O reconhecido sociólogo português Boaventura de Souza Santos, doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale, professor e coordenador do CES – Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e um dos mais importantes pensadores ibero-americanos, recentemente produziu um vídeo do seu isolamento, em Portugal, com uma mensagem aos seus "companheiros e companheiras", cujo teor segue registrado abaixo.
O BRASIL NÃO TEM UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA.
SÃO DOIS OS PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA DO BRASIL:
A PANDEMIA E O PRESIDENTE BOLSONARO
Por: Boaventura de Souza Santos
Companheiros e companheiras:
Falo-vos de Portugal, da minha Aldeia, do isolamento voluntário em que me encontro, para vos dar duas mensagens muito rápidas.
A primeira é que esta grande crise humanitária em que estamos a viver, está a regular duas coisas: em primeiro lugar é a total falência dos governos à direita e de extrema-direita, para salvar vidas, poupar vidas, num momento de crise tão grave – porque põem os seus interesses políticos acima dos interesses da vida. Exemplos: Inglaterra, Estados Unidos, Índia e o Brasil.
Mostra ainda duas coisas: os países menos atingidos pela lógica neoliberal de um capitalismo selvagem e bárbaro, disposto a sacrificar vidas para salvar os seus vínculos, enfrentaram melhor os problemas de crise, para salvar vidas: Cingapura, Taiwan e China.
Mas o Brasil tem um caso especial, porque o Brasil não tem um problema de saúde pública. O Brasil tem dois problemas de saúde pública: A pandemia e o presidente Jair Bolsonaro. Jair Bolsonaro é, obviamente, um homem transtornado mentalmente. Um louco que deve, obviamente, sair do poder o mais rapidamente possível.
A loucura de Jair Bolsonaro não é indiscriminada. A sua loucura se orienta para aquilo que os interesses econômicos das elites brasileiras - que o puseram no poder – querem continuar a salvar: aproveitar essa crise para destruir toda a lógica da proteção do trabalho e dos trabalhadores do Brasil. Toda a lógica social de políticas sociais, aproveitando a crise para criar um estado completamente ao serviço de um capital selvagem. É isso que estão a fazer.
Mas, há lutas importantes e lutas urgentes:
A luta importante é evitar que essa política siga adiante.
A luta urgente é impedir Bolsonaro continuar no poder.
As duas crises estão relacionadas. A pandemia é importante, obviamente, e é a mais importante de todas. Mas a mais urgente é que Bolsonaro deixe de ser presidente do Brasil.
As forças de esquerda – que têm estado perturbadoramente silenciosas neste caso, apesar dos panelaços – evidentemente devem saber que a luta depois recomeça. Uma luta muito forte, porque o próximo presidente – neste caso o Mourão – certamente vai querer continuar a seguir as políticas de proteção dos interesses econômicos da burguesia, os mesmos que puseram, em primeiro lugar, o Bolsonaro no poder.
Serão dois problemas: um problema econômico que é Paulo Guedes e um problema político que é Sérgio Moro. São as lutas que é preciso travar a seguir.
Mas a luta mais urgente, que todos os brasileiros e brasileiras realizem o quanto antes – sejam de esquerda que de direita (e o exemplo dos governadores é um bom exemplo): é tirar este homem do poder – e toda a sua família, e toda a sua corja de máfia miliciana que está à sua volta e quer destruir o Brasil.
É esta a missão, agora!
Um grande abraço daqui de Portugal!
Veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=YxUAH-WWmmk
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Em tempo: Dois integrantes dos Jornalistas Livres – Clara Domingos e Bruno Falci – recentemente entrevistaram o sociólogo Boaventura, que certamente poderá complementar a mensagem acima reproduzida.
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Crédito das imagens:
1. Boaventura de Souza Santos - www.boitempoeditorial.com.br.
2. Fotografia de imagem do vídeo mensagem do sociólogo.
3. Fotografia de imagem do vídeo da entrevistas dos Jornalistas Livres.
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas, e deseja que seja retirada desta publicação, por favor entre em contato conosco fazendo um comentário nesta postagem.
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