Meu
caro irmão maior, Marcelo Barros. Peço licença para publicar, aqui neste espaço, a sua carta tão
iluminada à presidente Dilma. E lhe afirmo que - come fala o
meu povo sertanejo - você tirou da boca da gente o que a gente gostaria de
dizer, num cochicho que fosse, à nossa presidente.
Eu também torço para que ela
resista firme, e que pra se fortalecer mais ela procure escutar gente como
você, caro Marcelo, e como Leonardo Boff, e escutar também com muito respeito o grito do povo nas ruas, em apoio à democracia brasileira, pois foi a maioria
desse povo que a elegeu com muita esperança, e agora pede que ela fique na
história como uma mulher capaz de dialogar, não só com os políticos de quem ela
carece buscar apoio, mas de modo especial, e permanente, dialogar com as
lideranças dos Movimentos Sociais que representam a sólida base da pirâmide
social desse mundo capitalista e selvagem.
Gostei do modo simples e sábio que você se expressa, como você
sempre fez na sua vida dedicada aos interesses dos empobrecidos. Você, que há
tanto tempo trabalha por nossos irmãos índios, esses povos nativos tão
esquecidos, que só não estão totalmente à margem da nossa história porque
resistem, lutam, aprendem, e procuram juntos os seus direitos. Eu digo obrigada
a você também em nome deles, porque no meu sangue, estou certa, corre o sangue
do bravo povo nativo da minha terra.
A
carta, que segue abaixo, foi escrita da cidade do México onde o monge
beneditino Marcelo Barros se encontrava. (*)
Senhora presidenta Dilma
Rousseff,
Mesmo se por esses breves
dias estou fora do Brasil, quero me juntar aos milhões de brasileiros que,
nesse dia, recordam o golpe militar de 1964, feito sob o pretexto de combate à
corrupção; e quero, como brasileiro, dirigir-me à senhora para fazer algumas
breves considerações sobre o que estamos vivendo nesse momento no Brasil.
Como todo brasileiro
medianamente informado, sei que a senhora não está acusada de ter cometido
nenhum roubo, nem ter em nada defraudado o país. O pretexto que usam para lhe
tirar do governo é o que chamam de “pedalada fiscal”, ter tomado dinheiro do
BNDS para os programas sociais (Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida) e ter
devolvido um ano depois.
Espero que, agora, a senhora reconheça ter errado quando pensou que poderia ter como aliada a classe política de direita, e quando assumiu para o Brasil a mesma política econômica desumana e cruel com os mais pobres, que seu adversário tinha prometido fazer na campanha para a eleição.
É estranho que não é por isso que tanta gente tem ido às ruas pedir a sua queda. Em nenhuma das manifestações havidas pelo impeachement vimos denúncias contra a sua política ecológica ou contra a forma como seu governo tem tratado os índios ou como tem ignorado os lavradores sem-terra, carentes de uma reforma agrária justa e urgente.
Esses temas nem passam pela cabeça dos que lhe fazem oposição. Daí eu concluo que os brasileiros que pedem sua saída não têm essa posição por causa dos erros e falhas do seu governo e sim, ao contrário, pelas coisas boas e por causa das políticas sociais que o PT e o governo presidido por ele tem feito ao país desde a posse do presidente Lula em 2003.
Se a senhora quiser evitar
o golpe e reconquistar a popularidade perdida na classe média, e até se tornar
uma figura aceita e promovida pela Globo, pelas redes de televisão, pela Veja e
pela maioria dos jornais brasileiros, basta tomar imediatamente as seguintes
decisões:
1o - mudar
as leis trabalhistas, em prejuízo dos assalariados, principalmente revogar a
política de valorização do salário mínimo, atualmente em vigor (desde que o
governo do PT assumiu o poder);
2o –
ampliar a terceirização irrestrita da mão-de-obra;
3o -
entregar as reservas de petróleo do pré-sal às empresas transnacionais, como
defende o senador José Serra.
Além disso, decida logo
privatizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Introduza o ensino
pago nas universidades federais, como primeiro passo para a sua privatização. E
para que tudo isso seja feito sem maiores problemas, reprima os movimentos
sociais e a liberdade de expressão.
Hoje mesmo, tome a decisão de expulsar os
médicos cubanos e outros estrangeiros que trabalham no Programa Mais Médicos. Isso deixará sem atendimento centenas de
municípios pobres, nos quais a maioria dos ilustres médicos brasileiros não
quer ir, mas, imediatamente, a senhora ganhará o apoio da Associação Médica
Brasileira.
Quanto à agricultura, não esqueça de ir além do que o seu governo já tem feito, e dê ao agronegócio autoridade total para expulsar os índios de suas terras. A senhora já tem a ministra competente para isso.
Acima de tudo, o mais importante para que seu nome passe a ser bem aceito por essa massa manipulada, é eliminar a política externa independente e retomar o papel que, antes do governo do presidente Lula, o Brasil tinha de serviçal dos Estados Unidos. Se a senhora fizer isso, amanhã ninguém mais falará em golpe e não terá uma oposição forte, nem desses políticos, nem dos meios de comunicação.
A embaixada norte-americana fará uma festa por ter conseguido os seus objetivos mais facilmente aqui no Brasil do que na Venezuela, no Equador e na Bolívia, onde os governos mais populares ainda resistem.
Enquanto a maioria do povo
brasileiro não acordar, a senhora só terá mesmo na oposição os movimentos
sociais e pessoas como eu que apoiam a senhora, porque, justamente, apesar de
todas as contradições do seu governo, ainda não aceitou realizar essas medidas
desejadas pelo Império. Que a luz divina a ilumine hoje e sempre para não trair
a sua dignidade humana e a confiança dos brasileiros que votaram na senhora.
Seu irmão Marcelo Barros.
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(*)
Texto publicado originalmente no Blog: www.marcelobarros.com
em 31 de março de 2016.
Crédito das imagens:
1 - Vanise Rezende - imagem de arquivos do blog Espaço Poese.
2 - Marcelo Barros - imagem
3 - Manifestação em favor da permanência da presidente Dilma Rousseff. In: www.pragmatismopolitico.com.br - Imagem folhapress.
4 - Manifestação em favor do impedimento da presidente Dilma - Imagem de Alessandro Buzas publicada em:www.ultimosegundo.ig
5 - Médico cubano atende criança no Amazonas - foto publicada em www.istoe.com.br/reportagens, ilustrando artigo de Natalia Ziemkiewicz, de 10.05.2013
6 - Manifestação de povos indígenas contra a PEC 215 - Foto divulgação.
7- Foto de reunião do BRICS, em Brasilia - em 16/08/2010, com o então presidente do Brasil Luís Inácio Lula da Silva, o primeiro-ministro da India, Manmohan Sing, o presidente russo Dmitry Medvedev, e o presidente chinês Hu Jintao. Publicada em: www.thehindu.com/news (Foto arquivo PTI).
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma destas, e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
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