O reconhecido escritor e teólogo Leonardo Boff nos oferece - com a argúcia e a profundidade da sua sabedoria - uma leitura possível para esses tempos obscuros, carregados de de interrogações e indignação.
Ele mesmo deve ter percebido quanto era importante essa leitura, para os que o seguem em seu blog, e nos presenteia com a tradução do seu artigo em espanhol e italiano.
Assim, o Espaço Poese também oferecerá as traduções, após a presente postagem. Boa leitura!
No Brasil abriram-se janelas do inferno
Por: Leonardo
Boff
Há uma
constatação inegável no Brasil: em muitos setores se nota a irrupção do ódio,
da ofensa, dos palavrões de todo tipo, da distorção, do preconceito e de
milhares e milhares de fake news que,
em grande parte, deram a vitória ao atual presidente. Há ainda youtubers que falseiam a realidade,
misturando palavrões com zombarias e reles moralismo, sujeitos a um processo
judicial.

Enfim,
respiramos ares tóxicos. Muitos mostram completa falta de educação e degradação
das mentes. Na campanha eleitoral essa raiva enrustida saiu do armário. Foi reforçada
a violência preexistente, dando legitimação a uma verdadeira cultura da
violência contra indígenas, quilombolas, negros e negras, especialmente os
LGBTI e os opositores.


Sabemos que
do coração emerge tanto o amor quanto o ódio. A tradição psicanalítica nos
confirma que aí impera o reino dos sentimentos. Estimo que definiríamos melhor
o caráter do brasileiro se sustentássemos que o seu design básico não é a razão,
mas o sentimento. Este é contraditório: pode se expressar como amor e também
como ódio virulento.
Pois esse
lado dual da “cordialidade”, melhor dito, do “sentimento” ambíguo do brasileiro, ganhou hoje asas e ocupa mentes e corações. Domina a “falta de boas maneiras e de civilidade”. Basta abrir os sites, os twitters, facebooks e youtubes para
constatar que janelas do inferno se abriram de par em par. Daí saíram demônios,
separando pessoas, ofendendo figuras tão beneméritas como Dráuzio Varela e como a mundialmente apreciada de Paulo Freire. A palavra de um
incivilizado ocupa o mesmo espaço como aquela do Papa Francisco ou do Dalai
Lama.
Mas esse é
apenas o lado de sombra do sentimento brasileiro. Há o lado de luz, enfatizado
acima por Sérgio Buarque de Holanda e também por Cassiano
Ricardo. Temos que resgatá-lo, para que não tenhamos que viver numa
sociedade de bárbaros na qual ninguém mais consegue conviver humana e
civilizadamente.

--------------------------------
Fonte do artigo:
*Leonardo
Boff escreveu: “Reflexões de um velho
teólogo e pensador” - Vozes 2019.
---------------------------------
Crédito das imagens:
1. Imagem de abertura: homem-e-mar-ow4aaolum.jpg, reproduzida do site de Leonardo Boff, neste seu artigo.
2. Mulheres na seca - particular de escultura de Abelardo da Hora.
3. Capa do livro: Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda em: www.estante.virtual.com.br
4. Capa do livro: Retratos do Brasil : ensaio sobre a tristeza brasileira de Paulo Prado, disponível na Livraria Saraiva.
5. Águia e sua presa - Youtube.com
6. Retrato do angolano Agostinho Neto em:
http://www.jornalcultura.sapo.ao/eco-de-angola/o-discurso-ecletico-de-agostinho-neto/fotos.
Nota: as imagens pertencem aos seus devidos autores. Se algum deles desejar que sejam retiradas deste espaço, por favor entre em comunicação por meio de um comentário.
Nenhum comentário :
Deixe seu comentário: