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EDUCAÇÃO - PAULO FREIRE E ANÍSIO TEIXEIRA

19 maio, 2020

O Governo da Bahia continua a celebração do emérito educador, escritor e jurista baiano, Anísio Teixeira que seguirá até julho próximo, celebrando o "Ano Anísio Teixeira". Para rememorar  a sua contribuição à Educação no Brasil, nada melhor do que um artigo do jornalista Paulo Cannabrava Filho, editor de "Diálogos do Sul", que, em dezembro passado escreveu um registro histórico sobre as contribuições de três grandes figuras pilares da Educação no Brasil: Paulo Freire, Aloísio Teixeira e Darcy Ribeiro.  

Pecado de Paulo Freire
foi sonhar com a utopia de um país
educado e com liberdade

Educador já se eternizou, e aqueles que com ele aprenderam a grandeza do que significa ser livre continuam sua missão de educar

Diálogos do Sul
Por: Paulo Cannabrava Filho


"Eu não concebo a existência fora do sonho e da utopia". Frase lapidar do educador que encarava o ato de educar e ser educado como um processo de libertação individual necessária, ou seja, sem a qual não se tem uma nação livre e soberana.
Educar e ser educado pressupõe uma troca. Todos somos sábios e todos temos o que ensinar e o que aprender. Essa simbiose está na essência do processo cultural e leva a preservar o conhecimento ancestral, que compõe a raiz da cultura nacional.
Augusto Salazar Bondi, um sábio peruano que, como Paulo Freire, se dedicava à missão educadora, reclamava o quanto é duro convencer uma pessoa que se deixou escravizar intelectualmente a ser livre.
Paulo Freire queria precisamente isso, libertar as mentes porque somente uma mente liberta e possibilita a realização do ser humano em toda sua plenitude. Ele aprendeu isso no convívio com camponeses analfabetos na zona da mata pernambucana, quando integrante do Movimento de Educação de Base. Viu e aprendeu da sabedoria do camponês nordestino, em que o ato de sobreviver já era uma prova de extrema sabedoria. 
Criticada pelo governo, metodologia Paulo Freire revolucionou povoado no sertão
Darcy Ribeiro, outro sábio, foi convertido a educador por Anísio Teixeira. Ambos pretenderam realizar uma verdadeira revolução cultural no país, sonhando e praticando o não ter nenhuma criança fora da
escola. Com uma escola pública de qualidade e de tempo integral, oficializaram a prática de Paulo Freire, tornando-a política de Estado.
Nenhum desses três personagens, próceres da revolução cultural necessária, eram comunistas. Paulo Freire era um católico fervoroso. Anísio Teixeira foi formado nos Estados Unidos e lá percebeu que educação é sinônimo de desenvolvimento. Darcy Ribeiro, antropólogo de formação, foi um livre-pensador que conquistou na Europa o título de pai da antropologia moderna. Eles trabalhavam para a libertação do Brasil pela educação.
Anísio não sobreviveu para ver o colapso do projeto. Paulo e Darcy conseguiram escapar da morte certa recorrendo ao exílio, ou melhor, refugiando-se onde havia espaço para continuarem sua missão educadora. Escaparam da sanha assassina daqueles que tomaram o poder em 1º de abril de 1964 e impuseram à nação 21 anos de obscurantismo.
Paulo Freire queria libertar as mentes porque somente uma mente liberta possibilidades do ser humano em toda sua plenitude - Acervo Instituto Paulo Freire

Veja que o governo de João Goulart, um latifundiário que nada tinha de comunista, foi derrubado por decisão do governo dos Estados Unidos, precisamente porque admitia o processo libertador levado a cabo através da educação. O filme “O dia que durou 21 anos”, de Camilo Tavares, contém cenas gravadas na Casa Branca em que o ex-presidentes John F. Kennedy, Lyndon B. Johnson e o ex-conselheiro nacional de segurança Henry Kissinger, dão ordens para que seja derrubado o governo brasileiro.
Com a Lei de Anistia (anistia a médias) de 1979, conquistada a duras penas pelos movimentos populares, esses dois educadores puderam voltar ao país e continuar, cada um no seu espaço possível, a obra revolucionária de oferecer educação de qualidade aos nossos jovens, a maior riqueza de qualquer nação.
Darcy Ribeiro morreu em 1997. Dizia que foi perseguido pelas coisas boas que fez, que jamais se arrependeria de seus feitos e não gostaria de estar no lugar daqueles que o condenaram. 
Darcy e Anísio criaram o conceito de "Universidade Necessária", a universidade colocada para pensar o país. Expulso de sua terra, Darcy reformou as universidades de Montevidéu e de Caracas, serviu como assessor ao governo de Salvador Allende, no Chile, e, a serviço da Organização Internacional do Trabalho (OIT) participou do processo revolucionário de Velasco Alvarado no Peru.
De regresso ao país, após anistia em 1983, Darcy foi eleito vice-governador do Rio de Janeiro, onde implantou o projeto de escola de tempo integral para todos, os Cieps, e chamou seu amigo Paulo Freire para ajudá-lo na concretização de mais esse desafio. Nos moldes da Universidade de Brasília (UnB), criou a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Suas obras basilares, entre tantas, o Processo Civilizatório (1968) e Os Brasileiros - teoria do Brasil, de 1972, o coloca como um dos principais pensadores brasileiros, por possuir identitário e libertador.
Paulo Freire participou do governo de Salvador Allende, lecionou em Harvard, nos Estados Unidos, esteve a serviço do Conselho Municipal da Igrejas, em países da África, assessorando governos e a serviço da Unesco. Produziu intensa obra didática pedagógica, conhecida como a Pedagogia do Oprimido, na realidade, uma pedagogia de libertação, pois esse é o sentido de sua obra.
Seu livro "Educação como Prática de Liberdade", de 1969, é, digamos, a matriz de toda sua obra e de toda sua existência. Regressou ao Brasil em 1980, foi recebido como professor na Unicamp e na Universidade Católica de São Paulo (PUC). Em 1988, com a eleição de Luiza Erundina à Prefeitura da cidade de São Paulo, Paulo Freire aceitou o desafio de assumir a Secretaria Municipal de Educação. Desafio mesmo. Seu sonho de colocar todas as crianças na escola esbarrou com a falta de infraestrutura (60% das escolas sem condições de serem usadas). Fez o que pôde e criou o Mova - Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos.
Paulo morreu do coração em maio de 1997. Formou mais de uma geração de educadores que continuam a prática de uma educação libertária. Sua obra é traduzida em mais de 40 idiomas e o Congresso Nacional proclamou Paulo Freire patrono da educação brasileira.
Só se apequenam e se desmerecem os que pretendem borrar a imagem de Paulo Freire como Patrono da Educação. Paulo já se eternizou e aqueles que com ele aprenderam a grandeza do que significa ser livre continuam sua missão de educar aprendendo e fazendo que a escola, em todos os níveis, seja o espaço onde se aprende a pensar e a olhar crítica e criativamente a realidade.
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*Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor de Diálogos do Sul
Veja o vídeo integrado ao texto original sobre Paulo Freire:

Fonte do texto:

Publicado em: 17 de dez de 2019


Textos complementares de: pt.wikippedia.org

Anísio Spínola Teixeira foi um jurista, educador e escritor brasileiro.  Personagem central na história da educação no Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, difundiu os pressupostos do movimento da Escola Nova, que tinha como princípio a ênfase no desenvolvimento do intelecto e na capacidade de julgamento, em preferência à memorização. Reformou o sistema educacional da Bahia e do Rio de Janeiro, exercendo vários cargos executivos. Foi um dos mais destacados signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,[2] em defesa do ensino público, gratuito, laico e obrigatório, divulgado em 1932. Fundou a Universidade do Distrito Federal, em 1935, depois transformada em  Faculdade Nacional de Filosofia da  Universidade do Brasil.

Como parte das comemorações dos 120 anos de nascimento de um dos mais renomados educadores baianos, Anísio Teixeira, a Secretaria da Educação do Estado (SEC) realizou, em novembro passado, a primeira etapa da Caravana Anísio Teixeira. A caravana integra a ampla programação desenvolvida de julho/2019 e seguirá até julho de 2020, pelo projeto “2020: Ano Anísio Teixeira”, que visa resgatar a memória e obra histórica, filosófica, pedagógica e política do educador.


  Vídeo sobre a obra de Anísio Teixeira - https://youtu.be/ls-FoXhfM_Y?t=5

Darcy Ribeiro nasceu em Montes ClarosMinas Gerais, em 26 de outubro de 1922. Filho de Reginaldo Ribeiro dos Santos e de Josefina Augusta da Silveira. Em Montes Claros fez os estudos fundamentais e secundário, no Grupo Escolar Gonçalves Chaves e no Ginásio Episcopal de Montes Claros. Notabilizou-se fundamentalmente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educaçãosociologia e antropologia tendo sido, ao lado do amigo a quem admirava Anísio Teixeira, um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília, elaborada no início da década de 1960, ficando também na história desta instituição por ter sido seu primeiro reitor. Redigiu o projeto, como funcionário do Serviço de Proteção ao Índio, do Parque Indígena do Xingu, criado em 1961. Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Publicou vários livros, vários deles sobre os povos indígenas.[2]
Darcy Ribeiro foi ministro da Educação durante Regime Parlamentarista do Governo do presidente João Goulart (18 de setembro de 1962 a 24 de janeiro de 1963) e chefe da Casa Civil entre 18 de junho de 1963 e 31 de março de 1964. Durante a ditadura militar brasileira, como muitos outros intelectuais brasileiros, teve seus direitos políticos cassados e foi obrigado a se exilar, vivendo durante alguns anos no Uruguai.[2]
Durante o primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), Darcy Ribeiro, como vice-governador, criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal - dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio.[2]
  
Trecho do discurso de Darcy Ribeiro ao assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras:

“Confesso que me dá certo tremor d'alma o pensamento inevitável de que, com uns meses, uns anos mais, algum sucessor meu, também vergando nossa veste talar, aqui estará, hirto, no cumprimento do mesmo rito para me recordar. Vendo projetivamente a fila infindável deles, que se sucederão, me louvando, até o fim do mundo, antecipo aqui meu agradecimento a todos. Muito obrigado. Estou certo de que alguém, neste resto de século, falará de mim, lendo uma página, página e meia. Os seguintes menos e menos. Só espero que nenhum falte ao sacro dever de enunciar meu nome. Nisto consistirá minha imortalidade". 

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Créditos das Imagens

1. Anísio Teixeira - www.ebc.com.br.jpg
2. Augusto Salazar Bondi - www.ec.acipprensa.com.jpg
3. Anísio Teixeira - www.institucionaleducação.ba.gov.br.jpg
4. Paulo Freire - acervo instituto Paulo Freire
5. Darcy Ribeiro - www2.camara.leg.br.jpg
6. Darcy Ribeiro - www.voarforadaasa.blogspote.com.jpg
7. Caravanas Anísio Teixeira -



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