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De Hilda Hilst já se disse que era
temperamental. Completamente avessa a refreamentos ou moderações, vivia
apetites e paixões sem reservas. Não é necessário mais que um contato breve com
sua obra para que se perceba isso.
Poetisa, dramaturga, romancista, escreveu
incansavelmente sobre amor, morte, loucura, transcendência e sexo. Em vida, foi
tachada de autora difícil, hermética. Enxergava os comentários sobre esse
suposto hermetismo, contudo, como resultado do fato de que ela não fazia o que
se esperava de uma mulher – não escrevia sobre o que se devia e nem vivia como
se devia. Colocou a literatura na frente de tudo, não
constituiu família, viveu mil amores.
De acordo com o diretor
geral da Flip, o arquiteto Mauro Munhoz, “a escolha de Hilda Hilst como Autora
Homenageada da Flip 2018 se deu pelo fato de sua obra extrapolar fronteiras.
Assim
como os outros poetas brasileiros, leu Drummond, Bandeira e Cabral, mas leu
também Fernando Pessoa, o francês Saint-John Perse e o
alemão Rainer Maria Rilke. O resultado é uma literatura inovadora do ponto
de vista da linguagem que exerce, por exemplo, forte influência na cena da
dramaturgia brasileira de hoje”.
Além disso, ele afirma,
a criação pioneira de um espaço voltado à literatura e às artes, a Casa do Sol,
inaugurada em 1996, se encontraria, sete anos depois, com a concepção da
Flip. “A Casa do Sol, sua residência literária, habitada pelo seu oficio de
escritora e que foi lugar de convívio com artistas de múltiplas áreas como Caio
Fernando Abreu, guarda a memória de um fazer artístico cuja singularidade esta
homenagem se propõe a revelar”.
"Será uma Flip
intimista, com muita poesia e teatro, um pouco de irreverência e debates sobre
criação artística, a arte e a natureza, a literatura e a filosofia. A pesquisa
de repertório será a mesma, ou seja, vamos manter a preocupação em ter autores
e autoras plurais, do mesmo modo que na Flip 2017", afirma a curadora, que
vê pontos em comum entre Lima Barreto e Hilda Hilst: “Ambos foram transgressores,
cada um a seu modo e em seu tempo, e se dedicaram à escrita de modo tal que
ultrapassaram o limite do que era esperado de cada um: ele como autor negro de
baixa renda, ela como mulher livre numa sociedade que não estava acostumada a
isso."
Hilda Hilst – Hilda de Almeida Prado Hilst (1930-2004)
– escreveu poesia, ficção, teatro e crônica, tendo construído uma obra singular
em língua portuguesa na segunda metade do século 20 em torno de temas como o
amor, o sexo, a morte, Deus, a finitude das coisas e a transcendência da alma.
Paulista de Jaú, Hilda
era filha do casal Bedecilda Vaz Cardoso e Apolônio de Almeida Prado
Hilst, cafeicultor filho de imigrantes da Alsácia-Lorena. Seu pai foi
diagnosticado com esquizofrenia e internado num sanatório quando Hilda tinha
cinco anos. O interesse pela literatura se deu desde a infância. Era
leitora de Samuel Beckett, Friedrich Hölderlin, Fernando Pessoa, Rainer
Maria Rilke, René Char e Saint-John Perse.
Estreou na literatura
aos 20 anos com um livro de poesia e foi recebida com entusiasmo por Cecília Meireles e Jorge de Lima, de quem era leitora. Aos 22, formou-se em direito
pela Universidade de São Paulo, onde conheceu a escritora Lygia Fagundes Telles, com quem manteve laço duradouro. Após a
formatura, viajou pela Grécia, Itália e França. Contava que, após a leitura
de Carta a El Greco, de Nikos Kazantzákis, desejou abandonar tudo
para entregar-se em tempo integral ao ofício de escritora, o que a fez deixar a
advocacia e uma vida social intensa para viver perto da natureza.
Em 1996, passou a
residir na Casa do Sol, uma chácara
que construiu em Campinas, no interior de São Paulo, cercada de árvores e
bichos, para servir como espaço de estudos e criação artística. Foi casada com
o escultor Dante Casarini e não teve
filhos. Distante dos grandes centros, recebia para temporadas, breves e longas,
artistas e escritores como Mora Fuentes
e Caio Fernando Abreu.
A obra de Hilda Hilst
reúne dezenas de títulos, entre os quais obras-primas como Cantares de
perda e predileção (poesia), Rútilo nada (ficção) e A
obscena senhora D (ficção).
A sua curiosidade
intelectual incluía, além da literatura, a física e a filosofia. Realizou na
década de 1970 uma experiência literário-científica que chamou de ‘Transcomunicação Instrumental’, quando
deixou gravadores ligados para registrar vozes de espíritos. Como marcas de sua
personalidade, são apontadas a dedicação obsessiva à escrita, o cultivo da
amizade, a irreverência e a curiosidade.
Recebeu prêmios como o
Jabuti, o APCA, o Pen Clube São Paulo e o Cassiano Ricardo. Está traduzida para
o inglês, francês, espanhol, basco, alemão, italiano, norueguês e japonês. Grande parte de seus livros foi publicada
pelo célebre editor artesanal Massao Ohno em volumes feitos com apuro estético,
mas de reduzida circulação. Após sua morte, a Globo Livros relançou toda a sua obra sob os cuidados do crítico Alcir Pécora e, atualmente, tem em
catálogo os títulos: ‘Pornô chic’ e ‘Fico besta quando
me entendem’, compilação de entrevistas com a autora.
A reunião de sua obra
poética, Da poesia, foi publicada neste ano pela editora Companhia
das Letras, que tem uma série de publicações sobre a autora previstas para
2018, como Da prosa; a adaptação para quadrinhos de A
obscena senhora D., por Laura Lannes; uma coletânea ilustrada de suas
poesias de amor e a edição de Amavisse para a Poesia de Bolso.
Em 2019, a Companhia
lançará uma trilogia erótica e, em 2020, a biografia da autora. Daniel Fuentes,
o detentor dos direitos autorais, vem negociando com outras editoras para
publicar o que falta de Hilda Hilst, como cartas e inéditos. Sua ideia é ter a
obra completa disponível nas livrarias até julho de 2018.
Tem crescido o interesse
pela literatura de Hilst por parte de leitores, críticos e realizadores do
cinema e do teatro: a cada ano, acontecem dez novas montagens em companhias de
pequeno e médio porte.
A Casa do Sol funciona
hoje como sede do Instituto Hilda Hilst,
onde se realizam residências artísticas e encenações de peças de teatro.
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Fontes do texto:
Fontes do texto:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/05/cultura/1512503369_552641.html?rel=mas
http://flip.org.br/edicoes/flip-2018/noticias/hilda-hilst-e-a-homenageada-da-flip-2018 -
http://flip.org.br/edicoes/flip-2018/noticias/hilda-hilst-e-a-homenageada-da-flip-2018 -
Outros livros da autora:
Crédito das Imagens:
1. Instituto Hilda Hilts - reprodução
2. Casa do Sol - www.macaeturismo.woespress.com.br.jpg
3. www.hildahilts.com.br/obra
3. Capas de Livros - www.estante.virtual.com.br
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