No início desta semana, um
manifesto aberto a todos os brasileiros foi divulgado em vários jornais e
revistas de ampla circulação, para expressar, em unanimidade - embora admitindo
que eram cidadãos 'diferentes' - a candidatura de Jair Bolsonaro como uma 'ameaça
franca' ao 'patrimônio civilizatório primordial'.
É possível
que muitos que me leem agora já ouviram falar ou leram trechos do documento
citado. No entanto, gostaria de sugerir - aos que concordarem com os princípios
e a visão dos que subscreveram o manifesto, e ainda o estão assinando, via
internet - que o divulguem com amigos e pessoas de bem e desejam um país democrático
comprometido com o povo brasileiro, com a garantia das liberdades individuais, e
a preservação do bem comum, dos direitos humanos, da diversidade, da justiça e da
paz social.
Segue a
íntegra do documento.
Manifesto representativo dos setores empresarial, cultural, jurídico, político e ativista do país, é lançado contra o candidato do PSL - Jair Bolsonaro
Por: Renata Agostini, O Estado de S.Paulo
Atualizado em 24 de Setembro, 2018
Documento diz que presidenciável representa
'ameaça franca' ao 'patrimônio
civilizatório'.
Um grupo que inclui intelectuais, juristas, artistas, esportistas, ativistas e empresários subscreveu um manifesto contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República, divulgado neste domingo.
O documento, intitulado “Pela democracia, pelo Brasil”, não indica apoio a nenhuma candidatura presidencial, mas afirma ser necessário um movimento democrático contra o projeto do candidato do PSL nas eleições 2018.
“A candidatura
de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio
civilizatório primordial”, diz o texto. A carta relaciona a ascensão de
Bolsonaro com o surgimento de regimes autoritários em outros países e momentos
da história. “Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo,
deflagradas pela expectativa de responder a crises ou superar impasses
políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína
econômica.”
O
documento também compara o sucesso do ex-capitão a outros presidentes que
assumiram com promessas populista relacionadas ao fim da corrupção. “Conhecemos
amplamente os resultados de processos históricos assim. Tivemos em Jânio (Quadros)
e (Fernando) Collor outros pretensos heróis da pátria, aventureiros
eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política, para nos levar
ao desastre.”
Nas
primeiras linhas, o texto ressalta as diferenças ideológicas entre os autores.
Assinam desde o jurista Miguel Reale Jr., um dos autores do pedido de
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), ao ex-ministro Renato
Janine Ribeiro, que comandou o Ministério da Educação (MEC) por seis meses no
governo Dilma.
O manifesto também é subscrito por personalidades
que deram apoio a outros candidatos nas eleições. Entre os nomes estão os de
Maria Alice Setúbal, educadora e acionista do Itaú Unibanco; do economista
Bernard Appy; do empresário Guilherme Leal, sócio da Natura; de Caetano Veloso
e Paula Lavigne; do advogado e professor da FGV Oscar Vilhena; e do médico
Drauzio Varella.
Caetano
e Paula Lavigne declararam apoio a Ciro Gomes (PDT). Maria Alice Setúbal e
Guilherme Leal já atuaram ao lado de Marina Silva (Rede) em pleitos
passados, mas não tê m papel na campanha atual da ex-senadora.
O manifesto foi lançado com uma relação inicial de
signatários e ficará hospedado num site próprio do movimento. A lista ficará
aberta para quem quiser incluir a assinatura. Até a noite deste domingo, a
lista tinha a assinatura de cerca de 330 nomes.
O documento foi fechado na quinta-feira pelas mãos
de um grupo de amigos, entre eles o advogado José Marcelo Zacchi. Ao longo do
fim de semana, circulou em grupos de WhatsApp e teve adesões.
Segundo Zacchi, o objetivo do manifesto é reunir
vozes que representem diversos segmentos da sociedade e possam mobilizar
setores. “É sobre repudiar um projeto que nos parece contrário aos princípios
democráticos”, diz.
Abaixo, a
íntegra do manifesto:
"Pela Democracia, pelo Brasil
Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e
públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas,
ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.
Mas temos em comum o
compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o
respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus
cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e
discriminação.
Como todos os
brasileiros, sabemos da profundidade dos desafios que nos convocam nesse
momento. Mais além deles, do imperativo de superar o colapso do nosso sistema
político, que está na raiz das crises múltiplas que vivemos nos últimos anos e
que nos trazem ao presente de frustração e descrença.
Mas sabemos também
dos perigos de pretender responder a isso com concessões ao autoritarismo, à
erosão das instituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança
humanista primordial.
Podemos divergir
intensamente sobre os rumos das políticas econômicas, sociais ou ambientais, a
qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso sistema legal nos
mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para sua aplicação.
Nisso, estamos no terreno da democracia, da disputa legítima de ideias e
projetos no debate público.
Quando, no entanto, nos deparamos com projetos que
negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente
com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a
manipulação do número de juízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes
presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias
contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da
proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado
terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a
consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo
dissenso democrático.
Conhecemos amplamente
os resultados de processos históricos assim. Tivemos em Jânio e Collor outros
pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da
ética e da limpeza política, para nos levar ao desastre. Conhecemos 20 anos de
sombras sob a ditadura, iniciados com o respaldo de não poucos atores na
sociedade.
Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo, deflagradas pela expectativa de responder a crises ou superar impasses políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína econômica. Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários.
Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo, deflagradas pela expectativa de responder a crises ou superar impasses políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína econômica. Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários.
Em momento de crise,
é preciso ter a clareza máxima da responsabilidade histórica das escolhas que
fazemos. Essa clareza nos move
a esta manifestação conjunta, nesse momento do país. Para além de todas as
diferenças, estivemos juntos na construção democrática no Brasil. E é preciso
saber defendê-la assim agora.
É preciso dizer, mais
que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça
franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua
normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino
coletivo entre nós.
Prezamos a
democracia. A democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos
que a cultivam com solidez no mundo. Que nos trouxe nos últimos 30 anos a
estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a
expansão sem precedentes da cidadania entre nós. Não são, certamente, poucos os
desafios para avançar por dentro dela, mas sabemos ser sempre o único e mais
promissor caminho, sem ovos de serpente ou ilusões armadas.
Por isso, estamos
preparados para estar juntos na sua defesa em qualquer situação, e nos reunimos
aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que
possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da
política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante,
plena e exitosa que precisamos e podemos ser."
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Fonte
do texto:
Veja
também:
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,centrais-sindicais-divulgam-nota-de-repudio-a-bolsonaro,70002514568
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Crédito das Imagens:
Foto de Vanise Rezende - acervo "Espaço Poese".
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