É tempo de celebrar iniciativas de resistência democrática e de respeito aos direitos constitucionais que regem a democracia brasileira, especialmente aqueles que têm a ver com o respeito pela liberdade, pelo direito à informação, à educação, à assistência pública à saúde, à moradia, ao trabalho, à cultura em geral, e ao direito universal de amar e de ser amado. A felicidade é um bem que não se compra, mas há diferentes meios públicos que podem e devem apoiar a sua viabilização, com vistas ao bem comum e ao direito de ser feliz. A atual iniciativa de diferentes comunidades religiosas que estão discutindo a inclusão LGBT+ é um passo significante neste sentido. Parabenizamos todas as instituições que a promoveram e apoiaram.
Segue a reprodução da reportagem da revista Carta Capital.
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Pela primeira vez, igrejas se unem para discutir inclusão LGBT+
Por: Alexandre Putti - Repórter da Carta Capital
Local:
Cidade de São Paulo
Data: 19 a 23 de junho de 2019
Local: Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade -
São Paulo
CONTATO: igrejaecomunidadelgbti
Os líderes religiosos vão contra a onda
conservadora
e defendem “Deus ao lado de
todos”
“Meninos vestem azul, meninas
vestem rosa”. Essa foi a frase dita pela pastora evangélica Damares Alves, no
dia em que assumiu o comando do ministério da Mulher, Família e Direitos
Humanos do governo Bolsonaro. O pensamento da ministra traduz a linha
conservadora que muitas igrejas e líderes religiosos seguem, inclusive na luta
contra os direitos da população LGBTI+.
Muitas Igrejas, mas nem todas. Pela primeira vez na
história do Brasil, diferentes comunidades religiosas e líderes se unem para
discutirem a inclusão da população LGBTI+, entender como podem fazer uma
política de acolhimento dentro dos templos e realizar leituras bíblicas para
desmitificar ideias conservadoras e reacionárias.
O reverendo Arthur Cavalcante, padre
da igreja Anglicana e um dos responsáveis pela organização do evento, conta que
a ideia surgiu da experiência que sua igreja passou em discutir esse tema
dentro dos espaços religiosos. “Estamos passando por um momento
reacionário, do próprio governo e na estrutura de muitas igrejas. Pensei que a
experiência da anglicana poderia servir de suporte para outras que pretendem
começar esse movimento. Trazer um pouco de luz para essa situação toda”, disse
o padre.
O encontro acontece na Paróquia
Anglicana da Santíssima Trindade, no centro de São Paulo, nos dias 19 a 23
de junho, mês que é comemorado o orgulho LGBTI+. Por todo o mundo paradas
e protestos são realizadas como forma de celebração do amor e reivindicação por
direitos. E é na cidade de São Paulo que a maior de todas acontece, em plena
avenida Paulista, no próximo domingo 23.
E é nesse momento que o encerramento
do encontro vai acontecer, com o bloco “Gente de Fé”, que serão religiosos
apoiando a causa LGBTI+. Esse ano a expectativa é que o tom da parada seja
ainda mais político, pois é a primeira que acontece pós eleição do presidente
Jair Bolsonaro, que diversas vezes já se classificou como homofóbico.
“O objetivo é além de discutir e
refletir sobre espiritualidade e diversidade, mas também estreitar laços dos
espaços religiosos para minimizar o preconceito e intolerância no contexto
desafiador do crescimento dos fundamentalismos e da fragilização de direitos de
LGBTI+”, concluiu Arthur.
unidades baseadas
na fé têm apresentado diferentes posições nas
Ora apoiando e acolhendo, ora excluindo
ou inviabilizando seus fiéis e suas lideranças, tornando, ou não, seus espaços
religiosos seguros. Os desafios do acolhimento das pessoas da comunidade LGBTI+
geram diferentes respostas nas comunidades religiosas, tais como:
a) o abandono integral de fiéis dos
espaços religiosos para minimizar conflitos com suas lideranças e/ou
irmãos da fé;
b) a busca de outros espaços, cristãos
ou não, para vivenciar/experienciar o culto, a fé e espiritualidade;
c) o surgimento de posições de
resistência nos seus espaços religiosos, visando torná-los acolhedores e
seguros.
Em contrapartida, para as Igrejas e Lideranças
Religiosas, essas diferentes respostas por parte de seus fiéis e de suas
estruturas implicam em uma série de desafios ainda pouco refletidos.
Nos últimos 50 Anos, em âmbito
internacional, sobretudo após a Revolta de Stonewall, se visibilizaram demandas
e constituíram-se respostas institucionais e jurídicas às necessidades de
LGBTI+. No Brasil, esse processo se inicia ainda nos anos 1970, mas ganha maior
fôlego a partir da redemocratização em meados da década de 80 e toma maior
intensidade nos anos 2000.
A partir de então ocorreram muitos
avanços, em especial no campo das políticas públicas, da ação do judiciário e
de associações/conselhos científicos, destacando-se, em 2004, o Programa
“Brasil Sem Homofobia” do Governo Federal e em 2008, a 1ª. Conferência Nacional
LGBT. Contudo, muitas lacunas surgiram, tais como programas
governamentais sem dotação orçamentaria ou o cancelamento de projetos como o
“Escola Sem Homofobia” - que havia sido construído com participação do
movimento social organizado, universidades e Ministério da Educação – por
pressões das alas conservadoras da sociedade.
Todo esse caminhar se fez refletir nos
diversos espaços religiosos, principalmente em espaços cristãos, gerando
reações proativas para inclusão de pessoas fiéis LGBTI+ em algumas comunidades
religiosas, com o surgimento das chamadas Igrejas Inclusivas e de movimentos
inclusivos, aprovação de leis canônicas em Igrejas Tradicionais, ordenação de
lideranças religiosas, extensão do matrimônio, e até mesmo questões envolvendo
batismo e retificação de nome para pessoas trans.
Nestas últimas décadas observamos a
pluralização da presença da fé no espaço público e político no Brasil. Esse
avanço tem trazido desafios na direção do respeito ao compromisso com o Estado
Laico. Tais desafios se intensificam a partir dos anos 2010 em âmbito
internacional, com inflexões específicas na América Latina e Caribe, com o
crescimento dos fundamentalismos e das intolerâncias, inclusive de base
religiosa, e a ascensão de governos conservadores nos costumes e ultraliberais
no âmbito da economia, aprofundando as desigualdades e vulnerabilidades.
Diante do atual quadro, se faz
necessário urgentemente:
1. uma profunda análise de conjuntura,
2. promoção de exemplos de ações inspiradoras
no campo religioso e LGBTI+,
3. fortalecimento de atores para
incidência pública na defesa dos direitos em um contexto de enfrentamentos e
busca de proteção.
Assim, optamos pela construção de um
Congresso que utiliza a experiência do ecumenismo como chave de análise e
construção de reflexões coletivas. A longa trajetória de encontros nos quais
fiéis e pessoas clérigas de diversas denominações e tradições podem sentar-se
ao redor da mesa para partilhar suas perspectivas e experiências se demonstrou
uma importante ferramenta para o avanço do debate em pautas muitas vezes
consideradas tabus no ambiente religioso. Além disso, uma perspectiva ampla de
ecumenismo nos permite estender essa mesa para todas as pessoas de boa vontade,
sejam elas de fé ou não, mas que compartilhem de um compromisso com a justiça e
a inclusão de todas as pessoas.
Objetivos
do Congresso
1. Dar visibilidade às experiências envolvendo a
promoção do acolhimento pastoral e de espaços seguros no âmbito das Comunidades
de Fé e especialmente Igrejas Cristãs;
2. Promover a partilha de leituras dos textos sagrados
e bíblicos que evidenciem a conciliação da fé e das vivências LGBTI+;
3. Oferecer espaço de reflexão e troca em relação aos
desafios para ao acolhimento de pessoas LGBTI+ e de suas famílias em contextos
religiosos;
4. Produzir um plano de ação conjunta das distintas
Comunidades de Fé e Igrejas no contexto desafiador do crescimento dos
fundamentalismos e da fragilização de direitos de LGBTI+;
5. Oferecer espaço de reflexão sobre vivência da
sexualidade e da espiritualidade;
6. Estreitar os laços dos espaços religiosos com os
movimentos sociais em questões comuns com a finalidade de cooperação, ampliando
a compreensão de suas respectivas complexidades, subjetividades
(espiritualidades) e ações na sociedade, buscando minimizar os
preconceitos/falta de entendimento, através do conhecimento mútuo das
linguagens, das ações e das formas de organização.
Público
Alvo
- Lideranças Religiosas e Leigas
- Pessoas interessadas na relação entre
espiritualidade e questões LGBTI+, independente do pertencimento a Igrejas ou
Comunidades de Fé.
- Movimentos de Direitos Humanos
- Movimentos Sociais
- Espaços de Estudos das Teologias, das Ciências da
Religião, Sociais e Humanas
Realização:
Paróquia da Santíssima Trindade - São Paulo
Koinonia Presença Ecumênica e Serviço
Apoio
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil / Junta Nacional
de Educação Teológica -
JUNET; Christian Aid Brasil; Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo;AHF Brasil
Parceiros
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC
Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo
- ICM
Rede Ecumênica da Juventude - REJU
Evangélicas Pela Igualdade de Gênero - EIG
Evangelicxs Pela Diversidade
Rede Nacional de Grupos Católicos LGBTI+
Mandrágora Netmal - Grupo de Estudo de Gênero e
Religião
Mesa Redonda Latinx - Fé, Família e Igualdade
Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas
- ABRAFH
Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação
- ALC
Rede Nacional de Religiões Afro Brasileiras e Saúde
- RENAFRO
Rainbow Sangha - Budismo LGBT+
Comunidade Cristã Nova Esperança da Vila Mariana -
CCNE DA VILA
Grupo
de Ação Pastoral da Diversidade (GAPD)
Fonte da informação:
https://igrejasecomunidade.wixsite.com/igrejaselgbti
Imagem: Reverendo Arthur Cavalcante - Foto de: Wanezza Soares
Alexandre Putti - Repórter da Revista Carta Capital
Nota: As imagens aqui postadas pertencem aos respectivos autores. Se algum deles não estiver de acordo com a sua reprodução neste espaço, por favor comunique-se conosco, fazendo um comentário nesta postagem.
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