Reproduzo aqui um texto de Frei Betto, postado no blog de Leonardo Boff *. É Boff quem faz a introdução. Achei oportuno promover a divulgação do texto, porque o que tenho ouvido, – de taxistas a que tenho acesso, e de pessoas com maior ou menor acesso à informação – é que "está na hora de dar um basta à política".
Mas, a verdade é que só o exercício político do voto, – com as escolhas que fazemos – é que pode expressar o nosso apoio ou a nossa rejeição às suas práticas. É por meio do voto que teremos a oportunidade de reconstruir a nossa civilização, como um grande gesto civil do amor fraterno universal, em busca de uma vida melhor para todos.
Neste sentido, poderíamos lembrar as lutas políticas de Martin Luther King, em defesa da cidadania para os negros, nos EUA. E a extraordinária expressão de apoio do povo da Índia, para a sua independência, com o movimento liderado por Ghandi. Esses dois grandes líderes foram atingidos pela força de uma minoria movida pelo ódio dos que não querem o bem do povo.
No Brasil, hoje, o desmantelo das reformas políticas apoiadas pela maioria do Congresso Nacional, mostra o quanto os congressistas estão envolvidos na corrupção. As pessoas andam cabisbaixas, desanimadas, desacreditando da maior força que o povo tem – através do voto – para retomar o caminho da democracia, que está cambaleante entre nós. Vejamos os dois texto abaixo.
Leonardo Boff:
Estamos todos perplexos, sem saber para onde vai o país com um
presidente com 97% de rejeição e uma grande desmoralização do Parlamento, com
um número grande de deputados e senadores acusados ou denunciados por corrupção.
Apesar disso, devemos pensar no Brasil e em seu povo que está sofrendo sob
medidas que ferem direitos conquistados há décadas por muito sacrifício. Não
podemos perder a esperança e deixar de crer na resiliência, resistência e
capacidade de invenção dos movimentos sociais e dos cidadãos preocupados com
o futuro comum. Esse artigo de Frei Betto é um chamado a assumir a causa
Brasil e votar em quem se compromete com o país e seus bens, para que não sejam
alienados para estrangeiros, pondo em risco o bem-estar geral.
Já que tudo indica que Temer permanece à frente do governo até dezembro de 2018, dado que a sua base aliada no Congresso decidiu obstruir a Justiça, fica a pergunta: quem eleger para sucedê-lo?
Pesquisas eleitorais que já tiveram início destacam uma dúzia de
prováveis candidatos. E os eleitores reagem de diferentes formas. Há os que já
decidiram não votar. É a turma do Partido Ninguém Presta. Atitude meramente
emocional. Quem tem nojo de política é governado por quem não tem. E tudo que
os maus políticos querem é que viremos as costas à política para dar a eles
carta branca.
Há os que votarão no próprio umbigo em defesa de seus interesses
corporativos, como os eleitores da bancada do B: boi, bala, bola, bancos e
Bíblia. Esses escolherão candidatos afinados com o latifúndio, o desmatamento
da Amazônia, o extermínio dos indígenas, o mercado financeiro, a homofobia, a
privatização do patrimônio público e o Estado mínimo.
Um contingente de eleitores votará em quem seu mestre mandar. É o
rebanho eleitoral, versão pós-moderna do coronelismo, agora substituído por
padres e pastores, figuras midiáticas e chefes de organizações criminosas.
Há ainda o eleitor que se deixará levar pela propaganda eleitoral.
Votará em quem lhe parecer mais simpático, sem sequer conhecer os projetos
políticos do candidato. É aquela empatia olho no olho que não vê mente, coração
e bolsos…
E há os que votarão em candidatos progressistas, ou naqueles que assim
se apresentarão nos palanques, na esperança de resgatar os direitos cassados
pela atual reforma trabalhista e corrigir os desmandos do governo Temer, para
que o país volte a crescer e ampliar seus programas sociais.
Ora, devemos votar no Brasil que sonhamos para as futuras gerações. Isso
significa priorizar programas e projetos, e não candidatos. Um país no qual
coincidam democracia política e democracia econômica. De que vale o sufrágio
universal se não repartimos o pão?
Votar no Brasil que requer profundas reformas estruturais, como a
tributária, com impostos progressivos; a agrária, com o fim do latifúndio e do
trabalho escravo; a política e a judiciária. Brasil que promova os direitos das
populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Brasil de democracia
participativa, na qual o Estado seja o principal indutor do desenvolvimento,
com distribuição de riqueza e preservação ambiental.
Fora disso, ‘tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes’. Ou pior.
Votar é importante, mas não suficiente. Porque no Brasil,
tradicionalmente, nós votamos e o poder econômico elege. Em 2018, porém, será a
primeira eleição para o Congresso e a presidência da República na qual as
empresas não poderão financiar campanhas políticas, como faziam as que estão
denunciadas pela Lava Jato. Isso não significa que o caixa dois será extinto.
Seria muita ingenuidade pensar que políticos que se lixam para a ética, não
haverão de encontrar formas de obter dinheiro ilegal.
Por isso, é um erro jogar nas eleições todas as fichas da nossa
esperança em um Brasil melhor. O mais importante é investir no empoderamento
popular. Reforçar os movimentos sociais e sindicais, intensificar o trabalho de
formação política e consciência crítica, dilatar os espaços de pressão,
reivindicação e mobilização. Só conseguiremos mudanças significativas se vierem
de baixo para cima.
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Fonte do texto: Blog Leonardo Boff – 07/10/2017
* Frei Betto é escritor, autor de “Reinventar a vida” (Vozes), entre
outros livros.
Crédito Imagens:
1. Frei Betto e Leonardo Boff - https://isto é. com.br/380029
_Frei+Betto+festeja+70+anos+e+ganha+medalha+cubana
2. Frei Betto - https://pense.pb.gov.br /imagens /frei-betto/view
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