Vanise Rezende - clique para ver seu perfil

O TEMPO AO REVERSO

01 maio, 2015




O correr da vida não embroma o tempo nem as suas etapas, nem segue o calendário astucioso que sempre remarca o Ano Novo e o Carnaval, a Quaresma e a Páscoa, o Inverno do Sul, o São João Nordestino e o Círio de Nazaré no estado do Pará... 

O inesperado chega sem data marcada e não segue o relógio, nem mesmo o do coração. O viver carece de surpresas e os dias não se repetem por mais que pareçam iguais: há os que são de festejar, os que só têm a esperar, os que deslizam nas horas que não se sabe como se foram, os que demoram a passar, e os que ficam grudados na memória enquadrando na paisagem inteira o sentimento que vigeu e que entanto permanece inteiro. 

Basta uma brisa suave a nos tocar o rosto, o som descuidado de certa canção, uma carta relida ao acaso, uma folha a cair, a fotografia esquecida no livro, um botão que se abre em flor, qualquer descuido de uma doce lembrança... E o tempo é logo reinventado, chega correndo ao reverso na memória do afeto, instalando-se no agora feito coisa de feitiço. E assim foi... Bastou dar-me o tempo e a permissão e lá estou eu...  A  tomar leite ordenhado no copo com chocolate em pó... A brincar com outras crianças nas ruas da cidade... Acocorar-me no chão em torno do fogo, assando castanhas de caju... E ouvindo as histórias medonhas do meu avô brincante e saindo a correr atrás do palhaço de pernas de pau... 


A cozinha bem grande de forno a carvão, panelas de barro e colheres de pau...  E as duas Marias a cuidar: Maria Grande da cozinha e a outra Maria, para tomar sentido na meninada e levá-las a passear! Enquanto o meu pai trabalha escrevendo em livros enormes, com datas de nascimento e registros das terras do lugar; e a minha mãe me embala no murmulho da máquina de costura, fazendo roupas para os sete filhos. Quem não obedece vai ficar lá no quarto, sem doce de leite, nem cocada nem bolo de goma! 


Dia de feira, a cidade em festa: cavalos e jumentos apeados na rua; nas esteiras desenroladas pelo chão, bonecas de pano e panelinhas de barro, petecas e bolas de gude, bandejas de cocada, pirulito e algodão doce. E o baião de Luiz Gonzaga a rolar, tocado na zabumba cidade. Produtos da terra chegam na varanda, trazidos pelos agricultores, para agradecer os favores do meu pai: melancias e mangas,  feijão de corda, macaxeira, jerimum e inhame; cajus e umbus, bananas em cacho e muita fartura... 

Fartura de alegria feito dia de Páscoa ou de Natal! Os cuidados da minha mãe como se durassem a vida inteira! O zelo do pai como se jamais me fosse faltar! 

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Crédito Imagens:

Natureza - canstockphoto
Fogão de lenha - www.milebohr.blogspot.com
Antiga feira no Sertão - www.dimusbahia.wordpress.com).

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