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LEONARDO BOFF: APRENDER A ACOLHER A VIDA

25 novembro, 2017


Este mês, no site de Leonardo Boff, foi publicada a sua entrevista dada à Revista Bodisatva.

É assim que Boff a apresenta no seu site: “De todos os caminhos que levam ao profundo de nós mesmos, e ao Coração da Realidade (outro nome para a divindade), temos muito que aprender”. 
Sua entrevista integra uma série de outras,  realizadas pela revista – no intuito de promover “diálogos inter-religiosos" e discutir "como  a prática cristã pode colaborar com a liberdade humana”.

Escute o coração e nunca serás defraudado
Entrevista com Leonardo Boff                    
Revisão: Moisés Costa
= Os grifos são nossos.

Na década de 80, ele foi condenado a um ano de silêncio pelo ex-Santo Ofício por suas teses defendidas no livro "Igreja: carisma e poder". É um dos iniciadores da Teologia da Libertação no Brasil, que defende a libertação dos oprimidos, dos pobres e dos injustiçados.
O decisivo é que o fato da libertação real ocorra. Mas sempre haverá espíritos atentos que ouvirão o grito do oprimido e da Terra devastada e que se perguntarão: com aquilo que aprendemos de Jesus, dos Apóstolos e da doutrina cristã de tantos séculos, como podemos dar a nossa contribuição ao processo de libertação?”, fala Leonardo Boff na nossa seção de conversas na Bodisatva, onde nos propomos a abrir espaço para o diálogo inter-religioso.

Boff, conhecido como professor e conferencista no país e no exterior, nas áreas de teologia, filosofia, ética, espiritualidade e ecologia moveu, no Brasil, a discussão sobre como a prática cristã gerada pelo potencial espiritual herdado de Jesus pode colaborar, junto com outros grupos humanitários, para a libertação necessária.
Autor de cerca de sessenta livros, ele participa atualmente do grupo de reforma da ONU, especialmente dedicado à Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade.
Conversamos com ele sobre economia, compaixão e sabedoria.
B - Quais seriam os caminhos para uma economia sustentável e uma boa relação com a natureza?

LBoff - O caminho mais factível para uma sustentabilidade que mereça este nome é seguir o biorregionalismo. Quer dizer, tomar a região como referência e ver como os bens e serviços ecológicos próprios da região podem atender as demandas da população, organizar pequenas cooperativas, incentivar a produção orgânica e integrar o lado cultural, os valores e tradições locais. Aí surge um sentimento de pertença e relações mais inclusivas.
B - Existe conciliação entre obsolescência programada e decrescimento econômico?

LBoff - A obsolescência programada é um recurso que o sistema imperante inventou para continuar a produzir e a vender e assim manter o sistema ativo. O decrescimento só tem sentido em sociedades que já alcançaram sua autonomia e não precisam mais organizar a infraestrutura já universalizada para todos. Nós, pobres, precisamos de desenvolvimento (mais escolas, infraestrutura, postos de trabalho, etc), aos ricos lhes basta a prosperidade que se expressa realizando valores humanitários, de arte, de cuidado para com a natureza, cultivo de intercâmbios, solidariedade para com os que menos têm em outras regiões.
B - Quais as origens do medo, como os seus aspectos são utilizados na nossa sociedade e como atravessá-los com lucidez?

LBoff - O medo pertence à vida, porque ela é sempre ameaçada por algum imprevisto. Superamos o medo incorporando-o para não depender dele e alimentamos a coragem de viver e de superar obstáculos.

B - O senhor declarou que os dois homens santos do nosso tempo são o Papa Francisco e o Dalai Lama. Quais as relações que o senhor poderia fazer entre um e outro?

LBoff - O Papa Francisco e o Dala Lama são homens do Espírito. Falam para o profundo humano ao falar do amor incondicional, de solidariedade e compaixão para com os que sofrem e de busca permanente da superação dos instintos de violência, cultivando uma cultura da paz. Ambos tornam real o mundo espiritual dentro de uma sociedade materializada e que perdeu o sentido da fraternidade universal e o fato de vivermos todos juntos na mesma Casa Comum que devemos cuidar e amar como cuidamos e amamos nossas mães.
B - O senhor poderia falar mais sobre a visão política do Papa Francisco, e como foi possível ele
transitar por dentro das regras do Vaticano?
LBoff - O Papa faz a política do óbvio, política como a convivência pacífica entre todos e a capacidade de se solidarizar com os que vivem invisíveis e à margem. Ele fez uma opção pelos mais pobres como eixo orientador de tudo. A própria Igreja como um hospital de campanha que se coloca a serviço de todos, especialmente dos mais vulneráveis. Ele sempre viveu assim na Argentina. E levou esse modo de ser e de pensar para dentro das estruturas seculares e rígidas do Vaticano. Com isso, ele escandalizou a muitos, mas ganhou o reconhecimento universal. Ambos, Francisco e o Dalai Lama, são hoje as figuras mais respeitáveis, seja no campo político, seja no campo religioso.


B - No budismo, fala-se em aliar compaixão e sabedoria para termos lucidez. Qual a importância da prática da compaixão e da sabedoria?

LBoff - A compaixão é a virtude pessoal de Buda. É a capacidade de colocar-se no lugar do outro. Se ele está caído, ajudá-lo a levantar-se; se está triste, dizer-lhe palavras de consolo. Nunca permitir que quem sofre se sinta sozinho. Mas sempre estar do lado dele. O terrível do sofrimento não é o sofrimento, mas a solidão no sofrimento. A sabedoria vem da coerência na vida com tais atitudes.
Sábio é aquele que sempre está aberto a aprender e acolher a vida assim como ela nos chega a nós. Acolhê-la, e saber tirar as lições que ela nos dá.

B - Como caminhar com autonomia na nossa sociedade?

LBoff - Caminhamos com autonomia sendo autônomos. Quer dizer, não seguir as modas sejam filosóficas, sejam espirituais, sejam do consumo e do entretenimento. Seguir o chamado de seu coração. Se escutar o coração, nunca será defraudado.
B - Como recobrar nossa vida afetiva e as relações com os seres humanos e a natureza?

Além da razão intelectual, importante para organizar as práticas da vida, precisamos resgatar e viver a razão cordial, a capacidade de sentir profundamente o outro e as mensagens que nos vem de todos os lados. No coração reside a ética, os valores que dão orientação na vida, o amor e a espiritualidade. Não basta conhecer, temos que sentir o outro, fazer do sofrimento da natureza o nosso próprio sofrimento e alimentar laços de inclusão de todos, sem excluir ninguém.
B - O senhor poderia nos enviar uma mensagem sobre bondade amorosa, amor e alegria?

LBoff - Vivemos uma única vez neste mundo. Por isso, importa viver com aqueles valores, projetos e sonhos que nos fazem mais humanos. Tornamo-nos mais humanos quando amamos sem medo, nos solidarizamos com as causas que têm a ver com a justiça dos pobres e oferecemos o ombro a todos os que sentem necessidade de serem reforçados em suas dificuldades.
Viver a liberdade de espírito, a qual é o maior dom que podemos elaborar em nossa vida. A liberdade de espírito supera os superegos que nos limitam, os medos que nos freiam e nos abre o espaço para exercer nossa criatividade, nossa capacidade de nos relacionar com as mais diferentes pessoas e situações, sempre abertos a aprender, a se corrigir e a tornar a vida melhor e mais leve, para si e para os outros.


Fonte do Texto: “Escute o coração e nunca serás defraudado”.
Site LBoff- 9/11/2017




A Bodisatva é uma plataforma de comunicação voltada para a produção e divulgação de conteúdo de transformação de mundo, inspirada na visão budista de Terra Pura. Tem como propósito celebrar iniciativas baseadas em compaixão e lucidez.




Créditos das Imagens:
1. Criança meditando - Bodisatva no Instagran - imagens
2. Foto Leonardo Boff - reprodução.
3. Dalai Lama - www.budavirtual.com.br/category/dalai-lama
4. Papa Francisco - https://www.fatosdesconhecidos.com.br/biografia-tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-papa-francisco/
5. Bardo da Realidade - www.bodisatva no Instagran - imagens

Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas, e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com  

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