A vida é repleta de surpresas: umas, de suaves ou
ruidosas alegrias, outras, carregadas de dor.
São dois lados do chão da vida que reclamam, com sensatez, os amigos por perto.
Na alegria, é mais espontâneo partilhar os sentimentos, disseminar o contentamento
com aqueles que se ama – na ventania do barulho e da festa, a alegria comemora o
prazer de viver.
A dor se reveste de outra mensagem: às vezes chega de repente,
sem pedir licença de se instalar em nossos dias; noutras ocasiões achega-se
devagar, silenciosa e dura – jamais é superficial, e exige profundez, coragem e
fé. Quando acolhida com sabedoria e dignidade, a dor é compartida
com os irmãos de fé, e com os amigos, ao tempo em que se cuida dos mais frágeis, que o sofrimento
pega a gente quase sempre despreparada.
Somos iguais a todos
os seres humanos, nossos irmãos, milhares deles assolados em situações cruéis: há os atingidos pela crueza das guerras; os que padecem a penúria crônica da
doença e da fome; os que são subjugados e suportam a violência de nações poderosas
- como, há tantos anos, o povo palestino, sem o direito de viver em paz no chão
em que nasceram.
No Brasil de hoje, há os que sofrem as consequências da renitente
estiagem e das enchentes periódicas – calamidades regionais a atingir pessoas de
toda ordem social, mas, de forma impiedosa, os pobres. Tais cenários – agravados pela irresponsabilidade política, social
e ecológica – quase sempre abrigam tragédias cujo entendimento assenta-se no grande mistério do viver.
Embora na diversidade, há uma característica
comum às situações de dor: são as particulares e duras histórias havidas na intimidade
das famílias, sempre muito difíceis de entender e de aceitar – uma doença
incurável, um casamento desfeito, a morte súbita de um ente querido ou o anúncio
de um nascituro com uma síndrome específica: um filho, um sobrinho ou um neto
que nos convida a recebê-lo com o carinho e o cuidado de que formos capazes (uma
pessoa a quem – se por direito merece o respeito de todos – por designo da
vida, terá o seu mundo reduzido ao entorno de um convívio familiar e social muita
vez restrito à sua condição de mais
diferente entre os diferentes que somos). A nós, a responsabilidade de compor
o seu universo afetivo na troca de compreensões, sensações, e gratuidade.
No correr da vida, os anúncios dolorosos exigem atitudes de
reflexão e respeito. Cada um carrega as marcas de fatos inesperados e tristes já enfrentados. Abençoados os que puderam, e ainda podem contar com amigos
sinceros presentes nesses momentos; benditos os que têm a humildade de reconhecer que, também eles, podem ser chamados à aceitação da dor – é que a
vida é costurada com retalhos de eventos: ora mais alegres, ora difíceis, e,
por vezes, de pesar. A nós, sempre, o aprendizado do amor.
Nesses dias, ajuntando-me àqueles que apoiam uma difícil
situação familiar, alguém lembrou um verseto de um salmo cristão: “Descarrega o teu fardo em Javé, e Ele
cuidará de ti!”.
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Crédito das Imagens:
1. Fotografia - arquivo pessoal
2. Escultura - Abelardo da Hora (fotos de uma exposição).
1. Fotografia - arquivo pessoal
2. Escultura - Abelardo da Hora (fotos de uma exposição).
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