
Há momentos, na vida, em que não se consegue escrever ou
falar – pode-se apenas viver. Grandes são aqueles que na literatura, na dança,
no teatro, nas artes em geral conseguem atingir, engenhosamente, alguns acordes da
experiência do amor e da dor.
A música me parece ser mais fiel, delicadamente nascida para
nada dizer, mas para sugerir à alma os acordes poéticos do amor ou
revelar-lhe o ruído torturante do sofrimento. Sua harmonia será tanto
mais sentida, quanto mais irmanado alguém se fizer do artista com o seu
próprio momento de vida.
Rabisquei essas ideias há anos atrás, quando me
parecia reviver, tal como um filme ao revés, uma história que, então, se não a
tomasse nas mãos e não lhe desse um nome e um destino, poderia tornar-se mais
uma estúpida novela de cenas repetidas, infiéis ao seu roteiro original.
Tomar a própria história nas mãos é graça, é coragem de
conhecê-la até onde se viveu e, talvez, reconhecê-la mesquinha. É perceber que
não se sabe claramente o para onde,
embora o para quê reclame atitude e
esperança.
A história nas mãos é assumir a liberdade de escolha do rumo
do próprio caminho, que não exclui o aprendizado adquirido na convivência com o outro, o diferente de
si, nem o desejo de realizar, um dia, a experiência da reciprocidade.
A opção da liberdade de escolha não é coisa tão simples,
especialmente quando a nossa atitude recai numa história que se realizara a
dois, em busca do exercício do afeto e da cumplicidade. Na cumplicidade, a liberdade individual adquire o seu maior
impulso, deixa de significar, apenas, o poder de realizar aquilo que se quer, para deitar-se em espaços mais amplos e auspiciosos.

A liberdade atinge o seu o pleno sentido, quando alguém consegue engendrar vivências que promovam situações de esperança e de serenidade, para si e para o outro. É verdade que, em certos momentos, para se permanecer fiel às próprias escolhas chega-se a magoar o outro, ou aqueles com quem se convive. Pode-se, então, ser cobrado das próprias decisões. Para enfrentar esses momentos, é importante promover um cuidadoso diálogo, para não deixar que esvaeça aquilo que mais importa: a fidelidade à benevolente compreensão, na convivência com as pessoas.
-----------------------------
Imagem: Madeleine Veilleuse - George de La Tour - Museu do Louvre - Paris
Nenhum comentário :
Deixe seu comentário: