Os nomes das instituições signatárias e dos respeitáveis profissionais que lançaram o manifesto, levaram milhares de pessoas a também assinarem e divulgarem o mesmo, por todo o Brasil e fora dele.
Segue a íntegra do manifesto, lançado em 01/04/2021.
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Abril pela Vida: 3 semanas para reverter a pandemia de Covid-19 no Brasil
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Excelentíssimos(as)
Senhores e Senhoras Governadores(as),
Excelentíssimos(as)
Senhores e Senhoras Prefeitos(as),
Nós, organizações, pesquisadores e especialistas de
Saúde Pública, Economia e Políticas Públicas, nos unimos, hoje, para recomendar
a Vossas Excelências a adoção de medidas baseadas em evidências e estudos
científicos que tem como objetivo reverter o cenário de calamidade que hoje
acomete o país.
O referido conjunto de medidas, intitulado “Abril pela Vida”, postula a adoção imediata de 3 semanas de lockdown, que seriam responsáveis por salvar pelo menos 22 mil vidas, acompanhado de auxílio emergencial que seria capaz de neutralizar os efeitos econômicos negativos do lockdown.
1. Contexto
A pandemia de Covid-19 tem sido
responsável por retirar, diariamente, a vida de milhares de brasileiros. Na
última semana, atingimos a marca de 300.000 mortos. Além disso, a pandemia tem
sido responsável por sobrecarregar o sistema de saúde, hoje incapaz de atender
toda a demanda de pacientes com Covid-19, bem como de tratar outras patologias.
A pandemia tem sido responsável por dilapidar nossa já fragilizada economia,
haja vista a longa duração da crise e a desconfiança econômica dela proveniente
por parte de consumidores e investidores.
Estudos desenvolvidos pela Impulso
Gov - organização brasileira de saúde pública, suprapartidária e sem
fins lucrativos - apontam que o avanço da vacinação no país terá impactos
positivos a partir do mês de maio, podendo reduzir à metade a média móvel de
óbitos no país e aliviar a pressão sobre o sistema de saúde. Tal cenário se
justifica pelas seguintes evidências:
· Todas as vacinas testadas até agora mostraram alto
potencial para prevenir hospitalização e morte.
· Mais de 70% dos óbitos registrados no Brasil até
aqui foram de pessoas acima de 60 anos.
· O atual ritmo de produção nacional indica que teremos
doses para vacinar plenamente quase todos os idosos (+60 anos) até o final de
abril.
Todavia, para que esse cenário se
torne realidade, é preciso reduzir a circulação do vírus de forma significativa
e imediata. Caso contrário, podemos atingir a marca de 5,000 mortes diárias,
conforme previsões de pesquisadores da Fiocruz; e podemos não ter leitos
disponíveis, nem para pacientes com Covid-19 nem para aqueles com outras
patologias, nas próximas semanas – cenário que infelizmente já é realidade em
parte do país.
Nesse sentido, é fundamental que
medidas de lockdown sejam adotadas, de forma coordenada pela
União, Estados e Municípios brasileiros, pelas próximas 3 semanas com vistas a
reduzir a circulação de pessoas e, assim, salvar vidas.
Estudos internacionais comprovam a
eficácia da medida em 41 países, com efeito especialmente forte da redução de
quaisquer aglomerações de mais de 10 pessoas; e recentemente observou-se a
eficácia da medida também no Brasil. Após um mês de medidas restritivas,
incluindo 10 dias de lockdown rígido como poucas vezes se viu
no país, a cidade de Araraquara (SP) registrou, em 26 de março, o primeiro dia
sem nenhuma morte causada por Covid-19, além de redução significativa no número
de casos e da positividade dos testes.
2. Propostas
Apresentamos abaixo duas medidas
emergenciais, parte da estratégia “Abril pela Vida”, com vistas a
reverter o cenário atual de calamidade no país e salvar vidas.
Cientes de que as medidas de lockdown podem
expor indivíduos em situação de vulnerabilidade ao risco econômico e reduzir a
sua adesão às medidas, propomos soluções econômicas emergenciais que podem ser
adotadas pelos três níveis de governo, com vistas a reduzir os impactos
negativos que a menor circulação de pessoas pode ter sobre populações vulneráveis
e, igualmente, sobre as economias locais.
· Lockdown rígido em abril
· Proibição de eventos presenciais como shows,
congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas, bem como quaisquer
aglomerações de indivíduos que não residem juntos.
· Toque de recolher das 20h às 6h.
· Fechamento de bares, restaurantes e praias.
· Medidas de redução da superlotação nos transportes
coletivos urbanos; transportes de trabalhadores dos serviços essenciais devem
ser organizados pelas empresas, inclusive supermercados, farmácias e postos de
gasolina.
· Suspensão do funcionamento dos seguintes estabelecimentos:
comércio atacadista, lojas de material de construção civil, casas de peças e
oficinas de reparação de veículos automotores, comercialização de produtos e
serviços de cuidados animais (permitido o funcionamento de clínicas médicas
veterinárias e comercialização de alimentos), agências bancárias (permitindo o
atendimento presencial para recebimento de benefícios) e instituições
financeiras de fomento econômico, casas lotéricas; e atividade de pesca de
lazer no mar (permitida a pesca comercial).
· Adoção de trabalho remoto sempre que possível.
· Instituição de barreiras sanitárias nacionais e
internacionais, inclusive considerando fechamento de aeroportos e transporte
interestadual.
· Os hotéis e pousadas com capacidade de ocupação
limitada a 30% dos quartos.
· Ampliação de testagem e acompanhamento dos
testados, com isolamento de casos suspeitos e monitoramento dos contatos.
· Auxílio emergencial de parcela única
· Concessão de parcela única de auxílio emergencial,
para indivíduos e micro e pequenas empresas.
O valor do benefício seria:
· Para indivíduos, equivalente ao valor médio de uma
cesta básica em cada estado.
· Para micro e pequenas empresas, no valor de mil
reais.
· Critérios de elegibilidade:
· Indivíduos: maiores de idade, desempregados ou
informais, que não recebem aposentadoria, Benefício de Prestação Continuada,
Seguro Desemprego ou qualquer outro programa social (exceto Bolsa Família) e
tem rendimento domiciliar per capita abaixo de meio salário mínimo.
· Micro e pequenas empresas: para setores mais afetados
pela pandemia (Alojamento, Alimentação e Atividades Artísticas, Criativas e de
Espetáculos) para empresas do Simples Nacional e MEIs.
· Estima-se que, considerando todos os estados
brasileiros, seriam 67 milhões indivíduos elegíveis e 3,3 milhões de estabelecimentos
beneficiados; os números exatos por estado estão disponíveis sob demanda.
· Seriam necessários cerca de R$ 36 bilhões para
financiar o auxílio para indivíduos e R$ 3,3 bilhões para as pequenas e microempresas.
Este programa, que, além de permitir a adoção das medidas restritivas, teria o
efeito de neutralizar as perdas geradas pelo lockdown; números por
estado estão disponíveis sob demanda.
3.
Resultados
esperados
A adoção da estratégia “Abril pela
Vida” permitirá aos Governos e Municípios observar os seguintes resultados:
· Reduzir a média móvel de mortos pela metade, o que
pode significar pelo menos 22 mil vidas salvas;
· Dispor de leitos para tratamento de Covid-19 e de
outras patologias;
· Reduzir a probabilidade de surgimento de novas
variantes, capazes de superar a imunidade gerada pelas vacinas já
desenvolvidas, com consequências globais desastrosas;
· Neutralização de perdas econômicas, em razão do
auxílio emergencial.
Sem a adoção das medidas
supracitadas, teremos pelo menos 22 mil mortes adicionais, e podemos nos
deparar com o surgimento de novas variantes, além de acentuarmos a crise de
saúde pública e falta de leitos de UTI. A inação, além de causar impactos severos
sobre o nosso sistema de saúde, exigirá medidas restritivas por mais tempo, e
trará impactos econômicos ainda mais severos. A redução prolongada da atividade
econômica por mais de quatro meses poderá anular completamente as
possibilidades de crescimento econômico previstas para 2021.
À luz do exposto, e haja vista a
competência dos Governos Federal, Estadual e Municipal para adotarem medidas
eficazes no combate à pandemia, recomendamos aos Municípios, Estados e à União
que adotem as medidas supracitadas, em esforço coletivo e coordenado para
reverter o avanço da pandemia de Covid-19 no Brasil, salvando milhares de vidas
e socorrendo a economia brasileira.
Caso se faça necessário, estamos à
disposição para esclarecer eventuais questionamentos de Vossas Excelências,
compartilhar estudos técnicos e simulações que embasaram as propostas aqui
presentes e apresentar possibilidades de financiamento do auxílio, além de
apoiar, individualmente, os Estados e Municípios na adequação e implementação
imediata das medidas propostas ao contexto local.
Respeitosamente,
Impulso Gov
Vital Strategies Brasil
Acacio Sousa Lima, Presidente da Academia de Ciências Farmacêuticas do
Brasil
Adriano Massuda, Médico Sanitarista, Professor e Pesquisador da
Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV) e da
Universidade Federal do Paraná
Ana Luiza Bierrenbach, Professora da Pós-Graduação do Instituto de
Ensino e Pesquisa do hospital Sírio-Libanês e da Universidade Federal de Goiás
Ana Maria Malik, Professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
coordenadora do GVSaúde e membro do conselho da Associação Latina Para Análise
dos Sistemas de Saúde (ALASS)
André Lara Resende, Ex-diretor do Banco Central do Brasil (BACEN) e
Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
Andre Portela Souza, Professor de Economia da EESP-FGV
Fátima Marinho, Professora da Pós-Graduação em Saúde Pública
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Gabriela Spanghero Lotta, Professora e Pesquisadora de Administração Pública
e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
Guilherme Werneck, Pesquisador e Professor do Instituto de Medicina
Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ) e Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Hannah Arcuschin Machado, Gerente de Projetos da Vital Strategies
João Moraes Abreu, Diretor Executivo da Impulso Gov
Ligia Bahia, Professora Associada da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ)
Luciano Coutinho, Professor titular no Instituto de Economia da
UNICAMP e Ex-Presidente do BNDES
Luis Eugenio de Souza, Professor do Instituto de Saúde Coletiva da
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Vice-presidente da Federação Mundial de
Associações de Saúde Pública (WFPHA)
Luiz Carlos Bresser-Pereira, Professor Emérito da Fundação Getúlio Vargas
Luiz Gonzaga Belluzzo, Professor Titular do Instituto de Economia da
Unicamp (Aposentado)
Luiza Dickie Amorim, Consultora da Johns Hopkins
Bloomberg School of Public Health
Manoel Pires, Pesquisador do IBRE/FGV e da UnB. Ex-secretário de
Política Econômica do Ministério da Fazenda
Marcelo Medeiros, Professor da Universidade de Brasília (UnB) e
Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
Márcia Castro, Doutora em Demografia e Professora Associada
da Harvard School of Public Health
Marco Brancher, Coordenador de Dados da Impulso Gov e Pesquisador
da FGV
Maria Amelia de Sousa Mascena Veras, Professora Adjunta do Departamento de Saúde
Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
Monica de Bolle, Professora da Johns Hopkins University
Nelson Gouveia, Professor do Departamento de Medicina Preventiva da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)
Nelson Marconi, Professor
da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV)
Naomar de Almeida Filho, Professor de Epidemiologia e ex-reitor da
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Paulo José da Silva e Silva, Professor de Matemática Aplicada da Universidade
Estadual de Campinas e Pesquisador do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas
à Indústria.
Paulo Schor, Médico, Professor e Diretor de Inovação da
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Paulo Saldiva,
Professor Titular de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP)
Pedro do Carmo Baumgratz de Paula, Professor da FGV Direito SP (FGVLaw) e
Diretor-Executivo da Vital Strategies Brasil
Pedro Hallal, Epidemiologista, Professor da Escola Superior
de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do
Epicovid-19
Rubens Belfort Jr., Presidente da Academia Nacional de Medicina
Rubens Ricupero, Ex-Ministro do Meio Ambiente, da Amazônia e
Ex-Ministro da Fazenda.
Soraya Smaili,
Reitora da Universidade Federal de São Paulo
Vanessa Elias de Oliveira, Professora de Políticas Públicas da Universidade
Federal do ABC (UFABC)
https://portalhospitaisbrasil.com.br/abril-pela-vida-3-semanas-para-reverter-a-pandemia-de-covid-19-no-brasil/
Imagem de abertura: Mafalda - desenho realizado por QUINO para uma exposição no Instituto Di Tella de Buenos Aires. Em: Toda Mafalda, Ediciones de la Flor p.639
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