Reproduzimos mais uma reportagem, sobre o momento político atual do Brasil.
A reportagem é da revista Carta Capital.
Os comentários dos jornais estrangeiros falam por si.
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Política - Repercussão
Jornais estrangeiros destacam papel de Moro para a eleição de Bolsonaro
Por: Redação*
— publicado 02/11/2018
A indicação para um “superministério”
soou, na mídia internacional, como uma recompensa ao juiz que retirou Lula da
corrida presidencial
Reprodução
“Bolsonaro promete
emprego para juiz que encarcerou seu rival”, resumiu o 'Times'
A mídia internacional não reagiu com
naturalidade à indicação do juiz Sérgio Moro para um “superministério” no
futuro governo. Para boa parte dos jornais estrangeiros, o fato abala a
confiança no Judiciário e soou como uma recompensa ao magistrado, que prendeu o
ex-presidente Lula, principal adversário de Jair Bolsonaro e franco favorito
para vencer as eleições, não fosse a interdição judicial.
Antes mesmo da confirmação de que o
convite foi aceito, o Le Monde apontou as “ambiguidades” do
juiz, responsável pela Lava Jato em Curitiba. Na quarta-feira 31, o jornal
francês assinalou a inexperiência política de Moro, além de lançar uma incômoda
pergunta: “Foi por ter emprisionado o líder da esquerda brasileira que o
magistrado será recompensado pelo futuro chefe de Estado de extrema-direita,
Jair Bolsonaro?”.
A reportagem, assinada pela jornalista
Claire Gatinois, narra a história do juiz que, ao investigar “um caso banal” de
lavagem de dinheiro, acabou revelando um dos maiores casos de corrupção do
Brasil. “A operação envolve quase todos os partidos, mas a Justiça e Moro têm
um cuidado todo especial em relação ao PT”.
Ainda mais constrangedora, segundo
o Monde, foi a rapidez com que Lula foi julgado, num país onde a
Justiça anda a passos lentos, semanas antes da oficialização das candidaturas
para as eleições de 2018.
Na França, o jornal Libération afirma
que o juiz que derrubou Lula foi “condecorado por Bolsonaro” e acrescenta: “ele
agarrou a bola com uma pressa ansiosa”. Na mesma toada, o jornal
britânico The Times viralizou nas redes sociais ao resumir com
precisão, na chamada de sua versão online, o que estava em jogo: “Bolsonaro
promete emprego para juiz que encarcerou seu rival”.
Foi por ter prendido Lula que Moro foi recompensado?, indaga o 'Le
Monde'
No Reino Unido, o jornal The
Guardian também deu destaque à nomeação de Moro. O diário britânico
lembrou que o magistrado havia prometido que nunca entraria na política, mas
aceitou o cargo, após ter “pavimentado o caminho para estrondosa vitória
eleitoral de Jair Bolsonaro, colocando na prisão o seu rival”. A publicação
cita ainda a crítica de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, que considerou o
fato como “a fraude do século”.
“É inevitável. A narrativa de um juiz
que prendeu Lula e depois conseguiu um emprego no governo de seu oponente
atrairá muita gente”, observa Brian Winter, editor do Guardian, que
não esconde a admiração por Moro, embora reconheça ser difícil “defendê-lo
politicamente” a partir de agora. Já Monica de Bolle, diretora de estudos
latino-americanos da Universidade Johns Hopkins, disse ao periódico britânico
estar “decepcionada com a decisão perturbadora” do juiz.
O Financial Times define
Moro como o “juiz que preside a investigação do maior escândalo de corrupção”
do Brasil e traz declarações de analistas que aprovam a indicação, por entender
que ele dará continuidade ao trabalho de combate à corrupção. O jornal de
negócios londrino pondera, porém, que a nomeação pode ser vista como “evidência
de que a Lava Jato foi uma caça às bruxas”, dado que Moro foi o responsável
pela prisão do maior adversário de Bolsonaro, o ex-presidente Lula.
Nos EUA, o jornal The New York
Times engrossa a fileiras dos críticos. Para o diário norte-americano,
a decisão de Moro de assumir o comando do Ministério da Justiça “foi recebida
com indignação e júbilo, reflexo de quão polarizado ele se tornou”. Segundo
analistas ouvidos pela reportagem, “Bolsonaro, uma figura profundamente
polarizadora, poderia prejudicar a reputação de Moro e enfraquecer a confiança
no Judiciário”.
Bolsonaro pode 'prejudicar a reputação de Moro e enfraquecer a confiança
no Judiciário', avalia o NYT
Para Matthew Taylor, professor da
American University e que entrevistou Moro como parte de sua pesquisa sobre
corrupção no Brasil, a decisão do magistrado “corrobora a narrativa do PT de
manipulação e de uma Justiça partidária”. Por outro lado, Roberta Braga,
especialista brasileira no Atlantic Council, Moro seria “mais do que
qualificado” para ser ministro da Justiça. “É um bom augúrio para a aprovação
de reformas estruturais anticorrupção”, opinou. Ambos foram ouvidos pelo NYT.
O jornal espanhol El País,
por sua vez, estampou a manchete: “O juiz que encarcerou Lula da Silva aceita
ser ministro da Justiça de Bolsonaro”. Apresentado como “herói do antipetismo”,
Moro assumirá um ministério com funções ampliadas e mais poder, destacou o
periódico.
A reportagem, assinada por Tom Avedaño,
relembra a trajetória do juiz à frente da Lava Jato e acrescenta: “Com o passar
dos anos, Moro se tornou o santo padroeiro do ódio ao PT, um fenômeno crescente
que contribuiu notavelmente para a vitória da extrema-direita”.
* Com informações da RFI Brasil.
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Fonte da reportagem:
Crédito
das imagens:
Imagem de abertura - "Ventania" - tela de Anita Malfatti - coleção do Palácio dos Bandeiras de São Paulo-SP.
Capas de Jornais - reprodução de capas de jornais estrangeiros, na reportagem da revista "Carta Capital", em 2/11/2018.
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