A estrada de ferro subia da capital para os sertões afora, num longo percurso de cansaço e calor.
Na plataforma da estação havia uma menina, quase adolescente, cabelos pretos e lisos, a realçar seus traços indígenas de olhos castanho-escuros ligeiramente repuxados. Usava um amplo vestido, com saia rodada, a lhe marcar a cintura de um corpo harmonioso e bem torneado.
As paredes da pequena e rústica estação pareciam enferrujadas pelo
tempo, e contrastavam com a luminosa abóbada azulada da agreste paisagem. Mais distante, erguia-se um casario, com duas
grandes chaminés: eram os conhecidos bueiros das fábricas de doce, marca
registrada do lugar, que apontavam para o céu à luz do sol empoeirado.
Era pouco o movimento local de passageiros. A menina estava só. Aguardava
a chegada do trem, para rever um amigo com quem, há algum tempo, não se encontrava. Ele havia concluído o curso médio, e dirigia-se para sua casa, no alto sertão.
Entre os dois, houvera um longo período de silêncio. A direção do colégio onde que ela estudava, em
regime de internato, não lhe repassara as cartas que ele sempre enviava, em resposta
às suas, mandadas às escondidas por meio das colegas que residiam na cidade. E nem um deles chegara a saber, até então. Para ela, ele havia deixado de lhe escrever, sem dar-lhe explicações.
Fosse possível lembrar, agora, o que acontecera naquela velha estação...
À parada do trem, suas mãos teriam se abraçado sobre alguma janela do vagão? Tiveram tempo para se explicarem? Ou,
quem sabe, essa lembrança seria uma nebulosa invenção, misturada às suas fantasias,
sobre o que acontecera, que não fora jamais...
Hoje, na memória esgarçada de sua história, ela registra a precoce experiência da perda de um sonho, por muitos anos acalentado, e a imagem de um trem que partia devagar, devagar, devagar... Até não mais se ver.
Para onde? Para onde?...
Hoje, na memória esgarçada de sua história, ela registra a precoce experiência da perda de um sonho, por muitos anos acalentado, e a imagem de um trem que partia devagar, devagar, devagar... Até não mais se ver.
Para onde? Para onde?...
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