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LUZ PARA ESPANCAR AS TREVAS

06 maio, 2014

O artigo que segue, escrito por Leonardo Boff, em 25 de abril de 2014, intitulado: “Vivemos tempos de Noé”1 requer uma leitura atenta para a compreensão das proposições formuladas pelo autor.  Não me cabe, certamente, essa tarefa, mas até que o seu corajoso alerta seja acolhido na sociedade, faço o que me me é possível neste espaço de comunicação com os meus leitores.
Começo com uma informação sobre o IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, iniciado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PUMA), cuja missão é gerar informações científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes, para o entendimento das mudanças climáticas e dos seus impactos potenciais. O IPCC congrega centenas de climatologistas, geógrafos, meteorologistas, economistas e outros especialistas provenientes de mais de cem países.  

O texto de Leonardo Boff nos convida a tomar atitudes imediatas, pois se reporta aos tempos de um futuro próximo da humanidade, do qual poderemos fazer parte, com os nossos filhos e netos, junto a todos os seres vivos do nosso planeta.  “Vivemos tempos de Noé. Pressentindo que viria um dilúvio, o velho Noé convocava as pessoas para mudarem de vida. Mas ninguém o ouvia. Ao contrário, “comiam e bebiam, casavam-se e se davam em casamento, até que veio o dilúvio e os fez perecer a todos” (Lc 17,27; Gn 6-9).
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                                   VIVEMOS TEMPOS DE NOÉ

Por: Leonardo Boff
25.04.2014


Os 2000 cientistas do IPCC que estudam o clima da Terra são nossos Noés atuais. O terceiro e último relatório, de 13/4/2014, contém grave alerta: temos apenas 15 anos para impedir a ultrapassagem de 2 graus C do clima da Terra.  Se ultrapassar, conheceremos algo do dilúvio. Ninguém dos 196 chefes de Estado disse qualquer palavra. A grande maioria continua a explorar os bens naturais, negociando, especulando e consumindo sem parar como nos dias de Noé.

Entrevejo três graves irresponsabilidades: a geral e a específica e supina ignorância do Congresso norte-americano, que vetou todas as medidas contra o aquecimento global; a manifesta má vontade da maioria dos chefes de Estado; e a falta de criatividade para montar as traves de uma possível Arca salvadora.
Como um louco numa sociedade de “sábios”, ouso propor algumas premissas. Se algum mérito possuírem, é o de apontarem para um novo paradigma civilizacional que nos poderá dar outro rumo à história. Ei-las:

1. Completar a razão instrumental-analítica-científica dominante com a inteligência emocional ou cordial. Sem esta não nos comovemos face à devastação da natureza e não nos engajamos para resgatá-la e salvá-la.



2. Passar da simples compreensão de Terra como armazém de recursos, para a visão da Terra viva, superorganismo vivo que se autorregula, chamado Gaia.

3. Entender que, como humanos, somos aquela porção da Terra que sente, pensa, e ama, cuja missão é cuidar da natureza.
4. Passar do paradigma da conquista/dominação ainda vigente, para o paradigma do cuidado/responsabilidade.
5. Entender que a sustentabilidade só será garantida se respeitarmos os direitos da natureza e da Mãe Terra.
6. Articular o contrato natural feito com a natureza, que supõe a reciprocidade inexistente, com o contrato social que supõe a colaboração e a inclusão de todos, insuficiente.
7. Não existe meio-ambiente, mas o ambiente inteiro. O que existe é a comunidade de vida com o mesmo código genético de base, estabelecendo um parentesco entre todos.
8. Abandonar a obsessão pelo crescimento/ desenvolvimento pela redistribuição da riqueza já acumulada.
9. Devemos produzir para atender demandas humanas, mas sempre dentro dos limites da Terra e de cada ecossistema.
10. Pôr sob controle a voracidade produtivista e a concorrência sem limites, em favor da cooperação e da solidariedade, pois todos dependemos uns dos outros.
11. Superar o individualismo pela colaboração entre todos, pois esta é a lógica suprema do processo de evolução.
12. O bem comum, humano e natural, tem primazia sobre o bem comum particular e corporativo.
13. Passar da ética utilitarista e eficientista, para a ética do cuidado e da responsabilidade.
14. Passar do consumismo individualista, para a sobriedade compartida. O que nos sobra, falta aos demais.
15. Passar da maximização do crescimento, para a otimização da prosperidade, a partir dos mais necessitados.
16. Ao invés de permanentemente modernizar, ecologizar todos os saberes e processos produtivos, visando tutelar os bens e serviços naturais e dar descanço à natureza e à Terra.
17. Opor à era do antropoceno, que faz do ser humano uma força geofísica destrutiva, pela era ecozóica que ecologiza e inclui todos os seres no grande sistema terrenal e cósmico.
18. Valorizar o capital humano/espiritual, inexaurível, sobre o capital material exaurível,  porque o primeiro fornece os critérios para as intervenções responsáveis na natureza, e alimenta permanentemente os valores humano-espirituais da solidariedade, do cuidado, do amor e da compaixão, bases para uma sociedade com justiça, equidade e respeito à natureza.

19. Contra a decepção e a depressão provocadas pelas promessas não cumpridas, de bem-estar geral, feitas pela cultura do capital, alimentar o princípio-esperança, fonte de fantasia criadora, de novas ideias e de utopias viáveis.
20. Crer e testemunhar que, no fim de tudo, o bem triunfará sobre a mal, a verdade sobre a mentira, e o amor sobre a indiferença. Um pouco de luz poderá espancar uma imensidão de trevas.” 

Sugiro que busquemos aprofundar o entendimento das importantes proposições de Leonardo Boff, aqui reportadas, a fim de levar adiante a sua mensagem de alerta responsável sobre o mundo em que vivemos, e sobre todos os seres viventes da nossa era. Assim, voltaremos a essas suas proposições nas postagens seguintes do Espaço Poese.

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Fonte do texto: Leonardo Boff.wordpress.com

Crédito imagens:


Fotos da revista "Exame", em 30.09.2013: Mar Vermelho - Egito; e Laguna Verde - Argentina






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