O Governo da Bahia continua a celebração do emérito educador, escritor e jurista baiano, Anísio Teixeira que seguirá até julho próximo, celebrando o "Ano Anísio Teixeira". Para rememorar a sua contribuição à Educação no Brasil, nada melhor do que um artigo do jornalista Paulo Cannabrava Filho, editor de "Diálogos do Sul", que, em dezembro passado escreveu um registro histórico sobre as contribuições de três grandes figuras pilares da Educação no Brasil: Paulo Freire, Aloísio Teixeira e Darcy Ribeiro.
Pecado de Paulo Freire
foi sonhar com a utopia de um país
educado e com liberdade
Educador
já se eternizou, e aqueles que com ele aprenderam a grandeza do que significa
ser livre continuam sua missão de educar
Por: Paulo Cannabrava Filho
"Eu não concebo a existência
fora do sonho e da utopia". Frase lapidar do educador que encarava o
ato de educar e ser educado como um processo de libertação individual
necessária, ou seja, sem a qual não se tem uma nação livre e soberana.
Educar e ser educado pressupõe uma
troca. Todos somos sábios e todos temos o que ensinar e o que aprender. Essa
simbiose está na essência do processo cultural e leva a preservar o
conhecimento ancestral, que compõe a raiz da cultura nacional.
Augusto Salazar Bondi, um sábio peruano que, como Paulo Freire, se
dedicava à missão educadora, reclamava o quanto é duro convencer uma pessoa que
se deixou escravizar intelectualmente a ser livre.
Paulo Freire queria precisamente isso, libertar as mentes
porque somente uma mente liberta e possibilita a realização do ser humano em
toda sua plenitude. Ele aprendeu isso no convívio com camponeses analfabetos na
zona da mata pernambucana, quando integrante do Movimento de Educação de
Base. Viu e aprendeu da sabedoria do camponês nordestino, em que o ato de
sobreviver já era uma prova de extrema sabedoria.
Criticada pelo
governo, metodologia Paulo Freire revolucionou povoado no sertão
Darcy Ribeiro,
outro sábio, foi convertido a educador por Anísio Teixeira. Ambos
pretenderam realizar uma verdadeira revolução cultural no país, sonhando e
praticando o não ter nenhuma criança fora da
escola. Com uma escola pública de qualidade e de tempo integral, oficializaram a prática de Paulo Freire, tornando-a política de Estado.
escola. Com uma escola pública de qualidade e de tempo integral, oficializaram a prática de Paulo Freire, tornando-a política de Estado.
Nenhum desses três personagens,
próceres da revolução cultural necessária, eram comunistas. Paulo Freire era um
católico fervoroso. Anísio Teixeira foi formado nos Estados Unidos e lá percebeu que
educação é sinônimo de desenvolvimento. Darcy Ribeiro, antropólogo de formação, foi um
livre-pensador que conquistou na Europa o título de pai da antropologia
moderna. Eles trabalhavam para a libertação do Brasil pela educação.
Anísio não sobreviveu para ver o
colapso do projeto. Paulo e Darcy conseguiram escapar da morte certa recorrendo
ao exílio, ou melhor, refugiando-se onde havia espaço para continuarem sua
missão educadora. Escaparam da sanha assassina daqueles que tomaram o poder em
1º de abril de 1964 e impuseram à nação 21 anos de obscurantismo.
Paulo Freire queria libertar as
mentes porque somente uma mente liberta possibilidades do ser humano
em toda sua plenitude - Acervo Instituto Paulo Freire
Veja que o governo de João Goulart,
um latifundiário que nada tinha de comunista, foi derrubado por decisão do
governo dos Estados Unidos, precisamente porque admitia o processo libertador
levado a cabo através da educação. O filme “O dia que durou 21 anos”, de
Camilo Tavares, contém cenas gravadas na Casa Branca em que o
ex-presidentes John F. Kennedy, Lyndon B. Johnson e o ex-conselheiro nacional
de segurança Henry Kissinger, dão ordens para que seja derrubado o governo
brasileiro.
Com a Lei de Anistia (anistia a
médias) de 1979, conquistada a duras penas pelos movimentos populares, esses
dois educadores puderam voltar ao país e continuar, cada um no seu espaço
possível, a obra revolucionária de oferecer educação de qualidade aos nossos
jovens, a maior riqueza de qualquer nação.
Darcy Ribeiro morreu em 1997. Dizia que foi
perseguido pelas coisas boas que fez, que jamais se arrependeria de seus feitos
e não gostaria de estar no lugar daqueles que o condenaram.
Darcy e Anísio criaram o conceito de "Universidade Necessária", a
universidade colocada para pensar o país. Expulso de sua terra, Darcy reformou as universidades de Montevidéu e de Caracas, serviu como assessor ao
governo de Salvador Allende, no Chile, e, a serviço da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) participou do processo revolucionário de Velasco
Alvarado no Peru.
De regresso ao país, após anistia em
1983, Darcy foi eleito vice-governador do Rio de Janeiro, onde implantou o
projeto de escola de tempo integral para todos, os Cieps, e chamou seu amigo
Paulo Freire para ajudá-lo na concretização de mais esse desafio. Nos moldes da
Universidade de Brasília (UnB), criou a Universidade Estadual do Norte
Fluminense (UENF). Suas obras basilares, entre tantas, o Processo Civilizatório
(1968) e Os Brasileiros - teoria do Brasil, de 1972, o coloca como um dos
principais pensadores brasileiros, por possuir identitário e libertador.
Paulo Freire participou do governo de Salvador
Allende, lecionou em Harvard, nos Estados Unidos, esteve a serviço do Conselho
Municipal da Igrejas, em países da África, assessorando governos e a serviço da
Unesco. Produziu intensa obra didática pedagógica, conhecida como a Pedagogia
do Oprimido, na realidade, uma pedagogia de libertação,
pois esse é o sentido de sua obra.
Seu livro "Educação como
Prática de Liberdade", de 1969, é, digamos, a matriz de toda sua
obra e de toda sua existência. Regressou ao Brasil em 1980, foi recebido como
professor na Unicamp e na Universidade Católica de São Paulo (PUC). Em 1988,
com a eleição de Luiza Erundina à Prefeitura da cidade de São
Paulo, Paulo Freire aceitou o desafio de assumir a Secretaria Municipal de
Educação. Desafio mesmo. Seu sonho de colocar todas as crianças na escola
esbarrou com a falta de infraestrutura (60% das escolas sem condições de serem
usadas). Fez o que pôde e criou o Mova - Movimento de Alfabetização de Jovens e
Adultos.
Paulo
morreu do coração em maio de 1997. Formou mais de uma geração de educadores que
continuam a prática de uma educação libertária. Sua obra é traduzida em mais
de 40 idiomas e o Congresso Nacional proclamou Paulo Freire patrono da educação
brasileira.
Só se
apequenam e se desmerecem os que pretendem borrar a imagem de Paulo Freire como
Patrono da Educação. Paulo já se eternizou e aqueles que com ele aprenderam a
grandeza do que significa ser livre continuam sua missão de educar aprendendo e
fazendo que a escola, em todos os níveis, seja o espaço onde se aprende a
pensar e a olhar crítica e criativamente a realidade.
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*Paulo Cannabrava Filho é
jornalista e editor de Diálogos do Sul
Veja o vídeo integrado ao texto original sobre Paulo Freire:
Fonte do texto:
Publicado em: 17 de dez de 2019
Textos complementares de: pt.wikippedia.org
Anísio Spínola Teixeira foi um jurista, educador e escritor brasileiro. Personagem central na história da educação no Brasil,
nas décadas de 1920 e 1930, difundiu os pressupostos do movimento da Escola Nova, que tinha como princípio a ênfase no desenvolvimento do
intelecto e na capacidade de julgamento, em preferência à memorização. Reformou
o sistema educacional da Bahia e do Rio de Janeiro, exercendo vários cargos
executivos. Foi um dos mais destacados signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,[2] em defesa do ensino
público, gratuito, laico e obrigatório, divulgado em 1932. Fundou a Universidade do Distrito Federal, em 1935, depois transformada em Faculdade Nacional de Filosofia
da Universidade do Brasil.
Como parte das comemorações dos 120 anos de nascimento de um dos mais renomados educadores baianos, Anísio Teixeira, a Secretaria da Educação do Estado (SEC) realizou, em novembro passado, a primeira etapa da Caravana Anísio Teixeira. A caravana integra a ampla programação desenvolvida de julho/2019 e seguirá até julho de 2020, pelo projeto “2020: Ano Anísio Teixeira”, que visa resgatar a memória e obra histórica, filosófica, pedagógica e política do educador.
Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, em 26 de outubro de 1922. Filho de
Reginaldo Ribeiro dos Santos e de Josefina Augusta da Silveira. Em Montes
Claros fez os estudos fundamentais e secundário, no Grupo Escolar Gonçalves
Chaves e no Ginásio Episcopal de Montes Claros. Notabilizou-se fundamentalmente
por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educação, sociologia e antropologia tendo sido, ao lado do amigo a
quem admirava Anísio Teixeira, um dos
responsáveis pela criação da Universidade de Brasília,
elaborada no início da década de 1960, ficando também na história desta
instituição por ter sido seu primeiro reitor. Redigiu o projeto, como
funcionário do Serviço de Proteção ao Índio, do Parque Indígena do Xingu, criado
em 1961. Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte
Fluminense (UENF). Publicou vários livros,
vários deles sobre os povos indígenas.[2]
Darcy
Ribeiro foi ministro da Educação durante Regime Parlamentarista do
Governo do presidente João Goulart (18 de setembro de 1962 a 24 de janeiro de
1963) e chefe da Casa Civil entre 18 de junho de 1963 e 31 de março de
1964. Durante a ditadura militar brasileira, como
muitos outros intelectuais brasileiros, teve seus direitos políticos cassados e
foi obrigado a se exilar, vivendo durante alguns anos no Uruguai.[2]
Durante o
primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987),
Darcy Ribeiro, como vice-governador, criou, planejou e dirigiu a
implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto
pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo
integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do
ensino formal - dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por
Anísio.[2]
Trecho do discurso de Darcy Ribeiro ao assumir uma
cadeira na Academia Brasileira de Letras:
“Confesso que me dá certo tremor d'alma o pensamento inevitável
de que, com uns meses, uns anos mais, algum sucessor meu, também vergando nossa
veste talar, aqui estará, hirto, no cumprimento do mesmo rito para me recordar.
Vendo projetivamente a fila infindável deles, que se sucederão, me louvando,
até o fim do mundo, antecipo aqui meu agradecimento a todos. Muito obrigado. Estou certo de que alguém,
neste resto de século, falará de mim, lendo uma página, página e meia. Os
seguintes menos e menos. Só espero que nenhum falte ao sacro dever de enunciar
meu nome. Nisto consistirá minha imortalidade".
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Créditos das Imagens
1. Anísio Teixeira - www.ebc.com.br.jpg
2. Augusto Salazar Bondi - www.ec.acipprensa.com.jpg
3. Anísio Teixeira - www.institucionaleducação.ba.gov.br.jpg
4. Paulo Freire - acervo instituto Paulo Freire
5. Darcy Ribeiro - www2.camara.leg.br.jpg
6. Darcy Ribeiro - www.voarforadaasa.blogspote.com.jpg
7. Caravanas Anísio Teixeira -
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