A cada ano,
no mês de outubro, o Dia Mundial da Alimentação é celebrado na ONU – Organização
das Nações Unidas. Este ano, a celebração ocasionou uma profunda e importante reflexão do Papa Francisco. Embora se esteja vivendo momentos de grande desenvolvimento das ciências e da
tecnologia, subsistem situações que são hediondas vergonhas internacionais, como,
por exemplo, o descuido com o Meio Ambiente, a saga da indiferença diante da dolorosa mobilidade humana, e a Fome crescente de grandes populações do mundo, causadas por dolorosos conflitos bélicos, ou de migrações forçadas.

1. A celebração do Dia Mundial da Alimentação vê-nos aqui
reunidos para recordar o dia 16 de outubro de 1945 quando os Governos, foi instituída a FAO, decididos a eliminar a fome mediante o desenvolvimento do setor agrícola. Tratava-se de um período de grave insegurança alimentar e de
grandes deslocamentos de populações, com milhões de pessoas em busca de lugares onde sobreviver às misérias e às adversidades causadas pela guerra.
Refletir sobre o modo como a segurança alimentar pode incidir
sobre a mobilidade humana, significa recomeçar — partindo do compromisso para o
qual a FAO nasceu, — e o renovar. A realidade hodierna exige uma maior
responsabilidade, em todos os níveis, não apenas para garantir a produção
necessária para a écqua distribuição equitativa dos frutos da terra — isto
deveria ser óbvio — mas, acima de tudo, para tutelar o direito de cada ser
humano a alimentar-se de acordo com as suas necessidades, participando também
nas decisões que lhe dizem respeito, e na realização das próprias aspirações,
sem que precise se separar de os seus entes queridos.
Perante um objetivo de tal alcance, está em jogo a credibilidade
de todo o sistema internacional. Sabemos que a cooperação está cada vez mais
condicionada por compromissos parciais, que já chegam a limitar até mesmo as
ajudas emergenciais. Enquanto isso, a morte por fome ou o abandono da
própria terra é notícia quotidiana, e corre o risco de provocar indiferença. É urgente que se encontre novos caminhos para transformar as possibilidades
de que dispomos, num processo de garantia que permita, a cada pessoa, olhar para
o futuro com fundada confiança, e não apenas com infundadas ilusões.
O cenário das relações internacionais demonstra uma crescente capacidade
de dar respostas às expetativas da família humana, inclusive com a contribuição
da ciência e da tecnologia que, estudando os problemas, propõem soluções
adequadas. Contudo, tais inovações não conseguem eliminar a exclusão de
grande parte da população mundial:
Quantas são as vítimas da subalimentação,
das guerras e das mudanças climáticas?
A quantos falta o trabalho e os bens essenciais, e se veem obrigados a deixar a própria terra, expondo-se a numerosas e terríveis formas de exploração?
Valorizar a tecnologia ao serviço do desenvolvimento é, sem dúvida, um caminho a percorrer, desde que se chegue a realizar gestos concretos para diminuir o número de esfomeados e para governar o fenômeno das migrações forçadas.

A quantos falta o trabalho e os bens essenciais, e se veem obrigados a deixar a própria terra, expondo-se a numerosas e terríveis formas de exploração?
Valorizar a tecnologia ao serviço do desenvolvimento é, sem dúvida, um caminho a percorrer, desde que se chegue a realizar gestos concretos para diminuir o número de esfomeados e para governar o fenômeno das migrações forçadas.
— Como se pode superar os CONFLITOS?
O Direito Internacional nos
indica os meios para os prevenir ou para resolvê-los rapidamente, evitando que se
prolonguem, causem carestias e a destruição do tecido social. Pensemos
nas populações martirizadas por guerras que já perduram há décadas e que podiam
ser evitadas ou pelo menos cessadas. Mas, ao contrário, as guerras propagam os seus
efeitos desastrosos, entre os quais a insegurança alimentar e o deslocamento
forçado de pessoas.
É indispensável boa vontade e diálogo para impedir os conflitos, e é preciso nos comprometer, profundamente, em prol do desarmamento gradual e sistemático, previsto pela Carta das Nações Unidas, assim como para remediar a chaga funesta do tráfico de armas.

— De que adiantará denunciar que, por causa dos conflitos, milhões de pessoas são vítimas da fome e da subalimentação, se não nos ocupamos, de forma eficaz para o do desarmamento e a construção da paz?
— Quanto às MUDANÇAS CLIMÁTICAS,
vemos todos os dias as suas consequências.
É indispensável boa vontade e diálogo para impedir os conflitos, e é preciso nos comprometer, profundamente, em prol do desarmamento gradual e sistemático, previsto pela Carta das Nações Unidas, assim como para remediar a chaga funesta do tráfico de armas.

— De que adiantará denunciar que, por causa dos conflitos, milhões de pessoas são vítimas da fome e da subalimentação, se não nos ocupamos, de forma eficaz para o do desarmamento e a construção da paz?
— Quanto às MUDANÇAS CLIMÁTICAS,
vemos todos os dias as suas consequências.
Graças aos conhecimentos científicos, sabemos como os problemas
devem ser enfrentados; e a Comunidade Internacional também continua a elaborar instrumentos jurídicos necessários como, por exemplo, o "Acordo de Paris", do qual contudo alguns começam se distanciar.

Portanto, é necessário envidar esforços para um consenso concreto e eficaz, se quisermos evitar efeitos mais trágicos, que continuarão a pesar sobre os mais pobres e indefesos. Somos chamados a propor uma mudança nos estilos de vida, no uso dos recursos e nos critérios de produção, e, inclusive, no consumo que, a propósito de alimentos, vem sofrendo perdas e desperdícios crescentes. Não nos podemos resignar a dizer: “alguém pensará nisto”.
Acredito que estes são os pressupostos de cada discurso sério sobre a
segurança alimentar ligada ao fenômeno das migrações. Sem dúvida, guerras e mudanças
climáticas determinam a fome; portanto, evitemos de apresentar a fome como uma
doença incurável.
Estimativas recentes, levantadas por vossos especialistas, preveem um aumento da produção global de cereais, chegando a níveis que
permitem conferir maior consistência às reservas mundiais. Isto é um bom sinal
e dá a entender que, se agirmos dando atenção às necessidades e em contraposição às especulações, os resultados não deixarão de faltar.
Com efeito, os recursos alimentares são com frequência deixados à mercê da especulação, que os mede unicamente em função da prosperidade econômica dos grandes produtores, ou em relação à potencialidade de consumo e não às exigências reais das pessoas.
É assim que se promove conflitos e desperdícios, aumentando as fileiras dos últimos da terra que procuram um futuro fora dos seus territórios de origem.

Com efeito, os recursos alimentares são com frequência deixados à mercê da especulação, que os mede unicamente em função da prosperidade econômica dos grandes produtores, ou em relação à potencialidade de consumo e não às exigências reais das pessoas.
É assim que se promove conflitos e desperdícios, aumentando as fileiras dos últimos da terra que procuram um futuro fora dos seus territórios de origem.
3. Diante das situações acima descritas, podemos e devemos mudar
a rota (cf. Enc. Laudato sí, 53; 61; 163; 202). Diante do aumento da
demanda de alimentos é indispensável que os frutos da terra estejam disponíveis
para todos.
Na opinião de alguns seria suficiente diminuir o número de bocas a saciar e, assim, o problema estaria resolvido; mas, seria uma solução falsa se considerarmos os níveis de desperdício de alimentos e os modelos de consumo que esbanjam muitos recursos. Reduzir é fácil, mas partilhar exige uma conversão e isto é comprometedor.
Na opinião de alguns seria suficiente diminuir o número de bocas a saciar e, assim, o problema estaria resolvido; mas, seria uma solução falsa se considerarmos os níveis de desperdício de alimentos e os modelos de consumo que esbanjam muitos recursos. Reduzir é fácil, mas partilhar exige uma conversão e isto é comprometedor.

— Seria demasiado pensar em introduzir, na linguagem da cooperação internacional, a categoria do Amor, declinada como gratuitidade, paridade de tratamento, solidariedade, cultura do dom, fraternidade, misericórdia?
Com efeito essa questão expressa, concretamente, o conteúdo prático do
termo “humanitário”, muito em uso na atividade internacional. Amar
os irmãos e ser os primeiros a fazê-lo, sem esperar ser correspondido: este é
um princípio evangélico encontrado em muitas culturas e religiões, e
torna-se princípio de humanidade na linguagem das relações internacionais.
Auguramos que a diplomacia e as instituições multilaterais alimentem e organizem esta capacidade de amar, porque é a via mestra que garante não só a segurança alimentar, mas a segurança humana na sua globalidade.
Não podemos agir só se os outros também o fazem, nem nos limitar a sentir piedade, porque a piedade se detém às ajudas de emergência, enquanto o amor inspira a justiça, e é essencial para realizar uma ordem social justa entre realidades diversas que desejam correr o risco do encontro recíproco.
Amar significa contribuir para que cada país aumente a produção e alcance a autossuficiência alimentar. Amar traduz-se em cogitar novos modelos de desenvolvimento e de consumo, e em adotar políticas que não agravem a situação das populações menos avançadas ou a sua dependência externa.

O esforço da diplomacia nos demonstrou, inclusive em eventos recentes, que deter o recurso às armas de destruição de massa é possível. Estamos todos cientes da capacidade de destruição de tais instrumentos.
Mas, estamos cientes também dos efeitos da pobreza e da exclusão?
— De que modo é possível deter pessoas dispostas a arriscar tudo, gerações inteiras que podem desaparecer, porque não têm o pão de cada dia, ou são vítimas de violência ou de mudanças climáticas?
Essas pessoas se dirigem para onde veem uma luz ou sentem uma esperança de vida. Não poderão ser detidas por barreiras físicas, econômicas, legislativas, ideológicas: só uma coerente aplicação do princípio de humanidade o poderá fazer. Ao contrário, é diminuída a ajuda pública ao desenvolvimento e as Instituições Multilaterais são limitadas na sua atividade, enquanto se recorre a acordos bilaterais que subordinam a cooperação ao respeito de agendas e de alianças particulares ou, mais simplesmente, a uma tranquilidade momentânea.
Diversamente, a gestão da mobilidade humana exige uma ação intergovernamental coordenada e sistemática, conduzida segundo as normas internacionais existentes e permeada por amor e inteligência. O seu objetivo é um encontro de povos que enriqueça todos, e gere união e diálogo, e não exclusão e vulnerabilidade.
Permiti que eu aqui me refira ao debate sobre a vulnerabilidade, que divide as visões no âmbito internacional, quando se fala dos migrantes. Vulnerável é aquele que está em condição de inferioridade, e não pode se defender, não tem meios, portanto vive uma exclusão. E isto por ser obrigado pela violência, por situações naturais ou, pior ainda, pela indiferença, pela intolerância e até pelo ódio. Face a esta condição, é justo identificar as causas para agir com a competência necessária. Não é aceitável que, para evitar o compromisso, nos escondamos por trás de sofismas linguísticos que não honram a diplomacia, mas a reduzem à “arte do possível”, a um exercício estéril para justificar egoísmos e inatividade. Auguramos que tudo isto seja considerado na elaboração do Pacto Mundial para uma Migração Segura, Regular e Ordenada, que acontece neste momento
nas Nações Unidas.
Diversamente, a gestão da mobilidade humana exige uma ação intergovernamental coordenada e sistemática, conduzida segundo as normas internacionais existentes e permeada por amor e inteligência. O seu objetivo é um encontro de povos que enriqueça todos, e gere união e diálogo, e não exclusão e vulnerabilidade.

4. Ouçamos o grito de tantos nossos irmãos marginalizados e
excluídos: “Tenho fome, sou forasteiro, estou nu, doente, fechado num campo de
refugiados”.
É um pedido de justiça, não uma súplica nem um apelo de emergência. É necessário um diálogo amplo e sincero, em todos os níveis, para encontrar as melhores soluções, e amadurecer uma nova relação entre os diversos atores do cenário internacional, construída de responsabilidade recíproca, de solidariedade e de comunhão.
O jugo da miséria, gerado pelos deslocamentos
muitas vezes trágicos dos migrantes, pode ser removido através de uma prevenção realizada por projetos de desenvolvimento que criem trabalho e capacidade de
resposta às crises climáticas e ambientais. A prevenção custa muito menos do que
os efeitos provocados pela degradação dos terrenos e pela poluição das águas,
efeitos que atingem as zonas nevrálgicas do planeta, onde a pobreza é a única
lei, as doenças aumentam e a esperança de vida diminui.
É um pedido de justiça, não uma súplica nem um apelo de emergência. É necessário um diálogo amplo e sincero, em todos os níveis, para encontrar as melhores soluções, e amadurecer uma nova relação entre os diversos atores do cenário internacional, construída de responsabilidade recíproca, de solidariedade e de comunhão.

São muitas e louváveis as iniciativas implementadas. Mas não são
suficientes. É necessário e urgente continuar envidando esforços e financiando programas para combater, de um modo ainda mais eficaz e promissor, a fome e a
miséria estrutural.
Se o objetivo é favorecer uma agricultura que produza
as exigências efetivas de um país, então não é lícito privar a população das
terras cultiváveis, deixando que o "land grabbing" (monopólio de terras)
continue a obter os seus lucros, às vezes até com a cumplicidade de quem é
chamado a defender o interesse do povo. É preciso afastar as tentações de agir
em benefício de grupos restritos da população, como também de utilizar a colaboração externa de modo inadequado, favorecendo a corrupção ou na ilegalidade.

A Igreja Católica, com as suas instituições, — tendo conhecimento
direto e real das situações a combater e das necessidades a satisfazer, — deseja participar diretamente neste esforço, em virtude da sua missão que a leva
a amar a todos, e que também a obriga a recordar, a quantos têm responsabilidade
nacional e internacional, o mais amplo dever de contribuir com as necessidades das maiorias.
Faço votos para que cada um descubra, no silêncio da própria fé ou
das próprias convicções, as motivações, os princípios, e as contribuições para
dar à FAO e às demais Instituições Intergovernamentais, a coragem de melhorar e
perseverar pelo bem da família humana.
Obrigado!".
----------------------------------------------Obrigado!".
Fonte do texto: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2017/october/documents/papa-francesco_20171016_visita-fao.html
Observação: o texto original — versão portuguesa de Portugal, — foi revisto e adaptado, por Vanise Rezende, comparando-o à versão original italiana e espanhola disponíveis também no portal: w2.vatican.va/.

Em 2001, Graziano coordenou a formulação do Programa Fome Zero, um dos principais pontos da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2002, após a eleição de Lula, Graziano foi nomeado por ele para chefiar o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome por ele. Permaneceu no órgão por um pouco mais de um ano, de 1° de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004, tendo sido o encarregado pela implementação do Fome Zero, iniciativa apontada como responsável pela retirada de 28 milhões de pessoas da linha da pobreza durante o governo Lula.[2] Em 2004, Lula criou o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome para absorver as funções do Ministério Extraordinário, nomeando Patrus Ananias como responsável pelo novo ministério. Graziano atuou como assessor especial da Presidência da República.[5]
Em março de 2006, Graziano se tornou representante regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para a América Latina e o Caribe.[4] Durante sua permanência o cargo, conseguiu que os países de América Latina fossem os primeiros, em nível mundial, a assumir o compromisso de erradicar a fome até 2025.[5] Promoveu, também, um programa para defender o fortalecimento do setor rural e das políticas públicas voltadas para alcançar um desenvolvimento integral e inclusivo no campo.[6]
Em 2011, candidatou-se ao cargo de diretor-geral da FAO, recebendo o apoio de Lula em artigo publicado no site do jornal britânico The Guardian.[7] Foi eleito em 26 de junho, durante a 37ª Conferência da organização, em Roma, após receber 92 dos 180 votos possíveis num segundo turno.[8] A Oxfam recebeu bem a vitória de Graziano, dizendo que ele tem experiência e compromisso para "transformar o nosso sistema alimentar falido e conduzir à mudança para um novo futuro agrícola". (Texto baseado em informações no site: www.wikipedia.wiki.org ).
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1. Papa Francisco faz doação para ajudar aos países da África Oriental por meio da FAO-Nações Unidas. Foto: Sakis Mitrolidis - AFP
2. Papa Francisco é recebido pelo Diretor Geral da FAO, o brasileiro José Francisco Graziano da Silva, para a Comemoração Dia Mundial da Alimentação na Sede da FAO - Roma (IT) - 16/10/2017 - Fotos Públicas.
3. Papa Francisco fala durante Comemoração Dia Mundial da Alimentação na Sede da FAO - Roma (IT) - 16/10/2017 - Fotos Públicas.
4. Visão geral da reunião de Comemoração do Dia Mundial da Alimentação na Sede da FAO, no momento em que falava Papa Francisco - Roma (IT) - 16/10/2017 - Fotos Públicas.
5. Famílias fogem de conflitos na Síria, em busca de refúgio - Foto de Fábio Erdos - www.cartacapital.com.br - 2016
6. Campo de Refugiados - Movimento Sem Fronteira - MSF - imagem divulgação.
7. As grandes propriedades de terra e a produção dos alimentos - www.canstockphoto.com.br
8. A Seca - Abelardo da Hora - Fotografia em mostra na Caixa Cultural - Recife-PE
9. Foto de Zé Brito - via@brasileirissimos.jpg
10. Distinção de espaços e moradias - Foto in: Cidade Nova, junho-2016.
11. Criança com refugiados - www.noticias.uol.com.br.jpg
12. Agricultura na Suazilândia - Foto ONU.jpg
13. Pequenos Produtores Rurais - www.unmultmedia.org /radio/portoghese/tag/fao
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato comvrblog@hotmail.com
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