Cidade de Aparecida (Brasil) – A CNBB lançou Nota Oficial sobre o momento atual, na tarde da quinta-feira, 0405/2017, por ocasião do encerramento de sua 55ª Assembleia Geral, do qual participaram cerca de 370 bispos do país. A Assembleia se realizou em Aparecida-SP, de 26 de abril a 5 de maio. (*)
O GRAVE MOMENTO NACIONAL
“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33)


O Estado democrático de direito, reconquistado com intensa participação popular após o regime de exceção, corre riscos na medida em que crescem o descrédito e o desencanto com a política e com os Poderes da República cuja prática tem demonstrado enorme distanciamento das aspirações de grande parte da população. É preciso construir uma democracia verdadeiramente participativa. Dessa forma se poderá superar o fisiologismo político que leva a barganhas sem escrúpulos, com graves consequências para o bem do povo brasileiro.
É sempre mais necessária uma profunda reforma do sistema político brasileiro. Com o exercício desfigurado e desacreditado da política, vem a tentação de ignorar os políticos e os governantes, permitindo-lhes decidir os destinos do Brasil a seu bel prazer. Desconsiderar os partidos e desinteressar-se da política favorece a ascensão de “salvadores da pátria” e o surgimento de regimes autocráticos. Aos políticos não é lícito exercer a política de outra forma que não seja para a construção do bem comum. Daí, a necessidade de se abandonar a velha prática do “toma lá, dá cá” como moeda de troca para atender a interesses privados em prejuízo dos interesses públicos.
Intimamente unida à política, a economia globalizada tem sido um verdadeiro suplício para a maioria da população brasileira, uma vez que dá primazia ao mercado, em detrimento da pessoa humana e ao capital em detrimento do trabalho, quando deveria ser o contrário. Essa economia mata e revela que a raiz da crise é antropológica, por negar a primazia do ser humano sobre o capital (cf. Evangelii Gaudium, 53-57). Em nome da retomada do desenvolvimento, não é justo submeter o Estado ao mercado. Quando é o mercado que governa, o Estado torna-se fraco e acaba submetido a uma perversa lógica financista. Recorde-se, com o Papa Francisco, que “o dinheiro é para servir e não para governar” (Evangelii Gaudium 58).
O desenvolvimento social, critério de legitimação de políticas econômicas, requer políticas públicas que atendam à população, especialmente a que se encontra em situação vulnerável. A insuficiência dessas políticas está entre as causas da exclusão e da violência, que atingem milhões de brasileiros. São catalisadores de violência: a impunidade; os crescentes conflitos na cidade e no campo; o desemprego; a desigualdade social; a desconstrução dos direitos de comunidades tradicionais; a falta de reconhecimento e demarcação dos territórios indígenas e quilombolas; a degradação ambiental; a criminalização de movimentos sociais e populares; a situação deplorável do sistema carcerário. É preocupante, também, a falta de perspectivas de futuro para os jovens. Igualmente desafiador é o crime organizado, presente em diversos âmbitos da sociedade.


Não há futuro para uma sociedade na qual se dissolve a verdadeira fraternidade. Por isso, urge a construção de um projeto viável de nação justa, solidária e fraterna. “É necessário procurar uma saída para a sufocante disputa entre a tese neoliberal e a neoestatista (...). A mera atualização de velhas categorias de pensamentos, ou o recurso a sofisticadas técnicas de decisões coletivas, não é suficiente. É necessário buscar caminhos novos inspirados na mensagem de Cristo” (Papa Francisco – Sessão Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais – 24 de abril de 2017).
O povo brasileiro tem coragem, fé e esperança. Está em suas mãos defender a dignidade e a liberdade, promover uma cultura de paz para todos, lutar pela justiça e pela causa dos oprimidos e fazer do Brasil uma nação respeitada.
A CNBB está sempre à disposição para colaborar na busca de soluções para o grave momento que vivemos e conclama os católicos e as pessoas de boa vontade a participarem, consciente e ativamente, na construção do Brasil que queremos.
No Ano Nacional Mariano, confiamos o povo brasileiro, com suas angústias, anseios e esperanças, ao coração de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Deus nos abençoe!
Aparecida - SP, 3 de maio de 2017.
*Assinam o documento: Dom Sergio da Rocha - Arcebispo de Brasília - Presidente da CNBB; Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ - Arcebispo de São Salvador - BA, Vice-Presidente; Dom Leonardo Ulrich Steiner - Bispo Auxiliar de Brasília - Secretário-Geral da CNBB.
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Credito Imagens:
1. Foto Reuters - trabalhadores protestam contra a lei da previdência.
2. Leiaute de divulgação da Assembleia
3. Imagem da greve geral na cidade do Recife-PE
4.Dom Sebastião Lima Duarte - bispo de Viana, município onde ocorreu o ataque de fazendeiros a jagunços locais. - divulgação na página da Rádio do Vaticano.
5. Imagem da Assembleia da CNBB - 3/05/2017 - Divulgação na página da Rádio do Vaticano.
2. Leiaute de divulgação da Assembleia
3. Imagem da greve geral na cidade do Recife-PE
4.Dom Sebastião Lima Duarte - bispo de Viana, município onde ocorreu o ataque de fazendeiros a jagunços locais. - divulgação na página da Rádio do Vaticano.
5. Imagem da Assembleia da CNBB - 3/05/2017 - Divulgação na página da Rádio do Vaticano.
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