O famoso compositor
italiano, Ennio Morricone, morreu hoje,
(6/07/2020) em Roma, aos 91 anos. Foi um dos músicos mais admirados e premiados
do mundo do cinema. Ele estava internado numa clínica de Roma por causa de uma queda. De acordo com o portal vatican.news, o maestro “conservou até o fim plena lucidez e grande dignidade. Saudou sua amada esposa Maria, que o acompanhou com dedicação em cada momento de sua vida humana e profissional, e esteve com ele até o último suspiro. O funeral se realizará de forma particular “com respeito ao sentimento de humildade que sempre inspirou os atos de sua existência”.
A notícia fez palpitar o meu coração cansado deste retiro doméstico voluntário, para me
proteger do Covid-19. A memória me levou a tempos atrás, quando vivenciei um momento comovente em Veneza. Estava saindo do Palácio
Ducale, quando ouvi um mágico som musical, como se eu tivesse diante de uma grande
orquestra, num imenso teatro. Curiosos, eu e meus amigos fomos seguindo aquela sonoridade, até chegar à grande Praça São Marcos.
Notamos que dezenas de operário
trabalhavam, montando a estrutura de uma plateia de costas para a catedral São
Marcos. Pedi informações, e soube que nada menos do que o premiado compositor Ennio Morriconi se apresentaria naquela
noite, para os felizes italianos e turistas que, em tempo, haviam comprado
ingressos para o evento. Soube ainda que, mesmo se pudéssemos comprar tais
ingressos, não havia mais nenhum para vender.
O barulho da
montagem misturava-se ao som que perseguíamos. A grande surpresa foi quando descobrimos que,
naquele momento, havia uma orquestra, sim, lá no fundo, do lado oposto à
catedral. Era a orquestra que ia tocar na grande noite de gala. Estavam
fazendo o último ensaio, ao aberto. Adiantei meus passos e me dei conta que, lá no fundo, estavam não só os
músicos que tocariam à noite, mas o próprio compositor, que entregava aos nossos
ouvidos passantes as músicas que ele apresentaria no teatro que se estava montando.
Eu e meus amigos nos adentramos, o máximo que pudemos, pois outros turistas já haviam descoberto o tesouro,
antes de nós. Largamos o roteiro veneziano daquela tarde para ficar ali, com os
outros, de pé, em profundo silêncio, vendo e ouvindo, gratuitamente, as músicas
dos belos filmes para os quais o gênio Morriconi fazia as trilhas sonoras.

Há uma entrevista, publicada
pelo jornal italiano Avvenire, em 10/06/2015, em que Ennio Morriconi fala da sua decisão
de compor a missa para o Papa Francisco. Vejam um trecho:
“A minha
esposa, Maria, com quem estou casado desde 1956, sempre me pediu
para escrever uma missa. Mas eu nunca fiz. Então, uma manhã, saindo de casa, eu
encontrei o padre Daniele Libanori [i] reitor da igreja
do Gesù, que está a dois passos da minha casa, em Roma, e
que muitas vezes eu frequento. O jesuíta me pediu para escrever uma partitura
para celebrar os 200 anos da reconstituição da Companhia de Jesus.
Era 2012. Eu tomei um pouco de tempo para pensar. Enquanto isso, foi eleito
o Papa Francisco, o primeiro pontífice jesuíta. Eu disse que sim e
pensei em dedicá-la a ele. E também a minha esposa Maria. Assim
nasceu a Missa Papae Francisci. Anno
duecentesimo a Societate Restituta – ou seja, uma missa
em honra do Papa Francisco por ocasião dos 200 anos da Restauração da Companhia de Jesus,
que adquire um valor ainda maior para mim, que sempre fui uma pessoa religiosa,
crescido em uma família católica e com essa característica de que sempre marcou
a minha vida”.

"Olhamo-nos por um longo tempo, em silêncio. O papa me olhava, esperava
que eu lhe contasse sobre a minha missa. Eu lhe mostrei a primeira página da
partitura onde as notas desenham uma cruz: uma linha confiada a tubas e
trompetes formam o braço vertical da cruz; nessa linha, em certo ponto,
insere-se toda a orquestra, que desenha o outro braço. O Papa Francisco logo
me conquistou, porque soube caracterizar o seu ministério dando uma virada na
Igreja, tentando corrigir as distorções encontradas”.
A missa, com
imagens significativas da Igreja 'del Gesù' pode ser vista em: www.rai.it/dl/raitv/programmi/media.
Fonte
das informações:
[i] Daniele
Libanori é,
atualmente, bispo auxiliar de Roma.
Crédito das imagens:
1. Ennio Moricone - vatican.news.cq5dam.tubna.il.cropped.1000.563.jpg
2. Composição de imagens - Portal CBN.Campinas.
3. Morriconi 90 - www.radiomusica.com.br.jpg
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