
Eu também tenho essa sensação da presença viva de pessoas que amei e que se foram há tantos idos anos. E, como você, Cortázar, sei que a Mara, minha amiga Mara "está aí". Quem sabe vocês se encontraram na Argentina, ela estava lá no tempo de Allende, e depois, como você, foi morar em Paris. Ela e o Phillipe, você e a sua Carol, quem sabe chegaram a conversar um dia, quem sabe...

O tempo passou... Um dia ela mandou me chamar depressa, morava no Rio de Janeiro e estava partindo, - dessa vez não para cooperar com o governo de Moçambique, como fizera antes – ia de férias a Paris, seu marido era francês, tinha a passagem comprada,
tudo pronto...
De repente, não mais. Viu-se tomada pela leucemia, e aquietou-se num hospital público no Rio de Janeiro. Eu ali junto a massagear seus pés ou acarinhar seu rosto pálido, e aquela sua expressão amorosa de cuidado com os amigos que chegavam para visitá-la.
De repente, não mais. Viu-se tomada pela leucemia, e aquietou-se num hospital público no Rio de Janeiro. Eu ali junto a massagear seus pés ou acarinhar seu rosto pálido, e aquela sua expressão amorosa de cuidado com os amigos que chegavam para visitá-la.

Na sua crônica, caro Cortázar, você dedica ao Paco aquele quadro de René Margritte: um cachimbo... Ou um caminho sinuoso, uma ponte e não um cachimbo. E Paco presente, bem ali.
O que você escreveu eu sei que é assim. Aprendi de você que é assim: a Mara todavia chegará a qualquer hora, com suas grandes malas, viva e sorridente, maravilhosamente ela, (a saudade me avisa quando o amigo que partiu está aquí). E, como você. Cortázar, a gente não sabe como nem onde... Só sabe que não é lá em cima, quiçá ao lado, cá dentro, está aí, eu sei, a Mara. Mesmo depois de tantos anos já passados... nem sei contar quantos!

Aquele seu rosto grande e cheio, como uma índia morena, olhos brilhantes de vida, cabelos lisos e um vestido leve e solto de algodão florido, como se usava então, e ela aí... ativa, atenta a todos os meus senões. A vida a fluir e a sua presença delicada, ela aqui, e ainda sabe amar como ninguém...
E como não ter saudades dela!
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Texto inspirado no conto de Julio Florencio Cotázar - romancista, contista e cronista argentino (*26/08/1914 +12/02/1984): "Aí, mas onde, como". Livro de contos "Octaedro", Edições BestBolso, Editora Best Seller Ltda. Rio de Janeio, RJ
Créditos das Imagens
1. Imagem - www.ihu.usininus.br/entrevistas/557209
2. Foto de Marluza Correia Lima - arquivo deste blog
3. Cachimbo - Pintura de René Magritte - www.obviousmag.org
4. Rosto de índia publicado por www.avaaz.com.br - divulgação.
Nota: As imagens publicadas neste blog pertencem aos seus autores. Se alguém possui os direitos de uma dessas imagens e deseja que ela seja removida deste espaço, por favor entre em contato com: vrblog@hotmail.com
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