Siglas
se unem em apoio a Jean Wyllys, deputado do PSOL-RJ, e realizam
o primeiro ato de resistência do
ano ao atual presidente.
Por : Marina Souza
e Thaís Chaves
Carta
Capital - Política
As siglas protagonistas da esquerda brasileira se reuniram na noite da última terça-feira 29, na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo, e, pelo menos por algumas horas, deixaram as divergências de lado. Se, nos debates que se dão no Congresso Nacional, os partidos não conseguiram ainda chegar a um denominador comum sobre temas como eleição para a presidência da Câmara e reforma da Previdência, o que se viu nas históricas arcadas do Largo São Francisco foi os líderes dos maiores partidos à esquerda, do Brasil, traçarem uma agenda e um discurso comum. O assassinato ainda mal explicado de Marielle Franco, a prisão política do ex-presidente Lula, as fake news que jorram de fontes oficiais e, principalmente, o auto-exílio forçado do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) são temas capazes de fazer PT, PSOL e PCdoB falarem a mesma língua.
O ato, organizado pelo PSOL e pelo
Centro Acadêmico XI de Agosto, na Faculdade de Direito da USP, no centro de São
Paulo (SP), era destinado a apoiar Jean Wyllys, que se viu obrigado a deixar o
seu mandato e o Brasil, devido às ameaças de morte que tem recebido. Mas, nas palavras de Guilherme Boulos (PSOL-SP), presente no
evento, tinha um objetivo maior: “deixar de lado o que nos divide para agarrar
o que nos une: a Democracia.”
Boulos não foi o único personagem das
eleições de 2018 a prestigiar o ato. Também compareceram Manuela D’Ávila
(PCdoB), Fernando Haddad (PT), Isa Penna (PSOL-SP) e diversos atores da classe
política institucional ou não institucional, partidária ou artística, jurídica
ou musical, todos certamente de esquerda. Entre eles, Laerte, Fernando Morais, Vladimir Safatle, Celso Antônio Bandeira de Mello e Maria José Menezes.
O
rapper Criolo tentou chegar disfarçadamente, mas a apresentadora do ato, Isa
Penna, recém-eleita deputada estadual por São Paulo, o anunciou em alto e bom
som, citando um trecho de uma de suas músicas: “meninos mimados não podem reger
a nação”.
Nathalia Matos, filha do deputado
federal por São Paulo Ivan Valente (PSOL), cantou a música “Gente”, de Caetano
Veloso. Já a cantora Ana Cañas dedicou a canção “Tigresa”, do mesmo Caetano, à
deputada estadual Érica Malunguinho (PSOL-SP), que também estava lá, e à
vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada em março de 2018.
Para além do trio PT/PSOL/PCdoB, Zé Gustavo, ativista político da REDE, emprestou maior pluralidade ao evento, e discursou, após receber um forte abraço do vereador Eduardo Suplicy (PT) – que em contradição ao seu costume, limitou seu tempo de fala a menos de um minuto. “São só 29 dias desse ano. Precisaremos estar juntos independentemente da sigla partidária”, defendeu o candidato a deputado federal por São Paulo nas últimas eleições, que não foi eleito.
A utilização das fake news como um instrumento de campanha contra a esquerda, nas eleições de 2018, foi tema para os membros da chapa da esquerda que chegou ao segundo turno.
Fernando Haddad (PT) considerou que a população brasileira vive um processo de infantilização e perda de autonomia.
Haddad mostrou algum otimismo ao dizer que está "animado para reconstruir o Brasil, para que Jean volte ao país amanhã, se ele quiser".
Manuela D’Ávila (PCdoB) - que trabalhou durante diversos mandatos no Congresso Nacional com Jean Wyllys - explicou como a presença de Jean na Câmara dos deputados, como um homem gay e político, já é o suficiente para gerar ódio. No discurso, ela lembrou como os momentos de transição geram medo, exemplificando como via seus eleitores com medo de andar com “o nosso adesivo” na blusa.
A deputada gaúcha também teceu uma crítica à
leitura constante das pautas identitárias, apenas como identitárias, e não
pautas políticas.
“Não podemos julgar como resistem, a nossa resistência é a nossa existência”, defendeu, mais uma vez, sobre a postura do deputado baiano.
“Não podemos julgar como resistem, a nossa resistência é a nossa existência”, defendeu, mais uma vez, sobre a postura do deputado baiano.
Amelinha Teles - veterana militante
que conheceu de perto os porões e a tortura da Ditadura Militar brasileira -
contou histórias de quando os exilados brasileiros passaram a retornar ao
país. Depois, traçou um paralelo, sem disfarçar a tristeza, entre aqueles
tempos e os atuais, que levaram ao exílio de Jean Wyllys.
Sua condição de homossexual ativista, o primeiro no Congresso Nacional, foi enfatizada. Há quem lembre o ex-deputado Clodovil, mas não há como lembrar uma só vez em que o falecido costureiro levantou a bandeira de defesa dos direitos LGBTI+. Desta vez, é Amelinha Teles que exclama:
Sua condição de homossexual ativista, o primeiro no Congresso Nacional, foi enfatizada. Há quem lembre o ex-deputado Clodovil, mas não há como lembrar uma só vez em que o falecido costureiro levantou a bandeira de defesa dos direitos LGBTI+. Desta vez, é Amelinha Teles que exclama:
Guilherme Boulos concordou com Haddad quando disse acreditar que, ao tomar a sua decisão, Jean Wyllys estaria "fazendo um chamamento”. Para o socialista, a atitude de Jean é um grito de basta que precisa ser transformado em movimentação.
Já o deputado estadual por São Paulo Carlos Giannazi (PSOL) lembrou em seu discurso que Marielle Franco, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Jean Wyllys sofreram e sofrem fortes ameaças durante seus mandatos, e que são todos políticos psolistas do Rio de Janeiro, cidade das grandes milícias e da família Bolsonaro. “Quem está no poder é da escória dos porões da Ditadura, mas, ao contrário dos militares, não tem projetos para o país”, ressaltou. O filósofo Vladimir Safatle reforçou a ideia, dizendo que a família Bolsonaro tem relações diretas com as milícias do país.
Fernando Haddad ainda chegou a insinuar que o relatório do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre as operações que envolvem o senador eleito, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e suas supostas ligações com os assassinos de Marielle, já eram conhecidas há tempo.
O nome da vereadora executada - Marielle Franco - foi relembrada a todo instante pelo público, que gritava: "A nossa luta é todo dia, pelo Jean e pela democracia".
Também comentando a saída de Jean Wyllys, a
deputada estadual por São Paulo, Érica Malunguinho - primeira transexual a ocupar a Alesp - revelou estar aliviada porque acredita que permanecer vivo é uma
forma de resistência. Após citar vários casos recentes de discriminação
sofridos pela população LGBTI+, ela defendeu que o episódio de exílio é a ponta
do iceberg da “naturalização da violência contra determinados corpos”.
Apesar de acreditar que há situações a
serem comemoradas, exemplificando os 45 milhões de votos em Haddad no 2º turno,
a deputada criou um mal-estar no local (uma universidade pública e gratuita frequentada por alunos em sua maioria da classe média alta
e branca), ao criticar a persistência do genocídio do povo negro no país, mesmo
após treze anos de governos progressistas. Ao lembrar que a última terça (29/01), fora o dia da Visibilidade Trans, Érica ainda questionou o número de transexuais presentes no evento. Um silêncio se fez. Provavelmente, o mesmo
silêncio teria ecoado se a pergunta tivesse sido quantos negros estavam ali.
Ivan Valente, deputado federal por São Paulo (PSOL), também causou um silêncio desconfortável do público, ao caracterizar Jean Wyllys como negro. Entretanto, foi aclamado ao gritar algumas vezes “Fora Bolsonaro” e pedir a prisão de Flávio, o número 01. Disse, ainda, que “a mão que matou Marielle é a mesma que ameaçou Jean.”
Alguém duvida?
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https://www.cartacapital.com.br/politica/reunida-em-apoio-a-jean-wyllys-a-esquerda-esquece-suas-divergencias/30.01.2019
Crédito das imagens:
1 - Imagem de abertura da postagem: Manuela D'Ávila (Pcdb) Guilherme Boulos (Psol) e Fernando Haddad (PT) posam selfie junto a Juliano Medeiros, Presidente do Psol. - Wanezza Soares.
2 - Outras imagens da reportagem / Carta Capital: Wanezza Soares.
3 - Imagens acrescentadas, por ordem de apresentação:
Criolo - Midiamax
Amelinha Telles - Revista Forum
Eduardo Suplicy - Jefferson Rudy - Agência Senado
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Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores.
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