Ao refletir sobre a minha convivência com pessoas que amei um dia, e com aquelas que hoje amo, percebo que a vida de cada um de nós é tecida com a sua personalíssima dimensão, em diferentes tramas e cores que, ao se encontrar com o outro, o diferente de nós, pode chegar a expressar a beleza, a riqueza, e o mistério que cada um carrega em si.

Cada um de nós é caminhante, ainda por saber aonde chegar: uma via inacabada sempre, a mudar vez em quando com paisagens ora expressivas e belas, ora afundadas em noites sem luar; ora iluminadas de beleza; ora assombreadas, quase fossem nossas pessoais estações climáticas, a se repetirem no decorrer da vida. Diferentemente das estações, a mudança da paisagem se instala e se esvai sem se perceber quando, sem se entender como nem se saber o por quê.
Muitos já falaram desse mistério do correr surpreendente
da vida, marcado por surpresas e encontros de intensa simplicidade e às vezes de inebriante sabor: momentos de não e de sim, de espera e desesperança, de nebulosas interrogações e de singelas
certezas.
Diz-se que a vida é um instigante papel definitivo que é dado a cada um de nós, e assumido sem roteiro nem ensaios, cujas cenas e coreografia são escolhas de cada um, na sua liberdade, todos ao mesmo tempo atores e plateia, diretor e comparsa no desenrolar da trama. A vida tem disso: em qualquer cotejo que se faça será sempre indispensável
o exercício da liberdade e da fé, e a busca da celebração do amor com os que escolhemos conviver.

Quando a vida nos convida a celebrar a dor, ela pode nos levar a caminhar pela experiência da negação, até que sejamos capazes de encontrar o
conforto da doce e amorosa acolhida daquele momento pessoal, a ser vivido com atitudes
que podem nos ajudar a dizer sim, com alegria, como muito bem nos ensina o grande Guimarães Rosa.
A amizade e a unção do afeto nos ensinam a ensaiar gestos de escuta, cooperação e recomeço; podemos
até chegar a conhecer o desassossego mas, pela dinâmica da vida, continuamos
o aprendizado da paz interior e da liberdade de amar. São momentos de celebração das conquistas pessoais,
familiares, sociais e das surpreendentes tristezas – das mais simples às grandes perdas - sempre melhor acolhidas quando vividos em comunhão e reciprocidade.
Parece ser este o sentido da celebração amorosa
nos dias atuais: inventar um jeito novo de vivenciar o amor, bem diferente do
que o amor nos é mostrado nos melodramáticos romances, ou em filmes e
novelas de explícito mau gosto. Um amor que hoje, como ontem, está longe de ser o que desejamos para nós e para aqueles que amamos.

Sabe-se que o anúncio amoroso não se expressa unicamente na relação do casal, nem apenas nos ideais que sustentam os grandes movimentos
sociais. O amor é uma dimensão da vida que se introduz também por esses caminhos, mas vai além, e nos mostra suas múltiplas expressões e teceduras na vida de todo dia. Encontra-se no amor
amigo, no amor irmão, nos encontros de rara e profunda sintonia, no gesto universal de solidariedade e na compaixão entre pessoas,
grupos e povos.

O seu mistério está na imanência de cada um de
nós, muitas vezes de forma soterrada sob a máscara multiforme do ser e do
estar, outras vezes de um jeito que engrandece quem se deixa envolver por ele e nele
respira – qual Francisco de Assis, Simone Weil, Gandhi, Chiara Lubich, Tereza de Calcutá, Luther King e, mais próximos de nós, Hélder Câmara, Mandela, Betinho,e muitos outros.
É um mistério que nos infunde o amor universal, e nos permite viver teimosamente nosso contínuo peregrinar, assumindo, com altivez, o nosso destino e exercitando, embora com
tropeços, o nosso jeito de bem-querer.
Créditos Imagens:
1. Mandela - www.rahictantimom.wordpress.com
2. Simone Well - youtube.com
3. Herbert de Souza - Betinho - foto cedida por um amigo.
4. Chiara Lubich - foto divulgação do Movimento dos Focolares
3. Dom Hélder - imagem divulgação - Arquidiocese Olinda e Recife
1. Mandela - www.rahictantimom.wordpress.com
2. Simone Well - youtube.com
3. Herbert de Souza - Betinho - foto cedida por um amigo.
4. Chiara Lubich - foto divulgação do Movimento dos Focolares
3. Dom Hélder - imagem divulgação - Arquidiocese Olinda e Recife
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