Tenho a satisfação de oferecer a vocês um texto iluminado e muito expressivo para nós brasileiros. Trata-se de um artigo publicado recentemente pelo escritor e filósofo Leonardo Boff. E mais: para os leitores latinos, reproduzimos, abaixo, as traduções do mesmo artigo em espanhol e italiano.
Saudações a todos, na alegria da celebração dos meus do 81 anos, com o mesmo ânimo de continuar este serviço fraterno que gosto de oferecer a todos vocês. Boa leitura!
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A alma brasileira
está doente
Leonardo Boff*
Tudo que é sadio pode ficar doente. A
doença sempre remete à saúde. Esta é a referência maior e funda a dimensão
essencial da vida em sua normalidade.
As dilacerações sociais, as ondas de
ódio, ofensas, insultos, palavras de baixo calão que estão dominando nas mídias
sociais ou digitais, e mesmo nos discursos públicos, revelam que a alma
brasileira está enferma.
As mais altas instâncias de poder se
comunicam com a população usando notícias falsas (fake news), mentiras
diretas e imagens que se inscrevem no código da pornografia e da escatologia.
Esta atitude revela a falta de decência e do sentido de dignidade e
respeitabilidade, inerentes aos mais altos cargos de uma nação. No fundo, perdeu-se
um valor essencial, o respeito a si e aos outros, marca imprescindível de uma
sociedade civilizada.
A razão deste descaminho se deve ao
fato de que a dimensão do Numinoso ficou obscurecida. O
“Numinoso” (“numen” em latim é o lado sagrado das coisas) se revela através de
experiências que nos envolvem totalmente e que conferem densidade à vida mesmo
no meio dos maiores padecimentos. Ele possui um imenso poder transformador.
A experiência entre duas pessoas que
se amam e a paixão que as torna fascinantes, configuram uma experiência do
Numinoso. O encontro profundo com uma pessoa que no meio de uma grave crise
existencial nos acendeu uma luz, representa uma experiência do Numinoso. O
choque existencial face a uma pessoa, portadora de carisma, por sua palavra
convincente ou por suas ações corajosas, nos evoca a dimensão do Numinoso. A
Presença inefável que se faz sentir face à grandeur do
universo ou de uma noite estrelada, suscita em nós o Numinoso. Igualmente os
olhos brilhantes e profundos de um recém-nascido.
O Numinoso não é uma coisa, mas a
ressonância das coisas que tocam o profundo de nosso ser e que por isso se
tornam preciosas. Transformam-se em símbolos que nos remetem a Algo para além
delas mesmas. As coisas, além de serem o que são, transfiguram-se em realidades
simbólicas, repletas de significações. Por um lado, nos fascinam e atraem, e
por outro nos enchem de respeito e de veneração. Elas produzem em nós um novo
estado de consciência e humanizam nossos comportamentos.
Esse
Numinoso, na linguagem dos místicos – como do maior deles, o Mestre Eckhart ou
de Teresa d’Ávila, bem como da psicologia do profundo à la C.G. Jung – é
representado pelo Sol interior ou pelo nosso Centro irradiador. O Sol possui a
função de um arquétipo central. Como o Sol atrai à sua órbita todos os
planetas, assim o arquétipo-Sol sateliza ao seu redor as nossas
significações mais profundas. E constitui o Centro vivo e irradiante de nossa
interioridade.
O
Centro é um dado-síntese da totalidade de nossa vida que se impõe por si mesmo.
Ele fala dentro de nós, nos adverte, nos apoia e como o Grande Ancião ou a
Grande Anciã nos aconselha a seguir os caminhos mais certos. E, então, nunca
seremos defraudados.
O ser humano pode fechar-se a este Centro
ou a este Sol. Pode até negá-los, mas jamais pode aniquilá-los. Eles estão aí
como uma realidade imanente à alma. O Centro, ou o seu arquétipo, o Sol, nos
conferem equilíbrio, harmonia pessoal e social e a convivência dos contrários,
sem se exacerbarem pela intolerância e pelos comportamentos de exclusão.
Ora, foi esse Centro que se
perdeu na alma brasileira. Ofuscamos o Sol interior, apesar de ele,
continuamente, estar aí presente, como o Cristo do Corcovado. Mesmo escondido
por entre as nuvens, ele continua lá com os braços abertos. Assim o nosso Sol
interior.
Ao perder nosso Centro e ao ofuscar a
irradiação do Sol interior, perdemos o equilíbrio e a justa medida, bases de
qualquer ética, da sociedade e de toda convivência. Desequilibrados, andamos
errantes, pronunciando palavras desconectadas de toda civilidade e compostura.
Apequenamo-nos e abandonamos a lei áurea de toda ética: ”trate humanamente a todos, e a
cada um dos seres humanos”.
Neste momento, no Brasil, muitos e
muitos não tratam humanamente a seus semelhantes. De eventuais adversários no
campo das ideias e das opções políticas ou sexuais, são feitos inimigos,
aos quais cabe combater e eventualmente exterminar.
Temos, urgentemente, que curar nossa
alma ferida, resgatar nosso Centro e nosso Sol interior, mediante a
acolhida das diferenças, sem permitir que se tornem desigualdades, por meio do diálogo
aberto, da empatia face aos diferentes e, principalmente, aos que mais
sofrem.
Como dizia o perfil de uma mulher
inteligente no Twitter: ”Ao colocarmo-nos no lugar do outro, fazemos do
mundo (da sociedade) um lugar para todos”. Esta é a nossa urgência, se não quisermos
conhecer a barbárie.
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(*) Leonardo Boff é teólogo e filósofo e
escreveu: Virtudes para um outro mundo possível (3 vol), Vozes 2012.
Fonte do texto:
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El alma brasilera
está enferma
está enferma
Leonardo Boff (*)
Todo lo que
está sano puede enfermar. La enfermedad remite siempre a la salud. Esta es la
referencia principal y constituye la dimensión esencial de la vida en su
normalidad.
Los desgarros
sociales, las andanadas de odio, ofensas, insultos, palabras groseras que están
predominando en los medios sociales o digitales e incluso en los discursos
públicos, revelan que el alma brasilera está enferma.
Las más altas
instancias del poder se comunican con la población usando noticias falsas (fake
news), mentiras directas e imágenes que se inscriben en el marco de la
pornografía y de la escatología. Esta actitud revela la falta de decencia y de
sentido de la dignidad y respetabilidad, inherentes a los más altos cargos de
una nación. En el fondo se ha perdido un valor esencial, el respeto a sí mismo
y a los otros, marca imprescindible de una sociedad civilizada.
La razón de
este desvío se debe a que la dimensión de lo Numinoso ha quedado oscurecida. Lo
“Numinoso” (numen en latín es el lado sagrado de las cosas) se revela a través
de experiencias que nos envuelven totalmente y que confieren densidad a la vida
aún en medio de los mayores padecimientos. Posee un inmenso poder
transformador.
La experiencia entre dos personas que se aman y la pasión que
las vuelve fascinantes configuran una experiencia de lo Numinoso. El encuentro
profundo con una persona que en medio de una grave crisis existencial nos
encendió una luz, representa una experiencia de lo Numinoso. El choque
existencial ante una persona portadora de carisma por su palabra convincente o
por sus acciones valientes, nos evoca la dimensión de lo Numinoso. La Presencia
inefable que se deja sentir ante la grandeur del universo o de una noche
estrellada, suscita en nosotros lo Numinoso. Igualmente los ojos brillantes y
profundos de una criaturita.
Lo Numinoso
no es una cosa, sino la resonancia de las cosas que tocan lo profundo de
nuestro ser y que por eso se vuelven preciosas. Se transforman en símbolos que
nos remiten a Algo más allá de ellas mismas. Las cosas, además de ser lo que
son, se transfiguran en realidades simbólicas, repletas de significados. Por un
lado, nos fascinan y atraen, y por otro nos llenan de respeto y de veneración.
Ellas producen en nosotros un nuevo estado de conciencia y perfeccionan
nuestros comportamientos.
Ese Numinoso, enel lenguaje de los místicos, – como en el mayor de ellos, Mestre Eckhart, o en
Teresa de Ávila, así como en el de la psicología de lo profundo de C.G. Jung – está representado por el Sol interior o por nuestro Centro irradiador. El Sol
tiene la función de un arquetipo central. Como el Sol atrae a su órbita a todos
los planetas, así el arquetipo-Sol satelitiza a su alrededor nuestras
significaciones más profundas. Él constituye el Centro vivo e irradiante de
nuestra interioridad. El Centro es un dato-síntesis de la totalidad de nuestra
vida que se impone por sí mismo. Habla dentro de nosotros, nos advierte, nos
apoya y como el Gran Anciano o la Gran Anciana nos aconseja para seguir los
mejores caminos. Y entonces nunca seremos defraudados.
El ser humano
pode cerrarse a este Centro o a este Sol. Hasta puede negarlos, pero nunca
puede aniquilarlos. Ellos están ahí como una realidad inmanente al alma. Este
Centro o su arquetipo, el Sol, nos dan equilibrio, armonía personal y social y
la convivencia de los contrarios sin exacerbarse por la intolerancia ni por los
comportamientos de exclusión.
Pues bien,
este Centro se ha perdido en el alma brasilera. Hemos ensombrecido el Sol
interior, a pesar de que él está ahí continuamente presente, como el Cristo del
Corcovado. Aunque escondido tras las nubes, él sigue allí con los brazos
abiertos. Así nuestro Sol interior.
Al perder
nuestro Centro y al oscurecer la irradiación del Sol interior, perdemos el
equilibrio y la justa medida, bases de cualquier ética, de la sociedad y de
toda convivencia. Desequilibrados, andamos errantes, pronunciando palabras
desconectadas de toda civilidad y compostura. Nos empequeñecemos y abandonamos
la ley áurea de toda ética: “trata humanamente a todos y a cada uno de los
seres humanos.”
En este
momento, en Brasil, muchos y muchas no tratan humanamente a sus semejantes. De
eventuales adversarios en el campo de las ideas y de las opciones políticas o
sexuales se hacen enemigos a quienes cabe combatir y eventualmente eliminar.
Tenemos,
urgentemente, que curar nuestra alma herida, recuperar nuestro Centro y nuestro
Sol interior, acogiendo las diferencias sin permitir que se tornen
desigualdades, a través del diálogo abierto y de la empatía con los que más
sufren. Como decía el perfil de una mujer inteligente en twitter: “al
colocarnos en el lugar del otro, hacemos del mundo (de la sociedad) un lugar
para todos”. Esta es nuestra urgencia, si no queremos conocer la barbarie.
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(*) Leonardo Boff
es teólogo y filósofo ha escrito Virtudes para otro mundo posible (3 vol), Sal
Terrae 2012.
Traducción de:
Mª José Gavito Milano
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L’ANIMA BRASILIANA È MALATA
Leonardo Boff (*)
Tutto ciò che è sano può ammalare. La malattia
rimanda sempre alla salute. Questo è il riferimento maggiore e fonda la
dimensione essenziale della vita nella sua normalità.
Le dilacerazioni sociali, le ondate di odio, le offese,
gli insulti, e parole di bassa lega stanno spopolando nei media sociali o
digitali e addirittura nei discorsi pubblici rivelano che l’anima brasiliana è
ammalata.
Le più alte istanze del potere comunicano con la
popolazione usando notizie false (fake news) bugie dirette e immagini che si
inscrivono nel codice della pornografia e della scurrilità. Questo
atteggiamento rivela la mancanza di decenza e del sentimento di dignità e
rispettabilità propri delle più alte cariche di una nazione. In fondo si è
perso un valore essenziale, il rispetto di se stessi e degli altri, marchio
imprescindibile di una società civilizzata.
La ragione di questo disvio si deve al fatto che la
dimensione del “Numinoso” si è oscurata. Il “Numinoso” (numen), in latino è il
lato sacro delle cose si rivela attraverso esperienze che ci coinvolgono
totalmente e che conferiscono densità alla vita anche in mezzo alle maggiori
sofferenze.
Esso detiene un immenso potere trasformatore.
L’esperienza tra due persone che si amano e la passione che le rende
affascinanti configurano un’esperienza del Numinoso. L’incontro profondo con
una persona che in mezzo una grave crisi esistenziale ci ha acceso una luce,
rappresenta un’esperienza del Numinoso. Lo scontro davanti a una persona,
portatrice di carisma, per la sua parola convincente o per le sue azioni
coraggiose ci evoca la dimensione del Numinoso. La presenza ineffabile che fa
sentire davanti alla grandeur
dell’universo o di una notte stellata suscita in noi il Numinoso. Ugualmente
gli occhi brillanti e profondi di un neonato.
Il Numinoso non è una cosa ma la risonanza delle
cose che toccano il profondo del nostro essere e che per questo diventano
preziose. Si trasformano in simboli che ci rimandano a Qualcosa che sta al di
là di loro stesse. Le cose, oltre ad essere quello che sono si trasfigurano in
realtà simboliche, piene di significati. Da un lato ci affascinano e attraggono
e dal’ altro lato ci riempiono di rispetto e venerazione. E se producono in noi
un nuovo stato di coscienza e perfezionano i nostri comportamenti.
Questo Numinoso nel linguaggio dei mistici – come
del maggiore di loro, Mastro Eckhart, o di Teresa d’Avila, e pure della
psicologia del profondo secondo la concezione di C.G.Jung – è rappresentato dal
Sole interiore o dal nostro centro irradiatore.
Il Sole possiede la funzione di archetipo centrale.
Come il Sole attira nella sua orbità tutti i pianeti, così l’archetipo-Sole
satellizza intorno a sé i nostri significati più profondi. Esso costituisce il
centro vivo e irradiante della nostra interiorità. Il centro è un dato-sintesi
della totalità della nostra vita che si impone da sé. Esso parla dentro di noi,
ci avverte, ci appoggia e come il Grande Vecchio o la Grande Vecchia ci
consigliano di seguire il cammino più sicuro. E così mai saremo defraudati.
L’essere umano può chiudersi a questo Centro o a
questo Sole. Può perfino negarli, eppure mai potrà annientarli. Essi stanno lì
come una realtà immanente all’anima. Questo Centro o il suo archetipo, il Sole, ci
conferiscono equilibrio, armonia personale e sociale e la convivenza dei
contrari senza esacerbarsi per l’intolleranza e per comportamenti di
esclusione.
Ora, è stato questo Centro che è andato perduto
nell’anima brasiliana. Abbiamo offuscato il Sole interiore nonostante che esso,
continuamente, sta lì presente, come il Cristo sul Corcovado. Anche nascosto in mezzo alle nuvole esso rimane sempre
lassù a braccia aperte. Cosi, il nostro Sole interiore.
Quando abbiamo perduto il nostro Centro e offuscato l’irradiazione
interiore, abbiamo perduto l’equilibrio e la giusta misura, basi di qualunque
etica della società e di qualsiasi tipo di convivenza. Squilibrati, siamo
andati errando, pronunciando parole disconnesse da ogni civiltà e ordine. Siamo
diventati più piccoli e abbandoniamo la legge aurea di ogni etica: “tratta
umanamente tutti e ciascuno degli esseri umani”. In questo momento, in Brasile,
moltissimi non trattano umanamente i loro simili. Da eventuali avversari nel
campo delle opzioni politiche o sessuali sono diventati nemici da combattere e,
eventualmente, da sterminare.
Dobbiamo urgentemente curare la nostra anima ferita,
riscattare il nostro Centro, il nostro Sole interiore mediante l’accoglienza
delle differenze, senza permettere che diventino diseguaglianze, attraverso il
dialogo aperto, di empatia davanti a coloro che soffrono di più. Come diceva il
profilo di una donna intelligente nel Twiter: “se ci mettiamo noi al posto
dell’altro, facciamo del mondo (della società) un luogo per tutti”. Questa è la
nostra urgenza, se non vogliamo conoscere la barbarie.
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*Leonardo Boff, teologo e filosofo, ha scritto
Spiritualità per un altro mondo possibile. Ospitalità, convivenza,
convivialità, Queriniana 2009.
Fonte do texto:
Traduzione di: Romano Baraglia e Lidia Arato.
Crédito das imagens:
www.canstockphoto.com.br
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