A celebração do aniversário do Menino de Belém, e do Novo Ano que se aproxima, nos convida a refletir sobre uma realidade semelhante aos tempos de Herodes, que - por razões de avidez, desatino e poder - promoveu a caça e a morte de todos os recém-nascidos.
Voltamos a publicar um artigo do teólogo e escritor Leonardo Boff - publicado neste espaço em 2016. O autor nos mostra qual a aproximação das políticas de então - nos tempos do Brasil de 2016 - e do momento atual, neste dezembro de 2018 pós-eleições. Segue o texto.
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O Natal é celebrado, geralmente, como a festa da confraternização das famílias. Para os cristãos é a
celebração da divina criança que veio para assumir nossa humanidade e fazê-la
melhor.
No contexto atual, porém, em seu lugar assomou a
figura do terrível Herodes, o Grande (73a.C - 4-a.C) ligado à matança de
inocentes. Zeloso por seu poder, um dia ouviu que nascera em seu reino, a
Judéia, um menino-rei.
Foi quando Herodes ordenou a degolação de todos os meninos abaixo de dois anos (Mt 2,16). Ouviu-se, então, uma das palavras mais dolentes de toda Bíblia: ”Em Ramá se ouviu uma voz, muito choro e gemido: é Raquel que chora os filhos e não quer ser consolada, porque eles já não existem” (Mt 2,18).
Foi quando Herodes ordenou a degolação de todos os meninos abaixo de dois anos (Mt 2,16). Ouviu-se, então, uma das palavras mais dolentes de toda Bíblia: ”Em Ramá se ouviu uma voz, muito choro e gemido: é Raquel que chora os filhos e não quer ser consolada, porque eles já não existem” (Mt 2,18).
Essa história do assassinato de inocentes continua
de outra forma. As políticas ultracapitalistas que nos têm sido impostas, - tirando direitos, diminuindo salários, cortando benefícios sociais básicos de saúde, educação, segurança, aposentadorias e possibilidades de desenvolvimento - têm como consequência uma perversa e lenta
matança de inocentes da grande maioria pobre de nosso país.
Aos legisladores não são desconhecidas as
consequências letais derivadas da decisão de considerar mais importante o mercado
que as pessoas.
Dentro de poucos anos, teremos uma classe de super-ricos. Neste ano (2016), são 71.440 segundo IPEA, portanto, 0,05% da população, uma classe media
amedrontada pelo risco de perder seu status, e milhões de pobres e párias que
da pobreza passaram para a miséria.
As elites do dinheiro e do privilégio conseguiram
voltar. Apoiados por parlamentares corruptos, de costas ao povo e moucos ao clamor
das ruas, e por uma coligação de forças que envolve juízes justiceiros, o
Ministério Público, a Polícia Militar e parte do Judiciário e da mídia
corporativa, reacionária e golpista - não sem o respaldo da potência imperial
interessada em nossas riquezas - forjaram a demissão da Presidenta Rousseff. O
real motor do golpe é o capital financeiro, os bancos e os rentistas (não
afetados pelas políticas dos ajustes fiscais).
Com razão denuncia o cientista politico Jessé
Souza: “O Brasil é palco de uma disputa entre dois projetos: o sonho de um país
grande e pujante para a maioria; e a realidade de uma elite da
rapina que quer drenar o trabalho de todos e saquear as riquezas do país para o
bolso de meia dúzia. A elite do dinheiro manda pelo simples fato de
poder “comprar” todas as outras elites” (FSP 16/4/2016).
A tristeza é constatar que todo esse processo de espoliação
é consequência da velha política de conciliação dos donos do dinheiro entre si
e com os governos, que vem desde o tempo da Colônia e da Independência.
Lula-Dilma não conseguiram ou não souberam superar a arte finória desta minoria
dominante que, a pretexto da governabilidade, busca a conciliação entre si e
com os governantes, concedendo alguns benefícios ao povo, a preço de manter
intocada a natureza de seu processo de acumulação de riqueza em altíssimos
níveis.
O historiador José Honório Rodrigues - que estudou
a fundo a conciliação de classe sempre de costas ao povo – afirma, com razão: ”a
liderança nacional, em suas sucessivas gerações, foi sempre antirreformista,
elitista e personalista… A arte de furtar é nobre e antiga, praticada por essas
minorias e não pelo povo. O povo não rouba, é roubado… O povo é cordial, a
oligarquia é cruel e sem piedade…; o grande sucesso da história do Brasil é o
seu povo, e grande decepção é a sua liderança”(Conciliação e Reforma no
Brasil, 1965, pp. 114;119).
Estamos vivendo a repetição desta maléfica tradição, da qual jamais nos liberaremos sem o fortalecimento de um anti-poder, vindo do andar de baixo, capaz de derrubar esta clique perversa, e instaurar outro tipo de Estado com outro tipo de política republicana, onde o bem comum se sobrepõe ao bem particular e corporativo.
Estamos vivendo a repetição desta maléfica tradição, da qual jamais nos liberaremos sem o fortalecimento de um anti-poder, vindo do andar de baixo, capaz de derrubar esta clique perversa, e instaurar outro tipo de Estado com outro tipo de política republicana, onde o bem comum se sobrepõe ao bem particular e corporativo.
O Natal deste ano é um Natal sob o signo de Herodes. Não obstante, cremos que a divina criança é o Messias libertador, e a estrela é generosa para nos mostrar melhores caminhos.
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Crédito das Imagens:
1. Maternidade - Iconografia de Keitw Mallet - Postada na linha de tempo de Paulo Suess - dezembro, 2015
2. Detalhe Matança dos Inocentes - In: www.fazendoartedmc.blogspot.com.br/2014
3. Brincando de roda - www.mapadebrincar.com.br
4. Menino de Rua - www.diariodonordeste.verdesmares.com.br
5. Adoração dos Pastores - Guido Reni: The Adoration of the Shepheurds
in: www.pintings.art.pichare.com
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma dessas imagens e deseja que ela seja removida deste espaço, por favor faça um comentário neste espaço.
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