Neste período de pandemia, os festejos religiosos tradicionais, em quase todo o país, se restringiram à passagem solitária da Custódia, no dia de Corpus Christi, e das imagens de Santo Antônio, São João e São Pedro, pelas ruas das cidades, sem nenhuma procissão. Mas as famílias do Nordeste não dispensaram a tradição das canjicas e bolos, mesmo sem fogueiras, para celebrar a boa colheita do milho.Em relação a essa tradição das imagens, ainda muito viva na tradição da Igreja Católica, há um raro poema da grande poetisa chilena, Gabriela Mistral (1889/1957) que, já em sua época, questionava essa tradição das imagens religiosas. Escrito em espanhol, o poema intitula-se "El Imaginero". Para os leitores deste blog, fiz uma versão livre, em português (O Santeiro), e em italiano ( L'artigiano).
----------------------------------------------------------------
Gabriela Mistral (1889/1957) – pseudônimo de Lucila Godoy Alcayaga – foi uma ilustre chilena que alcançou o respeito de insigne poeta, experiente pedagoga e ilustre pensadora da sua época. Foi a primeira mulher diplomata ibero-americana a receber o Prêmio Nobel de Literatura (1945). Na ocasião, ela afirmou:
«Por um acaso que me ultrapassa, sou neste momento a voz direta dos poetas da minha raça e a voz indireta das nobres línguas espanhola e portuguesa. Ambas se alegram por terem sido convidadas ao convívio da vida nórdica, toda ela assistida por seu folclore e sua poesia milenários».
Gabriela Mistral foi cônsul chilena em Los Angeles, Nova York e no Brasil. Em 1954, a convite do presidente chileno Carlos Ibáñez, ela foi recebida com honrarias no palácio da Moneda, e recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Chile. É considerada uma das figuras mais relevantes da literatura chilena e latino-americana. Dos seus livros se destacam: Desolación (1922), Ternura (canciones para los niños)-1923; Nubles Blancas - 1930; Tala - 1938. Mistral morreu aos 68 anos, em janeiro de 1957, na cidade de Nova York.------------------------------------------------------------------
El Imaginero
Poema de: Gabriela Mistral
Prêmio Nobel de Literatura-1945
¡De qué quiere Usted la
imagen?
Preguntó el imaginero:Tenemos santos de pino,Hay imágenes de yeso,
Madera de puro cedro,Depende de quién la encarga,Una familia o un templo,O si el único objetivoEs ponerla en un museo.Déjeme, pues, que le explique,Lo que de verdad deseo.Yo necesito una imagenDe Jesús El Galileo,Que refleje su fracasoIntentando un mundo nuevo,Que conmueva las concienciasY cambie los pensamientos.Yo no la quiero encerradaEn iglesias y conventos.Ni en casa de una familiaPara presidir sus rezos,No es para llevarla en andasCargada por costaleros.
Que ilumine a quien la mire
El corazón y el cerebro.Que den ganas de bajarloDe su cruz y del tormento,Y quien contemple esa imagenNo quede mirando un muerto,Ni que con ojos de artistaSólo contemple un objeto,Ante el que exclame admirado¡Qué torturado mas bello!Perdóneme si le digo,Responde el imaginero,Que aquí no hallará seguroLa imagen del Nazareno.Vaya a buscarla en las callesEntre las gentes sin techo,En hospicios y hospitalesDonde haya gente muriendoEn los centros de acogidaEn que abandonan a viejos,En el pueblo marginado,Entre los niños hambrientos,En mujeres maltratadas,En personas sin empleo.Pero la imagen de CristoNo la busque en los museos,No la busque en las estatuas,En los altares y templos.Ni siga en las procesionesLos pasos del Nazareno,No la busque de madera,De bronce de piedra o yeso,¡mejor busque entre los pobresSu imagen de carne y hueso!
-----------------------------------------
O Santeiro
Por: Gabriela Mistral
Versão portuguesa de: Vanise Rezende
De que quer você a imagem?
Perguntou-lhe o santeiro:Temos santos de pino,Há imagens só de gessoOlhe este Cristo jacente,Madeira pura de cedro,Quem encomenda decide,Uma família, uma igreja,Ou se apenas o desejoÉ expô-lo em um museu.Deixe-me, pois, que lhe explique,O que penso de verdade.
Eu necessito uma imagemDe Jesus, o Galileu,Que reflete o seu fracassoEm busca de um mundo novo,Que comova as consciências,E mude os pensamentos.
Eu não a quero guardada
Em igrejas e conventos.Nem em casas de famíliaA presidir orações,E que não siga em andoresNas costas de voluntários.
Que ilumina a quem o olhe
O coração e o cérebro.
Que o queiras retirá-lo
De sua cruz e tormento,
E quem contemple a imagem
Não pare a olhar um morto,
Nem com os olhos de artista
Só contemple a figura
Diante da qual exclame
“Que belo esse torturado!”
Perdoe-me se inda lhe digo,
- responde ainda o santeiro –
Aqui não estará seguraA imagem do Nazareno.Vá procurá-la nas ruasEntre o povo sem abrigo,Nos hospitais e hospíciosOnde há gente morrendo,Nos centros de acolhidaOnde abandonam os velhos,No povo com fome e medo,Entre as crianças famintas,Nas mulheres maltratadas,E em pessoas sem emprego.Mas a imagem de CristoNão a cerques nos museus,E nem mesmo nas estátuasDos altares e dos templos.Não sigas nas procissõesOs passos do Nazareno,Nem o busques de madeira,De bronze, de pedra ou gesso,O encontrarás entre os pobres
Sua imagem em carne e osso!
------------------------------------------------
L’artigiano
Poesia de Gabriela Mistral
---------------------------------------------
Fonte das informações: https://es.wikipedia.org/wiki/gabriela_mistral#mw-head
Entre los muitos doutorados honoris causa que recebeu, destacam-se os da Universidad Nacional de Guatemala, de California em Los Ángeles y de Florença, além do que lhe foi outorgado pela Universidad de Chile, em 1953 .
Crédito das imagens:
Poesia de Gabriela Mistral
Premio Nobel de Literatura-1945
Versione in italiano di Vanise Rezende
Come volete l’immagine?
Le domandò l’artigiano:
Abbiamo santi di pino,
Ci sono quelli di gesso,
Guarda il Cristo giacente,
Un legno di puro cedro.
Dipende di chi lo vuole,
Una famiglia o un templo,
Oppure se l’obbiettivo
Sia portarlo in museo.
Intanto lascia-mi dirti
Il che di fatto desidero.
Di Gesù, Il Galileo,
Che ritratti il suo fiasco
Costruendo un mondo nuovo,
Che commuova coscienze
E cambi anche i pensieri.
Io non lo voglio raccolto
Nelle chiese e conventi.
Neppure con le famiglie
Per presiedere orazioni.
Né per essere portato
Dagli uomini devoti.
Voglio una immagine viva
Di Gesù Uomo, soffrente,
Che il cuore e la mente
Di chi lo guardi, s’illumini.
Che ci vadano a toglierlo
Dalla croce e del tormento,
E chi contempli il suo volto
Non resti a vederlo morto,
Né con occhi di uno artista
Solo contempli l’oggetto,
E si esprima ammirato:
“Che bello, il torturato!”
Mi
perdoni se gli dico,
Spiega
l’uomo artigiano,
Qui non
starebbe sicura
L’immagine
del Nazareno!
Vai
cercarlo per le strade
Tra la
gente senza tetto
Negli
ospizi e ospedali
Dove
c’è gente morenti.
Là nei
centri d’accoglienza
Dove
abbandonano i vecchi,
Tra i bambini
affamati
Tra le
donne maltrattate
E
persone senza impiego.
Però
l’immagine di Cristo
Non la
cerchi nei musei
Né la
ricerchi in statue
Negli
altari e nei templi.
Né
segua in processione
I passi
del Nazareno.
Non Lo
troverai di legno
Di
bronzo, pietra o gesso.
Meglio
è cercarlo trai poveri
Suo viso
in carne ed osso!
---------------------------------------------
Fonte das informações: https://es.wikipedia.org/wiki/gabriela_mistral#mw-head
Principais prêmios recebidos:
1947: Doctor Honoris Causa por el Mills College of Oakland (California)
1950: Premio Serra de las Américas
Entre los muitos doutorados honoris causa que recebeu, destacam-se os da Universidad Nacional de Guatemala, de California em Los Ángeles y de Florença, além do que lhe foi outorgado pela Universidad de Chile, em 1953 .
Crédito das imagens:
1. "La ciudad de Santiago a Gabriela Mistral" - mural de Fernando Daza,
em cerâmica - 1971.
2. Gabriela Mistral - www.folha.uol.com.br.jpg
3. Imagem de Cristo crucificado - www.pinterest.com
4. Moisés de Michelangelo - Igreja de San Pietro in Vincola (Roma).
5. A San Damiano - www.a.muse.arte.jpg
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas, e deseja que seja retirada desta publicação, por favor entre em contato conosco fazendo um comentário nesta postagem.
Nenhum comentário :
Deixe seu comentário: