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FLIP - 2018: HILDA HILST É HOMENAGEADA

20 julho, 2018


O El País publicou interessantes artigos sobre a Flip-2018, evento internacional de literatura, que se realiza todos os anos, sempre com um ou uma homenageada especial. Publicamos abaixo, trechos de duas postagens do El País, que promovem um melhor conhecimento da poetisa, escritora e dramaturga Hilda Hilst, homenageada na Flip deste ano.

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De Hilda Hilst já se disse que era temperamental. Completamente avessa a refreamentos ou moderações, vivia apetites e paixões sem reservas. Não é necessário mais que um contato breve com sua obra para que se perceba isso. 

Poetisa, dramaturga, romancista, escreveu incansavelmente sobre amor, morte, loucura, transcendência e sexo. Em vida, foi tachada de autora difícil, hermética. Enxergava os comentários sobre esse suposto hermetismo, contudo, como resultado do fato de que ela não fazia o que se esperava de uma mulher – não escrevia sobre o que se devia e nem vivia como se devia. Colocou a literatura na frente de tudo, não constituiu família, viveu mil amores.

Nasceu em 1930, em Jaú, no interior de São Paulo, morreu também no interior, em Campinas, em 2004. Nos últimos 13 anos – como prova irônica de que estava certa quando disse que “parece que os críticos adoram escritor morto, você tem que morrer para ser lembrado” –, começou a ganhar destaque contínuo. Agora, será a homenageada do maior festival de literatura do Brasil, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontecerá entre 25 e 29 de julho de 2018. A curadora do evento, Josélia Aguiar, vê, apesar de todas as diferenças evidentes – ele um cronista do social, ela mais existencial –, pontos de contato entre Hilst e o homenageado da última edição da Flip, o escritor carioca Lima Barreto.
De acordo com o diretor geral da Flip, o arquiteto Mauro Munhoz, “a escolha de Hilda Hilst como Autora Homenageada da Flip 2018 se deu pelo fato de sua obra extrapolar fronteiras. 
Assim como os outros poetas brasileiros, leu Drummond, Bandeira e Cabral, mas leu também Fernando Pessoa, o francês Saint-John Perse e o alemão Rainer Maria Rilke. O resultado é uma literatura inovadora do ponto de vista da linguagem que exerce, por exemplo, forte influência na cena da dramaturgia brasileira de hoje”.
Além disso, ele afirma, a criação pioneira de um espaço voltado à literatura e às artes, a Casa do Sol, inaugurada em 1996, se encontraria, sete anos depois, com a concepção da Flip. “A Casa do Sol, sua residência literária, habitada pelo seu oficio de escritora e que foi lugar de convívio com artistas de múltiplas áreas como Caio Fernando Abreu, guarda a memória de um fazer artístico cuja singularidade esta homenagem se propõe a revelar”.
"Será uma Flip intimista, com muita poesia e teatro, um pouco de irreverência e debates sobre criação artística, a arte e a natureza, a literatura e a filosofia. A pesquisa de repertório será a mesma, ou seja, vamos manter a preocupação em ter autores e autoras plurais, do mesmo modo que na Flip 2017", afirma a curadora, que vê pontos em comum entre Lima Barreto e Hilda Hilst: “Ambos foram transgressores, cada um a seu modo e em seu tempo, e se dedicaram à escrita de modo tal que ultrapassaram o limite do que era esperado de cada um: ele como autor negro de baixa renda, ela como mulher livre numa sociedade que não estava acostumada a isso."
Vida
Hilda Hilst – Hilda de Almeida Prado Hilst (1930-2004) – escreveu poesia, ficção, teatro e crônica, tendo construído uma obra singular em língua portuguesa na segunda metade do século 20 em torno de temas como o amor, o sexo, a morte, Deus, a finitude das coisas e a transcendência da alma.
Paulista de Jaú, Hilda era filha do casal Bedecilda Vaz Cardoso e Apolônio de Almeida Prado Hilst, cafeicultor filho de imigrantes da Alsácia-Lorena. Seu pai foi diagnosticado com esquizofrenia e internado num sanatório quando Hilda tinha cinco anos. O interesse pela literatura se deu desde a infância. Era leitora de Samuel Beckett, Friedrich Hölderlin, Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke, René Char e Saint-John Perse.
Estreou na literatura aos 20 anos com um livro de poesia e foi recebida com entusiasmo por Cecília Meireles e Jorge de Lima, de quem era leitora. Aos 22, formou-se em direito pela Universidade de São Paulo, onde conheceu a escritora Lygia Fagundes Telles, com quem manteve laço duradouro. Após a formatura, viajou pela Grécia, Itália e França. Contava que, após a leitura de Carta a El Greco, de Nikos Kazantzákis, desejou abandonar tudo para entregar-se em tempo integral ao ofício de escritora, o que a fez deixar a advocacia e uma vida social intensa para viver perto da natureza.
Em 1996, passou a residir na Casa do Sol, uma chácara que construiu em Campinas, no interior de São Paulo, cercada de árvores e bichos, para servir como espaço de estudos e criação artística. Foi casada com o escultor Dante Casarini e não teve filhos. Distante dos grandes centros, recebia para temporadas, breves e longas, artistas e escritores como Mora Fuentes e Caio Fernando Abreu.
Obra
A obra de Hilda Hilst reúne dezenas de títulos, entre os quais obras-primas como Cantares de perda e predileção (poesia), Rútilo nada (ficção) e A obscena senhora D (ficção).
A sua curiosidade intelectual incluía, além da literatura, a física e a filosofia. Realizou na década de 1970 uma experiência literário-científica que chamou de ‘Transcomunicação Instrumental’, quando deixou gravadores ligados para registrar vozes de espíritos. Como marcas de sua personalidade, são apontadas a dedicação obsessiva à escrita, o cultivo da amizade, a irreverência e a curiosidade.
Recebeu prêmios como o Jabuti, o APCA, o Pen Clube São Paulo e o Cassiano Ricardo. Está traduzida para o inglês, francês, espanhol, basco, alemão, italiano, norueguês e japonês.  Grande parte de seus livros foi publicada pelo célebre editor artesanal Massao Ohno em volumes feitos com apuro estético, mas de reduzida circulação. Após sua morte, a Globo Livros relançou toda a sua obra sob os cuidados do crítico Alcir Pécora e, atualmente, tem em catálogo os títulos: ‘Pornô chic’ e ‘Fico besta quando me entendem’, compilação de entrevistas com a autora.
A reunião de sua obra poética, Da poesia, foi publicada neste ano pela editora Companhia das Letras, que tem uma série de publicações sobre a autora previstas para 2018, como Da prosa; a adaptação para quadrinhos de A obscena senhora D., por Laura Lannes; uma coletânea ilustrada de suas poesias de amor e a edição de Amavisse para a Poesia de Bolso.

Em 2019, a Companhia lançará uma trilogia erótica e, em 2020, a biografia da autora. Daniel Fuentes, o detentor dos direitos autorais, vem negociando com outras editoras para publicar o que falta de Hilda Hilst, como cartas e inéditos. Sua ideia é ter a obra completa disponível nas livrarias até julho de 2018.
Tem crescido o interesse pela literatura de Hilst por parte de leitores, críticos e realizadores do cinema e do teatro: a cada ano, acontecem dez novas montagens em companhias de pequeno e médio porte.
A Casa do Sol funciona hoje como sede do Instituto Hilda Hilst, onde se realizam residências artísticas e encenações de peças de teatro.

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Fontes do texto:

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/05/cultura/1512503369_552641.html?rel=mas

http://flip.org.br/edicoes/flip-2018/noticias/hilda-hilst-e-a-homenageada-da-flip-2018 - 




Outros livros da autora:



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Crédito das Imagens:

1. Instituto Hilda Hilts - reprodução
2. Casa do Sol - www.macaeturismo.woespress.com.br.jpg
3. www.hildahilts.com.br/obra
3. Capas de Livros - www.estante.virtual.com.br

Nota: Todas as imagens, aqui publicadas, pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida desse espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com



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