Hoje, amanhã e sempre
Em 28.10.2018 tivemos
uma derrota que marcará a história de nosso país, com a vitória de Bolsonaro.
Durante a campanha, já vínhamos alertando para os riscos para a nossa
democracia e direitos sociais, em caso de concretização de sua vitória.
No entanto, precisamos
reconhecer que lutamos o bom combate. Resistimos nas redes sociais, fomos pra
rua, tentando reverter na última hora o amplo favoritismo que ele já tinha.
A vitória de Bolsonaro
não deve nos desanimar. Quem viveu mais tempo, que passou pela ditadura, tem
essa experiência de olhar a história com maior distância, e reconhecer que ela
tem mesmo suas ondas. Em uma analogia com a Bíblia, temos os anos de vacas
gordas, mas também anos de vacas magras. Todos eles passam, e nós aprendemos a
resistir em todos esses momentos. As lutas e as contradições internas aos
sistemas de dominação, várias delas invisíveis para o cidadão comum, continuam
a varrer a história.
Os analistas políticos
já estão prevendo que o governo Bolsonaro tem inúmeros fatores de
instabilidade. Podemos citar alguns:
1. Foram
produzidas muitas expectativas na população, de resolução dos complexos
problemas nacionais, algo difícil de se oferecer respostas no curto e médio
prazo. Um exemplo é a política de segurança. Sabemos que armar a população não
resolve, apenas aumenta a insegurança e a violência.
2. Estamos enfrentando
uma crise fiscal profunda nos governos federal, estaduais e municipais. Essa
crise dificulta enormemente a retomada do crescimento econômico e a resposta às
expectativas geradas na população.
3. O apoio a Bolsonaro
mobilizou uma idealização muito intensa, como nos mitos heroicos e messiânicos.
Temos precedentes na história política brasileira, com Jânio Quadros e Fernando
Collor de Mello. A experiência deles e de outras, em vários países, mostram
que, ao não serem capazes de produzir respostas satisfatórias no curto ou médio
prazo, um processo que contraria o que foi idealizado tende a ocorrer
rapidamente, erodindo rapidamente o apoio a este tipo de liderança. Foi o que
ocorreu com Jânio Quadros e Collor, levando-os à saída do poder.
4. Bolsonaro se elegeu tendo que controlar e evitar a sua exposição pública em debates e ambientes em que teria que enfrentar o contraditório. Na presidência da república, esse controle é mais difícil, e ele tenderá a mostrar mais facilmente seu viés autoritário e antidemocrático, e sua visão simplista dos difíceis problemas nacionais.
4. Bolsonaro se elegeu tendo que controlar e evitar a sua exposição pública em debates e ambientes em que teria que enfrentar o contraditório. Na presidência da república, esse controle é mais difícil, e ele tenderá a mostrar mais facilmente seu viés autoritário e antidemocrático, e sua visão simplista dos difíceis problemas nacionais.
5. Bolsonaro não tem
maioria absoluta no Congresso, pelo menos para realizar mudanças
constitucionais profundas. Se elegeu dizendo que não governará fazendo alianças
com as forças convencionais no Congresso, e que não escolherá ministros com
base no “toma lá, dá cá” que tem vigorado até agora. Para ter apoio no
Congresso, ele precisará voltar à política tradicional. As medidas de reajuste
fiscal colocadas na agenda econômica e política, como a reforma da previdência,
são profundamente impopulares, e os parlamentares cobrarão muito caro o apoio a
elas.
6. A visão e as medidas
autoritárias de Bolsonaro certamente provocarão muitos conflitos com as
instituições que têm como dever assegurar a democracia no país, como o
Legislativo e o Sistema de Justiça, como as entidades civis que historicamente
defendem as liberdades democráticas, e como os muitos movimentos sociais
populares do país. Esses embates e conflitos tendem a crescer muito no seu
governo.
7. A imagem
internacional de Bolsonaro é péssima, e assim, começará um governo com um
profundo desprestígio junto aos demais governos e agências internacionais, com
poucas possíveis exceções, como o de Trump.
Poderíamos listar outros fatores que apontam para um governo de forte instabilidade, mas estes já são suficientes.
Poderíamos listar outros fatores que apontam para um governo de forte instabilidade, mas estes já são suficientes.
É por tudo isso que não
podemos desanimar. A partir de agora, temos que avaliar sim o que passou,
identificando os equívocos, mas com calma e solidariedade com nossos aliados.
Precisamos estar atentos aos “sinais dos tempos”, em constantes análises de
conjuntura, para identificar as brechas para resistência. E, principalmente,
para as inúmeras denúncias que certamente surgirão, e para as melhores
estratégias de luta.
Assim, a história não acaba
neste momento mais dramático, apenas começa uma nova etapa. E a nossa
experiência mostra que nesses momentos temos que mobilizar, por um lado, a
nossa paciência histórica de médio e longo prazo, e por outro, a nossa coragem
e rebeldia, para as lutas micropolíticas no cotidiano, e para as grandes
mobilizações que certamente virão.
Hoje, eles ganharam, e
estão comemorando. Teremos que nos silenciar, por enquanto. Mas sobretudo,
temos o papel de porta vozes da esperança e persistência. Muita coragem para todos
nós, nesta nova caminhada. Vamos à luta de resistência!
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Eduardo Mourão Vasconcelos é psicólogo e cientista político, professor da UFRJ, militante pela democracia, direitos humanos e sociais desde 1972, e mais tarde particularmente na luta antimanicomial.
Eduardo Mourão Vasconcelos é psicólogo e cientista político, professor da UFRJ, militante pela democracia, direitos humanos e sociais desde 1972, e mais tarde particularmente na luta antimanicomial.
Fonte do texto:
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Hoje-amanha-e-sempre/4/42219
Para obter outras análises, também
se pode acessar as publicações da revista Carta Capital -
www.cartacapital.com.br e www.outrasplavras.com.br ou
seguir alguns canais no YouTube, entre esses o do comentarista Leonardo Stoppa; Conversa Afiada do
jornalista Paulo Henrique Amorim e o canal “TV 247”. Há vários outros canais interessantes e
de opiniões distintas, de acordo com o interesse do leitor de complementar e checar
as informações.
Imagem - www.canstockphoto.com.br
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