Neste domingo de Páscoa chegamos ao capítulo final do texto de Leonardo Boff sobre o cuidado de si e do outro, as relações humanas, a Amizade e o Amor.
Continuamos a sugerir que os leitores deste blog deixem os seus comentários, mesmo se anônimos, de modo que possamos entender sobre os temas de seu interesse.

Por: Leonardo Boff
O cuidado como precaução especial, também, nas nossas relações. Essas devem estar sempre abertas a serem construtoras de pontes.
CUIDAR DAS NOSSAS RELAÇÕES
A AMIZADE E O AMOR

Por: Leonardo Boff
O cuidado como precaução especial, também, nas nossas relações. Essas devem estar sempre abertas a serem construtoras de pontes.
Tal propósito implica superar as
estranhezas e os preconceitos. Aqui importa sermos vigilantes e travarmos uma
luta forte contra nós mesmos e os hábitos culturas estabelecidos. Albert
Einstein, sabedor das dificuldades inerentes a este esforço, ponderou, não sem
razão, que “é mais fácil desintegrar um átomo, que remover um preconceito da
cabeça de uma pessoa”.
Cada vez que encontramos alguém,
estamos diante de uma emergência nova,
oferecida pelo universo ou por Deus,
uma mensagem que somente esta pessoa pode pronunciar, e que pode significar uma
luz em nosso caminho.
Nós passamos uma única vez por este
planeta. Se eu puder fazer algum bem ao outro, não devo postergá-lo ou
negligenciá-lo. Dificilmente o irei encontrar outra vez sobre o mesmo caminho.
Isso vale como disposição de fundo de nosso projeto de vida.
Importante é preocupar-nos com a nossa
linguagem.
Somos os únicos seres de fala. Pela
fala, como nos ensinaram Maturana e Wigenstein, organizamos as nossas
experiências, colocamos ordem nas coisas e criamos a arquitetônica dos saberes.
Bem cantam os membros das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil: ”Palavra
não foi feita para dividir ninguém/Palavra é a ponte onde o amor vai e vem”.
Pela palavra construímos ou
destruímos, consolamos ou amarguramos, criamos sentidos de vida ou de morte. As palavras, antes
de definirem um objeto ou dirigirem-se a alguém, nos definem a nós mesmos.
Falam sobre quem somos e revelam em que mundo habitamos.
Há um cuidado especial que devemos
cultivar sobre duas realidades fundamentais em nossa vida: a amizade e o amor. Muito se tem escrito sobre elas. Aqui, nos restringimos ao mínimo.
A amizade é aquela relação que nasce de uma ignota afinidade, de uma simpatia de todo inexplicável, de uma proximidade afetuosa para com a outra pessoa. Entre os amigos e amigas cria-se como que uma comunidade de destino. A amizade vive do desinteresse, da confiança e da lealdade. A amizade possui raízes tão profundas que, mesmo passados muitos anos, ao reencontrarem-se, os amigos ou amigas, os tempos se anulam e se reatam os laços e até a recordação da última conversa.
A amizade é aquela relação que nasce de uma ignota afinidade, de uma simpatia de todo inexplicável, de uma proximidade afetuosa para com a outra pessoa. Entre os amigos e amigas cria-se como que uma comunidade de destino. A amizade vive do desinteresse, da confiança e da lealdade. A amizade possui raízes tão profundas que, mesmo passados muitos anos, ao reencontrarem-se, os amigos ou amigas, os tempos se anulam e se reatam os laços e até a recordação da última conversa.
É oferecer-lhe um ombro, quando a vulnerabilidade o visita, e o desconsolo lhe
rouba as estrelas-guias. É no sofrimento e no fracasso existencial, profissional ou amoroso que se comprovam os verdadeiros amigos ou amigas. Eles são como uma torre fortíssima que defende o castelo de nossas vidas peregrinas.
Relação mais profunda e a que mais
realizações de felicidade traz ou de mais dolorosas frustrações é a experiência do amor. Nada é mais precioso e apreciável do que o amor.
Ele vive do encontro entre duas pessoas que se trocaram olhares, e sentiram uma
misteriosa atração mútua que moveram os seus
corações. Resolveram fundir as vidas, unir os destinos, compartir as
fragilidades e as benquerenças da vida.
Estes valores, por serem os mais
preciosos, são os mais frágeis, porque são os mais expostos às contradições da
humana existência.
Cada qual é portador de luz e de
sombras, de histórias familiares e pessoais, cujas raízes alcançam arquétipos
ancestrais, marcados, também, pelas experiências felizes ou dramáticas que
deixaram marcas na memória genética de cada um.
O amor é uma arte combinatória de
todos estes fatores, feita com sutileza que demanda capacidade de compreensão,
de renúncia, de paciência e de perdão e, ao mesmo tempo, de desfrute comum do
encontro amoroso, da intimidade sexual, da entrega confiante de um ao outro, experiência que serve de base para entendermos a
natureza de Deus, pois Ele é amor incondicional e essencial.
Quanto mais alguém é capaz de uma
entrega total, maior e mais forte é o amor. Tal entrega supõe extrema coragem,
uma experiência de morte, pois não se retém nada e se mergulha totalmente no
outro.
O homem possui especial dificuldade
para este gesto extremo, talvez pela
herança de machismo, patriarcalismo e racionalismo de séculos que carrega
dentro de si e que limitam, em si, a capacidade desta confiança extrema.
A mulher é mais radical: vai até o extremo
da entrega no amor, sem resto e sem retenção. Por isso seu amor é mais pleno e
realizador e, quando é frustrado, a vida revela contornos de tragédia e de um
vazio abissal.

Tais “banalidades” têm um peso maior do
que a mais preciosa joia. Assim como uma estrela não brilha sem uma aura ao seu
redor, da mesma forma, o amor não vive nem
sobrevive sem uma atmosfera de afeto, de enternecimento e cuidado.

Isso se alcança reservando-se, às
vezes, momentos de reflexão sobre si mesmo, fazendo silêncio ao seu redor,
concentrando-se nalguma leitura que alimente o espírito e, não em último lugar,
entregando-se à meditação e à abertura Àquele maior que detém o sentido de nossas
vidas e conhece todos os nossos segredos.
Conclusão: o cuidado é tudo
O cuidado é tudo. Sem ele, ninguém de nós existiria. Quem cuida
ama, quem ama cuida. Cuidemo-nos uns aos outros, particularmente
nestes momentos dramáticos de nossas vidas, pois elas correm perigo e podem
afetar o futuro da vida e da humanidade sobre esse pequeno planeta, que é a única
Casa Comum que temos.
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Leonardo Boff escreveu Saber cuidar: ética do
humano-compaixão pela Terra, Vozes muitas edições 2018 e A força da
ternura, Mar de Ideias, Rio 2016.
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Fonte do texto:
https://leonardoboff.wordpress.com/2020/04/06/como-cuidar-de-si-e-dos-outros-em-tempos-de-coronavirus/?unapproved=84696&moderation-hash=aae8ec7633ff8b6fca6462b5cf7c741c#comment-84696
Créditos das imagens
1. Imagem de: www.canstockphoto.com.br
2. Leonardo Boff - reprodução.
Imagens 3,4,5,6 e 7 - www.canstockphoto.com.br
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