Dada a importância do conteúdo da homilia de Papa Francisco, por ocasião da celebração de Pentecostes, transmitida da Catedral de São Pedro - no domingo 31/05/2020 - reproduzimos aqui o texto na sua íntegra, divulgado pelo Vaticano.
Introduzimos o seu discurso com trechos de uma fala de Papa Francisco por ocasião da celebração anual de oração pela evangelização, que reuniu expoentes de diferentes Igrejas Cristãs de todo o mundo. Este ano a celebração foi realizada online, devido a pandemia do Covid-19.(*)
Introduzimos o seu discurso com trechos de uma fala de Papa Francisco por ocasião da celebração anual de oração pela evangelização, que reuniu expoentes de diferentes Igrejas Cristãs de todo o mundo. Este ano a celebração foi realizada online, devido a pandemia do Covid-19.(*)
Participaram da cerimônia Papa Francisco; Justin
Welby, arcebispo de
Canterbury Cantuária, em Londres; o arcebispo de York, Dr. John Sentamu;
o arcebispo Angaelos, da Igreja Copta Ortodoxa de Londres; o pastor Agu Irukwu, presidente pentecostal da Churches Together, na Inglaterra; Heidi Crowter, defensora das pessoas com síndrome de Down e Thelma Commey, presidente da Juventude Metodista.
Welby, arcebispo de
Canterbury Cantuária, em Londres; o arcebispo de York, Dr. John Sentamu;
o arcebispo Angaelos, da Igreja Copta Ortodoxa de Londres; o pastor Agu Irukwu, presidente pentecostal da Churches Together, na Inglaterra; Heidi Crowter, defensora das pessoas com síndrome de Down e Thelma Commey, presidente da Juventude Metodista.
Na ocasião, Papa Francisco convidou a todos os seguidores de Cristo, a serem “mais profundamente unidos como testemunhas da misericórdia para a família humana tão severamente provada nestes dias” e a “pedir ao Espírito o dom da unidade, pois somente se vivermos como irmãos e irmãs poderemos espalhar o espírito da fraternidade”. E exorta todos os cristãos a buscarem um novo derramamento do Espírito Santo, a fim de serem portadores do amor, da luz e da esperança de Cristo, em um mundo “que está experimentando uma trágica fome de esperança”, mas também a exigirem o afastamento da “busca egoísta de sucesso sem cuidar dos que são deixados para trás” e a estarem unidos para enfrentar as “pandemias do vírus e da fome, da guerra, do desprezo pela vida e da indiferença aos outros”.
“O nosso
mundo está experimentando uma trágica fome de esperança. Quanta dor está à
nossa volta, quanto vazio, quanto sofrimento inconsolável. Tornemo-nos, então,
mensageiros do conforto concedido pelo Espírito. Irradiemos esperança, e o
Senhor abrirá novos caminhos enquanto avançamos para o futuro.”
Acesse o
vídeo do evento ecumênico: https://youtu.be/ncN_RJM7pqA
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HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
«Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo»: assim escreve Paulo aos Coríntios. E continua: «Há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; e há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos» (1 Cor 12, 4-6). Diversidade e o mesmo, diversos e um só: o Apóstolo insiste em juntar duas palavras que parecem opostas. Quer-nos dizer que este um só que junta os diversos é o Espírito Santo. E a Igreja nasceu assim: diversos, unidos pelo Espírito Santo.
Recuemos
até aos inícios da Igreja, no dia de Pentecostes, e fixemos os Apóstolos: entre
eles, temos pessoas simples, habituadas a viver do trabalho das suas mãos, como
os pescadores, e está Mateus, certamente dotado de instrução pois fora cobrador
de impostos. Existem origens e contextos sociais diversos, nomes hebraicos e
nomes gregos, temperamentos pacatos e outros ardorosos, ideias e sensibilidades
diferentes.
Eram todos diferentes. Jesus não os mudara, nem os uniformizara,
tornando-os modelos em série. Não. Deixara as suas diversidades; e agora
une-os, ungindo-os com o Espírito Santo. A união – a união
deles que eram diversos – vem com a unção. No Pentecostes, os
Apóstolos compreendem a força unificadora do Espírito. Veem-na com os próprios
olhos, ao constatar que todos, apesar de falar línguas diversas, formam um só
povo: o povo de Deus, plasmado pelo Espírito, que tece a unidade com as nossas
diferenças, que dá harmonia porque, no Espírito, há harmonia. Ele é a
harmonia.
Mas
voltemos à Igreja de hoje. Podemos interrogar-nos: «O que é que nos une, em que
se baseia a nossa unidade?» Também entre nós existem diversidades, por exemplo
de opinião, preferência, sensibilidade. A tentação, porém, é defender sempre de
espada desembainhada as nossas ideias, considerando-as boas para todos e
pactuando apenas com quem pensa como nós. E esta é uma tentação ruim, que
divide.
Mas, esta é uma fé à nossa imagem, não é aquilo que deseja o Espírito.
Nesse caso, poder-se-ia pensar que aquilo que nos une fossem as próprias coisas
em que acreditamos e os próprios comportamentos que adotamos. Mas não! Há muito
mais: o nosso princípio de unidade é o Espírito Santo. E a primeira coisa que
Ele nos lembra é que somos filhos amados de Deus; nisto, todos
iguais e, todavia, somos todos diferentes. O Espírito vem a nós, com todas as
nossas diversidades e misérias, para nos dizer que temos um só e mesmo Senhor,
Jesus, um só e mesmo Pai; por isso, somos irmãos e irmãs.
Partamos daqui!
Olhemos a Igreja como faz o Espírito, não como faz o mundo. O mundo vê-nos de
direita e de esquerda, com esta ideologia, com aquela; o Espírito vê-nos do Pai
e de Jesus. O mundo vê conservadores e progressistas; o Espírito vê filhos de
Deus. O olhar do mundo vê estruturas, que se devem tornar mais eficientes; o
olhar espiritual vê irmãos e irmãs implorando misericórdia. O Espírito ama-nos
e conhece o lugar de cada um no todo: para Ele não somos papelinhos coloridos
levados pelo vento, mas ladrilhos insubstituíveis do seu mosaico.
Tornamos ao
dia de Pentecostes e descobrimos a primeira obra da Igreja: o anúncio.
Vemos, porém, que os Apóstolos não preparam uma estratégia; quando estavam
fechados lá, no Cenáculo, não montavam a estratégia, não; não preparavam um
plano pastoral. Teriam podido dividir as pessoas por grupos segundo os vários
povos, falar primeiro aos de perto e depois aos que eram de longe, tudo bem
ordenado...
Teriam podido temporizar um pouco no anúncio e, entretanto,
aprofundar os ensinamentos de Jesus, para evitar riscos... Mas não! O Espírito
não quer que a recordação do Mestre seja cultivada em grupos fechados, em
cenáculos onde tendemos a «fazer o ninho». E esta é uma doença má que pode vir
à Igreja: uma Igreja não comunidade, nem família, nem mãe, mas ninho. O
Espírito abre, relança, impele para além do que já foi dito e feito, Ele impele
para além dos recintos duma fé tímida e cautelosa. No mundo, sem uma estrutura
compacta e uma estratégia calculada é um fracasso. Na Igreja, ao contrário, o
Espírito assegura ao arauto a unidade. E os Apóstolos partem: sem preparação,
lançam-se, saem. Anima-os um único desejo: dar o que receberam.
Como é belo aquele princípio da Primeira Carta de João: aquilo que nós
recebemos e vimos, damo-lo a vós! (cf. 1, 3)
Finalmente
chegamos a compreender qual é o segredo da unidade, o segredo do Espírito. O
segredo da unidade da Igreja, o segredo do Espírito é o dom. Porque
Ele é dom, vive doando-Se e, assim, nos mantém unidos, fazendo-nos
participantes do mesmo dom. É importante acreditar que Deus é dom, que não se
comporta tomando, mas dando. E por que é importante? Porque o nosso modo de ser
crentes depende de como entendermos Deus. Se tivermos em mente um Deus que
toma, que Se impõe, desejaremos também nós tomar e impor-nos: ocupar espaços,
reivindicar importância, procurar poder. Mas, se tivermos no coração que Deus é
dom, muda tudo.
Se nos dermos conta de que aquilo que somos é dom d’Ele, dom
gratuito e imerecido, então também nós quereremos fazer da própria vida um dom.
E amando humildemente, servindo gratuitamente e com alegria, ofereceremos ao
mundo a verdadeira imagem de Deus. O Espírito, memória viva da Igreja,
lembra-nos que nascemos de um dom e crescemos doando-nos; não poupando-nos, mas
dando-nos.
Queridos
irmãos e irmãs, olhemos no íntimo de nós mesmos e perguntemo-nos o que é que
impede de nos darmos. Há – por assim dizer – três inimigos do dom; os
principais são três, sempre deitados à porta do coração: o narcisismo, a
vitimização e o pessimismo.
O narcisismo leva a idolatrar-me a
mim mesmo, a comprazer-me apenas com o lucro próprio. O narcisista pensa: «A
vida é boa, se eu ganho com ela». E assim chega a dizer: «Por que deveria eu
doar-me aos outros?» Nesta pandemia, faz um mal imenso o narcisismo, o
debruçar-se apenas sobre as próprias carências, insensível às dos outros, o não
admitir as próprias fragilidades e erros.
Mas o segundo inimigo, a vitimização,
também é perigoso. A vítima lamenta-se todos os dias do seu próximo: «Ninguém
me compreende, ninguém me ajuda, ninguém me quer bem, estão todos contra mim!»
Quantas vezes ouvimos estas lamentações! E o seu coração fecha-se, enquanto se
interroga: «Por que não se doam a mim os outros?» No drama que vivemos,
como é má a vitimização! Como é mau pensar que ninguém nos compreende e sente
aquilo que sentimos nós! Isto é o fazer a vítima.
Por fim, temos o
pessimismo. Neste caso, a ladainha diária é: «Nada vai bem, a sociedade, a
política, a Igreja...» O pessimista insurge-se contra o mundo, mas fica inerte
e pensa: «Assim para que serve doar-se? É inútil». Agora, no grande
esforço de recomeçar, como é prejudicial o pessimismo, ver tudo negro, repetir
que nada voltará a ser como antes! Pensando assim, aquilo que seguramente não
volta é a esperança. Nestes três – o ídolo narcisista do espelho, o
deus-espelho; o deus-lamentação: «sinto-me alguém nas lamentações»; e o
deus-negatividade: «é tudo negro, é tudo escuro» – encontramo-nos na carestia
da esperança e precisamos de apreciar o dom da vida, o dom que é cada
um de nós. Por isso, necessitamos do Espírito Santo, dom de Deus que nos cura
do narcisismo, da vitimização e do pessimismo; cura do espelho, das lamentações
e da escuridão.
Irmãos e
irmãs, peçamos: Espírito Santo, memória de Deus, reavivai em nós a lembrança
do dom recebido. Libertai-nos das paralisias do egoísmo e acendei em nós o
desejo de servir, de fazer bem. Porque pior do que esta crise, só o drama de a
desperdiçar fechando-nos em nós mesmos. Vinde, Espírito Santo! Vós que sois
harmonia, tornai-nos construtores de unidade; Vós que sempre Vos doais, dai-nos
a coragem de sair de nós mesmos, de nos amar e ajudar, para nos tornarmos uma
única família. Amém!
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* Fonte das informações
sobre o evento midiático de 29/05/2020:
http://www.ihu.unisinos.br/599607-papa-e-primaz-anglicano-pedem-um-derramamento-do-espirito-santo - Tradução do professor Moisés Sbardelotto.
Moisés Sbardelotto é jornalista, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, mestre e doutor
em Ciências da Comunicação pela Universidade
do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, com estágio doutoral (bolsa PDSE/Capes) na Università
di Roma "La Sapienza", Itália.
Homilia do Papa – Domingo
de Pentecostes – 31/05/2020
Crédito das imagens:
1. Detalhe do altar central da Basílica de São Pedro - divulgação
2. Heidi Crowter - liveaction.org.jpg
3. Papa Francisco - Foto de Daniel Ibanez - aciprensa - 04.06.2019.
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus
autores. Se alguém possui os direitos de uma delas, e deseja que seja retirada
desta publicação, por favor entre em contato conosco fazendo um comentário
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