O Instituto Unisinos reage a mais um fato desastroso do governo brasileiro, dessa vez atingindo a posição laica que vinha sendo mantida pelos governantes do país, em respeito à Constituição brasileira.
Não bastou ao indigno presidente usar a religião para pregar seus desatinos e suas bandeiras, em atos oficiais contrários aos direitos humanos e à democracia. Desesperado, tentou criar um fato em busca de apoio dos desavisados, mas atingindo em cheio as comunidades cristãs que desejam preservar a espiritualidade do povo brasileiro, qualquer que seja a sua expressão religiosa.
Não bastou ao indigno presidente usar a religião para pregar seus desatinos e suas bandeiras, em atos oficiais contrários aos direitos humanos e à democracia. Desesperado, tentou criar um fato em busca de apoio dos desavisados, mas atingindo em cheio as comunidades cristãs que desejam preservar a espiritualidade do povo brasileiro, qualquer que seja a sua expressão religiosa.
Foi revoltante o ato "produzido" pelo seu devaneio usual, utilizando-se de uma imagem de "Nossa Senhora", tão amada pelos cristãos, e respeitada até por aqueles que não a veneram como a "mãe de Jesus". Um gesto repugnante, certamente na tentativa de aplacar a desaprovação geral que o separa do povo, cada vez mais desconsiderado, sem emprego e sem esperança de atenção para as suas necessidades, como a assistência à saúde, o acesso à educação, a falta de oportunidades de trabalho, e ao seu direito à justiça social. O fato é mais agravado porque contou com a presença e a conivência de alguns religiosos e de representantes do povo, na Câmara e no Senado.
O Professor Ildo Perondi - da Pontifícia Universidade Católica do Paraná -
PUC-PR - autor do artigo abaixo reproduzido, é também frade capuchinho.
Segue o artigo.
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Não façam isso com a mãe de
Jesus!
Por: Ildo Peroni
Confesso que
fiquei indignado ao saber que no dia 21/05, em Brasília, no Palácio
do Planalto, com a presença do Presidente da República, dois bispos,
alguns religiosos e religiosas e da bancada “católica” foi realizada a
Consagração do Brasil a Jesus Cristo pelo Imaculado Coração de
Maria.
Nesta mesma semana, na Itália, o ultraconservador Matteo Salvini também
realizou um gesto semelhante, enquanto seu governo deixava pobres imigrantes
naufragaram em alto mar. É um grande desrespeito com a Mãe de Jesus, ela
que nunca entrou em nenhum palácio de governantes da sua época.
Talvez seja
necessário resgatar a história que a Bíblia nos narra sobre quem foi Maria de Nazaré.
Ainda jovem, ou adolescente, viu-se grávida quando ainda não era casada. Para
evitar o apedrejamento, teve que fugir às pressas (Lc 1,39). Ela sabia
que “a lei das pedras” podia matá-la e matar também o seu bebê.
Não sabemos
com que meios Maria foi até Ain Karem, vilarejo próximo a Jerusalém,
e lá encontrou sua parenta Isabel, onde
sentiu-se acolhida (Lc 1,40-45).
Cantou seu canto de alegria ao Deus da vida e que defende os pequenos e
humildes. Profetizou contra os poderosos, dos saciados, os ricos e opressores (Lc 1,46-55). Por causa das políticas
dos governantes da sua época, teve que viajar novamente, grávida, correndo o
risco de abortar e viu seu filho nascer numa gruta junto aos animais, porque
quem podia acolhê-la negou-lhe um lugar em sua casa (Lc 2,1-7). Não recebeu visitas de governantes, mas dos pobres
pastores de ovelhas (Lc 2,8).
Logo depois,
os governantes queriam matar seu filho. E teve que fugir para o Egito para salvar a
vida do Menino Jesus (Mt 1,13-18).
Voltando à sua cidade, viu Jesus crescer e se preparar para a missão. Deve ter
ouvido o que outro governante (Herodes Antipas) fez com o precursor do
Messias (o verdadeiro!). Herodes mandou cortar a cabeça de João
Batista e oferecê-la como troféu numa bandeja (Mc 6,17-29).
Maria acompanhou Jesus no anúncio do Reino de Deus,
colocando-se ao lado dos pobres e marginalizados. Acompanhou o filho em sua
peregrinação ao Templo onde denunciou o abuso que se fazia do lugar sagrado (Mc 11,11-19).
Seu coração
(o verdadeiro!) sofreu ao ver Jesus sendo preso, torturado e açoitado. Os
governantes da época se uniram para condenar Jesus à pior de todas as
condenações, à morte na cruz (Lc 23,12). Solidária, Maria acompanhou
aquele trajeto até o Calvário e os últimos instantes da vida de Jesus (Jo 19,25).
Difícil imaginar a dor de
um coração de mãe ao ver o que faziam com seu filho.
Este coração
de Maria sofreu com os governantes! E, por isso, não é justo o que se fez hoje com
o coração da Mãe de Jesus. O que se fez não foi colocar uma coroa de
ouro em sua cabeça, mas uma coroa de espinhos, justamente por uma bancada
hipócrita, apoiando um governante cujas políticas são de morte. Governante
que usa o símbolo da arma da morte e cujas
políticas geram fome, desemprego, destroem políticas públicas, acaba com a educação
e agora quer implantar esta reforma da previdência
que será um inferno contra os pobres.
O coração de
Maria hoje sofre como o coração de tantas mães que veem seus filhos mortos precocemente
(pelas armas que o presidente apoia); coração de mães que sofrem vendo seus
filhos na droga ou nas ruas por não encontrarem trabalho; coração de mães que
sofrem ao verem seus filhos morrendo de fome;
coração de tantas mães negras, indígenas, que tanto sofrem! Aí está o
verdadeiro coração da Mãe de Jesus!
O Brasil
já foi consagrado a Nossa Senhora Aparecida, que adquiriu o rosto negro
e pobre do povo brasileiro. Sua imagem resgatada num rio, sem a cabeça - como João Batista e como tantas mulheres
escravas, cujos senhores abusavam sexualmente e ao perceberem que estavam
grávidas, cortavam seus pescoços e jogavam nos rios. É com este povo que Maria
(a verdadeira!) se identifica.
Em toda a
celebração realizada hoje, não foi mencionada nem sequer uma palavra sobre a grave situação em que
este governante colocou o país. Os pobres, famintos e marginalizados -
lembrados por Maria no Magnificat -
também foram ignorados. Maria (a verdadeira!) teria nojo do banquete dos
governantes de hoje. Repetiria como Jesus: “Não vos conheço!” (Lc 13,27).
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Fonte do artigo:
http://www.ihu.unisinos.br/589385-nao-facam-isso-com-a-mae-de-jesus
Foto do Professor Ildo Peroni,
reproduzida no artigo original.
Crédito das Imagens:
1. Imagem de abertura: pintura de Adolfo Perez Esquivel.
www.adolfoperezesquivel.org
2. Foto de fac-simile da imagem original de Nossa Senhora Aparecida,
- acervo do jornalista Lúcio Mauro Dias - www.luciodiastextos.blogspot.com
Foto do Professor Ildo Peroni,
reproduzida no artigo original.
Crédito das Imagens:
1. Imagem de abertura: pintura de Adolfo Perez Esquivel.
www.adolfoperezesquivel.org
2. Foto de fac-simile da imagem original de Nossa Senhora Aparecida,
- acervo do jornalista Lúcio Mauro Dias - www.luciodiastextos.blogspot.com
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