Deu-me vontade de enviar essa mensagem a você, caro Julio Cortázar. Você que há anos se foi e agora "está aí"... Creio perceber agora aquela sensação tão viva que você descreveu, sentindo saudades do seu grande amigo Paco,
que morrera há trinta e um anos e ainda estava aí, não lá em cima nem na estratosfera, mas estava aí enquanto você acordava ou escovava os dentes, o amigo tão especial, os outros presentes quando chegavam, mas ele sempre.
Eu também tenho essa sensação da presença viva de pessoas que amei e que se foram há tantos idos anos. E, como você, Cortázar, sei que a Mara, minha amiga Mara "está aí". Quem sabe vocês se encontraram na Argentina, ela estava lá no tempo de Allende, e depois, como você, foi morar em Paris. Ela e o Phillipe, você e a sua Carol, quem sabe chegaram a conversar um dia, quem sabe...
Eu também tenho essa sensação da presença viva de pessoas que amei e que se foram há tantos idos anos. E, como você, Cortázar, sei que a Mara, minha amiga Mara "está aí". Quem sabe vocês se encontraram na Argentina, ela estava lá no tempo de Allende, e depois, como você, foi morar em Paris. Ela e o Phillipe, você e a sua Carol, quem sabe chegaram a conversar um dia, quem sabe...
Mara vive. Vejo-a chegando à minha casa com suas malas de
repente, sem dizer quando nem por que... Ainda sei dos contatos que ela
tinha, fazendo os companheiros se sentarem no chão do meu quarto, as janelas fechadas, e ela não me explicava nada. A ditadura em pleno rigor... Ela me protegia sem me apresentar seus amigos, sem me dar uma explicação.
O tempo passou... Um dia ela mandou me chamar depressa, morava no Rio de Janeiro e estava partindo, - dessa vez não para cooperar com o governo de Moçambique, como fizera antes – ia de férias a Paris, seu marido era francês, tinha a passagem comprada,
tudo pronto...
De repente, não mais. Viu-se tomada pela leucemia, e aquietou-se num hospital público no Rio de Janeiro. Eu ali junto a massagear seus pés ou acarinhar seu rosto pálido, e aquela sua expressão amorosa de cuidado com os amigos que chegavam para visitá-la.
De repente, não mais. Viu-se tomada pela leucemia, e aquietou-se num hospital público no Rio de Janeiro. Eu ali junto a massagear seus pés ou acarinhar seu rosto pálido, e aquela sua expressão amorosa de cuidado com os amigos que chegavam para visitá-la.
Na sua crônica, caro Cortázar, você dedica ao Paco aquele quadro de René Margritte: um cachimbo... Ou um caminho sinuoso, uma ponte e não um cachimbo. E Paco presente, bem ali.
O que você escreveu eu sei que é assim. Aprendi de você que é assim: a Mara todavia chegará a qualquer hora, com suas grandes malas, viva e sorridente, maravilhosamente ela, (a saudade me avisa quando o amigo que partiu está aquí). E, como você. Cortázar, a gente não sabe como nem onde... Só sabe que não é lá em cima, quiçá ao lado, cá dentro, está aí, eu sei, a Mara. Mesmo depois de tantos anos já passados... nem sei contar quantos!
Aquele seu rosto grande e cheio, como uma índia morena, olhos brilhantes de vida, cabelos lisos e um vestido leve e solto de algodão florido, como se usava então, e ela aí... ativa, atenta a todos os meus senões. A vida a fluir e a sua presença delicada, ela aqui, e ainda sabe amar como ninguém...
E como não ter saudades dela!
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Texto inspirado no conto de Julio Florencio Cotázar - romancista, contista e cronista argentino (*26/08/1914 +12/02/1984): "Aí, mas onde, como". Livro de contos "Octaedro", Edições BestBolso, Editora Best Seller Ltda. Rio de Janeio, RJ
Créditos das Imagens
1. Imagem - www.ihu.usininus.br/entrevistas/557209
2. Foto de Marluza Correia Lima - arquivo deste blog
3. Cachimbo - Pintura de René Magritte - www.obviousmag.org
4. Rosto de índia publicado por www.avaaz.com.br - divulgação.
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma dessas imagens e deseja que ela seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
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