Uma parcela desses leitores participa das comunidades do Movimento dos Focolares, de âmbito internacional, fundado por Chiara Lubich, que reconheceu como seu cofundador um ilustre e respeitado senador da república italiana, Igino Giordani.
Tive a honra de conhecer o senador Giordani por seu desejo de dialogar com os primeiros e as primeiras brasileiras que aderiam como membros ativos do movimento, no Brasil, como Marluza Correia, Heleno Oliveira, Inês, Vera Araújo, Irami Bezerra, Tininha Cavaldanti e eu, entre outros. Eram os anos sessenta, e o movimento estava em seu período de maior difusão.
Da história de Igino Giordani sabemos que, no período de governo fascista de Mussolini, ele se abrigou no Vaticano, protegendo-se da perseguição. A sua sabedoria e o seu testemunho pessoal foi de uma pessoa aberta à fraternidade e à solidariedade humana. Um cristão sábio, seguidor do chamamento de Jesus ao amor fraterno, mas, decididamente, um cristão lutador pela causa do seu povo e da democracia, que, como disse o Papa Francisco a um jesuíta, entendia que o amor fraterno requer que "sujamos as mãos" na política pelo bem-comum.
Conto esse fato para dizer da minha alegria, hoje, quando recebi do MPPU - Movimento Político pela Unidade - o seu manifesto pela democracia, diante dos "desafios do processo eleitoral tenso", convidando a todos a abrirem-se ao diálogo e às diversas propostas da sociedade democrática, para "fortalecer a coesão sociopolítica" e encontrar "soluções conjuntas" a este momento de crise que vivenciamos, no Brasil e no mundo.
O Movimento Político pela Unidade convoca os seus membros a "discernir entre o que seja democrático e antidemocrático".
A nota é incisiva no convite a se escolher uma prática de educação e aprendizado da "fraternidade política", e "repudia de forma veemente qualquer discurso, proposta, atitude ou prática antidemocrática que aceite romper com as regras do jogo democrático, negue a legitimidade dos oponentes, admita a restrição às liberdades civis, expresse opiniões francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, cultive, incite e pratique a violência como solução para os vários problemas que enfrentamos, sustente e/ou se beneficie das estruturas públicas para práticas corruptas (durante e após as eleições)… e assim tantas outras atitudes e práticas que travam uma práxis político educativa (de povo) que seja fraterna, democrática".
O MPPU mostra com clareza a sua preocupação quanto à candidatura candidatos à presidência da república do Sr. Jair Bolsonaro. Estendendo a confiança numa prática política de educação e aprendizado da "fraternidade política".
Segue a íntegra do manifesto.
Nota em apoio ao necessário
diálogo político e
fraterno, que essas eleições e a democracia
brasileira exigem
da sua gente.
“A política é o amor dos
amores (...) ao criar e resguardar as condições que possibilitem com que as
pessoas colaborem entre si, promovendo o encontro das necessidades com os
recursos, infundindo em todos a confiança de uns nos outros”.
Chiara
Lubich
Somos diversos, somos muitos, somos diferentes.
Nossa
maior riqueza se encontra justamente nessa diversidade de rostos, cantares,
sabores, histórias, sotaques, lutas, conquistas, alegrias e tantas outras
marcas que nos distinguem enquanto povo.
Nada mais natural, sendo o que somos,
defendermos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes
antagônicos. Nada mais lógico que esse confronto de causas, ideias e projetos
no espaço público, com propostas de mundo diversas, gere conflitos, tensões,
lutas que são constitutivas desse espaço que é e deve ser gestado e ocupado por
toda a sociedade.
Nada mais necessário, então, compreendermos/aprendermos que o
confronto de ideias e propostas no espaço público, sedimentados a partir do
diálogo respeitoso e consciente, fortalece nosso aprendizado político,
sustentando nossa jovem democracia.
Imersos em um processo eleitoral que se apresenta
tenso, resultado de um conjunto de crises - política, econômica, educacional e jurídica, que nos colocam diante de uma encruzilhada democrática - temos
consciência da profundidade dos desafios que nos convocam nesse momento.
Podemos divergir intensamente sobre os rumos das políticas econômicas, sociais
ou ambientais, a qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso
sistema legal nos mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para
sua aplicação. Nisso, estamos no terreno da democracia, da disputa legítima de
ideias e projetos no debate público.
Em momentos de crise, considerando as
consequências históricas das nossas decisões, nossas escolhas devem refletir,
mais que a nossa paixão, a nossa consciência, a nossa responsabilidade, a nossa
esperança e luta por uma política que seja fraterna.
Uma política fraterna,
como quer e trabalha o Movimento Político pela Unidade, mantém as portas sempre
abertas aos diversos projetos de sociedade representados pelas diversas
ideologias políticas. Contudo, uma política que se quer e deseja fraterna, deve
necessariamente discernir entre o que seja democrático e antidemocrático e ter
a capacidade e coragem de intensificar suas ações a favor do diálogo, da
fraternidade.
Nesse sentido, o Movimento Político pela Unidade, ao mesmo tempo
que propõe, apoia e nos desafia (toda a sociedade – candidatos e eleitores) a
vivermos uma prática política que nos eduque à fraternidade política, repudia
de forma veemente qualquer discurso, proposta, atitude ou prática
antidemocrática que aceite romper com as regras do jogo democrático, negue a
legitimidade dos oponentes, admita a restrição às liberdades civis, expresse
opiniões francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da
sociedade, cultive, incite e pratique a violência como solução para os vários
problemas que enfrentamos, sustente e/ou se beneficie das estruturas públicas
para práticas corruptas (durante e após as eleições)… e assim tantas outras
atitudes e práticas que travam uma práxis político educativa (de povo) que seja
fraterna, democrática.
Nessas eleições, o nosso voto atento, pensado,
consciente, estudado, pode transformar uma política em crise (que sustenta uma
cultura do privilégio que silencia a muitos) em uma política para o bem de todo
o povo brasileiro (que sustenta uma cultura político fraterna).
Nesse sentido,
é de fundamental importância que escolhamos candidatos (Deputado Estadual,
Deputado Federal, Senador, Governador, Presidente) que saibam dialogar, que
pensem o bem de todos, que saibam viver a FRATERNIDADE na política.
Em momentos
de crise como esse que estamos vivendo, nos parece fundamental recuperarmos
nosso horizonte político comum, de uma sociedade fraterna, livre e solidária,
com igualdade de direitos e deveres, liberdades e oportunidades para todos.
Reconhecer, nesse horizonte, o valor e a força da nossa diversidade e pluralidade
supõe a presença e envolvimento de todos nós, passando ao largo de soluções
fáceis, românticas ou mirabolantes.
Esta é, certamente, uma tarefa de todos.
Cada um e cada uma, cada grupo, organização e voz entre nós pode contribuir
nessa construção. Mais que nunca, precisamos fortalecer nossa coesão
social/política, ampliar e intensificar o diálogo fraterno (antídoto potente
contra o fascismo), sustentar nossa confiança nas instituições políticas,
aprofundar nossa capacidade de encontrarmos soluções conjuntas, de povo, para
os muitos desafios que nos envolvem.
Nosso desafio enquanto sociedade (família
humana) passa urgentemente por ressignificar a política, recuperando seu papel
fundamental de organização e espaço de interlocução em sociedades cada vez mais
complexas e interligadas. Sedimentando, através da política, relações sociais
fundadas na responsabilidade comum, inclusivas, horizontais, fraternas, ou
simplesmente na esperança de um povo que se percebe capaz e responsável pelo
que é e pelo seu futuro. Esse é um aprendizado político necessário, permanente.
Movimento
Político pela Unidade do Brasil brasil@mppu.or.br
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