Uma das minhas filhas chegara de viagem da Europa com o marido e o meu neto, que na ocasião tinha oito meses. Ao entrar em seu apartamento, ela nos emocionou com o seu jeito cuidadoso de explicar, ao filho, o que estava acontecendo. Mesmo assim, foi muito forte a surpresa de Artur ao reencontrar seus espaços e brinquedos mais queridos.
Seu olhar se detinha nos recantos da casa, a reconhecê-los um a um, até mesmo as letras de seu nome, grandes e coloridas, na porta do seu quarto.
Mais
tarde – após Artur adormecer – eu e as três filhas começamos a lembrar dos
tempos em que elas eram crianças, quando viajávamos no nosso fusquinha
alaranjado e destoante, mas muito útil para a família. Em cada curva elas indagavam sobre a
proximidade da chegada. O pai explicava que ainda faltava uma subida e,
mais adiante, aquela curva que tanto demorava a chegar... Tentávamos
distraí-las mostrando a paisagem da região, as serras, o canavial, as usinas à
beira da estrada, os canavieiros que passavam.
Nosso roteiro era quase sempre a praia de Tamandaré, tempos em que a cidade era menos badalada e mais acolhedora. Lá nos juntávamos a amigos queridos, também com filhos pequenos, e a brincadeira era solta.
Maravilhosa a saída de barco para
as águas marinhas de um pedregulho distante, onde era possível contemplar
pequenos peixes na transparência do mar. Em noites de luar íamos descalços a
passeio, uma boa conversa pela praia, as crianças entre nós.
Em casa ouvia-se
música popular brasileira - tempos de Jobim, Chico Buarque, Clara Nunes, Milton
Nascimento... Uns ficavam de prosa enquanto trabalhavam na cozinha, outros se
dedicavam a leituras prazerosas ou aos cochilos nas redes estendidas da varanda.
Quantos anos velhos nós
rompemos, os pés descalços à beira-mar sentindo a areia fina e úmida, muitas
vezes sob um deslumbrante luar! Quantas
celebrações de Natal e de Páscoa, refestelados nos sabores da simplicidade e do
cuidado, partilhados com outros amigos queridos!
Assim
vimos crescer os nossos filhos, e com eles celebramos as alegrias da superação
de cada vestibular e das suas escolhas profissionais. Alguns já se casaram e se
aproximam da idade que tínhamos nos tempos de Tamandaré. Nós e eles enveredamos
os caminhos singulares de cada um...
No percurso, perdemos a alegria da presença de Luiz Carlos, das amigas Marluza, Peghy, Amparo, Graça e Lourdes, que já fizeram a viagem definitiva. Novas famílias se formam, os netos e sobrinhos netos começam a brincar entre nós e a tecer suas relações.
No percurso, perdemos a alegria da presença de Luiz Carlos, das amigas Marluza, Peghy, Amparo, Graça e Lourdes, que já fizeram a viagem definitiva. Novas famílias se formam, os netos e sobrinhos netos começam a brincar entre nós e a tecer suas relações.
Vez
por outra revemos os álbuns daqueles tempos e os slides ainda guardados. Os
comentários às vezes são de zombaria e sempre de muita saudade! Há belíssimas fotografias, uma delas com
todos os filhos, ainda bem jovens, ladeados por ordem de tamanho...
Hoje, continuamos
os nossos encontros e celebrações em uma granja próxima da cidade onde resido. E levamos adiante uma densa história de amizade, que
nossos filhos e netos certamente continuarão, na convivência e na cumplicidade entre eles.
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Crédito Imagens:
1 - Arquivo exclusivo blog Espaço Poese.
2 - Fishermen_Tamandaré_Brasil_pan
3 - www.acemprol.com.br
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com vrblog@hotmail.com
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