Vanise Rezende - clique para ver seu perfil

UM AMOR INDIZÍVEL

04 fevereiro, 2014




Ao refletir sobre a minha convivência com pessoas que amei um dia, e com aquelas que hoje amo, percebo que a vida de cada um de nós é tecida com a sua personalíssima dimensão, em diferentes tramas e cores que, ao se encontrar com o outro, o diferente de nós, pode chegar a expressar a beleza, a riqueza, e o mistério que cada um carrega em si. 

Comparo essa ideia com as coloridas colchas de retalhos que ainda hoje embelezam nossas casas: são pedaços de tecidos pregados uns aos outros, ou franzidos no formato de moedas multicoloridas, chamadas fuxico por simbolizar que é um trabalho para se fazer juntos, no encontro, na conversa e na amizade. Assim intuo a beleza de cada pessoa e o mistério que expressa a sua completude, embora em permanente desenvolvimento. 

Cada um de nós é caminhante, ainda por saber aonde chegar: uma via inacabada sempre, a mudar vez em quando com paisagens ora expressivas e belas, ora afundadas em noites sem luar; ora iluminadas de beleza; ora assombreadas, quase fossem nossas pessoais estações climáticas, a se repetirem no decorrer da vida. Diferentemente das estações, a mudança da paisagem se instala e se esvai sem se perceber quando, sem se entender como nem se saber o  por quê.

Muitos já falaram desse mistério do correr surpreendente da vida, marcado por surpresas e encontros de intensa simplicidade e às vezes de inebriante sabor: momentos de não e de sim, de espera e desesperança, de nebulosas interrogações e de singelas certezas.

Diz-se que a vida é um instigante papel definitivo que é dado a cada um de nós, e assumido sem roteiro nem ensaios, cujas cenas e coreografia são escolhas de cada um, na sua liberdade, todos ao mesmo tempo atores e plateia, diretor e comparsa no desenrolar da trama. A vida tem disso: em qualquer cotejo que se faça será sempre indispensável o exercício da liberdade e da fé, e a busca da celebração do amor com os que escolhemos conviver.
  
Quando a vida nos convida a celebrar a dor, ela pode nos levar a caminhar pela experiência da negação, até que sejamos capazes de encontrar o conforto da doce e amorosa acolhida daquele momento pessoal, a ser vivido com atitudes que podem nos ajudar a dizer sim, com alegria, como muito bem nos ensina o grande Guimarães Rosa.

A amizade e a unção do afeto nos ensinam a ensaiar gestos de escuta, cooperação e recomeço; podemos até chegar a conhecer o desassossego mas, pela dinâmica da vida, continuamos o aprendizado da paz interior e da liberdade de amar.  São momentos de celebração das conquistas pessoais, familiares, sociais e das surpreendentes tristezas  – das mais simples às grandes perdas  - sempre melhor acolhidas quando vividos em comunhão e reciprocidade.

Parece ser este o sentido da celebração amorosa nos dias atuais: inventar um jeito novo de vivenciar o amor, bem diferente do que o amor nos é mostrado nos melodramáticos romances, ou em filmes e novelas de explícito mau gosto. Um amor que hoje, como ontem, está longe de ser o que desejamos para nós e para aqueles que amamos.   

Sabe-se que o anúncio amoroso não se expressa unicamente na relação do casal, nem apenas nos ideais que sustentam os grandes movimentos sociais. O amor é uma dimensão da vida que se introduz também por esses caminhos, mas vai além, e nos mostra suas múltiplas expressões e teceduras na vida de todo dia.  Encontra-se no amor amigo, no amor irmão, nos encontros de rara e profunda sintonia, no gesto universal de solidariedade e na compaixão entre pessoas, grupos e povos.  


O seu mistério está na imanência de cada um de nós, muitas vezes de forma soterrada sob a máscara multiforme do ser e do estar, outras vezes de um jeito que engrandece quem se deixa envolver por ele e nele respira – qual Francisco de Assis, Simone Weil, Gandhi, Chiara Lubich, Tereza de Calcutá, Luther King  e, mais próximos de nós, Hélder Câmara,  Mandela, Betinho,e muitos outros.

É um mistério que nos infunde o amor universal, e nos permite viver teimosamente nosso contínuo peregrinar, assumindo, com altivez, o nosso destino e exercitando, embora com tropeços, o nosso jeito de bem-querer.


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Créditos Imagens:

1. Mandela - www.rahictantimom.wordpress.com

2. Simone Well - youtube.com
3. Herbert de Souza - Betinho - foto cedida por um amigo.
4. Chiara Lubich - foto divulgação do Movimento dos Focolares
3. Dom Hélder - imagem divulgação - Arquidiocese Olinda e Recife






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