Estive relendo Julio Cortázar. Das tantas destrezas na arte da escrita com que nos presenteia, (Aulas de Literatura em Berkeley - 1980), assimilei a sua ideia de como é possível experimentar a duplicidade do tempo – presente e passado, eterno e fugaz, alegre e sofrido – um "tempo duplo", um sobre o outro e também pelos lados, convidando-nos a experimentar, ao mesmo tempo, desassossego e bonança, desalento e esperança, delírio e amor, o antes e o depois enredados feito um momento único.
Tão encantada fiquei de refletir sobre essa possibilidade que - considerando-se como gosto de manejar o imaginário no tempo ao revés - sem mais nem menos me deparei menina em Custódia, na minha terra natal.
Alguns sabem que venho acumulando a graça de conhecer inúmeros poentes e alvoreceres, venturas e adeuses, encontros e desencontros e outras tantas indescritíveis alegrias. O fato é que - como dizia - me achei menina, na casa de então, uma casa grande que cabia Ester, minha mãe, e Né Marinho, meu pai, mais os sete irmãos que fomos e duas Marias que viviam a nos cuidar com esmero.
... Fui entrando sem pedir licença no tempo distanciado, a vida no remoto e no improvável. Lá estava eu escutando de novo o doce barulho da máquina Singer de Ester, a costurar as roupas de tantos filhos. E eu junto dela, ela pertinho de mim - no tempo do que já fora, inteiro, sem sofreguidão - sentindo a mesma plenitude da sua presença doce.
O momento foi-se esfumando como se esfuma em toda parte, o tempo ligeiro no agora, e eu querendo cantar a presença Ester, minha mãe, mas não sabia quê. Então me acudiu uma cantiga nascida ali, daquela sua presença esfumada de nostalgia.
Repara que lindo dia
Nesse bonito sertão
Menina agora eu vivia
Lá na casa sertaneja
Brincadeira...redenção!
Zomp zomp zomp zom
Zarp zarp zarp zar
Era o som do motorzinho
De uma Singer a costurar...
Que alegre viveu ela
Sete filhos a cuidar
Feito uma leve gazela
A cantar... Sempre a cantar
E nunca a se lamentar!
Zomp zomp zomp zom
Zarp zarp zarp zar
Era o som do motorzinho
De uma Singer a costurar.
Hoje de lá bem distante
Chegou a me consolar:
Que na vida tudo frange
E que eu cantasse... cantasse
Que um dia vem me buscar!
-----------------------------
Créditos das Imagens:
1. Ester e Seu Né - arquivos privados de família.
2. Máquina Singer - pinterest
3. Sertão - Filipe Alessio
(*) Ver: Julio Cortazar - Aulas de Literatura - Berkley - 1980 - Ed. Civilização Brasileira.
Nota - As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com vrblog@hotmail.com
Tão encantada fiquei de refletir sobre essa possibilidade que - considerando-se como gosto de manejar o imaginário no tempo ao revés - sem mais nem menos me deparei menina em Custódia, na minha terra natal.
Alguns sabem que venho acumulando a graça de conhecer inúmeros poentes e alvoreceres, venturas e adeuses, encontros e desencontros e outras tantas indescritíveis alegrias. O fato é que - como dizia - me achei menina, na casa de então, uma casa grande que cabia Ester, minha mãe, e Né Marinho, meu pai, mais os sete irmãos que fomos e duas Marias que viviam a nos cuidar com esmero.
... Fui entrando sem pedir licença no tempo distanciado, a vida no remoto e no improvável. Lá estava eu escutando de novo o doce barulho da máquina Singer de Ester, a costurar as roupas de tantos filhos. E eu junto dela, ela pertinho de mim - no tempo do que já fora, inteiro, sem sofreguidão - sentindo a mesma plenitude da sua presença doce.
O momento foi-se esfumando como se esfuma em toda parte, o tempo ligeiro no agora, e eu querendo cantar a presença Ester, minha mãe, mas não sabia quê. Então me acudiu uma cantiga nascida ali, daquela sua presença esfumada de nostalgia.
Repara que lindo dia
Nesse bonito sertão
Menina agora eu vivia
Lá na casa sertaneja
Brincadeira...redenção!
Zomp zomp zomp zom
Zarp zarp zarp zar
Era o som do motorzinho
De uma Singer a costurar...
Que alegre viveu ela
Sete filhos a cuidar
Feito uma leve gazela
A cantar... Sempre a cantar
E nunca a se lamentar!
Zomp zomp zomp zom
Zarp zarp zarp zar
Era o som do motorzinho
De uma Singer a costurar.
Hoje de lá bem distante
Chegou a me consolar:
Que na vida tudo frange
E que eu cantasse... cantasse
Que um dia vem me buscar!
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Créditos das Imagens:
1. Ester e Seu Né - arquivos privados de família.
2. Máquina Singer - pinterest
3. Sertão - Filipe Alessio
(*) Ver: Julio Cortazar - Aulas de Literatura - Berkley - 1980 - Ed. Civilização Brasileira.
Nota - As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com vrblog@hotmail.com
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