Tenho dedicado parte de meu tempo a ajuntar os retalhos da vida – fotos e rabiscos de quase meio século. Hoje encontrei um texto do meu companheiro de tantos anos, que já fez sua viagem ao coração de Deus. Um registro que agora partilho neste espaço:
"A
comunhão entre duas pessoas não é um produto, é um acontecimento. A
primeira condição para que essa comunhão aconteça, é que uma das pessoas que
ama consiga viver, na centralidade, a sua solidão. Viver é, simplesmente, estar só.
A
segunda condição é que a pessoa que ama, ame gratuitamente: No amor, o que vale é amar. [i].
A terceira condição, é que aconteça
que a pessoa amada também proceda assim – na sua solidão e no amor sem interesse."
'A
graça de se achar, de flutuar sem ansiedade, nas ondas da vida, a graça de se sentir viver, acontece quando você se abre, gratuitamente, para a vida – e
isso surpreendentemente, também é graça'.(ii)
No linguajar saboroso e único adotado por João
Guimarães Rosas, no romance Grande Sertão: Veredas, ele afirma: “Com Deus
existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve.
Mas, se não tem Deus, há-de a gente
perdidos no vai-e-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e
pequenas horas, não se pode facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus é
menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem
licença nenhuma! Porque existe dor”. (iii)

Para estar com Deus - concluo, agora - a gente precisa, antes de tudo, buscar os caminhos de se encontrar. E a gente só se encontra na relação entre as pessoas. O amor a Deus é um convite a cada um, de acolher a diferença do outro no gesto solidário da reciprocidade – o dar e o receber, como um dom recíproco. É nesse gesto que se aprende a reconhecer o outro como o diferente de mim, a ser amado e respeitado.
Viver a solidão seria, então, o exercício contínuo de navegar para dentro de si , e aprender a olhar o outro sem a poluição do preconcebido, do pressentido. Uma solidão ativa, mobilizadora, que, ao tempo em que renova, abre o caminho em direção ao outro.
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[i] Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares.
[ii] No texto não há registro autoral.
(iii) Grandes Sertões: Veredas. Ed. Nova Fronteira, Biblioteca do
Estudante. Rio de Janeiro-RJ, 2010, p.60.
Crédito Imagens - arquivo privado.
As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com vrblog@hotmail.com
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