Vanise Rezende - clique para ver seu perfil

CUIDAR DA MÃE TERRA

10 maio, 2014

 
Em nossa última postagem - o alerta de Leonardo Boff sobre uma provável repetição, na era atual, da tragédia vivida por Noé - sugeri que voltássemos a refletir sobre o tema. Minha intensão é retomar, inicialmente, as duas primeiras proposições do autor:
1. Completar a razão instrumental-analítica-científica dominante com a inteligência emocional ou cordial. Sem esta não nos comovemos face à devastação da natureza e não nos engajamos para resgatá-la e salvá-la.
2. Passar da simples compreensão de Terra como armazém de recursos, para a visão da Terra viva, superorganismo vivo que se autorregula, chamado Gaia.

Um artigo de Waldemar Boff - postado pelo próprio Leonardo antes de nos apresentar as suas proposições – certamente nos propiciará maior clareza sobre o assunto. Dele sabemos que é formado em filosofia e sociologia nos USA e que fundou o SEOP - Serviço de Educação e Organização Popular, que congrega pequenos produtores rurais à margem do rio Surui, na Baixada Fluminense. Suas palavras expressam a beleza poética de quem estuda a Mãe Terra ‘como um superorganismo vivo’,com a inteligência cordial’, e nos tocam com a força de quem exprime, com simplicidade, aquilo que conhece e vive. A atualidade das suas informações e a sua oportunidade são inquestionáveis. Segue abaixo.  

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Quando a grande tribulação chegar, a Terra terá enfim o seu merecido descanso.


Ninguém sabe ao certo o dia e a hora. É que já estamos no meio dela sem notarmos. Mas, que está vindo está, e cada vez com mais intensidade e nitidez. 


Quando acontecer a grande virada, tudo vai parecer como se fosse de surpresa.
Embora haja dados seguros que apontam a inevitabilidade das mudanças globais devidas ao clima, com consequências que os cientistas tentam adivinhar, mas que seguramente serão para o pior, os interesses econômicos das grandes nações e a falta de visão, a longo termo, de seus líderes, não lhes permitem tomar as medidas necessárias para mitigar os efeitos e adaptar seu modo de vida ao estado febril da Terra.
Poderíamos imaginar um cenário plausível em que furacões varrerão regiões inteiras. Ondas gigantescas engolirão cidades e civilizações, indo morrer aos pés das montanhas. Secas prolongadas farão com que se troquem todas as riquezas por um simples copo de água suja. O calor e o frio extremos farão lembrar, com saudades, as histórias das avós que falavam das brisas da tarde e do aconchego de uma lareira no inverno, sempre previsível, e dos frutos amadurecidos ao calor de um sol de verão benfazejo. Comer-se-á só para sobreviver, sempre pouco e de gosto duvidoso.

Mas tudo isto ainda não será o pior. A mãe, de tão fraca, não conseguirá enterrar a filha, e o neto matará o avô por causa de uma côdea de pão. O cão e o gato, amigos do homem, serão buscados por toda a parte como última possibilidade de matar a fome. Os vivos invejarão os mortos, e não haverá quem chore a morte das crianças. A fome chegará a tal ponto que, como na Jerusalém sitiada, os famintos aguardarão a próxima vítima da morte para disputar-lhe a carne esfiapada.
‘O país ficará devastado e as cidades se tornarão escombros. Todo o tempo em que ficar devastada a Terra descansará pelos sábados que não descansou, quando nela habitáveis’ (Lev. 26,33-35). Mas será o fim de toda a biosfera? Não. Por causa dos justos e sensatos, Deus abreviará esses dias e não dizimará toda a vida sobre a Terra, mantendo a promessa que fizera a nosso pai Noé. Mas é necessário que o ser humano passe por essa tribulação para acordar do seu egocentrismo e reconhecer, em definitivo, que ele é parte da comunidade da vida e o principal guardador dela.
Que fazer para nos prepararmos para esses tempos? Primeiramente, reconhecer que já vivemos neles. Hoje já não sabemos quando virá a primavera ou o outono. Já não contamos com os meses de frio e calor. Já não sabemos reconhecer quando fará chuva ou sol. Depois, importa ficar quieto, vigiando e observando os sinais que indicam a aceleração dos processos de mudança. E, sobretudo, é imprescindível converter-se, mudar de hábitos de vida, uma mudança profunda, pessoal e definitiva. Só então estaríamos em condições morais de pedir aos outros que façam o mesmo.

Mas, como no tempo dos profetas, poucos ouvirão, alguns escarnecerão e a maioria se manterá indiferente e se permitirá toda sorte de liberdades, como no tempo de Noé.

Deveríamos ainda voltar às raízes, recomeçar, como tantas vezes já fez a humanidade arrependida, reconhecendo que somos apenas criaturas e não Criador, que somos companheiros e não senhores da natureza; que para nossa felicidade é indispensável nos submeter às grandes leis da vida e ouvir com atenção a voz de nossa consciência. Se obedecermos a essas leis maiores, colheremos os frutos da Terra e a alegria da alma. Se desobedecermos a elas, herdaremos uma civilização como essa, na qual estamos vivendo, cheia de avidez, guerras e tristezas.

Para esses tempos de carestia que virão, é fundamental  recuperar as ancestrais artes e técnicas do plantar, colher, comer; do cuidar dos animais e servir-se deles com respeito; do fazer utensílios e ferramentas com arte e tecnologia local; do selecionar e plantar as ervas que curam, e os grãos que nutrem; do recolher para tecer; do preservar as fontes de água, do encontrar lugares apropriados para cavarmos os poços e do aprender a guardar as águas da chuva. É entrar na faculdade da economia da escassez, da sobriedade compartida e da beleza despojada.  Desse saber recuperado e enriquecido, surgiria uma civilização do contentamento, uma biocivilização, a Terra da boa esperança.

Depois dessa longa temporada de lágrimas e esperanças, superaremos essa estúpida guerra de religiões, essa intolerável disputa de deuses. Para além dos profetas e tradições, para além das morais e liturgias, quem sabe voltemos a adorar, sob múltiplos nomes e formas, o único Criador de todas as coisas e Pai-Mãe de todos os viventes, no grande Espírito que a tudo une e inspira, entrelaçados amorosamente na única fraternidade universal. E poderemos, enfim, organizar verdadeiramente a união de todos os povos do mundo, e um autêntico parlamento de todas as religiões.”

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Crédito das Imagens:

1. Mãe Terra - http://conscienciaeusou.blogspot.com/2012/oracao-mae-terra-xama-alba-maria-html
2. Terra rachada - www.meioambiente.culturamix.com 
3. Rebanho de ovelhas - Foto de Simone Monnet - Suiça.






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