Anotem. Para os amantes da sétima arte e, especialmente, do Papa Francisco, a Netflix estará disponibilizando um delicioso filme, assinado por Fernando Meirelles, a partir do dia 20 deste mês de dezembro. Anthony Hopkins faz o papel de Papa Francisco e Jonathan Pryce é o Papa Bento XVI no filme. A revista Carta Maior nos presenteou com a excelente crítica do jornalista, escritor, pesquisador e crítico de cinema, Carlos Alberto Mattos, na sessão de Arte/Cinema. Divirtam-se!
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Com
as bênçãos de dois grandes atores, o diretor paulista fez seu melhor filme
desde 'Cidade de Deus'
Por Carlos
Alberto Mattos
Carta Maior
Dois Papas (The Two Popes) tinha tudo para
ser um “bifão” de teatro filmado, já que a peça original do neozelandês Anthony
McCarten se vale apenas dos diálogos imaginados entre Bento XVI e o futuro Papa
Francisco. Mas eis que, para surpresa geral, o filme de Fernando Meirelles
resulta numa obra dinâmica e cativante do começo ao fim. Estreia na Netflix em
dezembro.
McCarten (autor dos roteiros de A
Teoria de Tudo sobre Stephen Hawkings, O Destino de uma Nação sobre
Winston Churchill e Bohemian Rhapsody sobre Fred Mercury)
também escreveu o romance The Pope sobre a mais insólita
sucessão papal dos tempos modernos. O roteiro de Dois Papas bebeu
igualmente dessa fonte, como dá a entender o primeiro ato sobre a eleição de
Joseph Ratzinger, em 2005. Existem muitos filmes sobre papas, mas não me lembro
de já ter visto os cardeais atuando como políticos daquela maneira. A batalha
de egos e a divisão entre conservadores e reformistas se desenham entre finas
observações visuais sobre a ritualística do escrutínio papal.
Sete anos depois, Jorge Bergoglio está pedindo
aposentadoria do cardinalato. Bento XVI o convoca ao Vaticano para dissuadi-lo.
Inicia-se, então, o debate entre as respectivas visões da Igreja. O ortodoxo
Ratzinger não concorda com as posições avançadas de Bergoglio sobre política,
diversidade sexual e preferências musicais. Assobiar Dancing
Queen do ABBA no mictório da sede papal não lhe parece adequado para
alguém que já concorreu ao trono máximo do Catolicismo.
As divergências entre os dois preenchem longos
e divertidos diálogos, interpretados com sutilezas primorosas por Anthony
Hopkins e Jonathan Price – este praticamente um sósia de Bergoglio. O argentino
é a estrela de fato, pois o filme se ocupa de relatar seu passado, quando
trocou a namorada pela carreira jesuítica. Abandonou o amor terreno, mas não a
paixão pelo tango, o futebol e o vinho.
O equilíbrio entre os dois personagens se estabelece sem maniqueísmo. Ratzinger é mostrado como um homem vaidoso (“Na música eu não seria infalível”), alienado do mundo real e cúmplice de abusos sexuais no clero. Ainda assim, é humanizado pelo reconhecimento de suas dúvidas e fragilidades, de sua solidão e até, num momento de descontração na residência de verão em Castelgandolfo, por tocar música de cabaré ao piano. O Bento do filme, aliás, não dissimula uma certa inveja da popularidade de Bergoglio. Este, por sua vez, tem desvendada em flashbacks sua omissão durante a ditadura argentina e sua proximidade com a cúpula militar. No auge da perseguição à esquerda, pretendendo proteger o seu “rebanho”, o jovem Bergoglio (Juan Minujín) deixou os combatentes colegas jesuítas à mercê da repressão.
O equilíbrio entre os dois personagens se estabelece sem maniqueísmo. Ratzinger é mostrado como um homem vaidoso (“Na música eu não seria infalível”), alienado do mundo real e cúmplice de abusos sexuais no clero. Ainda assim, é humanizado pelo reconhecimento de suas dúvidas e fragilidades, de sua solidão e até, num momento de descontração na residência de verão em Castelgandolfo, por tocar música de cabaré ao piano. O Bento do filme, aliás, não dissimula uma certa inveja da popularidade de Bergoglio. Este, por sua vez, tem desvendada em flashbacks sua omissão durante a ditadura argentina e sua proximidade com a cúpula militar. No auge da perseguição à esquerda, pretendendo proteger o seu “rebanho”, o jovem Bergoglio (Juan Minujín) deixou os combatentes colegas jesuítas à mercê da repressão.
A ideia de mudança, a princípio repudiada pelo
bávaro Ratzinger e celebrada desde muito pelo portenho Bergoglio, é o mote
dramatúrgico predominante em DOIS PAPAS. Mesmo que seja a mudança como
penitência, aquilo que levou o cardeal argentino a dedicar-se às favelas,
misturar-se com o povo e rejeitar o fausto da Cúria Romana. A cena em que
Ratzinger pede para confessar-se com Bergoglio representa o clímax de todo um
processo entre os dois e abre as portas para a grande mudança que viria com
Francisco. O teor ficcional, assumido claramente no texto de McCarten, não
prejudica o sentido real que aquela sucessão, afinal, assumiu.
Além do texto e das interpretações, há muito
mais para se deliciar com o filme. A trilha sonora, por exemplo, parece emergir
do imaginário musical de Bergoglio, com Beatles, pílulas de jazz e, por supuesto, tango e bolero. A direção de arte tem papel de destaque na
reprodução da Capela Sistina e outros recintos papais, assim como na ênfase
colocada em vestes e objetos. A fotografia de César Charlone realça a
suntuosidade do Vaticano e o aspecto sombrio dos flashbacks. A montagem de Fernando Stutz imprime dinamismo às
sequências mais sóbrias e maneja com propriedade os tempos da narrativa. Quanto
à direção de Fernando Meirelles, orquestrando todos esses elementos com
precisão, basta dizer que, a meu ver, é o seu melhor trabalho desde Cidade de Deus.
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Fonte do texto:
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cinema/Fumaca-branca-para-Fernando-Meirelles/59/45710
Ver: Trailer Filmes Now HD em: https://youtu.be/CZKhh9L24e0
Crédito das Imagens: inseridas no artigo aqui reproduzido.
Para conhecer melhor o autor desta matéria,
veja O Blog do autor em:
https://carmattos.com/about/
Nota: Le immagini appartengono ai suoi rispettivi autori. Se qualcuno non vuole la sua riproduzione la preghiamo di contattarci utilizzando un commento su questo sito.
Datado de: 4/06/2019
Crédito das Imagens: inseridas no artigo aqui reproduzido.
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