"Todos dizem que o
cérebro seja o órgão mais complexo do corpo humano, como médica posso até estar
de acordo, mas, como mulher asseguro que não há nada de mais complexo do que o
coração, ainda hoje não se conhecem todos os seus mecanismos. Nos raciocínios
do cérebro há lógica, nos raciocínios do coração, as emoções”.
A citação acima, da médica judia italiana Rita Levi Montalcini - divulgada na internet pelo Hospital Bambino Gesù de Roma - é carregada de sentido por ser de autoria de uma mulher que alcançou
grande proeminência por sua atividade científica, política e cidadã. Ela viveu
ativamente até os 103 anos de idade.
Rita Levi Montalcini (1909/2012) foi senadora vitalícia da Itália e ficou conhecida como a Senhora das Células pela
descoberta do fator de crescimento do nervo (NGF), uma proteína que faz as
células em desenvolvimento crescerem, estimulando o tecido nervoso circundante.
Sua pesquisa - realizada com a participação de Giuseppe Levi, seu colaborador
- trouxe um aporto significativo para o desenvolvimento do estudo do câncer e
das doenças cardiovasculares como Alzheimer e Parkinson. Em 1986 ela recebeu o Prêmio Nobel de Medicina junto com o
norte-americano Stanley Cohen, que conhecera nos Estados
Unidos onde viveu por trinta anos.
A biografia de Rita Levi Montalcini exalta o seu conhecimento reconhecido em todo
o mundo, mas não fala do que se passava no seu coração de mulher. Por ser judia,
sua família lutou para sobreviver no período nazista. Na segunda guerra mundial ela atuou como
médica em Florença, na Itália, e no início dos anos sessenta participou da
atividade do Movimento de Liberação
Feminina pela regulamentação do aborto. Em 1975 tornou-se a primeira mulher
a ser membro pleno da Academia Pontifícia
de Ciências do Vaticano. Em 1999 foi nomeada embaixadora da Organização para a Alimentação e a Agricultura
(FAO), a fim de contribuir na sua campanha contra a fome no mundo. Ganhou inúmeros
prêmios por suas contribuições à pesquisa médica e científica.
"As mulheres constituem igualmente, ao lado dos homens, um imenso depósito de potencialidades, embora ainda distanciadas de uma plena paridade social".
Com Paula, sua irmã gêmea, criou a Fundação Rita Levi-Montalcini que apoiou a realização de um projeto denominado “Um convite às meninas Tuareg”. O projeto motivou a promoção de uma campanha de doação de bolsas de estudo destinadas à escolarização secundária e à educação sanitária de jovens líderes africanas.
O objetivo principal do projeto foi o de criar um primeiro núcleo de jovens mulheres africanas com formação superior, numa área onde não havia acesso a esse nível de educação escolar. Inicialmente foram oferecidas bolsas de estudo a trinta jovens Tuareg que viviam nas vilas periféricas da cidade de Agadez (Nigéria), de modo que colaborassem no desenvolvimento de lideranças politicas e sociais no país.
O impacto do projeto resultou como uma fundamental contribuição para a construção de uma visão inovadora de cooperação na Comunidade Européia. "A cooperação internacional - diz o projeto - ao lado da criação de oportunidades iguais à instrução-formação, representam uma ocasião preciosa para consolidar os valores da participação, da solidariedade e da democracia e para reforçar a coesão social das comunidades, fatores igualmente determinantes para o desenvolvimento local e regional".
Rita Montalcini afirmava que se sentia uma mulher livre. Crescida em “um mundo
vitoriano, no qual dominava a figura masculina e a mulher tinha poucas
possibilidades,” chegou a declarar o quanto se ressentia desse fato: “porque as nossas capacidades mentais – de
homem e de mulher – são as mesmas: temos iguais possibilidades e diferentes
pontos de vista”.
Sobre os jovens, ela declarava: “Hoje, em confronto com o passado, os jovens usufruem de uma extraordinária amplitude de informações; o preço disso é o efeito hipnótico exercitado pela televisão que tira deles o hábito de raciocinar (além de lhes roubar o tempo a ser dedicado ao estudo, ao esporte e aos jogos, que estimulam a sua capacidade criativa). Assim, é definida para eles uma realidade que inibe a sua capacidade de “inventar o mundo” e destrói o seu fascínio pelo desconhecido.”
Interessou-me a história da Montalcini porque – embora sendo uma mulher
cientista reconhecida em todo o mundo – ela foi capaz de falar e de testemunhar a sensibilidade
que pode ser cultivada no coração humano.
Sem a sensibilidade cultivada no coração, como se pode amar a si mesmo de modo a se poder amar um companheiro ou companheira, os filhos, os amigos, as pessoas da própria família? Como seria possível enxergar a dor do outro e respeitar os seus limites, sem a perspicácia do coração? E como se poderia lutar pela melhoria da sociedade onde se vive e da relação entre os povos, não fosse o aprendizado de ampliar a nossa capacidade de “amar a pátria dos outros como a própria", como sugeria Chiara Lubich?
Sem a sensibilidade cultivada no coração, como se pode amar a si mesmo de modo a se poder amar um companheiro ou companheira, os filhos, os amigos, as pessoas da própria família? Como seria possível enxergar a dor do outro e respeitar os seus limites, sem a perspicácia do coração? E como se poderia lutar pela melhoria da sociedade onde se vive e da relação entre os povos, não fosse o aprendizado de ampliar a nossa capacidade de “amar a pátria dos outros como a própria", como sugeria Chiara Lubich?
Dois dias depois de
completar 103 anos, Montalcini postou uma nota no Facebook dizendo como era importante nunca
desistir da vida ou cair na mediocridade e na resignação passiva: “Eu
perdi um pouco da visão, e grande parte da audição. Nas conferências, eu não
vejo as projeções direito e não me sinto bem com isso. Mas eu penso mais agora
do que eu fazia quando eu tinha 20 anos. O corpo faz o que ele quer. Mas eu não
sou corpo, eu sou a mente."
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Fonte das informações:
www.ritalevimontalcini.org; facebook: fondazione rita montalcini; cronica do jornalista Ricardo De Luca/AP e wikpedia.
Fotografias: wikipedia e facebook.
A imagem reproduzida foi divulgada na internet pelo 'Hospedale Bambino Gesù - Roma-IT'
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