O final dos novembros nos lembra, a nós ocidentais, a proximidade da festividade do Natal e do Ano Novo. Este período — que os cristãos chamam de Advento — nos convida a nos repensar e a nos reinventar, inspirados no significado mais profundo da convivência humana.
É uma busca, no entanto, que não atinge apenas os que se dizem cristãos, mas todo ser humano que, na convivência com a sua própria transitoriedade, percebe este momento como se fosse a festa do próprio renascimento.
Também é um período de grandes crises na conjuntura mundial — e da nossa própria crise no Brasil — fazendo-nos perceber uma cruel deformação do sentido da política e da sua missão de promover o bem-comum. Trata-se de uma deformação da compreensão social e ética do fazer político como um "serviço", no Legislativo, no Judiciário e no Governo Executivo.
É assim que as crises pessoais do desemprego, das incertezas e da insegurança estão cada vez mais se aprofundando. E os mais atingidos são aqueles que mais dependem de proteção social, e que hoje vivem destituídos do direito à Esperança.
O horizonte do nosso país se apresenta extremamente preocupante. Em lugar do cuidado pela promoção do desenvolvimento humano, promove-se o bem-estar daqueles que utilizam a política para defender seus interesses escusos e pessoais.
Mesmo assim, ricos e pobres — que exercem uma profissão ou têm outras fontes de renda — aumentam a circulação nos shoppings centers, dando-nos a impressão de que muitos não perceberam a crise que passamos.
O horizonte do nosso país se apresenta extremamente preocupante. Em lugar do cuidado pela promoção do desenvolvimento humano, promove-se o bem-estar daqueles que utilizam a política para defender seus interesses escusos e pessoais.
Mesmo assim, ricos e pobres — que exercem uma profissão ou têm outras fontes de renda — aumentam a circulação nos shoppings centers, dando-nos a impressão de que muitos não perceberam a crise que passamos.
O comércio é muito fiel em se organizar para explorar as oportunidades de venda no dia das crianças, do professor, dos namorados, das mães, dos pais, e dos avós. E na previsão da chegada do 13º salário estimula o consumo, na ânsia do ter mais e de trocar objetos, ainda úteis, para o último modelo.
Somos reféns de uma cultura arraigada — e muito equivocada — de que a o afeto e o bem-estar se expressam nas coisas da moda, de última geração, ou que tenham maior valor monetário. O que leva as pessoas a gastar o que podem e o que não podem para comprar pinheiros e enfeites luminosos, acessórios e roupas novas, além de fabulosos presentes para amigos e familiares.
Nas locas enfeitadas de casinhas floridas e animais, você só encontra a figura do bonzinho “Papai Noel”. Branco e gorducho, com sua longa barba de algodão, usando luvas e um roupão vermelho — que aqui nos trópicos o fazem explodir de calor — ele fica sentado e sorridente numa bonita poltrona, pago para abraçar criancinhas inocentes que lhe confidenciam seus anseios de ter e de adquirir mais do que já têm ou que não podem ter.
Dezenas de pessoas são vistas nos balcões das lojas em busca de substituir o celular que ainda funciona, o telão do televisor que ainda não tem defeito, ou o computador, a fim de usufruir dos últimos recursos tecnológicos que, logo em seguida, serão substituídos por outros. Assim, também no âmbito pessoal, deixa-se de considerar as muitas necessidades ao redor — até mesmo entre os membros da família, e das pessoas mais pobres com quem se convive — e a memória da pobreza e das necessidades humanas é jogada no recôndito do não considerado.
A figura central de toda a festa é um velhinho importado das terras do Norte do planeta, — hoje o ícone natalino das nossas terras tropicais, — buscando manter acesos o querer sempre mais e mais e a lenda de que a felicidade é ter alguma coisa que está ali, e que é possível comprá-la.
Dezenas de pessoas são vistas nos balcões das lojas em busca de substituir o celular que ainda funciona, o telão do televisor que ainda não tem defeito, ou o computador, a fim de usufruir dos últimos recursos tecnológicos que, logo em seguida, serão substituídos por outros. Assim, também no âmbito pessoal, deixa-se de considerar as muitas necessidades ao redor — até mesmo entre os membros da família, e das pessoas mais pobres com quem se convive — e a memória da pobreza e das necessidades humanas é jogada no recôndito do não considerado.
Pode-se até encontrar
decorações mais atualizadas, trocando o velho nórdico pela imagem do Mickey, do Pinóquio ou de outras figuras infantis de programas de TV. É evidente que não há qualquer conveniência de lembrar, — nos
suntuosos ambientes comerciais — a mensagem do menino de Nazaré, que
nasceu há séculos atrás, e que não condiz com os festejos e a abundância de uma festa que hoje chamamos "Natal".
Nesses dias reli um artigo da psicanalista Rita Almeida sobre o significado do querer e do
desejar, no qual ela afirma:
“Ao contrário do querer – em que o sujeito quer tudo, até que sua prateleira fique completa – o desejo implica em escolhas, portanto, em perdas.”
O desejo seria um antídoto para intervir numa sociedade baseada no querer consumista.
“Desejar implica no sujeito admitir sua própria divisão, aceitar sua incapacidade de ter tudo. Desejar não é produzir um acúmulo de coisas, mas sim, definir o que é mais fundamental e importante”. E explica:
“Ao contrário do querer – em que o sujeito quer tudo, até que sua prateleira fique completa – o desejo implica em escolhas, portanto, em perdas.”
O desejo seria um antídoto para intervir numa sociedade baseada no querer consumista.
“Desejar implica no sujeito admitir sua própria divisão, aceitar sua incapacidade de ter tudo. Desejar não é produzir um acúmulo de coisas, mas sim, definir o que é mais fundamental e importante”. E explica:
“Desejar é cortar o
excesso, é aceitar a perda de gozo, é escapar da mera sobreposição de
bugigangas, a fim de produzir singularidade e estilo. Num mundo onde o
imperativo categórico é que abarrotemos nossas prateleiras e que queiramos tudo
todo o tempo, utilizar a tesoura do desejo seria a verdadeira revolução." E conclui: “O desejo é
uma tesoura, sendo assim desejar implica em fazer opções.
Ou isto ou aquilo, diria Cecília Meireles”.
Ou isto ou aquilo, diria Cecília Meireles”.
Ou se tem
chuva e não se tem sol,
Ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel
Ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
Ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
E vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
Se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
Qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel
Ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
Ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
E vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
Se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
Qual é melhor: se é isto ou aquilo.
------------------------------------
Cecília Meireles - "Ou isto ou aquilo". Global Editora. São Paulo, 2012, p.63
Rita Almeida – psicanalista, blogueira e doutoranda em Educação (UFJF)
Créditos de imagens:
1. Suzana grávida - Roberto Ploeg, o.s.t.
2. Duas casas azuis e uma ciclista - imagem de Roberto Ploeg
3. Papai Noel - www.canstockphoto.com.br
4. O querer e o desejo - www.canstockphoto.com.br
5. Capa livro de Cecília Meirelles: "Ou isto ou aquilo" - reprodução.
Nota: As imagens publicadas nesse blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma dessas imagens e deseja que ela seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
Créditos de imagens:
1. Suzana grávida - Roberto Ploeg, o.s.t.
2. Duas casas azuis e uma ciclista - imagem de Roberto Ploeg
3. Papai Noel - www.canstockphoto.com.br
4. O querer e o desejo - www.canstockphoto.com.br
5. Capa livro de Cecília Meirelles: "Ou isto ou aquilo" - reprodução.
Nota: As imagens publicadas nesse blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma dessas imagens e deseja que ela seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
Nenhum comentário :
Deixe seu comentário: