
Começo com uma informação sobre o IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, iniciado em 1988 pelo Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PUMA), cuja missão é gerar informações
científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes, para o entendimento das
mudanças climáticas e dos seus impactos potenciais. O IPCC congrega centenas de climatologistas, geógrafos, meteorologistas, economistas e outros especialistas provenientes de mais de cem países.
O texto de Leonardo Boff nos convida a tomar atitudes imediatas, pois se reporta aos tempos de um futuro próximo da humanidade, do qual poderemos fazer parte, com os nossos filhos e netos, junto a todos os seres vivos do nosso planeta. “Vivemos tempos de Noé. Pressentindo que viria um dilúvio, o velho Noé convocava as pessoas para mudarem de vida. Mas ninguém o ouvia. Ao contrário, “comiam e bebiam, casavam-se e se davam em casamento, até que veio o dilúvio e os fez perecer a todos” (Lc 17,27; Gn 6-9).
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VIVEMOS TEMPOS DE NOÉ
Por: Leonardo Boff
25.04.2014
Os 2000 cientistas do IPCC que estudam o clima da Terra são nossos Noés atuais. O terceiro e último relatório, de 13/4/2014, contém grave alerta: temos apenas 15 anos para impedir a ultrapassagem de 2 graus C do clima da Terra. Se ultrapassar, conheceremos algo do dilúvio. Ninguém dos 196 chefes de Estado disse qualquer palavra. A grande maioria continua a explorar os bens naturais, negociando, especulando e consumindo sem parar como nos dias de Noé.
Entrevejo três graves irresponsabilidades: a geral e a específica e supina ignorância do Congresso norte-americano, que vetou todas as medidas contra o aquecimento global; a manifesta má vontade da maioria dos chefes de Estado; e a falta de criatividade para montar as traves de uma possível Arca salvadora.
Como
um louco numa sociedade de “sábios”, ouso
propor algumas premissas. Se algum
mérito possuírem, é o de apontarem para um novo paradigma civilizacional que
nos poderá dar outro rumo à história. Ei-las:
1. Completar a razão
instrumental-analítica-científica dominante com a inteligência emocional ou
cordial. Sem esta não nos comovemos face à devastação da natureza e não nos
engajamos para resgatá-la e salvá-la.

2. Passar da simples compreensão de Terra como armazém de recursos, para a visão da Terra viva, superorganismo vivo que se autorregula, chamado Gaia.
3. Entender que, como humanos, somos aquela porção da Terra que sente, pensa, e ama, cuja missão é cuidar da natureza.
4. Passar do paradigma da conquista/dominação ainda
vigente, para o paradigma do cuidado/responsabilidade.
5. Entender que a sustentabilidade só será garantida
se respeitarmos os direitos da natureza e da Mãe Terra.
6. Articular o contrato natural feito com a natureza,
que supõe a reciprocidade inexistente, com o contrato social que supõe a
colaboração e a inclusão de todos, insuficiente.
7. Não existe meio-ambiente, mas o ambiente inteiro.
O que existe é a comunidade de vida com o mesmo código genético de base,
estabelecendo um parentesco entre todos.
8. Abandonar a obsessão pelo crescimento/
desenvolvimento pela redistribuição da riqueza já acumulada.
9. Devemos produzir para atender demandas humanas,
mas sempre dentro dos limites da Terra e de cada ecossistema.
10. Pôr sob controle a voracidade
produtivista e a concorrência sem limites, em favor da cooperação e da
solidariedade, pois todos dependemos uns dos outros.
11. Superar o individualismo pela
colaboração entre todos, pois esta é a lógica suprema do processo de evolução.
12. O bem comum, humano e natural, tem
primazia sobre o bem comum particular e corporativo.
13. Passar da ética utilitarista e
eficientista, para a ética do cuidado e da responsabilidade.
14. Passar do consumismo individualista,
para a sobriedade compartida. O que nos sobra, falta aos demais.
15. Passar da maximização do
crescimento, para a otimização da prosperidade, a partir dos mais necessitados.
16. Ao invés de permanentemente
modernizar, ecologizar todos os saberes e processos produtivos, visando tutelar
os bens e serviços naturais e dar descanço à natureza e à Terra.
17. Opor à era do antropoceno, que faz
do ser humano uma força geofísica destrutiva, pela era ecozóica que ecologiza e
inclui todos os seres no grande sistema terrenal e cósmico.
18. Valorizar o capital
humano/espiritual, inexaurível, sobre o capital material exaurível, porque o primeiro fornece os critérios para
as intervenções responsáveis na natureza, e alimenta permanentemente os valores
humano-espirituais da solidariedade, do cuidado, do amor e da compaixão, bases
para uma sociedade com justiça, equidade e respeito à natureza.
19. Contra a decepção e a depressão
provocadas pelas promessas não cumpridas, de bem-estar geral, feitas pela
cultura do capital, alimentar o princípio-esperança, fonte de fantasia
criadora, de novas ideias e de utopias viáveis.
20. Crer e testemunhar que, no fim de
tudo, o bem triunfará sobre a mal, a verdade sobre a mentira, e o amor sobre a
indiferença. Um pouco de luz poderá espancar uma imensidão de trevas.”
Sugiro que busquemos aprofundar o entendimento das importantes proposições de Leonardo Boff, aqui reportadas, a fim de levar adiante a sua mensagem de alerta responsável sobre o mundo em que vivemos, e sobre todos os seres viventes da nossa era. Assim, voltaremos a essas suas proposições nas postagens seguintes do Espaço Poese.
Sugiro que busquemos aprofundar o entendimento das importantes proposições de Leonardo Boff, aqui reportadas, a fim de levar adiante a sua mensagem de alerta responsável sobre o mundo em que vivemos, e sobre todos os seres viventes da nossa era. Assim, voltaremos a essas suas proposições nas postagens seguintes do Espaço Poese.
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Fonte do texto: Leonardo Boff.wordpress.com
Crédito imagens:
Fotos da revista "Exame", em 30.09.2013: Mar Vermelho - Egito; e Laguna Verde - Argentina
Crédito imagens:
Fotos da revista "Exame", em 30.09.2013: Mar Vermelho - Egito; e Laguna Verde - Argentina
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