde ou mais cedo a própria vida nos pedirá contas".

Em vez disso, "quando adoramos o Senhor Jesus, presente na Eucaristia, recebemos um novo olhar sobre nossas vidas: não sou as coisas que possuo e os sucessos que alcanço; o valor de minha vida não depende de quanto posso me gabar, nem diminui quando falhei e falhei. Sou um filho amado, sou abençoado por Deus".

Amar nossos irmãos

Junto a isso, acrescentou Bergoglio, "a Eucaristia nos chama a amar nossos irmãos". "Este Pão é por excelência o Sacramento do amor. É Cristo que se oferece e o parte por nós, pedindo-nos que façamos o mesmo, para que nossa vida seja trigo moído e se torne pão que alimenta nossos irmãos", sublinhou.

No final da parábola "é o rico quem cava um abismo entre ele e Lázaro durante sua vida terrena e, assim, na vida eterna esse abismo permanece. Porque nosso futuro eterno depende da vida presente: se cavarmos um abismo com nossos irmãos agora, "estaremos cavamos nossa própria cova" para depois; e, se agora, erguemos muros contra nossos irmãos, ficaremos presos na solidão e na morte mais tarde".

Uma profecia para um novo mundo

"É doloroso ver que essa parábola continua a ser a história do nosso tempo", denunciou Francisco. “As injustiças, as desigualdades, os recursos da terra distribuídos de forma desigual, os abusos dos poderosos contra os fracos, a indiferença ao clamor dos pobres. É o abismo que cavamos todos os dias gerando marginalização; isso não pode nos deixar indiferentes”. O Papa aida pediu que "hoje, reconheçamos juntos  que a Eucaristia é uma profecia de um mundo novo, é a presença de Jesus a nos pedir que comprometamo-nos a realizar uma conversão eficaz: da indiferença à compaixão, do desperdício à distribuição, do egoísmo ao amor, do individualismo à fraternidade". 

Pensemos, por exemplo, no  povo pobre martirizado do Rohingya* que vaga de um lugar a outro porque não pode habitar na própria pátria: uma injustiça política. Exortou o Papa no seu discurso em Assis.

"Sonhamos com uma Igreja assim: Eucarística. Feita de mulheres e homens que partem o pão para todos aqueles que mastigam a solidão e a pobreza; para aqueles que têm fome de ternura e compaixão; para aqueles cujas vidas desmoronam porque lhes faltou o bom fermento de esperança", afirmou Francisco.

 "Uma Igreja que se ajoelha diante da Eucaristia e adora com espanto o Senhor presente no pão; e que também sabe curvar-se com compaixão diante das feridas de quem sofre, levantando os pobres, enxugando as lágrimas de quem sofre, tornando-se pão de esperança e alegria para todos", porque "não há verdadeiro culto eucarístico sem compaixão pelos muitos Lázaros que ainda hoje caminham ao nosso lado".

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Fonte da postagem: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/622467-francisco-sonho-com-uma-igreja-composta-de-mulheres-e-homens-que-partem-o-pao-para-todos-aqueles-que-mastigam-a-solidao-e-a-pobreza

Imagens:

1 - Papa Francisco fala aos jovens em Assis - 24/09/2022 - tendo ao lado alguns representantes das centenas de jovens ali presentes, todos comprometidos com a Economia de Francisco.

2 - Um painel do encontro da Economia de Francisco, realizado em Assis nos dias 22 a 24 de setembro deste ano.

3 - Uma triste imagem dos povos Rohingya* em fuga, em 2017. Foto: TOMAS MUNITA Agência O Globo. 

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Atenção: veja a versão integral, em português, do discurso do Papa Francisco neste blog - Página:  PAPA FRANCISCO  (na coluna à esquerda da postagem).

Acompanhe o movimento ECONOMIA DE FRANCISCO pelos seguintes canais:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2019/documents/papa-francesco_20190501_giovani-imprenditori.html

https://francescoeconomy.org/ 

https://www.youtube.com/c/TheEconomyofFrancescoOfficialchannel/about 

http://economiadefranciscoeclara.com.br


 (*) Os Rohingya são uma minoria muçulmana apátrida de Mianmar. Em 25 de agosto de 2017, quando a violência eclodiu no estado de Rakhine, em Mianmar, a crise humanitária tomou grandes proporções, levando mais de 742.000 pessoas a buscar refúgio em Bangladesh..

Refugiados Rohingya cruzam a fronteira de Mianmar, na Ásia,  rumo a Blangladesh, em meados de 2017 Foto: TOMAS MUNITA - Agência O Globo. 

 Os Rohingya, adeptos da religião muçulmana, são hoje classificados como "a minoria mais perseguida do mundo". Em Mianmar, país majoritariamente budista,eles são vítimas de múltiplas discriminações: trabalho forçado, extorsão, restrições à liberdade de circulação, regras de casamento injustas e confisco de terras. Centenas de milhares dos Rohingya fugiram e ainda fogem do país.  Desde os tempos da Idade Média eles vivem no território de Mianmar, antiga Birmânia, mas são considerados um povo sem Estado e não são reconhecidos como um dos 135 grupos do país. Mesmo assim, ainda há milhares deles em Mianmar, vivendo na mais profunda miséria. Os Rohingya falam o idioma rohingya ou ruaingga, um dialeto próprio. Como têm a cidadania negada pelo governo birmanês, eles têm fugido há anos, sobretudo para Bangladesh, Malásia, Índia, Nepal e EUA —, onde quase sempre enfrentam condições de vida tão precárias quanto em Mianmar. 

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