
Dia de todas as mulheres, com suas variações de jeitos de ser, cores de pele, crença, vestuário e costumes: suas burcas, sua nudez, suas roupas esvoaçantes e coloridas, seus cabelos presos ou soltos ou encobertos... Suas belezas de tantas expressões, seus amores, seus sonhos políticos, criativos, inclusivos, empreendedores e poéticos.
Mulheres pé-no-chão, mulheres inteligentes e fortes, mulheres práticas, leves, românticas. Mulheres sedutoras ou contidas, mulheres livres, prisioneiras, mães, meninas, índias, mulatas, pretas e brancas, cheias de sentimento e ternura e coragem e poder e ardor... Todas as mulheres.
A todas elas - em vários países e culturas do mundo inteiro - e aos seus companheiros e companheiras, filhos e filhas, amigos e amigas, um convite, hoje, a focar o seu olhar sobre um país do mundo cuja beleza é mundialmente reconhecida: num imenso contorno de terras destacadas da África, separado e unido pelo Oceano Atlântico, por suas histórias e pela negritude de suas origens.
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Um olhar crítico sobre o Brasil. Sobre um povo que se orgulhava de ser um país dito do Futuro, da Riqueza, da Esperança. Agora "é um país falido". O próprio feiticeiro que partilhou do feitiço - a TV Globo - anuncia dados do PIB a demonstrar que "o governo, as empresas e as famílias estão endividados". E afirma que "estamos voltando aos índices da recessão de `89 e´92" (Jornal Globo à tarde de hoje, dia 08.03.2017). Um país da temeridade e do vexame de apresentar taxas que chegam a 14% de desemprego. Um país em que "desde 1948 não via dois resultados negativos e sucessivos do PIB, apresentando queda em todos os setores". Apenas o agronegócio - diz o jornal de TV citado - deu sinais de recuperação nos índices do trimestre final de 2016.

Mas há outros sinais cruéis de preocupação. O Brasil não tem dado importância à presença organizada de dois grandes povos que integram a sua população: os povos indígenas e sua imensa população negra.
Alegra-nos observar que é também essa delicada situação do país que está a promover o fortalecimento de organizações específicas de lutas. Hoje, por exemplo, temos um sábio e incisivo manifesto do Movimento Uneafro Brasil, assinado por sua coordenadora, a advogada Rosângela Martins. O movimento é representativo de significativa expressão das mulheres negras brasileiras e, portanto, também das "mães de meninos e jovens pretos e pobres". Uma população, esta, que precisa enfrentar as maldades e a violência das atuais políticas de um poder ilegal e inconsequente. Abaixo, o manifesto: o negrito do texto assinado é nosso.
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* Texto de Vanise Rezende - Atualizado em 9/03/2017.
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* Texto de Vanise Rezende - Atualizado em 9/03/2017.

As mães
negras, que choram a perda de seus filhos por conta da violência policial,
verdadeiro genocídio da juventude preta – no Brasil – estão em luta.
Insiro, aqui, dados do "Mapa da Violência - 2016 (*) como ilustração da dolorosa realidade de que fala o manifesto do Movimento Uneafro. Trata-se de um texto copiado de: esquerda online.com.br/2016/8/26 - mapadaviolencia-2016
"A raça, o gênero e a idade das vítimas
A maioria das vítimas de homicídios por arma de fogo continua sendo formada por homens jovens e negros. Parece clichê, mas a pesquisa demonstrou que a premissa é verdadeira.
Nacionalmente, 94,4% das vítimas, em 2014, foram homens. Esse número, se analisado especificamente, variou entre 91% e 96% em cada estado.
Ainda, o crescimento do número de mortes na juventude, faixa etária de 15 a 29 anos, foi bem mais violento do que no restante da população. Enquanto no conjunto da sociedade, o crescimento de homicídios por arma de fogo cresceu 592,8% no período compreendido entre 1980 e 2014, dentre os jovens o número subiu para 699,5% ".

Imagine um dia totalmente paralisado pelas mulheres. Um dia em que a
trabalhadora do lar, ciente de que está ameaçado o seu direito à aposentadoria,
por todos os anos em que manteve a dinâmica de uma casa, e sem remuneração,
deixasse de preparar a alimentação, lavar as roupas das pessoas que ali vivem,
levar seus filhos à escola…

Um dia em que nossas jovens, nossas filhas, que almejam mais do que um diploma de ensino médio, que desejam chegar à universidade e encarar profissões desafiadoras, a partir de oportunidades igualitárias, também parassem...

Um
dia em que parassem também as trabalhadoras terceirizadas,
em sua maioria negra, que limpam as escolas, preparam as merendas, estão
no telemarketing, submetidas a empregadores que mais violam os seus
direitos pagando cada vez menos, e exigindo cada vez mais…
Um dia em que as empregadas domésticas, que demoraram anos para terem seus direitos trabalhistas reconhecidos, e agora, diante da reforma da previdência veem a aposentadoria como algo inalcançável, cruzassem seus braços…
Talvez não alcancemos o todo da massa feminina brasileira já neste dia 8,
mas está evidente a potência mobilizadora da luta das mulheres em todo o mundo.
Nossas irmãs, que rompem com o silêncio, com
relacionamentos abusivos e violentos, refazem a vida, reconstroem sua história,
sua autoestima, sua luta, e gritam para que não sejam mais um número de vítimas
do feminicídio, estão em luta.

Juntas, somos muitas. Juntas, venceremos!
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* Rosângela Martins é advogada, feminista negra e
coordenadora nacional do movimento Uneafro-Brasil .
Postado originalmente no blog: http://negrobelchior.cartacapital.com.br/por-um-8-de-marco-de-mulheres-pretas-pobres-e-perifericas/
Créditos das Imagens
1. Sibila Délfica - Michelangelo - Capela Sistina - In: Bol.Notícias.Uol - Os tesouros do Vaticano.
2. Manifestação da União Brasileira da Mulher no dia 8/03/2016, em comemoração dos cem anos do Dia Internacinal da Mulher.
3. Rosto de índia amazonas, divulgado pela Avaaz.
3. Rosto de índia amazonas, divulgado pela Avaaz.
4. Detalhe do manifesto do Movimento Uneafro, em foto que ilustra o texto original publicado no Blog Negro Belchior.
5. Imagem de manifestação em Maringá-SC contra a Reforma da Previdência Social - g1.globo.com/politicas/cidades-tem-protestos...
6. Retrato de Chiquinha Gonzaga, musicista que apoiou a liberdade dos escravos negros no Brasil.
7. Margarida Alves, sindicalista negra assassinada em 1983.
7. Margarida Alves, sindicalista negra assassinada em 1983.
8. Atuação violenta da polícia: Mapa da Violência - foto ilustrativa do texto de Paulo Nunes, São Paulo - SP.
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma delas e deseja que seja removida deste espaço, por favor entre em contato com vrblog@hotmail.com
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