Nos dias 30 de agosto a 2 de setembro de 2018 - em San Salvador, terra de mártires, como o inesquecível Dom Arnulfo Romero – realizou-se o III Encontro Continental de Teologia Latino-americana e Caribenha, para
comemorar os 50 anos do Encontro de Medellin, em 1968.
Bispos, leigos e leigas, missionárias e missionários, teólogas e teólogos da América Latina, do Caribe e de outros países, subscreveram um documento em que assumem um novo compromisso de vida e libertação dos pobres - a ser
alimentado por um empenho de testemunho pessoal e de comunhão efetiva, entre aqueles que se envolvem nesse grande projeto das
Igrejas e comunidades cristãs signatárias.
O debate foi organizado e sediado na Universidade Centro-americana José Simeón Cañas (UCA), na
capital salvadorenha. Seu tema central foi assim resumido:
“Os clamores dos pobres e da Terra nos interpelam.
50 anos da Conferência de Medellín”
De acordo com a organização, o
objetivo principal é o de “assumir e comprometer-se com os clamores dos pobres e
da Terra, à luz do patrimônio teológico pastoral da Segunda Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano, realizada em Medellín, na Colômbia, em 1968”.
O bispo de Santo André (SP) dom Pedro Carlos Cipollini, presidente da Comissão Episcopal Pastoral da CNBB, para Doutrina da Fé, diz que este
tema é de extrema importância e ressalta que a pobreza no mundo não diminuiu
com o aumento das riquezas que hoje é algo extraordinário.
“Deveria ter
diminuído a miséria, mas ela cresceu porque, com o aumento das riquezas,
cresceu o egoísmo e um mundo que precisa de Deus. Antes se adorava o bezerro de
ouro, mas hoje se adora o ouro do bezerro enquanto os pobres morrem à porta dos
ricos”, destaca dom Cipollini.
O bispo de Santo André (SP), ressalta que o trabalho pastoral desenvolvido pela Igreja na América Latina, a partir de Medellín, foi um momento luminoso da Igreja no Continente mergulhado nas ditaduras militares.
Segundo dom Cipollini, "o Evangelho apareceu com mais força, as comunidades eclesiais descobriram a vida fraterna que brota do Evangelho e o poder da solidariedade. A Conferência de Medellín deixou um legado muito importante e original. Ela se reuniu para aplicar o Vaticano II na América Latina. Para o bispo, Medellín vai identificar que o homem concreto na América Latina é o pobre ou melhor o empobrecido. Isto vai ser como um estalo que iluminará a ação da Igreja latino-americana de forma original."
"Isto está em curso com novos desdobramentos" - afirmou dom Cipollini, em matéria divulgada pela CNBB - "Porém houve muito discurso inútil, muitos aproveitadores e pessoas que se puseram a praticar Medellín sem a conversão do coração. Sem coração convertido à pessoa de Jesus e seu modo de ser, não há nada na Igreja que possa prosperar. E esta conversão deve ser constante”.
“Medellín vai avante na pergunta sobre o pobre: quem é o grande pobre mergulhado na “kénose” total? É Jesus. Logo ver o pobre é ver Jesus e se a Igreja deve ser parecida com Jesus ela deve ser pobre como o foi Jesus”. E finaliza: “Este legado marca e marcará a Igreja Latino-americana para sempre como os primeiros concílios marcaram a Igreja”.
Segundo dom Cipollini, "o Evangelho apareceu com mais força, as comunidades eclesiais descobriram a vida fraterna que brota do Evangelho e o poder da solidariedade. A Conferência de Medellín deixou um legado muito importante e original. Ela se reuniu para aplicar o Vaticano II na América Latina. Para o bispo, Medellín vai identificar que o homem concreto na América Latina é o pobre ou melhor o empobrecido. Isto vai ser como um estalo que iluminará a ação da Igreja latino-americana de forma original."
"Isto está em curso com novos desdobramentos" - afirmou dom Cipollini, em matéria divulgada pela CNBB - "Porém houve muito discurso inútil, muitos aproveitadores e pessoas que se puseram a praticar Medellín sem a conversão do coração. Sem coração convertido à pessoa de Jesus e seu modo de ser, não há nada na Igreja que possa prosperar. E esta conversão deve ser constante”.
“Medellín vai avante na pergunta sobre o pobre: quem é o grande pobre mergulhado na “kénose” total? É Jesus. Logo ver o pobre é ver Jesus e se a Igreja deve ser parecida com Jesus ela deve ser pobre como o foi Jesus”. E finaliza: “Este legado marca e marcará a Igreja Latino-americana para sempre como os primeiros concílios marcaram a Igreja”.
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Reproduzimos, abaixo, um excelente resumo informativo do evento, publicado hoje no blog do escritor e teólogo Leonardo Boff.
III Congresso Continental de Teologia
Latino-americana e caribenha: “O clamor dos pobres e da Terra nos interpelam.”
Por: Leonardo Boff
Entre 30 de agosto a 2 de setembro
celebrou-se, em El Salvador - terra de mártires, especialmente de Dom Arnulfo
Romero - o III Encontro Continental de Teologia LatIno-americana e caribenha, por
ocasião dos 50 anos de Medellin (1968), reunião dos bispos latino-americanos e
caribenhos que selaram a grande virada da Igreja na direção dos pobres e de sua
libertação.
Foi o batismo da Igreja nesta nova
fase da história. Acorreram mais e 600 pessoas de todo o Continente e do
estrangeiro, o que demonstra o interesse geral por esse evento e suas
consequências posteriores. Damos, aqui, parte do relatório final que nos oferece
um belo resumo do evento, promovido pela Rede Ameríndia na Universidade UCA de
San Salvador:
1. Marcaram aqui, sua presença, jovens
teólogos e teólogas (da Igreja Católica), assim como alguns irmãos e irmãs de Igrejas Evangélicas e Pentecostais.
2. Nesses dias, vivemos uma
experiência, marcada pela convivência alegre e afetuosa, que se expressou em
belas celebrações, diálogos em grupo, conferências, teatro, música, danças e
peregrinação aos lugares sagrados do martírio de Monsenhor Romero e de outros
mártires.
Nossas Igrejas começaram a mudar o seu olhar – de uma perspectiva que
antes era centrado em si mesma – para o olhar de uma Igreja para fora, ou como
agora diz o papa Francisco: “em saída”. Medellín lhes deu a missão de ser “uma
Igreja pobre, missionária e pascal, a serviço da libertação de toda a
humanidade e de cada ser humano em todas as suas dimensões.” (Medellín 5, 15).
3. Nesses dias, reaprendemos a ler a
nossa fé e a vivê-la a partir dos princípios que nos ensinaram Dom Oscar
Romero, o padre assassinado, Ellacuría, e tantos outros irmãos e irmãs que se
fizeram nossos mestres e mestras, no seguimento de Jesus. Eles e elas nos
revelam que temos de viver a fé dando atenção e importância à realidade
social, política e cultural, olhada a partira causa dos empobrecidos.
4 – Em Medellín, a Igreja se inseriu
nos processos de transformação social e política, vigentes no continente. Não
descansaremos enquanto não possarmos a viver uma economia a serviço do bem comum e
do cuidado com a Terra, a Água e toda a natureza à qual pertencemos como
filhos e filhas.
5 – Em todo o continente, continua
nos interpelando o que Medellín chamou de “violência institucionalizada”. Até
hoje, a sociedade dominante não respeita nem valoriza as comunidades indígenas
de diversas etnias e suas culturas ancestrais.
6 – Unimo-nos à lutas das mulheres
que, em todos os países, são vítimas de diversos tipos de violência. Nesses 50
anos, reconhecemos a contribuição das teologias negras, as dos povos
originários e, de maneira especial, a proposta feita pela teologia feminista de
pensar uma Igreja de fato fundamentada no discipulado de iguais. Assumimos a
causa das vítimas de abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes, e
contra mulheres e os irmãos e irmãs LGBT. É urgente mudar a estrutura patriarcal
e clerical de nossas Igrejas.
7 – Sabemos dos massacres de jovens,
especialmente os pobres e, em alguns países, em sua maioria negros, vítimas da
deterioração das condições de vida e da violência urbana. Alguns de nossos
teólogos e teólogas jovens estão acompanhando de forma criativa essas lutas.
8 – As conquistas de novos processos
sociais e políticos pertencem ao povo e merecem ser defendidas a partir das
bases.
9 – Denunciamos a responsabilidade do
império norte-americano, que prossegue com sua política de desestabilização de
governos que não se dobrem a suas exigências colonialistas. Seguiremos lutando
contra as políticas xenófobas, racistas e desumanas do atual presidente dos Estados
Unidos, contra os migrantes, especialmente, nossos irmãos e irmãs pobres, que
tentam entrar na fronteira norte-americana.
10 – A conferência de Medellín
propôs uma Igreja profética, a serviço da libertação de nossos povos, a partir
da opção pelos pobres. Hoje queremos nos comprometer com o projeto de uma
Igreja mais sinodal e valente, em permanente diálogo com a humanidade e
especialmente com os movimentos sociais, organizados para mudar o mundo.
11 – Reconhecemos como sinal do
Espírito a proposta do “Bem viver”, que recebemos dos povos originários do
continente. Compreendemos que o “Bem viver” é caminho de uma sociedade de
comunhão, que privilegia o bem comum sobre o particular, e toma a sério os
direitos da irmã Mãe Terra e da Vida.
Os zapatistas do sul do México nos
ensinaram: Somos um exército de sonhadores/as. Por isso, somos invencíveis.
Como disse São Oscar Romero: “Sigamos fazendo o que possamos fazer, mas o
importante é fazer”. Nessa esperança firme e inquebrantável, a força do
Espírito, que se expressa na força dos pobres, nos ilumine e nos guie a todos/as
pelos caminhos do Reino.
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Nota: Todos os presentes subscreveram um texto de apoio
ao Papa Francisco face às oposições e resistências que ele vem sofrendo, ultimamente, pelos grupos conservadores que não querem mudanças no estilo de viver a fé
cristã nos conturbados dias atuais.
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Fonte
dos textos:
http://www.cnbb.org.br/compromisso-em-favor-dos-mais-necessitados-e-da-terra-e-tema-de-congresso-continental-de-teologia/
Crédito das Imagens:
Nota: Todas as imagens, aqui publicadas, pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida desse espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
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